George Jung, O Traído

George Jung

Para início de conversa, é pertinente pensar que a disseminação da cocaína nos Estados Unidos começando nos anos 70 é de responsabilidade deste americano, George Jacob Jung, conhecido também como Boston George. Jung foi membro do conhecido Cartel de Medelín, cujo papel na organização foi fundamental, sendo o maior transportador de cocaína entre Colômbia e os Estados Unidos. É conveniente ressaltar que o Cartel de Medellín foi responsável por aproximadamente 85% do mercado de cocaína nos EUA.

Os anos 70 foram altamente contagiados pelo consumo desta droga nos Estados Unidos. George Jung fazia o trabalho com o intuito de abastecer uma grande demanda frequentemente composta por músicos, cineastas, atores, pessoas da alta sociedade e artistas americanos em geral. Mesmo que não vendendo diretamente aos consumidores, George Jung foi o grande facilitador durante as décadas de 70 e 80.

George Jung

A relevância de Boston George no consumo de cocaína nos Estados Unidos foi tamanha que em 2001 foi lançado Blow – Profissão de Risco, dirigido por Ted Demme e com Johnny Depp no papel de George. O filme mostra a trajetória de um homem que virou traficante por decisão própria. George Jung viu seu pai, Fred Jung (Ray Liotta), trabalhar a vida inteira, quatorze horas por dia durante, sete dias por semana, frequentemente fracassar financeiramente. Vendo de perto a dura realidade decidiu partir para outro estilo de vida, ganhar dinheiro fácil e com o mínimo de esforço. Bem, não há disparidade maior entre ganho/horas de trabalho do que o tráfico de drogas, realidade mantida nos dias atuais.

Blow é narrado de forma romântica, com George Jung sendo tratado como um homem de princípios, diferente do estereótipo básico do criminoso. Boston George paga bem seus fornecedores e a seus amigos, pai, filha e às duas esposas que teve.Tão fiel que acreditou cegamente nestas pessoas. Tão cego que foi traído por todos.

George Jung

5 Decepções de George Jung

1.

Boston George, de acordo com o filme, foi um ser humano resignado. Durante a infância com o baixo orçamento mensal da família foi testemunha de discussões iniciadas por sua mãe, Ermine Jung (Rachel Griffiths), que acusava o marido de ter prometido dar a ela uma vida digna e não estar cumprindo. Por mais de uma vez, ela vai embora. Sempre voltava, mas sempre ia embora, abandonando o marido e o filho sem ressentimentos, sem o altruísmo materno que toda criança precisa.

2.

Após ter cumprido parte da pena, George Jung não voltou à prisão na primeira vez que foi encarcerado. A doença terminal de sua namorada na época o possibilitou que a acompanhasse com frequência, até o dia de sua morte. Após esse dia que George não voltou. Permaneceu foragido até voltar para casa de seus pais. No reencontro enquanto conversava com seu pai, George foi traído pela própria mãe, que ligou para a polícia e denunciou que o foragido da justiça estava ali, naquele teto.

3.

Na prisão, Boston George foi companheiro de cela de Diego Delgado (Jordi Molla), de quem se tornou grande amigo. Diego o apresentou a Pablo Escobar (Cliff Curtis), conhecido na Colômbia como El Padriño e inseriu George no lucrativo ramo da cocaína, o Cartel de Medelín. George tinha um esquema e um trato com um antigo amigo, o cabelereirero gay Derek (Paul Reubens). O contato era mantido em segredo até que Diego o pressionou para que George contasse. Assim George o fez, contou quem era seu contato que o ajudava a distribuir a droga. E a partir desse momento ambos o traíram, pois George, teoricamente, já teria se tornado um mediador desnecessário e oneroso para o negócio.

4.

George Jung sofreu uma emboscada do DEA (Drug Enforcemente Administration) durante uma festa de aniversário. Para não ir à prisão fez um acordo. E este acordo custou todo o dinheiro que tinha arrecadado com o tráfico até então. A família Jung tinha ido do luxo ao lixo, George se tornara igual ao seu pai, protegendo ao máximo sua filha Kristina (Emma Roberts), enquanto sua esposa Mirtha (Penelope Cruz) reclamava da vida que tinha que levar a partir daquele momento, exatamente como sua mãe cobrava de seu pai. Em um surto, Fulana denunciou o marido à polícia e, mais uma vez, a prisão apareceu no caminho de George.

5.

Livre novamente, e agora divorciado, George Jung buscava reconciliação com a filha. Naquele momento era só o que importava em sua vida, uma vez que sua mãe não o considerava mais como filho. Sem dinheiro e sem perspectiva profissional após tantos anos enchendo os bolsos rapidamente e com o mínimo esforço, George resolveu fazer um último trabalho para dar qualidade de vida à sua filha e levá-la ao lugar que gostaria de conhecer, a California. George se reuniu com um pessoal novo, um deles sendo inclusive um amigo de infância, Kevin (Max Perlich), que o ajudou a traficar maconha antes do envolvimento com a cocaína. Por fim, tudo não passava de um golpe para que Boston George fosse pego novamente e Fulano fosse absolvido de outras acusações. Pela quinta vez em duas horas de filmes, George foi traído por alguém que nunca antes tivera feito mal algum, apenas confiado demais.

George Jung

George Jung foi um traficante que não teve a visão amplificada e pouco se importou com o hipotético mal que poderia causar nos Estados Unidos e na Colômbia. O foco de Jung foi pai, mãe, esposa e filha. Jung nunca matou ninguém, foi condenado por ter transportado grandes quantidades de substâncias ilegais. Sua intenção era apenas propiciar qualidade de vida às pessoas que amava, em virtude de uma traumática infância. E seu maior erro foi confiar demais nas pessoas, sendo, ao longo de sua vida, apunhalado pelas costas por diversos amigos.

Boston George foi considerado um mágico ao vender centenas de quilos de cocaína em poucos dias, mas não foi o suficiente. Boston George não foi cruel, nem ríspido, foi tudo o que um traficante de drogas normalmente não é, e por isso pagou caro. Boston George é o retrato da sentença “o crime não compensa”, mas não por ter sido preso, e sim por ter perdido todas as pessoas que um dia amou.

Entrevista: Antônio Costa Neto

Antônio Costa Neto

Antônio Costa Neto, publicitário, escritor e roteirista/diretor de teatro.

Autor do livro Mãe na Zona e publicitário premiado por campanhas do McDonald’s, Antônio e eu conversamos por e-mail antes do La Parola ser “inaugurado”.

Em menos de duas horas depois do primeiro contato já estávamos terminando a conversa. Antônio mostrou ser uma pessoa simples e super solícita. Afinal, quem daria credibilidade a um site que ainda nem existe? (Update: Agora existe).

Antônio o fez, e mostrou que o talento e o sucesso não necessariamente resultam em soberba. É um profissional versátil. Na entrevista, falamos de literatura, publicidade e teatro, mais especificamente sobre a peça O Bom, O Mau e Sua Esposa, onde é diretor e roteirista.

Entrevista

La Parola:
Como foi sua relação com Caio Fernando Abreu? Era ele o “X”?

Antônio Costa Neto:
Sim, Caio é o X. Caio foi um grande amigo, mas acima de tudo um grande mestre. Ele foi morar num apartamento em que eu morava com a produtora da minha peça, que estava em cartaz naquela época ( 1985) em São Paulo. A produtora voltou para Porto Alegre bem no momento que o Caio estava precisando de um lugar para morar.

La Parola:
Como foi o processo de criação de Mãe na Zona após o nascimento da ideia e da crônica na revista AZ?

Antônio Costa Neto:
Foi longo. Tudo começou com esse texto para a revista, que o Caio adorou e pediu que eu desenvolvesse mais, em forma de romance. Naquela época eu estava muito ocupado com minha carreira de publicitário. Fui deixando para depois o livro, até que um dia minha vida virou de cabeça para baixo. Eu era sócio de uma agência de publicidade brasileira, com sede em Miami. A agência fechou, meu casamento estava pelas tabelas, estava em crise total. Decidi manter o escritório da agência( o aluguel) e fiquei dois meses sozinho naquele escritório, escrevendo. Nesses dois meses revivi os “anos loucos” de São Paulo, época em que dividia o apartamento com o Caio. Foi maravilhoso. Acho que rejuvenesci no processo. Reencontrei  a paixão por escrever, já que nesses anos havia me transformado em um executivo bem-sucedido em publicidade. E nada mais que isso.

La Parola:
Qual sua relação com Luis Fernando Veríssimo?

Antônio Costa Neto:
Luis Fernando Veríssimo foi um “pai de criação” para mim. Aos 17 anos me deu espaço num suplemento de humor, chamado O Quadrão, em Porto Alegre. Entre os colaboradores, além do LFV, estava o Edgar Vasques. Depois disso, alguns anos depois, fui ser estagiário do LFV na agência de publicidade onde ele trabalhava aqui em Poa, a MPM Propaganda. Nessa época ele me “emprestava” a coluna diária dele na ZH, todas as sextas. Eu era uma espécie de interino. Desde então nos tornamos amigos. Sou um discípulo que jamais ousei ser parecido com o mestre.

La Parola:
Quais campanhas publicitárias foram as mais marcantes e de maior sucesso em sua carreira?

Antônio Costa Neto:
Ganhei prêmios nacionais e internacionais com várias campanhas. Mas a que me projetou no Brasil e fora do Brasil foi ” comendo e aprendendo” para o McDonald’s, onde o professor Pasquale ensinava português a partir de situações dentro do McDonald’s, onde pessoas estavam comendo Big Mac. Ele fazia perguntas tipo “Um Big Mac para mim comer ou para eu comer? Vamos perguntar para quem está comendo agora”. Aí cortava para dentro de uma loja onde grupos de pessoas respondiam: “para mim comer, para eu comer, etc” . Daí ele corrigia , dando a forma correta. Também fiz uma outra campanha para o McDonald’s, com o conceito “Gostoso como a Vida deve ser”. Esta campanha ganhou por três anos consecutivos o ” McDonald’s World Award” , como a melhor campanha mundial de McDonald’s.

La Parola:
Entre a publicidade, o teatro e a literatura. O que te seduz mais?

Antônio Costa Neto:
Teatro. Disparado. Adoro escrever e dirigir para teatro. Mas na hora de ler, literatura é imbatível. Mas prefiro escrever teatro, sem dúvida. Publicidade é uma coisa que faço porque tenho a sorte de fazer bem. Mas não é uma paixão.

La Parola:
Como foi, do seu ponto de vista de autor e diretor, a premiere da peça O Bom, O Mau e a sua Esposa?

Antônio Costa Neto:
Foi legal. É sempre legal. Assisti com paixão, sem muita objetividade. Quero rever tudo. Vamos ficar três meses em cartaz. Depois, se decidirmos continuar, quero lançar um olhar mais objetivo e, talvez, rever coisas, que incluem cenário, figurino etc. Foi a primeira peça grande que dirigi na vida. Anteriormente havia dirigido apenas monólogos.

Foi um desafio. Um tesão de desafio.

 

La Parola:
Além da peça qual projeto você está desenvolvendo ou irá desenvolver futuramente?

Antônio Costa Neto:
Neste momento estou fazendo uma coisa que gosto, que é diferente de publicidade. Estou fazendo uma campanha de Marketing político. Tenho planos de escrever novas peças em breve. Tenho uma ideia para um livro, mas não tenho planos de começar a escrever já. Quero retomar  a atividade de roteirista de TV e cinema. Coisas que fiz no passado e quero voltar a fazer. Mas sem planos para começar.  Tenho recebido convites de produtoras, mas ainda estou avaliando. Preciso me estruturar financeiramente antes, porque tenho uma filha que acaba de entrar na faculdade,em Boston, e vai precisar de muito dinheiro. Acabei de me divorciar, depois de 18 anos casado. Divórcio é uma coisa cara. Preciso focar em me recuperar financeiramente. Daí volta a escrever com intensidade outra vez. Isso deve acontecer pela metade do ano que vem.

Mãe na Zona, de Antônio Costa Neto

Sexo, drogas, angústia e rock’n’roll em ritmo intenso na literatura de Antônio Costa Neto

Ele tinha um humor filho da puta. Falou que iria encher o cu de carne. E que adorava encher o cu de carne. Quem diz isso é Francisco referindo-se a seu amigo homossexual, o X (personagem vivido por Caio Fernando Abreu (AKA o poeta das redes socias do século XXI) na realidade), em Mãe na Zona, romance de Antônio Costa Neto.

Mãe na Zona é a história de Francisco, personagem autobiográfico que vive os anos 80 em plena intensidade hedonista. A história, com suas elipses de tempo durante a narrativa, caminha pelas ruas e, sobretudo, pela vida noturna de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Cairo, Turku e algumas outras. Francisco conta sua trajetória desde a infância, filho de brigadiano, o começo e ascensão da carreira como publicitário e escritor de peças teatrais, a chegada do sucesso, junto com a riqueza, e os ingredientes que o dinheiro compra através de, como citado na narrativa, uma busca pela autoflagelação.

Capa do livro Mãe na ZonaO livro nasceu após uma conversa entre Antônio, Cazuza e Caio Fernando Abreu, em uma noite no Madame Satã, em São Paulo. Caio sugeriu que Antônio escrevesse uma crônica sobre a “Mãe na Zona” para ser publicada na revista AZ. A repercussão foi tamanha que Caio pediu para que fosse transformado em um livro. Quase vinte anos depois o despretensioso papo no Madame Satã tornou-se um romance, publicado pela editora Matrix.
Mãe na Zona entrelaça histórias de amor e sexo, viagens e aventuras, bebedeiras e outras drogas, tudo em uma bem formada contextualização temporal durante o folhear das páginas. À medida que a história vai transcorrendo, as revoluções e notícias que marcaram a história do Brasil e do mundo vão sendo citadas e comentadas acidamente pelo protagonista, em uma visão pessoal de mundo.

Nos anos 70, as feministas vieram com tudo. Veio a Betty Friedan e o Women’s Liberation March e os seus sutiãs queimados etc. […] Nos anos 70, teve O Dia do Chacal, a guerra civil de Angola e o nascimento daqueles barangas do Queen. O Mao morreu na China, e Rocky, o Lutador, deu a cara do Sylvester Stallone para bater. Os Muppets chegaram para alegrar nossas vidas e nos fazer esquecer que Elvis havia morrido. David Bowie começou sua metamorfose, e Johnny Rotten botou pra foder nos Sex Pistols. […] No final dos anos 70, surgiu o Lula, depois veio o PT.

Nos anos 90 Yeltsin declarou a independência da Rússia. Eu queria ter conhecido esse Yeltsin. O cara era bom de copo, sabia beber umas que outras. […] Em 90, surgiu o Collor e sua gangue neoliberal, e o Brasil nunca esteve tão corrupto.

O personagem raramente conta um episódio que passou estando sozinho em sua vida, mas frequentemente se sente como tal. Durante esse anos permaneceu vivendo em um estilo de vida desregrado e canalha. Francisco explica, psicologicamente, como sua vida tornou-se desse jeito.

Quando todos já não gostavam mais de andar de bicicleta, nem eu mesmo, meu pai resolveu me dar uma de Natal. Pedi a ele ou uma Monaretta ou uma Caloi dobrável, que eras as bicicletas que todos tinham. Uma semana antes do Natal, chegou a minha bicicleta. Nem uma Monaretta nem uma Caloi, mas uma bicicleta made in Brazil, chamada Bandeirante. Era uma bicicleta para uma criança de 6 anos, e eu tinha 10. […] A minha Bandeirante era supostamente uma bicicross. Assim, nesse estado de transe, em que eu tentava provar para mim e para todos uma coisa na qual nem eu mesmo acreditava, jogue-me de corpo, alma e bicicleta na minha primeira manobra radical. Ao descer da calçada, o frágil guidão quebrou.[…] Eu entendi, de uma única vez, a minha condição de ter nascido pobre, de ter menos que os outros. Entendi que tudo o que tinha vivido antes não tinha sido por acaso. A pobreza fazia parte de mim, assim como meus braços, minhas pernas, meu nariz. Compreendi que tudo na minha vida, daquele momento em diante, seria assim. Os meus sonhos nunca teriam limites, mas a sua contrapartida, ou melhor, a realização dos sonhos, estaria eternamente comprometida. Entendi que para o resto da minha vida teria somente parte daquilo que eu desejava. E para mim isso foi um alívio. Daquele dia em diante eu poderia escolher as minhas ilusões. Foi assim que deixei minha alma marinando na tristeza. E a minha vida ficou para sempre com gosto de dor.

Ao longo da narrativa a explicação se repete:

Hoje me dou conta de que depois daquele episódio não consegui mais me abrir para o mundo. Estou falando de uma abertura emocional. Fechei-me, tornei-me inseguro, Mas tudo isso estava escondido. […] O garanhão, canalha, era a minha máscara preferida, porque chamava tanto a atenção das pessoas, as distraía tanto que ninguém jamais mudava de assunto e dizia “bem, agora vamos falar com você”.

A narrativa da obra remete a uma história autobiográfica pelo seu estilo sincero e franco, sem rodeios para falar palavrões e utilizar linguagem coloquial. Seja em diálogos ou em divagações, a proximidade entre a ficção e a realidade aparenta ser muito pequena pela forma com que Neto narra os episódios.

E a gente rindo. Daí eu falei que tinha transado sem camisinha, que tinha comido o cu dela e tudo. E disse que tava morrendo de medo de ter pego aids dela. Então o meu amigo disse que também tava morrendo de medo de ter aids. Daí ele começou a chorar. Daí eu comecei a chorar com ele. Os dois com medo de morrer de aids.

Não há como ser mais sincero e se aproximar mais da realidade do que isso. Neto fala da vida com a sensibilidade de alguém que já vivenciou momentos de felicidade, tensão e angústia. Não existe palavra feia. Há aquele tipo de escritor que evita palavrões em seus livros. Hesita até mesmo em falar “merda”, mas chama de “filho da puta” o motorista daquele celta prata que passou cortando a preferencial no trânsito. Neto, com muito sucesso, narra a trama de forma poética e verossímil.

E Katy ria. Ela gostava pra cacete de rir. Na Finlândia, o pessoal não ri. Toma vodca e não ri. Katy ficava só me olhando, como um cachorrinho olha para o dono, esperando que eu jogasse uma piada para ela. Eu jogava. Ela ria. E abanava o rabinho. Branco, durinho. Katy tinha um belo rabo. Dezoito aninhos. Fernando Costa, um amigo cearense, sempre dizia que as mulheres se apaixonam por homens que as fazem rir. E os homens se apaixonam por mulheres que os fazem chorar. Eu estava fazendo Katy rir e pedindo a Deus que ela nunca me fizesse chorar.

Mãe na Zona tem outra (mais uma) boa particularidade: os subtítulos. A cada nova passagem há uma epígrafe explicando de maneira bem humorada o que é ter a mãe na zona. Estas epígrafes fazem parte da crônica que deu origem ao livro.

Mãe na zona é um impulso de vida suicida. É uma vontade de ser algo que ainda não se sabe.
Mãe na zona é cometer um erro atrás do outro e acreditar que a soma dos erros é o maior acerto.
Mãe na zona é perder a memória no dia seguinte. É confundir os fatos, as datas, os amigos e não saber mais quem se é. Mãe na zona são flores artificiais.
Mãe na zona é ir às reuniões mistas do AA em busca de companhia feminina.

Se este artigo não o convenceu o suficiente para ler, deixo que Luís Fernando Veríssimo, autor deste belíssimo prefácio faça a sua tentativa.

O Toninho é um dos melhores entre os (poucos) humoristas de texto do Brasil, e uma das pessoas mais originais que conheço. Não é como alguns, que parecem originais, mas você vai ver é xerox. O Toninho Neto é ele mesmo. Ou então é uma falsificação perfeita, o que dá no mesmo. Dele pode-se dizer que pensa engraçado. Tem um texto criativo. O sonho dele é um dia fazer um texto totalmente em branco, só de entrelinhas. Enquanto não consegue isto, vai trabalhando com linhas. E que linhas. Olhe aí dentro e comprove. O homem é único. Ainda por cima é um grande cara. E, pelo que sei, um bom filho.

Vergonha alheia

Índios são simbolo do cartão de visita das Olimpíadas do Rio de Janeiro

Os minutos finais do encerramento das Olimpíadas de Londres, os quais são de responsabilidade do país-sede dos próximos jogos, fazem cair a ficha de que quatro anos passam mais rápido do que muita gente imagina, ou que pelo menos finge acreditar que até 2016 dará tempo de transformar o Rio de Janeiro numa cidade preparada pra receber o principal evento esportivo da terra.

O buraco é muito mais embaixo do que se imagina, não se trata apenas de alcançar um padrão mínimo de transportes, segurança e infraestrutura para os jogos, a expectativa de quem olha de fora é uma Olimpíada de igual para melhor do que foi Londres, o legítimo espetáculo pra inglês ver e ainda suceder os jogos de Madri, Istambul ou Tóquio em 2020. Se nunca na história aconteceram Jogos Olímpicos na América Latina, certamente existe um motivo.

A Copa do Mundo é outra história, o esporte é um só e as cidades sedes são várias, a responsabilidade é dividida, não que isso seja suficiente, que de fato não é, porque o tempo é menor ainda, um ano apenas, o evento teste é a Copa das Confederações que acontece em 2013, e se o país não convencer, existem vários outros países perfeitamente preparados para arrancar a Copa do Mundo de 2014 do Brasil. A situação ainda piora com o crédito na praça que o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira nos deixou, treinado por seu ex-sogro, João Havelange, Teixeira conquistou mais um título para o país, o número um em corrupção dentro de uma entidade esportiva.

E com essas e outras, que o Brasil vai mostrando a sua cara, a economia vai crescendo e a ignorância ficando cada vez mais escancarada, reflexo da nossa própria classe elitizada. O conjunto Brasil-clichê no encerramento de Londres 2012, com bateria de escola de samba, dançarinos usando cocar em tempos de Belo Monte, mais Rei Pelé e Copacabana, só alimenta a ideia de que teremos em 2016 uma “Olim-piada”, vista por 4,8 bilhões de espectadores, mais da metade da população mundial, proporcionalmente inversa à audiência brasileira que não atingiu a metade do esperado. Por aqui é assim, não está na Rede Globo não existe.

Olimpíadas 2016
Índios são simbolo do cartão de visita das Olimpíadas do Rio de Janeiro.
Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República/Divulgação.

O que será então da Olimpíada de 2016, que também não será transmitida pela toda poderosa que se liga em você? Enquanto isso a Fátima Bernardes discute o tema “Minha mulher me trocou pelo meu melhor amigo”.

Batcinema: O home theater inspirado no Batman

Elite Home Theater Seating

Elite Home Theater Seating é uma empresa para megalômanos. A especialidade? Ampla capacidade de customização de home theaters. Mas não home theaters normais que compramos no shopping, com algumas caixas de som e um subwoofer. A Elite projeta salas de cinema de diferentes tamanhos e para diferentes tipos de extravagâncias, desde o tamanho da tela até o tipo de cadeira usado.

É praticamente tudo personalizável. O cliente escolhe o tipo de cadeira, a densidade, o material, a cor, o encosto e nem sem mais o quê, pois se houver a necessidade de que o home theater seja ainda mais personalizável do que o guia disponível no site basta entrar em contato com a Elite. Os projetos são realizados tanto para residências como para salas de exibição comerciais.

O auge da ousadia da Elite, um projeto de 2 milhões de dólares, é um batcinema. Está em andamento a construção de um home theater inteiramente dedicado ao Cavaleiro das Trevas. A batcaverna está sendo montada na cidade de Greenwich, estado de Connecticut, Estados Unidos. A previsão de término é para novembro deste ano.

E o home theater é uma batcaverna mesmo, toda fechada. Para ter acesso à sala é necessário entrar em um elevador secreto situado atrás de um relógio. O elevador então descerá um andar até uma sala de aproximadamente 1115m², mas só depois de confirmadas as impressões digitais autorizáveis.

No projeto da batcaverna consta uma tela de 180 polegadas situada entre duas réplicas do Batman em tamanho real. Durante toda a sala há SEIS réplicas do homem morcego espalhadas por diferentes posições.

Os assentos também condizem com o personagem, são feitos para que se identifiquem com um banco do batmóvel, mas essa não é a única parte do carro presente no home theater. Ao lado das poltronas há uma estante que se abre quando o livro correto é puxado para frente, bem clichê e demais. Dentro da passagem secreta surge uma réplica em tamanho real do batmóvel.

A decoração toda é preenchida por estilos presentes em Gotham City, incluindo lustres e gárgulas.Veja as fotos do projeto:

Batman - Batcinema

Batman - Batcinema

Caso você seja milionário, pode acessar o site http://www.elitehometheaterseating.com e fazer uma encomenda.

Veja abaixo outros projetos da Elite Home Theater Seating:
(clique para ampliar)

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Elvis Presley (1956) – O primeiro álbum do Rei do Rock

Elvis Presley gravou mais do que um disco de rock’n’roll em 1956, gravou o disco que impulsionou sua carreira e imortalizou sua voz em canções populares da época.

“Gosto dessa música que o Elvis compôs, Blue Suede Shoes”. Alguém na vida já pensou isso, com certeza. Pensou errado. “Blue Moon do Elvis é muito linda”. Sim, é, mas também não foi ele que compôs. Nenhuma música é de autoria original de Elvis Presley nesse álbum de estreia.

“Então por que diabos esse disco é tão importante?”. Porque é o primeiro do Elvis e isso já deveria ser o suficiente. Tem duas coisas que o tornam esse disco memorável. A voz de Elvis Presley que com o disco passou a ser disseminada pelos Estados Unidos e as guitarras gravadas por Scotty Moore, um dos mais importantes e talentosos guitarristas da história e, que assim como Elvis, ainda está vivo (de verdade).

Além da música, a capa também é memorável. A foto foi registrada por William V. “Red” Robertson em 31 de julho de 1955, em Tampa, Florida. Quem acha essa capa inesquecível sou eu e The Clash, que homenageou o Rei do Rock com a capa de seu melhor disco, London Calling, em 1979.

Primeiro álbum de Elvis Presley - Capa

Elvis Presley (1956) – Faixa a Faixa

Disponível para ouvir no Eu Escuto

1. Blue Suede Shoes

“Well it’s one for the money, two for the show, three to get ready now go, cat, go”. A primeira música do primeiro álbum de Elvis começa com o que mais marcou sua carreira, a inconfundível voz. Uma das mais conhecidas gravações de Elvis tornou-se um clássico. Música de Carl Perkins.

2. Counting On You

Elvis ficaria conhecido e muito por suas baladas anos depois. Não é o foco do começo de sua carreira, porém Counting On You é um preâmbulo do que viria acontecer. Composta por Don Robertson, é uma sincera canção de amor e uma súplica à cumplicidade. I’m counting on you dear around the dawn of each day, to always come true, dear, in your kind lovin’ way.

3. I Got a Woman

Depois de uma balada, Elvis volta ao rockabilly com I Got a Woman. Considerando o ano de 1956, Elvis foi bastante pretensioso ao regravar uma música de um compositor negro. Estamos falando aqui de Ray Charles. A música é reta, mantendo o mesmo ritmo do início até o…quase fim, quando nos últimos segundos é encerrada com uma pertinente e curta levada de blues.

Rei do Rock
Elvis on stage. by Alfred Wertheimer (1956)

4. One-Sided Love Affair

Essa é uma das músicas que devem ter deixado muitas mulheres apaixonadas pelo Rei. If you want to be loved, baby, you’ve got to love me, too. Oh yeah, ‘cause I ain’t for no one-sided love affair. Não há mulher na década de 1950 que não se encantaria com esses versos no ritmo dançante imposto por Elvis. Não há. A música é de Bill Campbell.

5. I Love You Because

Após dois rockabillys fervorosos, Elvis volta com uma balada. Composta em 1954 por Leon Payne, ganhou essa versão romântica, melosa e apaixonada de ElvisNo matter what the world may say about me, I know your love will always see me through. I love you for the way you never doubt me.But most of all I love you ‘cause you’re you.

6. Just Because

Elvis era bipolar, isso está escrito na vasta bibliografia sobre o Rei. O que tem a ver com o primeiro disco é que essa música seguinte torna o álbum também bipolar. Just Because, composta em 1929 por Joe Shelton, Sidney Robin e Bob Shelton é um rockabilly livre. Além do ritmo, da voz e da letra que em palavras contemporâneas toca o foda-se, a faixa contém uma maravilhosa linha de guitarra de Scotty Moore, guitarrista que vale a pena ser lembrado.

7. Tutti Frutti

Awop-bop-a-loo-mop alop-bam-boom. Uma das onomatopéias mais famosas do rock. A música gravada originalmente por outra grande estrela, Little Richard, é sem sombra nenhuma de dúvida, uma música que mudou a história do rock. Elvis fez uma versão mais rápida e menos “gritada”, caracterizando sua voz grave em vez dos sônicos agudos de Little Richard. Eu diria que as duas versões se completam.

Elvis Presley com 21 anos
Elvis com 21, um piá. by Alfred Wertheimer (1956)

8. Trying To Get You

Voltamos a uma balada. I’ve been traveling over mountains. Even through the valleys, too. I’ve been traveling night and day. I’ve been running all the way. Baby, trying to get to you. É uma clássica canção de uma alma apaixonada fatalmente separada do amor pela distância, composta por Rose Marie McCoy e Margie Singleton.

9. I’m Gonna Sit Right Down (And Cry Over You)

A nona canção é um pré-lamento. Composta por Howard Biggs e Joe Thomas, Elvis faz um ritmo dançante sobre uma letra triste, uma ameaça de alguém que irá espernear e chorar se perder a pessoa que ama. Simplicidade nos versos e na música. I’m gonna love you more and more every day. I’m gonna love you more and more in every way. And if you say good-bye. If you ever even try. I’m gonna sit right down and cry over you.


10. I’ll Never Let You Go (Little Darlin’)

O auge da melancolia no disco de estréia do Rei está nessa faixa. Perto do fim, uma mudança rítmica transforma a música de melancólica a alguma coisa parecida com uma confiança empolgante (não sei de onde veio isso).  I’ll never let you go, little darlin’. I’m so sorry ‘cause I made you cry. I’ll never let you go, ‘cause I love you. So please don’t ever say good-bye. Os versos são de Jimmy Wakely.

Rei do rock
Só mais uma na vida de Elvis. by Alfred Wertheimer (1956).

11. Blue Moon

Quem não conhece Blue Moon? Blue moon, you saw me standing alone. Without a dream in my heart. Without a love of my own. Lembrou? A bela balada amplamente regravada até os dias atuais e em distintas versões. A tradicional canção foi escrita em 1943 por Richard Rodgers e Lorenz Hart. No ano passado foi a vez do Beady Eye regravar com a radiofônica voz de Liam Gallagher. Mas deixaremos o Beady Eye para uma próxima vez, Blue Moon de Elvis é soturna e bem baixinha, destacando a voz de Elvis acima do instrumental.

12. Money Honey

Para terminar aparece de vez no disco a alma blueseira de Elvis. Money Honey, escrita por Jesse Stone é um blues certeiro, tradicional e sem mistério. É para terminar o disco com o ânimo alto apesar de a música terminar subitamente, quase que de forma preguiçosa.  She said I’d like to know what you want with me. I said money, honey.

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