Uma startup francesa está propondo uma alternativa radical à mineração tradicional: substituir explosivos e escavadeiras por agricultura.
A Genomines acaba de levantar US$ 45 milhões em rodada Série A para escalar sua tecnologia de fitomineração, que usa plantas geneticamente modificadas para extrair níquel do solo.
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No piloto em andamento na África do Sul, margaridas alteradas geneticamente absorvem o metal em quatro a seis meses de cultivo. Depois de colhidas, as plantas são processadas para produzir níquel de grau industrial, usado em baterias de veículos elétricos e aço inoxidável.

Um mercado sob pressão
A demanda por níquel deve crescer rapidamente nos próximos anos, impulsionada pela transição energética e pela produção de veículos elétricos.
Mas a oferta enfrenta riscos. Hoje, a maior parte do fornecimento vem da Indonésia, sob controle de mineradoras chinesas.
Reservas de alto teor podem se esgotar antes do fim da década, e o minério de menor qualidade pode ficar escasso até meados do século.
Esse cenário abre espaço para soluções alternativas. “Com os métodos tradicionais, não conseguiremos produzir níquel suficiente”, afirmou Fabien Koutchekian, cofundador e CEO da Genomines.

Como funciona a fitomineração
As espécies usadas pela startup pertencem ao grupo dos hiperacumuladores — plantas capazes de absorver metais naturalmente.
A Genomines aplicou edição genética para torná-las três vezes maiores e com o dobro da eficiência de absorção. O resultado é uma biomassa com até 7,6% de metal em sua composição.
A proposta tem vantagens de custo e tempo. Enquanto uma mina tradicional exige bilhões de dólares e pode levar décadas para entrar em operação, uma fazenda de fitomineração pode ser instalada em um ou dois anos.
O modelo também consome menos energia, captura CO2 durante o crescimento das plantas e utiliza solos impróprios para agricultura alimentar.
Competitividade econômica
A sustentabilidade não é o principal argumento da empresa. O diferencial está no preço. A Genomines projeta produzir níquel a US$ 10 mil por tonelada, contra a média atual de US$ 16 mil e estimativas de alta para US$ 19 mil até o fim da década.
Para potenciais clientes — fabricantes de baterias e siderúrgicas —, a redução de custo é o fator mais atraente. O novo aporte, liderado pela Engine Ventures (spinout do MIT), será usado para provar a competitividade do modelo e ampliar os projetos-piloto.

Escala e próximos passos
O potencial é significativo. A equipe da Genomines calcula que entre 30 milhões e 40 milhões de hectares no mundo tenham condições de abrigar fitomineração.
Se totalmente explorados, poderiam produzir 7 a 14 vezes mais níquel do que a indústria tradicional entrega hoje.
Ainda restam desafios técnicos e regulatórios para validar o modelo em larga escala. Mas, se avançar, a fitomineração pode remodelar não só o setor de mineração, como também a geopolítica dos minerais críticos.
Informações: Fast Company e Genomines