Nem só de 12 compassos vive o blues, mas certamente é essa a métrica mais conhecida, utilizada e exportada pelo delta do Mississippi. Durante os dias 20, 21 e 22 de novembro de 2014, aconteceu em Caxias do Sul a sétima edição do Mississippi Delta Blues Festival, o maior do gênero em toda a América Latina. Uma importante celebração da cultura blues que reuniu mais de 50 atrações em todos os cantos do largo da estação férrea da cidade.
Tecnicamente não seria difícil destacar 12 artistas entre mais de 50. Porém, só pensa assim que não deu às caras ao evento, que foi impecável. Apesar dessa lista conter majoritariamente artistas internacionais, o blues feito pelos brasileiros que participaram do festival foi de extremo feeling e talento. No entanto, o blues só existe graças ao sangue sulista norte-americano, e é por isso que eles tomam conta dos destaques.
Obrigado por virem de tão longe e fazer com que a gente se sinta um pouco mais perto das raízes blueseiras. E obrigado aos músicos brasileiros que se apresentaram no evento e que são grandes responsáveis por espalhar o blues pelo Brasil o ano inteiro.
Larry McCray
Virtuoso guitarrista do Arkansas, dono de solos interminavelmente hipnotizantes e de uma voz absurda. Se apresentou oficialmente nos palcos Front Porch e Barber Shop. A energia de Larry era tanta que ainda encerrou a noite tocando lá no palco do Mississippi Delta Blues Bar.
Johnny Nicholas
O melhor boogie-woogie do MDBF foi dele. Direto de Austin, Johnny Nicholas tocou um um prazer indescritível no festival. O sorriso em seu rosto poderia ser presenciado até pelos mais míopes. Cantou, tocou piano, guitarra e harmônica nos palcos Front Porch e Baber Shop.
Bex Marshall
De Londres veio a voz feminina mais poderosa do festival. Bex Marshall arrepiou o público com uma potência vocal de alto nível. Uma das presenças mais simpáticas do festival. Tomou shots durante o show, fez selfie com o público e acabou sendo carregada pela galera enquanto tocava guitarra, algo que ela chamou de Crowd Surfing. Se apresentou nos palcos Magnolia e no Front Porch.
Blues Etílicos
Uma das maiores bandas de blues do Brasil. Estão há mais de 25 anos na estrada e dispensam comentários. Juntos se apresentaram no Barber Shop Stage. Individualmente também passaram por outros palcos.
Lazy Lester
Mítico gaitista de Louisiana. Com 81 anos de idade, está na ativa desde os anos 50. Se apresentou no Front Porch Stage e fez duas grandes participações especiais com Larry McCray.
Jerry Portnoy
Gaitista que já tocou com simplesmente duas lendas do blues: Muddy Waters e Eric Clapton. Se apresentou no Barber Shop Stage.
Robert Bilbo Walker
Bilbo veio direto do Mississippi e com 77 anos ainda apresenta um espírito jovem. Ficou famoso pelas danças em uma sensacional presença de palco – e também fora dele (ver foto). Se apresentou nos palcos Front Porch e no Barber Shop.
Jai Mailano
Com uma voz forte e poderosa de deixar todo mundo de boca aberta foi mais um destaque feminino do MDBF. Se apresentou no Magnolia Stage.
Bob Stroger
É convidado vitalício do MDBF e o dono da “casinha”, ou Front Porch Stage. Além de ter a voz de Chicago é um dos melhores baixistas de blues em atividade. Muito carismático, se apresentou na “casinha”, no All Aboard Stage e fez uma participação especial no show de Fran Duets, no palco principal.
Guit4rs for the Blues
Quarteto de peso formado pelos guitarristas Solon Fishbone, Fernando Noronha, Neto Rockfeller e Danny Martin. Se apresentaram no Barber Shop Stage, mas individualmente flutuaram por outros palcos do festival. Solon foi o guitarrista de Johnny Nicholas e Fernando Noronha fez uma participação especialíssima com Larry McCray.
Lurrie Bell
Guitarrista que já tocou com Willie Dixon e Billy Branch. É filho da lenda da harmônica Carey Bell. Se apresentou no palco Barber Shop.
Todos os músicos brasileiros
A quantidade de talento nacional que vimos no MDBF é astronômica. Muito além de bandas e artistas consagrados, alguns nem tão conhecidos mandaram bem demais em vários palcos. A grande maioria das atrações internacionais não trouxe banda, ou seja, quem as acompanhou no palco e com extrema maestria foram os músicos que vivem aqui e que estão perto da gente quase que o ano inteiro. Uma aura de companheirismo e harmonia pairou sobre o Mississippi Delta Blues Festival, fazendo com que fosse possível “todo mundo tocar com todo mundo”, tanto em apresentações previamente ensaiadas como em jams sessions.
Parabéns a todos os envolvidos, foi foda!