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Goffman: o sociólogo que uniu a psicologia ao teatro

Trabalho do estudioso canadense se valeu do psicodrama, da sociologia do cotidiano e das teorias clássicas - e ajuda a explicar como nos comportamos hoje

Erving Goffman foi um famoso sociólogo canadense que fez sua carreira, sobretudo, em Chicago, nos Estados Unidos. Professor de algumas universidades do país vizinho, tem como livro mais importante The Presentation of the Self in Everyday Life, de 1959, em que ele mesmo se definiu como um micro sociólogo e não um interacionista simbólico — corrente da sociologia que cresceu na década de 1950 nos EUA.

Durante seu período de vida, Goffman influenciou fortemente a sociologia e a psicologia estadunidenses não apenas ao examinar situações cotidianas da vida (microssociologia) como o que chamou de instituições totais – asilos, prisões, hospitais, entre outros. Sua obra dialoga com a psicologia social e com as teorias sociológicas clássicas, como a do alemão Max Weber.

“Ele é conhecido em qualquer faculdade de psicologia pela sua preocupação, sobretudo, em mostrar como no desempenho de um papel os indivíduos costumam esquecer-se do papel dos outros e das implicações que eles possuem também”, explica a professora Bianca Medeiros, da USP.

“Isso acontece porque a tendência é se acomodar em um papel e só ver o exterior por meio dele”, completa.

O livro The Presentation of the Self in Everyday Life ficou conhecido por inaugurar uma analogia entre a interação humana e o teatro (psicodrama), no sentido de olhar a vida social como uma representação que os indivíduos fazem a todo momento de si mesmos cuja função é atrair os demais e interagir com eles.

Essas encenações são feitas como impressões que uns procuram tirar dos outros e que acaba por permitir uma encenação maior: um verdadeiro teatro social.

teatro social

Segundo Goffman, as pessoas não agem apenas por estímulos de respostas, como dizia o sociólogo estadunidense Talcott Parsons, mas também pela definição da situação em que estão. “Todos nós procuramos a melhor impressão de nós mesmos, ainda que ela não precise ser necessariamente um melhor geral, mas o que se considera melhor. Em suma: não basta ser, é necessário parecer”, diz Medeiros.

Os principais pontos nos textos de psicodrama de Goffman são a interação cotidiana entre atores, a utilização de símbolos na comunicação entre eles, a interpretação como parte da ação, o self construídos pelos outros através da comunicação e as relações sociais como processo, no sentido de continuidade.

Goffman via a interação social não como constituída de ações individuais, com um significado pessoal, mas sempre de ações conjuntas, pendentes das mútuas respostas e ajustamentos estabelecidos pelos atores envolvidos que interpretam um a ação do outro. As pessoas orientam essas ações por meio de situações, basicamente respondendo à seguinte pergunta: “o que está acontecendo aqui e agora?”. “Isso acontece porque o tempo todo a gente busca dar um sentido ao contexto em que estamos vivendo”, diz Medeiros.

Para Goffman, o que sustenta os indivíduos são as chamadas fachadas, isto é, o esforço que eles fazem para manter-se à altura da dignidade que projetam sobre eles mesmos. É por meio da “fachada” que as pessoas mantêm de si que estabelece o tratamento que elas esperam receber dos outros.