Música inédita de Jimi Hendrix é divulgada após 50 anos: ouça ‘Station Break’

Jimi Hendrix, fatalmente morto em 1970, é um dos casos mais curiosos da música. O legado artístico que o músico deixou é quase incalculável. Todo ano surgem novas notícias sobre novas músicas, novas versões, novos bootlegs ou qualquer outro material que o músico tenha deixado escondido – ou inacabado.

Em 2015 completa-se 45 anos sem Jimi Hendrix. E mesmo assim, ainda há novidades sobre o guitarrista, como essa música, divulgada hoje.

Antes de Jimi ser o frontman de sua banda, a The Jimi Hendrix Experience, ele foi músico contratado de muita gente, como por exemplo, Little Richard e Isley Brothers. Um outro grupo, não tão conhecido, Curtis Knight and the Squires, também gravou suas canções, entre 1965 e 1967, com Jimi Hendrix na guitarra.

Curtis Knight & The Squires - com Jimi Hendrix
Curtis Knight & The Squires

No ano seguinte, Jimi Hendrix foi descoberto por Chas Chandler (Animals) e a história vocês sabem. Se tornou um mito. Boa parte do material de Curtis Knight and the Squires permaneceu guardado, nunca tendo sido lançado oficialmente. Até então.

O álbum ‘You Can’t Use My Name: Curtis Knight & The Squires (Featuring Jimi Hendrix) – The RSVP/PPX Sessions’ é uma compilação de 14 músicas gravadas durante esse período. O lançamento será em CD, digital e vinil, em 24 de março.

Ainda que algumas músicas tenham sido vazadas já anteriormente nas várias camadas internéticas e cópias piratas, diz-se que ‘Station Break’ é totalmente inédita. É uma música instrumental, escrita por Jimi Hendrix. Ouça:

TrackList de “You Can’t Use My Name: Curtis Knight & The Squires (Featuring Jimi Hendrix) – The RSVP/PPX Sessions”

1. “How Would You Feel”
2. “Gotta Have A New Dress”
3. “Don’t Accuse Me”
4. “Fool For You Baby”
5. “No Such Animal”
6. “Welcome Home”
7. “Knock Yourself Out [Flying On Instruments] ”
8. “Simon Says”
9. “Station Break”
10. “Strange Things”
11. “Hornet’s Nest”
12. “You Don’t Want Me”
13. “You Can’t Use My Name”
14. “Gloomy Monday”

You can't use my name - Curtis Knight and the Squires - with Jimi Hendrix

Estudando Tom Zé: nem pop, nem tropicália

Meu primeiro contato profundo com Tom Zé aconteceu em 2009, segundo ano da faculdade. Eu era uma completa ignorante, não que hoje eu não seja, mas naquela época tudo era diferente no meu mundo.

Inconscientemente eu sabia que ali estava alguém a se respeitar. Eu só não sabia exatamente por quê. Tom Zé para mim era uma imensa interrogação.

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Estava para acontecer a Jornada de Literatura em Passo Fundo. A disciplina era… eu não lembro o nome, mas era algo livre, relacionado à criação, produção de um jornal experimental, acho até que era esse nome. Enfim, primeira aula foi uma reunião de pauta do jornal focado na Jornada, então “Jornalda”. Tipo “Mafalda”, saca? Até hoje não sei se isso foi criativo ou não. A reunião foi sobre a programação do evento, mas Tom Zé só foi citado no fim, por mim, que fiquei o tempo todo pensando como ninguém tá falando do Tom Zé? Bem, eu acho que foi uma clara demonstração de covardia da turma, porque quem citava a pauta, automaticamente a assumia. Todos ali sabiam que ele era importante, o mais importante, mas ninguém realmente sabia por quê.

Acabou que eu, que nunca tinha entrevistado ninguém, agora tinha a missão de falar com o tal de Tom Zé. Eu estudei, mas como já disse eu era uma ignorante, então foi o mesmo que estudar engenharia, você pode ler, ouvir, assistir, mas você continua não entendendo nada. Então eu li uma entrevista dele para a Le Monde Diplomatique Brasil, que se chamava “É impossível entrevistar Tom Zé”, eu sempre fui otimista e não levei essa afirmação tão a sério, por fim eu formulei uma entrevista cruamente ignorante, que graças a Deus nunca aconteceu.

Naquele tempo eu nunca tinha entrevistado ninguém, mas eu já tinha minhas fontes, que me informaram em qual hotel ele estava. Naquele momento ele participava de uma roda de debates com um tanto de gente intelectual. A única coisa que eu lembro disso é que ele interrompeu o papo pra mover as cadeiras mais próximas ao público, até desceu e sentou-se na plateia. Até então eu não sabia muito sobre ele, e nem por que respeitá-lo, o que imediatamente começou a mudar.

Peguei um ônibus e fui esperar ele no hotel, antes que acabasse a dança das cadeiras no palco de debates. Passou um tempo e lá estava ele, com sua esposa Neusa, que me impediu de falar com ele (hoje eu entendo que aquilo foi um ato de amor e proteção), mas mesmo assim ele falou com a gente (ah sim, eu estava com uma colega da turma e outro jornalista de um site de contra cultura Os Armênios). No final das contas a entrevista foi parar nesse site, feita por telefone. No hotel ele foi muito simpático e a Neusa acabou cedendo, rolou até foto, então o guia, funcionário do evento falou sobre a possibilidade da entrevista acontecer após o show, no backstage. Na última música corri para trás do palco enquanto todos olhavam para ele, não tinha ninguém lá trás e então ele apareceu, todo suado, veio na minha direção e me abraçou, “vou ligar para você! Fazemos isso por telefone, ok?”. Já não me importava mais, ele estava me abraçando. Mas Tom Zé ligou, não para o meu número, nem tive nada a ver com a entrevista. Os anos passaram e eu passei de ignorante a alguém que sabe por que ele merece todo o respeito. Eu lembro que escrevi um texto com o título “Diário de bordo de um Astronauta”, não o tenho mais, tampouco foi publicado, aliás, o Jornalda nunca chegou a existir, por incompetência da turma, nada mais.

Agora o astronauta libertado é uma interrogação muito maior !

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E entrevistá-lo não é impossível, porém é de um nível intelectual alienígena e universal muito sofisticado para nós, humanos ignorantes, não que Tom Zé não seja humano, talvez sim, talvez não, mas a explicação, confusão e esclarecimento dele o coloca lá num universo distante, onde habitam outros tantos humanos que conhecemos, e que costumamos chamar de Lóki, ET, maluco beleza…

Tom Zé deu um peitaço no engenheiro de som em uma passagem de som na Suíça, pela arrogância diante de uma banda formada por um velho descabelado, pretos, pobres, brasileiros, que chegaram lá com uma música sofisticada demais para eles. Tom Zé deu mesmo, tá tudo no documentário Fabricando Tom Zé.

Ele não é Tropicália, porque Tom Zé não é Pop, além de ser muito maior que um termo que o próprio Tom Zé descreve assim:

“…eu acho que diante daquela situação efervescente que estava a cultura brasileira em 1963, 64,65… a redescoberta de Oswald de Andrade, os parangolés (…), toda essa coisa, esse empurra empurra, eu acho que isso serviu de tiro pra vazar o hipotálamo (onde o sujeito guarda as lembranças profundas e valorosas) de Gil e Caetano. Vazou pro córtex e então armados do que eles tinham jogado no hipotálamo, que era da cultura inicial deles, isso vindo pro córtex armou eles de tal capacidade de interpretar o Brasil, que eles foram capazes de fazer uma música e um agrupamento de acontecimentos estéticos na arte da música que ninguém tinha feito, que tiveram que dar um nome, Tropicália e isso e aquilo” (Roda Viva 06/05/2013).

A razão de Tom Zé não se encaixar nessa história toda é a sua incapacidade de ser comercial, mesmo quando faz comercial para a Coca-Cola (que gerou muitas críticas a ele), parece que ninguém lembra da música “…e na hora do breque um belo assopro de Coca-Cola…” de 1970, ele já falava da tal Coca-Cola. E nesse tempo era de graça, no comercial ele ainda tirou uma grana que foi destinada a Escola de Musica de Irará, berço do nosso querido. Que atire a primeira lata quem nunca bebeu Coca-Cola!

A origem da música brasileira segundo Tom Zé:

“A primeira conformação da música brasileira veio do Troubadour e Jongleur, que era da primeira cultura da europa, a cultura celta antes da romanização e que depois recebeu vindo da Pérsia, a música religiosa que passou no Magrebe, ali no norte da África, foi influenciada por alguns ritmos africanos, entrou em Andaluzia no século IX – XI, os cantadores de Moaxá, e essas duas coisas unidas o Jongleur, o Troubadour, mais o Moaxá fizeram a primeira forma da canção brasileira”

Meta refrão micro tonal pluri semiótico:

https://www.youtube.com/watch?v=hubD31XaHqU

Entrevistamos Leila Lisboa, fotógrafa d’Os Mutantes e autora do livro ‘A Hora e a Vez’

A fotógrafa Leila Lisboa teve um raro privilégio há quatro décadas atrás. Não só conviveu com Os Mutantes como fotografou com frequência a era de ouro da banda, entre 1969 e 1974.

O resultado desses cliques se tornou o livro fotográfico ‘A Hora e a Vez’, um olhar bem intimista sobre a banda durante o período, como a imagem da capa dessa matéria, por exemplo, feita no lançamento do álbum Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets, no Parque Água Branca, em 8 de abril de 1972. Dia histórico.

Leila Lisboa foi namorada do baixista Liminha durante esse tempo. Acompanhou toda a efervescência criativa da banda da forma mais próxima possível. É, sem dúvida, uma das pessoas mais indicadas para contar como foi essa história e escolheu a fotografia como meio para isso.

O livro ‘A Hora e a Vez’ está sendo financiado via crowdfunding pela plataforma Kickante. São 130 fotografias selecionadas de Rita Lee, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias, Liminha e Dinho Leme. Ninguém mais.

Conversei com a Leila por e-mail e ela contou sobre o lançamento do livro, a convivência com a banda e outras coisas. Leia abaixo.

Onde estavam guardadas essas fotos? E por que não foram divulgadas antes? É um material incrível!

Essas fotos estavam guardadas comigo mesma, eu conservei os negativos por mais de 40 anos. Não foram divulgadas antes porque em primeiro lugar eu tive que largar a fotografia e trabalhar em outro ramo para poder cuidar melhor da minha filha e levar uma vida feliz. Fotos de rock aquela época não tinham valor nenhum e nunca, até hoje, ganhei dinheiro com elas, nem em capas de Lp’s, contra capas, nem emprestando para matérias em revistas, para livros, para documentários.

O que motivou você a tornar público esse material e lançar o livro via financiamento coletivo?

O que me motivou a lançar esse livro em financiamento coletivo foi a falta de recursos e de parcerias. Como já disse em outras ocasiões, tentei de tudo: leis de incentivo federais, estaduais, municipais, empresas que investem em cultura. Então, por intermédio de um amigo, o Cesar Prado, conheci a Kickante que estava entrando no mercado há um ano e meio atrás mais ou menos. Fui pesquisar sobre empresas de Crowdfunding (como são conhecidas no exterior) e vi que é uma prática muito usada e respeitada pelo mundo todo. Milhões e milhões de dólares são doados principalmente para a arte e projetos humanitários. O cinema independente é um grande usuário desse método de financiamento.

Voltei a entrar em contato há uns 3 meses atrás com eles e iniciamos a campanha muito otimistas, é claro.

Quem mais está apoiando você nesse lançamento?

Quem me apoia mesmo são meus parceiros, a Simoni Bampi (que cuida do marketing), o Dado Nunes (expert em Mutantes e que organizou todas as fotos do livro), o Arnaldo Baptista e a Lucinha estão sendo incansáveis me ajudando na divulgação, o Dinho, o Sergio também divulgam em suas páginas. Todos os Mutantes me deram o que é muito precioso, a autorização para uso da suas imagens no livro. Os fãs dos Mutantes vão se revezando, se empolgam, depois param, voltam…Tem alguns que são constantes como o Percy Weiss, a Rádio Brooklin que compartilham incessantemente nossas postagens e matérias e vários outros que não deixam de nos apoiar.

Como foi conviver com a maior banda brasileira de todos os tempos durante esse período? Sei que é uma pergunta um pouco genérica, mas tenho certeza de que muita gente gostaria de fazer o mesmo também, nem que fosse por alguns minutos.

Foi um privilégio para todos nós, inclusive para eles. Tivemos a sorte de viver momentos importantes da história que dificilmente voltarão…a inversão de valores, a revolução da paz. Tenho a nítida impressão que naquele pequeno período de tempo tudo que era pesado ficou leve.

O grupo era muito engraçado, muito alegre, cheio de energia, de cor. Todos eram felizes com o que tinham, extremamente inspirados e músicos de primeira qualidade. Só podia dar no que deu.

O livro faz um apanhado geral da época? Com fotos sobre gravações, ensaios, shows e o cotidiano da banda? Algum episódio marcante em especial, na sua opinião, que você tenha registrado?

Muita coisa que fiz ficou perdida nas gravadoras, nas editoras, nunca mais ninguém vai ver. Inclusive todas as fotos que fizemos para a capa do LÓKI ficaram na gravadora e jamais consegui de volta. Mesmo assim muita coisa ficou comigo, tenho shows em teatro e festivais, ensaios, passeios…umas 500 fotos. Acho que as pessoas vão se divertir bastante.

O que mais gostei de fotografar foi o festival de Cambé. Ao ar livre, no fim do mundo, só gente do bem. Um som como poucos com o Peninha Schmidt no comando debaixo de sol e chuva, no meio da lama em cima de um tablado improvisado.

Junto aos Mutantes quais outros artistas que foram documentados e estão no livro?

Nenhum, eu até tenho registros de outros artistas com eles em outras ocasiões, mas o livro é só mesmo com os 5 Mutantes originais entre 1969 e terminando com o Lóki em 75. Arnaldo, Sergio, Rita, Liminha e Dinho.

Você fotografou o Lóki?, do Arnaldo, e outros discos d’Os Mutantes. De certa forma, seu olhar ficou imortalizado na música brasileira. Você sempre sonhou em fazer isso?

Não, nunca pensei dessa forma. Para mim foi um dia bacana fotografando meu amigo para a capa do seu disco solo. Ele me fazia rir muito. As coisas eram mais simples e espontâneas.

Falando no Arnaldo, conversamos com ele no último Psicodália e percebemos que vocês ainda mantêm laços. Vi também que você fez umas fotos recentes do Sérgio. E com os outros Mutantes, ainda existe contato?

Sim , eu sempre mantive contato com eles. Meus amigos são quase todos daquela época ou de épocas anteriores. A Rita bem menos de uns anos para cá, antes nossos filhos eram amigos. Agora, coincidentemente, minha sobrinha (na verdade filha da minha prima irmã Cláudia Lisboa) Mel Lisboa encarna lindamente a Rita no teatro.

O Arnaldo e a Lucinha são muito especiais, de uma maneira muito particular eu fui me encantando pelos dois, que são um só.

O Dinho é com quem mais convivi durante todos esses anos, uma pessoa deliciosa, meu amigo amado e adorável, a família dele era minha família.

O Sérgio sempre foi muito doce comigo. Nos vemos pouco, mas nos comunicamos, ele mora nos Estados Unidos.

Sigo amiga do Liminha, que foi meu primeiro amor e o motivo da convivência com os Mutantes. Nos víamos mais antes, agora só nos falamos de vez em quando.

Somos todos humanos e o amor é maior do que qualquer preconceito

Love has no gender
Love has no race
Love has no disability
Love has no age
Love has no religion
Love has no labels

Uma genial ação foi feita na praia de Santa Mônica, Califórnia, EUA, durante o dia dos namorados. Um raio X gigante instalado mostra pessoas se beijando, se abraçando e interagindo juntas. Quando as pessoas saem de trás da tela, a surpresa: são casais homossexuais, casais idosos, casais de diferentes raças, amigos de diferentes religiões e outras singularidades que no final das contas, pouco importa, pois por dentro somos todos iguais e não há rótulos para definir o amor.

O vídeo explica muito melhor do que qualquer resumo que a gente possa escrever aqui. O amor é maior que tudo.

A ideia foi da ONG Ad Council e o filme criado pela R/GA. Parabéns aos envolvidos!

Selma: Uma Luta Pela Igualdade

Escrevo esse texto ainda com a música Glory, vencedora do Oscar de melhor canção, reverberando na minha mente. Confesso que assisti ao filme Selma – Uma luta pela igualdade, unicamente para compor o texto 8 lições que os filmes indicados ao Oscar trazem para a sua carreira, e aqui vale uma crítica paralela para eu mesmo, que não sabia da importância da cidade de Selma para a história, e para a fraca repercussão que o longa vem recebendo, mesmo com a indicação a melhor filme e melhor canção no Oscar.

Centralizado na figura de Martin Luther King Jr. (David Oyelowo), o filme conta como o pastor e os negros da cidade de Selma enfrentaram as forças políticas, sociais e militares da cidade e do estado para dar início às marchas históricas de Selma a Montgomery e a luta por direitos civis iguais para brancos e negros.

Como registro histórico, Selma é impecável. Diferente de outras obras que tratam do mesmo tema, aqui os negros são de fato os protagonistas e senhores de seu destino. A cineasta Ava DuVernay não se apega ao melodrama barato e constrói um filme forte, duro e conciso.

Em grande parte de sua sequência o longa é coberto por uma fotografia sombria que parece esconder e camuflar seus personagens, representando a difícil realidade em que viviam para manterem-se longe dos olhos da polícia e também da população. Além de passar uma sensação de confinamento vista nas reuniões e até mesmo nos cultos promovidos por Luther King. Ao mesmo tempo os acontecimentos são pautados por registros na tela assinados pelo FBI, o que colabora com o estado incessante de vigia que aquelas pessoas viviam, principalmente King.

Este que por sua vez tem aqui uma interpretação inspirada de Oyelowo. Fugindo da visão heroica e de grande líder que temos de King nos dias de hoje, encontramos o Nobel da Paz muitas vezes acuado e em dúvida sobre suas decisões. Oyelowo interpreta duas faces de Luther King, a do líder inspirador que é capaz de mover multidões com o poder de sua oratória e bravura, e do estrategista político que ao mesmo tempo em que tem uma reunião tensa com o presidente da república, vê-se pressionado também pela própria família e pelo fato de mantê-los escondidos, uma vez que são alvos fáceis de seus inimigos.

Em uma cena que exemplifica muito bem isso, temos King telefonando para sua esposa de uma varanda, enquanto ela, do outro lado da linha, atende espremida entre colunas de uma casa sob penumbra, porém com uma porta aberta ao fundo. Da mesma maneira que vemos King “exposto”, ao ar livre, entendemos a proteção que este busca oferecer a sua família, mesmo que uma porta entreaberta possa representar apenas uma ilusão de segurança. A tensão criada por DuVernay ainda toma elementos trágicos quando, na cena seguinte, um ativista é assassinado “ao ar livre”, fazendo referência também ao risco de King corria na luta por suas causas.

Selma David Oyelowo

Complementam o filme uma trilha sonora interessante, preocupada mais em ambientar os acontecimentos do que compor a cena e um roteiro fiel aos acontecimentos e que, principalmente não toma partido, ou seja, não transforma a história em uma guerra entre mocinhos e vilões, mas em um período da história em que ideais de mudanças precisavam ser conquistadas dia após dia.

E talvez seja isso o que mais choque em Selma, assimilar que todas essas atrocidades ocorreram há 50 anos. Somente quatro anos antes de enviarmos o homem à Lua ainda entendíamos que o direito ao voto dependia da cor de sua pele. Podemos lamentar que nossa sociedade que se diz tão evoluída demorasse tanto para compreender isso, ou festejar que após esse acontecimento, muita coisa mudou e hoje racismo é crime e atitude de cidadãos que não merecem viver em sociedade.

Não é à toa que nas principais frases da música Glory, entoadas ao final de filme, John Legend grita, em tom de hino, palavras que soam para um tempo que infelizmente, ainda não chegou…

Um dia, quando a glória chegar,

Ela será nossa, ela será nossa…

As últimas fotos de Marilyn Monroe

Em junho de 1962, a atriz Marilyn Monroe posou para o renomado fotógrafo Bern Stern, em um ensaio realizado para a revista Vogue. A musa morreria dois meses depois e esse é o último ensaio fotográfico de Marilyn que foi encomendado por uma publicação.

O ensaio fotográfico foi realizado em um estúdio e se tornou um ícone. 20 anos mais tarde, o fotógrafo (falecido em 2013), lançaria o livro The Last Sitting, um extenso trabalho com mais de 2 mil fotos.

Porém, em julho do mesmo ano, um mês depois das fotos de Stern e um mês antes de sua morte, Marilyn Monroe foi fotografada pelo amigo e fotógrafo George Barris. Ambos se conheceram nas filmagens de ‘O Pecado Mora ao Lado’, em 1955.

Marilyn foi fotografada sorridente na praia de Santa Mônica, Califórnia. A ideia de Barris era usar as fotos para um livro que seria publicado posteriormente, porém com a prematura morte da estrela, a ideia foi engavetada na época.

Em março deste ano, foi anunciado que muitas das fotos dos dois ensaios entrariam em leilão, em Dallas, Texas. A casa de leilões Heritage Auctions Texas espera que cada fotografia seja vendida por 4 mil dólares, em média. O leilão  acontecerá entre os dias 10 e 15 do mesmo mês.

A maior parte das fotografias já estavam espalhadas pela internet, o que tira um pouco o caráter “raro”. Porém, isso não faz com que elas sejam menos históricas. Está interessado? O leilão estará acontecendo no site fineart.ha.

Confira abaixo algumas das fotos:

por Bern Stern

Marilyn Monroe - por Bert Stern (8)Marilyn Monroe - por Bert Stern (7)Marilyn Monroe - por Bert Stern (6)Marilyn Monroe - por Bert Stern (2)Marilyn Monroe - por Bert Stern (1)

por George Barris

Marilyn Monroe - por George Barris (2) Marilyn Monroe - por George Barris (3) Marilyn Monroe - por George Barris

Marilyn Monroe - por George Barris (5)

Marilyn Monroe - por George Barris (4)

‘A Mão Livre – Humor depois de Charlie Hebdo’: Livro será assinado por 42 ilustradores brasileiros

Exceto se você estivesse em outro planeta, você deve lembrar do dia 7 de janeiro deste ano, quando terroristas invadiram a sede do Charlie Hebdo, em Paris, e executaram doze pessoas, entre elas os cartunistas Georges Wolinski, Stéphane Charbonnier, Cabu e Tignous.

Naquele dia – e durante os dias seguintes inclusive – milhares de ilustradores ao redor do planeta homenagearam o semanário da maneira mais adequada possível: publicando charges e ilustrações em seus perfis nas redes sociais ou por meio dos veículos de imprensa que trabalham. No Brasil não foi diferente.

Em abril, quando a fatalidade completará três meses, a editora Companhia das Letras irá recordar do fato com o livro ‘A Mão Livre – Humor depois de Charlie Hebdo’. O livro será uma compilação da reação que 42 autores brasileiros tiveram após o atentado.

Os artistas foram convidados pela editora e tiveram total liberdade para 1) escolher participar ou não; e 2) enviar o material que quisesse.

O elenco é renomadíssimo e é composto por (em ordem alfabética): Adão Iturrusgarai, Alexandra Moraes, Allan Sieber, André Dahmer, Angeli, Arnaldo Branco, Bruno Maron, Caco Xavier, Chiquinha (Fabiane Langona), Cynthia Bonacossa, Daniel Wernëck, Daniel Beyruth, Davi Calil, Diego Gerlach, DW Ribatski, Eduardo Damasceno, Eduardo Medeiros, Eloar Guazzelli, Felipe Nunes, Fernando Gonsales, Fido Nesti, Gabriel Góes, Gustavo Duarte, Jal, Jan Limpens, João Montanaro, Julia Bax, Luís Felipe Garrocho, Luis Fernando Verissimo, Luiz Gê, Luli Penna, Mariana Waechter, Mauricio de Sousa, Odyr, Paulo Caruso, Pedro Franz, Rafael Campos Rocha, Rafael Coutinho, Rafael Sica, Rodrigo Rosa, S. Lobo, Spacca, Tiago Elcerdo e Ziraldo.

Wander Wildner volta ao rock e apresenta o álbum ‘Existe Alguém Aí?”: ouça

Wander Wildner voltou. Não que tenha se escondido, seu último álbum ‘Mocochinchi Folksom’, foi lançado em 2013, mas o músico passou uma temporada em Lisboa e voltou há pouco para Porto Alegre. Tempo suficiente para um novo álbum ser registrado.

‘Existe alguém aí?’ é o oitavo álbum solo de estúdio da carreira do músico que já foi punk, romântico, folk, brega e agora volta ao rock mais cru, mas como sempre, com uma novidade: com alto teor político envolvido.

Capa + Contracapa do disco | Arte: Eloar Guazelli
Capa + Contracapa do disco | Arte: Eloar Guazelli

Todas as dez faixas foram compostas por Wander e foram forjadas a partir de uma visão crítica da sociedade atual e do estado atual em que está a cidade de Porto Alegre. “É meu primeiro disco conceitual”, como ele explicou em uma entrevista à Zero Hora.

O disco foi gravado por Thomas Dreher, em Porto Alegre e mixado por Álvaro Alencar, em Nova York. Lançado em 2 de março deste ano, pelo selo Fora da Lei, está disponível para audição online, mas também será lançado em vinil e em cd. Acompanha Wander Wildner nesse novo álbum um grande time: Gustavo Chaise, Cesar Castro, Jimi Joe, Arthur de Faria, Mauricio Chaise, Flavio Flu Santos e Rust Costa.

Ouça abaixo:

O release abaixo foi escrito por Jimmy Joe, guitarrista de Wander Wildner e que seria suspeito para falar se não estivesse acertado tanto nas palavras.

Wander Wildner faz a mágica da reinvenção mais uma vez em “Existe Alguém aí?”

Ouvidos atentos: tem disco novo de Wander Wildner na praça. Existe Alguém Aí? é o seu oitavo disco solo que chega, como aconteceu com seus trabalhos anteriores, muito diferente de seu predecessor, Mokochinchi Folksom. Esses estranhamentos e turning points musicais na carreira de Wander são ousadias de um artista inquieto que sempre soube a hora de dar a volta por cima e se reinventar a partir de sua própria trajetória. São também movimentos que não dispensam a essência do trabalho musical de Wander desde que começou com os Replicantes, há mais de 30 anos, ao mesmo tempo que incorporam novas vivências musicais às quais o artista se expõe sem pudores, absorvendo desses novos contatos, virtuais ou reais, elementos necessários para esse eterno recriar-se. Como ensina o I Ching, o milenar oráculo chinês das mutações, tudo está em constante mudança. É uma questão orgânica. Tudo isso que parece mais retórica do que práxis se aplica a Existe Alguém Aí?

Fiel ao título referencial pinkfloydiano (“is there anybody out there?”), Existe Alguém Aí? apresenta 10 novas canções que em boa parte primam pelo favorecimento de tons sombrios já a partir da literal e sonicamente tormentosa Réquiem Para Uma Cidade, que abre o novo disco. Esse clima musical e poético de constatação da inevitabilidade de incertas frustrações existenciais tem continuidade em Naquela Noite Ela Chorou, que se estende por Uma Angústia Presa na Garganta e Saudade. As sonoridade densas das bases instrumentais cruas e ao mesmo tempo carregadas de dinâmicas e intenções muito bem elaboradas acentuam a idéia geral de Existe Alguém Aí? Mas os fãs de Wander não precisam se assustar: o cara que cunhou hinos românticos como Bebendo Vinho ou Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo não abandonou suas influências primordiais. Enquanto os ouvidos vão se acostumando às sonoridades rasgadas dessas canções que beiram um pós-existencialismo pela ótica do século 21, Wander também nos oferece a chance de sonhar nos versos e melodias de outras novas e belas canções como Numa Ilha Qualquer, Plantar, Colher e Depois Dançar e Ela é Uma Phoenix.

Existe Alguém Aí? é mais um exercício bem sucedido de criação artística por si só e de vigorosa reinvenção do ritual do habitual de Wander Wildner que sempre tem sido o de não marcar passo, mas sim procurar novos nortes para seguir, ousando, correndo riscos como quem anda na corda bamba sem rede de proteção. Enquanto se reinventa e troca de pele mais uma vez, em seu oitavo disco solo, Wander mantém intacto o pathos que faz dele (e, por conseqüência, de sua obra) um dos poucos nomes que conseguem com que o rock ainda tenha sentido em tempos musicalmente liquidificados.

JIMI JOE
PORTO ALEGRE, VERÃO 2015

 

O poema que Pepe Mujica escreveu aos 14 anos: leia

No primeiro dia de março de 2015, Pepe Mujica deixou a presidência do Uruguai. Seu mandato foi marcado por medidas ousadas, como a regulamentação do uso da maconha, a legalização do aborto e a permissão do casamento entre homossexuais, e também por pronunciamentos esperançosos.

Seus discursos, sempre em crítica ao consumismo desenfreado, a ganância pelo poder econômico e a falta de solidariedade com os países mais pobres, fez com que reunisse simpatizantes também fora da província cisplatina.

Pepe Mujica, em cinco anos como presidente, mostrou um incrível poder de oratória e sensibilidade. Está agora com 79 anos, mas seu dom com as palavras o acompanham desde a infância. A prova é esse poema, escrito por Pepe aos 14 anos, ainda quando era fanático pelo ciclismo e ganhava a vida vendendo flores em feiras da vizinhança.

Sua mãe, diz a história, repetia a plenos pulmões para os familiares e amigos que Pepe um dia seria presidente. Mujica parece ter levado a sério a recomendação, como o poema sugere.

hacia-la-cumbre - pepe mujica

AO CUME

Serei tudo ou não serei

mas é meu lema lutar

para ingressar nas fileiras

dos que sabem triunfar

e culminar as aspirações

de minha pátria e minha mãe

Mulheres e suas loucuras que amamos, mas negamos

O universo feminino algumas vezes se assemelha aos filmes de Tarantino. Nele encontramos inúmeras referências remontando diversas épocas e culturas, mas nem mesmo quando temos nossa atenção preenchida conseguimos desvendar todos os easter eggs ou como elas gostam de dizer “– Você não está reparando nada de diferente”? Eu amo as mulheres e mesmo que pouquíssimas delas tenham me amado de volta, percebo ser necessário falar com elas em tom de agradecimentos, elogios e principalmente, reconhecendo que se não fosse por elas, o mundo seria um caos masculino, com bromances no melhor estilo Debi e Lóide, sujeiras e um estado solitário e insensível ou cinza num único tom.

Vivemos em tempos urgentes e necessários para mulher voltar a ter voz. Voz esta que nunca deveria ter sido silenciada. Mesmo nas constantes indecisões sobre qual sapato escolher, qual roupa vestir para a ocasião x ou quando elas lançam o olhar do tipo – Tom Cruise ou Brad Pitt, pouco importa. Tais loucuras, como nós homens chamamos não devem ser motivos, desculpas e quaisquer outros argumentos legais que proíbam, desmereçam e julguem o poder e a representatividade das mulheres em nossas vidas. Mulher é o único ser que consegue chorar quando o mocinho fica com a mocinha, mas que não derrama uma lágrima quando dá uma topada no sofá. Precisamos mesmo medir esforços e estatísticas para comprovar sermos mais capazes que as mulheres? Claro que não. Porque perderíamos em diversas categorias. Ainda assim abandonamos o romantismo e o cortejo com elas por entendermos que se elas querem direitos iguais, que façam o favor de nos presentearem com rosas e bombons também. Esqueça.

Demorei longos anos para compreender que a loucura das mulheres é justamente aquilo que mais nos fascina. Numa roda entre amigos o discurso é sempre o mesmo. – Mulher é tudo igual. A única diferença é a embalagem. Negativo, caro Watson. Nas loucuras as mulheres podem até ser iguais, mas no restante, nenhuma mulher é igual. Elas podem ser únicas no seu jeito de andar, no perfume misturado ao ser cheiro natural, na forma de falarem e nos gestos pequenos e transitórios que dificilmente notamos, mas que estão lá firmes para cuidar de filhos, maridos, negócios, estudos e etc. Mulheres são poesias e composições em movimento.

Mulher é atemporal. Amá-las, admirá-las e querer o bem e o respeito delas em nossas vidas é o princípio de tudo, mesmo que neguemos. Olhe de perto através da História da humanidade. Desde o início dos tempos preservamos, lutamos e evoluímos por consequências das loucuras do universo feminino. E quando estamos sentados no sofá em pleno domingo enquanto ela está lá linda e estonteante fritando uns salgadinhos pra você, este é o momento que começamos a perder os valores dos nossos ancestrais. Porque houve um tempo onde mulheres não precisavam conquistar espaço e afeto. Nós simplesmente abríamos a porta do carro e segurávamos em suas mãos como se fossem a coisa mais importante do mundo.

Agora, quero falar bem perto de você. – Obrigado. Obrigado por não desistir de ter reconhecimento nos extremismos e conceitos crescentes nos dias atuais. Obrigado por enxergar sensibilidade quando a vil ignorância do homem permite apenas esperar o resultado. Obrigado por se cuidar como pode quando sabemos que o tempo é pouco pra todos. Obrigado por tentar combater injustiças constantes neste mundo dominado por homens não carentes de boa fé, mas de bom senso mesmo.

Por fim, e não menos importante quero agradecer pelos lábios, coxas, peitos e bunda que não importam os tamanhos e tendências que insistem em fazê-la consumir, você sensual e admirável nas suas próprias medidas, e nenhuma parte do seu corpo me deixa mais excitado que seu cérebro, porque com ele conheço seus gostos, humores, desejos, sonhos, objetivos e tantas outras partes sexy´s que eu fico em pleno gozo. Por você, quero abrir a porta do carro, construir um projeto ao seu lado e dividir uma cerveja gelada no domingo, sentados no sofá enquanto decidimos entre gargalhadas qual é o melhor canal para assistirmos na TV (esta última só não é válida se for final de campeonato de futebol). Mulheres, amamos suas loucuras e cada ano que passa vocês nos forçam com um simples sorriso e o beijo no rosto que devemos assumir que isso de mocinho e mocinha aconteceu há muito tempo atrás, mas que se nos esforçarmos, podemos coexistir para no final do dia ambos sermos heróis, ainda que eu ceda sempre o meu lugar pra você.

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