The Endless River: O Feng Shui do Pink Floyd

Sabe aquele momento quando suas mãos tremem? Quando a dúvida se faz presente e você, mesmo temeroso, tenta superá-la? A vida é uma instituição que ensina mais que doutorado de física quântica, ela causa dor, alegria, confusão, tristeza, e outras dezenas de polaridades sentimentais.

A música reflete a vida. O som nosso de cada dia inicia um novo ciclo toda vez que é devidamente iniciado pelo mestre de cerimônias mor das frequências auditivas: o play. A leveza ou peso de uma melodia, a poesia de rara beleza ou palavras ao vento. Cada som tenta ser um nirvana diferente, é uma energia que serva para cada momento, porém poucos são os sons que conseguem atingir e passar o ideal lunático de verdade absoluta para o ouvinte em todas as ocasiões.

Pink Floyd - The Endless River - Gravação (5)Pouquíssimas bandas conseguiram condensar meu estado de espírito, em qualquer humor, moldando o mesmo para que ele fosse perfeitamente encaixado no som. Chamo isso de plenitude sonora, e senti isso poucas vezes em minha vida, são momentos tão raros que gosto de passá-los sozinhos, e é nesta parte do texto que as palavras me deixam na mão, só o abstrato, aquilo que você carrega no peito, que pode explicar os sentimento de quando ouvimos um som que faz conexão com nosso lado emocional-sentimental.

Pink Floyd - The Endless River - Gravação (4)Ouvindo The Endless River até minha orelha virar ao contrário, desde o lançamento do single (o único cantado de todo o disco), o lindíssimo Louder Than Words, consegui mais uma vez conversar comigo mesmo. Todas as vezes que ouvi esse disco não estava em mim, estava fora de mim, mas me sentia perfeito. Parece que esse som, não só com este disco, mas falando sobre tudo que o Floyd já fez (com ou sem Waters), tira todas as mazelas de meu corpo e alma, e enquanto escuto a melodia sou um ser virtuoso, um ser perfeito, simplesmente não me abalo.



A guitarra do senhor David Gilmour não é a mais virtuosa das galáxias, mas o que ele tira de sua Fender é completamente inexplicável, ele opera o timbre da guitarra de uma maneira que parece que… (Nesse exato momento onde a frase ficou inconclusiva apertei play novamente. Minha mão não está pesada enquanto escrevo, aliás ela nunca esteve tão leve, mas é neste momento que sinto a faísca que me faz sentar para escrever, ou que me faz ouvir música. Esse sentimento retumbante e grandioso, que enquanto dura me faz acreditar que tudo é possível… O céu parece até mais azul do que a própria capa deste álbum!)

Pink Floyd - The Endless River - Gravação (3)O Floyd vai terminar depois desse trabalho, mas o que fica é esse encerramento grandioso, e eles não precisavam disso necessariamente, mas até para encerrar um ciclo os britânicos são certinhos e levemente conceituais.

Um trabalho muito bom que mais uma vez mostra esse lado de crescimento pessoal, de experiência. O Floyd navegou e muito nesse tal de The Endless River, mas o fez enquanto pôde. No meio da peleja alguns membros foram ficando pelo caminho, e agora é hora de sair, mas o barco não vai parar, o manche seguirá um rumo eterno, a música fica para a posteridade e a banda encerra um período, mas o continua ao mesmo tempo.

Pink Floyd - The Endless River - Gravação (6)Um paradoxo chamado rock progressivo e camadas e mais camadas de teclado, uma guitarra mais livre do que pensamento, e um valor inestimável. Não é o melhor disco do Pink Floyd, nem de longe, mas é um álbum muito sincero, cada faixa não pode ser imaginada de uma forma melhor do que aqui é tocada, é apenas exato, um campo magnético que nos faz orar pela mesquita da música de verdade, aquela que é sentida dentro de nós mesmos…

Poderia continuar escrevendo sobre esse disco, poderia digitar e digitar até que este aglomere caracteres suficientes para se tornar uma tese filosófica… Mas para que a pressa? A vida é um rio sem fim, uma música que nunca termina, ou um momento que em nossa mente acaba, mas que na essência é contínuo.

Pink Floyd - The Endless River - Gravação (7)A vida não tem botão de pausa, navegue pelo rio e saiba que uma hora você não vai estar capitaneando seu encouraçado, mas seu barco segue remando, nada tem fim, tudo é sempre só o começo, abrindo com Things Left Unsaid e tirando toda e qualquer dúvida dessa caravana sonora com as últimas palavras cantadas na já conhecida Louder Than Words, o último retrato falado em uma discografia que sempre foi dominada pelo absolutismo instrumental.

Um disco de apenas um take, tudo se interliga, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma… Frase do Lavoisier? Não, sinônimo de Pink Floyd e seus 53 minutos de um paradoxalmente infinito adeus em missão de reconhecimento eterno com 18 divisões, que na verdade são partes de um todo dentro de um som indivisível. Um enigma, um doce e maluco enigma que seguirá brilhando neste eterno presente sideral de Stephen Hawking.

Pink Floyd Endless River (2014) Capa

Track List:

1. Things Left Unsaid
2. It’s What We Do
3. Ebb And Flow
4. Sum
5. Skins
6. Unsung
7. Anisina
8. The Lost Art Of Conversation
9. On Noodle Street
10. ‘Night Light
11. Allons- y (1)
12. Autumn ’68
13. Allons-y (2)
14. Talkin Hawkin’
15. Calling
16. Eyes To Pearls
17. Surfacing
18. Louder Than Words

Line Up:

David Gilmour (guitarra/vocal)
Nick Mason (bateria/percussão)
Richard Wright (teclados/piano)
Durga McBroom (vocal)
Sarah Brown (vocal)
Louise Clare Marshall (vocal)
Guy Pratt (baixo)

Você sabe com quem está falando?

Existe, na literatura, um país chamado Lisarb. O Lisarb foi “descoberto” há mais de 500 anos, mas os povos primitivos – que hoje são minoria – já viviam em suas terras há bem mais tempo. Hoje, no Lisarb, os donos são outros. Por sinal, aí está uma característica muito vangloriada pelos lisarbeiros: “dono”. Todos adoram ser donos de algo. Donos de empresas. Donos de empregadas domésticas. Donos de cônjuges. Donos da razão.

O Lisarb possui uma recente Constituição Federal, declarada em 1988. Nela está explícito que todos os nativos são iguais perante a lei, independente de raça, credo, cor, time do coração, opção sexual e hábitos bizarros. Entretanto, no mesmo Lisarb, existe uma pirâmide sócio-profissional, uma hierarquia que define, em tese, quem é mais poderoso que quem.

Assim como nos quadrinhos da Marvel, em Lisarb algumas pessoas também possuem superpoderes. É verdade que ninguém lê mentes, se transmorfa ou possui garras de adamantium. Os superpoderes aqui são outros.

Um dos habitantes de Lisarb que é dotado de superpoderes se chama João Carlos de Souza Correa. Vamos chamá-lo apenas de João Carlos para poupar caracteres. Bom, João Carlos é juiz, e tem o que muitos chamam de rei na barriga. A monarquia em Lisarb acabou no século XIX, mas alguns praticantes ainda conseguem reinar. João Carlos é um deles.

Em Lisarb, os habitantes transitam em automóveis. Muitos são privados e possuem uma placa de identificação e documentos. Para dirigir esses automóveis é necessário ser licenciado e portar um documento chamado HNC. Eventualmente, há fiscalizações em algumas cidades, realizadas pelos chamados agentes de trânsito. Segundo a legislação, o agente pode multar o motorista quando este estiver sem a HNC ou se o carro estiver sem documentação e sem a placa.

É aí que entra a história de nosso herói, anti-herói, ou simplesmente, almofadinha da sociedade com superpoderes. Certo dia, João saiu com um carro sem placas, sem documentos e sem sua carteira de habilitação. Dirigindo na maior tranquilidade se deparou com a fiscalização. João Carlos então se apresentou como juiz – ocupação em que a pessoa é encarregada de decidir situações conflitantes com a lei por meio de uma imensidão de papéis e depoimentos de terceiros, mas sem nunca estar presente para ver como são as coisas com os próprios olhos. Voltando, ao ouvir o que o juiz proferiu, a agente retrucou: “você é juiz, mas não é Deus”. Foi aí que João Carlos utilizou seus superpoderes. “Onde já se viu dizer que não sou Deus?”, deve ter pensado o juiz. Dessa forma, agiu como uma boa parcela da população de Lisarb e abriu um processo contra a agente. Inverteu a situação por meio de um chorume judicial, também conhecido como processo por danos morais.

Judge Ally
“Declaro que Chapéuzinho Vermelho e Vovózinha são culpadas por todas as suas acusações.” | via Flickr

João Carlos estava sem documentos que a legislação exige. A agente de trânsito estava fazendo o seu trabalho. João Carlos achou que a agente foi ofensiva ao ter dito que ele não era Deus para não ter um tratamento diferenciado. A agente de trânsito foi então multada pela Justiça no valor de 5 mil verdadeiros (nome da moeda local). João Carlos passou, como em um passe de mágica, de infrator à vítima. Assim são as coisas em Lisarb, um país que parece estar virado de cabeça para baixo em muitas situações lideradas por pessoas com superpoderes. A principal? O significado da palavra justiça.

Essa história – que foi real e aconteceu e aqui está o link caso você ache um absurdo – fez eu lembrar de uma palestra do filósofo Mario Sergio Cortella. O vídeo tem pouco menos de 10 minutos e é daqueles que gruda na memória e faz a gente entender a verdadeira dimensão das coisas.

“Já pensou? Já imaginou? 6 bilhões. Quem é você? Quem sou eu? Quem sou eu pra achar que o único modo de fazer as coisas é como eu faço? Quem sou eu pra achar que a única cor de pele adequada é a que eu tenho? Que sou pra achar que único lugar bom pra nascer foi onde eu nasci? Quem sou eu pra achar que o único sotaque correto é o que eu uso? Quem sou eu pra achar que a única religião certa é a que eu pratico? Quem sou eu? Quem és tu? Tu és o vice-treco, do sub-troço” (Mario Sergio Cortella).

Parafraseando um poetinha que conheci um dia: “Se a justiça não pune, o tempo pune”. Por isso a importância de saber quem você é e qual a sua função no universo. Assista a essa baita aula de ciência e filosofia abaixo e, por favor, coloque-se em seu lugar, baixe sua bola e não seja um João Carlos otário.

http://youtu.be/KapTA8D0gnA

“Tu és um indivíduo entre outros 6,4 bilhões de indivíduos, compondo a única espécie entre outras 3 milhões de espécies já classificadas, que vive em um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre outras 100 bilhões de estrelas, compondo uma única galáxia entre outras 200 bilhões de galáxias em um dos universos possíveis e que vai desaparecer” (Mario Sergio Cortella).

Montréal da Realização

Olar, pessoal. Me chamo Clarissa Moreira Jurumenha. Tenho 22 anos de idade (até agora, que eu saiba) e sou uma brasileira meio maluca que largou a vida toda e veio chamar Montréal de casa. Intercâmbios são coisas cheias de altos e baixos e definitivamente a ideia de “começar do zero” é a coisa mais encantadora que se possa imaginar – pelo menos para mim.

Quando fui convidada a escrever sobre minhas experiências como intercambista, passei meses (meses, sem exagero, eu juro) pensando em como eu começaria essa loucura. Comentei com o Flaubi Farias, editor do La Parola, “meu intercâmbio tem sido cheio de desastres. Devo eu ser a pessoa a contar pr’o mundo que nem tudo são flores?”, ele me disse que eu poderia ser sincera e aqui vou eu, então, tentar começar a escrever sobre como morar fora é a coisa mais bonita e mais horrorosa que se possa imaginar.

Veja bem, meus caros. Esta que vos escreve estava a um ano de terminar sua tão sonhada faculdade. Tinha o emprego dos sonhos como assessora de imprensa em um escritório em que a chefe e os funcionários a faziam rir durante todo o expediente.Tinha carro, ia pro bar todos os dias encontrar os amigos, beber uma cerveja barata e ter mais boas histórias pra contar. Tinha um não-namorado, que era o companheiro de aventuras e somou mais e mais histórias pra contar. Tinha um lado família em que a tradição de sábado à noite era comprar vários vinhos, queijos, convidar amigos e passar a noite no pergolado ouvindo Maria Bethânia e jogando conversa fora. Outro lado da família, mamãe que fazia feijão tropeiro e banana frita toda vez que eu ia visitá-la. Minha maior preocupação era a roupa pra balada de final de semana, se eu ia ter dinheiro pra cerveja, pro vinho de sábado ou pros ingressos pros vários festivais e shows que agora acontecem no Brasil. Ainda tenho tudo isso – acho. Pausei a vida e segui o que o calor do meu coração me pedia: vai morar no Canadá.

Montreal - Canadá - Foto - Clarissa Jurumenha (5)

Decidi que queria morar em Montréal quando tinha 13 anos. E, pra ser sincera, me apaixonei pela cidade por que era fã de Simple Plan na adolescência e eles são daqui – juro, não ri. Cresci, atingi boa parte das minhas expectativas e sonhos pra vida, menos a de morar no Canadá. Apesar de dormir feliz quase todos os dias por ter uma vida extremamente agradável (cheia de altos e baixos também, é claro, nem tudo são flores nunca) a foto de Montréal grudada no mural da minha parede me causava uma inquietude sem limites. Dessas que te fazem chorar e reclamar de tudo e ter certeza de que começar do zero não é fácil, mas que é disso que se precisa. Pois muito bem, causei tanto por tantos anos insistindo nesta ideia que cá estou, quase a completar cinco meses de aniversário da minha “nova vida”.

Montreal - Canadá - Foto - Clarissa Jurumenha (4)

A aventura toda começou a caminho de Winnipeg, uma cidadezinha na província de Monitoba, no Canadá, dia 24 de junho de 2014. Antes de aterrissar em Winnie, pousei em New York por 9 horas de conexão. Uma das minhas grandes paixões – se não a maior delas – é o Pop Art. E, claro, Andy Warhol. O Museu de Arte Moderna de NY, MoMA, tem uma parte que abriga uma exposição fixa do Warhol e de outros artistas que marcaram a história do Pop Art, como o meu outro amado, Roy Lichtenstein. Decidi que queria passar minhas 9 horas de NY dentro do MoMA. Sempre fui meio perdida e meu senso de direção é uma piada. Juro. Sentei no JFK, comprei um café e fiquei por pelo menos 30 minutos refletindo se era realmente uma boa ideia largar o aeroporto – de metrô, é claro – e sair andando por NY. A probabilidade de me perder era gigantesca! E o que eu ia fazer se ficasse perdida? Existe sempre a opção de pegar um táxi e voltar para o aeroporto, mas economizar dinheiros quando se faz um intercâmbio é a coisa que mais ronda sua cabeça. Perdi o medo. Eram 9 horas, o que eu ainda estava pensando? Depois de quase 10 horas de voo, descabelada, 6h da manhã em NY, morrendo de sono e com a cara inchada de chorar dentro do avião depois de ler e reler a carta da minha melhor amiga, saí andando completamente sem direção.

O JFK é gigantesco. Dentro do aeroporto existe o “Federal Circle”, que é um metrô que gira, literalmente, em círculos dentro do aeroporto. São 9 paradas, divididas por companhias aéreas, e uma parada que te leva pra um outro terminal de acesso à linha de metrô em NY – já fora do aeroporto. Depois de rondar em círculos algumas vezes, peguei o metrô para fora do terminal e parei numa outra estação, de Long Island. Nada fazia sentido. Meu inglês, que eu nem fazia ideia de que funcionava, foi todo construído assistindo a Friends e How I Met Your Mother com legendas em inglês ou traduzindo músicas. Minha gramática veio de tentar ajudar meus irmãos nos deveres de casa da escola. E o medo de falar inglês em NY? Sim, as pessoas são bem menos queridas do que se vê nos seriados.

Pedi informação, desci um elevador (ainda não acho sentido nenhum em ter de pegar elevador na estação de metrô com aquela quantidade infinita de pessoas indo na mesma direção), peguei outro metrô e parei na estação da Rua 53 com a 5ª Avenida. Desci e saí procurando igual a uma louca por wifi. Meu primeiro pensamento foi: “ué, em primeiro mundo não tem free wifi em todas as esquinas?”, não, inocente. Claro que não! Mas tem Starbucks em todas as esquinas, então tá tudo sob (a.k.a sem) controle. Andando sem rumo, parei e perguntei pra um senhor, gaguejando de medo desse meu inglês – até então – piada.

– Oi, será que você pode me ajudar? Estou procurando o MoMA.

– O quê?

– O MoMA.

Sem muita paciência, ele apontou pra frente e ali vi a placa gigantesca do MoMA. Respondi, tentando usar um tom de piada:

– Sou míope, não consegui ver nem essa placa enorme? Que burra! Obrigada.

Nova York - Foto - Clarissa Jurumenha (1)E saí. Não sou míope e ele não achou muito engraçado, mas tá tudo bem, eu já estava na rua certa. Avanço. Claro que estava fechado! Eram 7h da manhã e nem gente na rua tinha direito. Sai andando sem rumo. Completamente sem rumo, mas absolutamente encantada. Caí numa rua extensa, muita loja, muita luz, muita gente, muito yellow cab, me veio o famoso dejà vu: já estive aqui antes, mas como? Era a Times Square brilhando 7h da manhã na minha cara. Quase chorei. Como assim, gente?

Caminhei por mais algumas horas. Completamente desnorteada. Achei uma wifi e ali fiquei sentada avisando minha família que “calma, pessoal, tô viva, tô andando em NY”. Meus pais surtaram um pouco, por que né, os pais são as pessoas que mais surtam quando você esta longe, por mais que você nem more com eles antes de viajar.

Nova York - MoMa - Foto - Clarissa Jurumenha (2)Andei por mais algumas horas, voltei pro MoMA. Consegui achar a exposição que eu queria, depois de me perder entre os tantos corredores e tantas diferentes exposições daquele lugar. E chorei. Chorei quando andando perdida, encontrei o Drowing Girl (1963 – Roy Lichtenstein) na minha frente, depois de anos de espera e sonhando em como seria esse encontro.

Em seguida, adentrei o corredor que dava acesso à Marilyn Monroe e às tantas Campbells do Warhol. Chorei mais um pouco. O segurança veio me perguntar se estava tudo bem. E estava. Começa aqui o sonho mais maluco em que eu deito a cabeça todos os dias no meu travesseiro agradecendo por viver outro dia dele.

Nova York - MoMa - Foto - Clarissa Jurumenha (3)

 

Montréal da Realização: A jornada de sorte e azar de uma quase jornalista, quase publicitária, quase fashionista mas muito apaixonada por viver novas experiências, que largou tudo e foi chamar o Canadá de casa. Leia mais aqui.

 

Transcendendo o banal: A Ecossociologia de Eugênio Giovenardi

Se há algo surpreendente nessa baboseira de jornalismo é que a qualquer momento você pode ser vítima de uma grande rasteira. Enquanto você navega nas águas tranquilas do lugar-comum, do fato corriqueiro e da piada pronta pode surgir do nada um dos míticos monstros atlânticos e devorar você e sua vigília em desalento. Pensando bem, talvez isso seja verdadeiro em qualquer carreira, profissão ou instância da vida. Lá vou eu, como bom jornalista, transformar o fenômeno da vida em algo aborrecedor e corriqueiro… espero não ser um bom jornalista hoje.

O fato é que quando fui informado que a Academia Soledadense de Letras receberia a visita de um autor para falar de sua obra não fiquei muito surpreso.  Saber que Eugênio Giovenardi, ex-sacerdote da Igreja Católica, agora escrevia sobre ecologia, sociologia e pensamento sem Deus também não me deixou tão surpreso, uma vez que eu já julgava de antemão ser algum artifício polemista. Entrevistá-lo na casa de Daniel Paese, membro da academia, foi algo que rompeu com as tristes expectativas rotineiras. Eugênio falou-me sobre sua trajetória de vida, sua ecossociologia, sobre a interdependência dos seres e sobre sua esperança sobre a humanidade. Suas palavras foram simples, comuns, naturais, mas estranhamente tiveram um efeito diverso. Fiquei surpreso, fascinado e principalmente inspirado.

Trajetória

Eu não saberia reproduzir ou lhes explicar, portanto creio que as palavras do homem, extraídas de um áudio (em uma découpage honesta, garanto) poderão ser muito mais efetivas que qualquer tentativa minha. Ele começou falando-me sobre o trajeto de sua vida.

Sou natural de Casca-RS, e nasci em 1934. Meu pai era especialista em carnes, muito requisitado em pequenos frigoríficos em Encantado, Nova Bassano e finalmente foi contratado para fazer toda a linha de salames Borella. Aos meus dois anos viemos para Marau, onde acabei fazendo meu curso primário e dali, como muitos gaúchos, minha família acabou migrando para Santa Catarina. Fiquei no Rio Grande do Sul: fui levado a um seminário e me formei na Ordem dos Freis Capuchinhos. Como São Francisco era nosso patrono aprendi a observar a natureza, mas a forma como via a natureza era um pouco diferente da forma como a vejo agora. Até meus trinta e poucos anos eu via a natureza como se ela fosse uma criação direta de Deus, como se toda a criação houvesse sido feita há poucos anos – a Bíblia tem 5.700 anos, então o mundo teria começado aí. Mais tarde é que compreendi que essas informações estavam absolutamente fora de qualquer sentido científico. Nessa altura da vida comecei a me questionar e a questionar também todo o “pacote cultural” que havia recebido em minha vida. Nessa época eu estava na França e fazia meu doutorado em Sociologia. Comecei a me aproximar cada vez mais de outros aspectos sobre a formação do universo, e me dediquei à escrita, começando por contar sobre minha vida – o primeiro livro que escrevi, O Homem Proibido, que saiu pela Editora Movimento. Descobri um certo prazer em contar mentiras longas – nome que dou aos romances. Escrevi uma sequência de seis romances e depois passei a escrever mais sobre a natureza.

Fui funcionário da OIT por mais de 10 anos, também trabalhei na FAO, e sempre estive ligado à natureza. Passei a compreender de maneira diferente as coisas e um dos elementos principais que comecei a observar foi a interdependência de todos os seres vivos: cada um depende do outro para sobreviver e se reproduzir. Comecei a perceber isso nas coisas mais singelas, como o gato que come o rato, eu que como a alface, o outro que come o frango, o gavião que captura o passarinho em seu ninho, o homem que precisa da árvore para fazer sua casa – todos esses elementos são seres vivos. Se trata de uma nova maneira de ver as coisas e como eu trabalhava muito com agricultores, comecei a estranhar o fato de que apesar de eles trabalharem muito com a natureza, pouco entendiam dela. Com toda facilidade eles pescavam, matavam animais, derrubavam árvores queimavam pastos e observando isso me questionei “onde vamos chegar com esse sistema de produção e essa população crescendo?”. Comecei a perceber que se nós não pararmos para rever esse sistema que usamos hoje vamos acabar transformando o planeta em um deserto.

Neste ponto dei uma grande guinada e pensei em uma grande revolução. Qual seria a revolução mais adequada para a sobrevivência e reprodução humana? Plantar árvores. Não derrubar árvores ou derrubar governos, mas sim plantar árvores; se compreendermos isso poderemos salvar o planeta e salvar com ele a espécie humana. Há muitos seres que não precisam do homem para sobreviver, mas o homem precisa de todos os outros seres para sua sobrevivência. Compreender esta interdependência é que vai ajudar os grandes e pequenos empresários, os grandes e pequenos comerciantes, todos os agricultores: se eles compreenderem esta interdependência será possível melhorar as relações humanas. Por isso me tornei um ecossociólogo. Inventei este termo porque passei a examinar comunidades de árvores, como elas se comportam e qual o processo que existe na convivência destas árvores. Percebi que há uma cooperação muito grande entre elas porque todas se alimentam do mesmo solo e crescem na medida em que há a possibilidade delas sobreviverem e se reproduzirem. E nós? Nós vivemos exatamente do mesmo solo, a diferença é que damos mais ênfase à competição do que a cooperação. No solo as árvores recolhem a quantidade de alimento que é necessário a elas, na espécie humana temos a tendência de fazer reservas para uns e nada para outros. Essa diversidade de comportamento é que prejudica as relações humanas.

Giovenardi em palestra na ASL (foto: J.O. Quevedo)

A Ecossociologia

Procurei pelo termo ecossociologia no Google, algo óbvio e fácil de se fazer. É claro que uma simples busca como essa não pode definir o estado da arte, mas é fácil perceber que se trata de um termo pouco usado e entre os resultados está o nome de Eugênio. Não duvido, tampouco questiono a autoria do termo – como ele também sou adepto da liberdade de pensamento, ou seja, pouco importa o autor de uma linha de pensamento, desde que eu possa trabalhar sobre ela. O interessante, e verdadeiramente importante aqui, é perceber como o significado que ele atribui à Ecossociologia é muito fácil de compreender, uma vez que expressa significados identificáveis.

A Ecossociologia tem esse significado de compreender como vivem os demais seres. Os seres vivos são compostos exatamente dos mesmos elementos: hidrogênio e carbono. Somos matéria, não temos outra coisa. Sentindo que há esta semelhança entre todos os seres vivos fica mais fácil de nos compreendermos. Na espécie humana, por exemplo, somos estruturalmente iguais: somos todos iguais porque todos temos o mesmo cérebro e principalmente porque todos nós somos capazes de expressar-se pela palavra. O que identifica o ser humano é que ele tem a consciência de si mesmo, mas ele também tem a consciência de que o outro também tem consciência de si mesmo. 

Podemos ser diferentes em um aspecto funcional: você é jornalista, eu sou sociólogo, ele é advogado. Uma pessoa sabe fazer esculturas, outras sabem pintar, outras ainda sabem comercializar… mas essa diferença funcional não diminui a igualdade estrutural e essa igualdade nos leva a compreender que nós somos todos iguais e que o outro sou eu. Você é o outro para mim, mas eu sou o outro para você, portanto eu sou o outro! Sou amigo do Daniel e devo olhar a ele como se eu fosse ele e ele fosse eu! Mas não é assim na rua…na rua diferenciamos os outros pelo funcional, e assim sempre seremos superiores ao outro porque nós temos primeiro a consciência do Eu e não temos a consciência do Outro. No reino vegetal não existe a consciência do Eu ou do Outro… aliás, não sabemos, pode ser que exista, mas ainda não chegamos a compreender essa linguagem vegetal. O  fato é que em uma comunidade vegetal você vê dezenas e centenas de árvores e arbustos que convivem alimentando-se do mesmo solo e entre elas a vida, como tal, é a mesma. Penso que a esperança da evolução humana é que mais e mais o ser humano compreenda que o outro sou eu. Então se o outro sou eu tenho de respeitá-lo como a mim mesmo. 

O importante neste planeta não é a pedra preciosa, neste planeta o importante é a vida. Podemos dar valor à pedra preciosa, mas não podemos dar ou retirar o valor da vida, porque a vida é um valor em si. A medida em que respeitamos todas as vidas passamos também a melhorar o sistema de relações. Sempre repito para aqueles que estão ao meu redor: na medida em que nós amamos a natureza nós passamos a melhorar o nosso respeito para com as outras pessoas. Ora, a  árvore nunca sai de seu lugar, mesmo que você a destrate, mesmo que a ameace com um machado… a aproximação, quase que uma permissão de se aproximar das árvores, é uma lição para nos aproximarmos das pessoas. Temos de estar em uma busca permanente da felicidade vegetal… que sintamos, ao nos aproximarmos de outra pessoa, que esta outra pessoa sou eu com outro nome. Claro que chegar a essa compreensão é um longo caminho, ainda que haja comunidades inteiras, na Índia, por exemplo, que perceberam isso. Mas até chegarmos a dosar a cooperação e a competição ainda vamos ter que avançar por algumas centenas de anos.

Um pensamento sem Deus

Giovenardi em entrevista (Foto: J.O. Quevedo)

Há quem possa criticar minha decisão por deixar esse subtítulo assim, por dois motivos. Primeiro: porque usei o termo ateísmo; não o uso por que mesmo Eugênio afirmando ser ateu preferiu usar estas palavras, logo segui o mesmo caminho. Segundo: o uso de “Deus” com letra maiúscula; não o faço por ser teísta (panteísta, para ser chato), mas simplesmente para ilustrar com propriedade as ideias abordadas, uma vez que a figura de Deus, como um ser religioso, moral e cultural teve importância na vida desse escritor.

O pensamento não religioso, o pensamento sem Deus, é um aspecto bem interessante em minha vida. Quando comecei a pensar dessa forma, tive momentos de desespero, de pavor, porque fui educado na religião. No pacote cultural que recebi um dos elementos principais era Deus. Ele era o responsável por tudo que havia… todos os códigos morais, éticos e políticos vinham por ele e aparentemente tudo estava pensado por ele. Esses argumentos começaram a perder força e eu comecei a perceber que aquelas verdades que me haviam sido passadas pelo pacote cultural não eram mais aceitas pela minha inteligência e pela minha maneira de pensar. Meu cérebro se rebelou contra esse tipo de coisa e aos poucos fui analisando como eu poderia interpretar tudo isso de maneira diferente.

Uma das formas que encontrei foi deixar Deus de lado, para poder pensar a minha vida…decidi aposentá-lo. Fui eliminando tudo aquilo que poderia perverter a pureza de minha consciência, pois tenho que ter um pensamento próprio. Descobri que aquilo que eu chamava de Alma era pura e simplesmente cérebro, pois é ele que emite todos as sensações, os prazeres, as dores, as interpretações que se faz do mundo. Isso me deu uma liberdade tremenda, pois percebi que já não precisava mais prestar contas a ninguém. Não precisava mais dizer que participava de um pecado original, que já nasci marcado e que um Deus precisou morrer na cruz para tirar a mancha de minha alma… mas não, o cérebro não tem mancha nenhuma. Quem maneja toda a vida da espécie humana, é o cérebro. Quando digo que a carga de Deus foi muito pesada para mim, como foi pesada para tanta gente, é porque ela nos carregava de normas, de códigos, de verdades absolutas e indiscutíveis e isso é contra o pensamento, contra o cérebro, portanto se é contra o cérebro não serve a mim. Não quero dizer que Deus, a Alma e tudo isso não exista… não sou proselitista. Alguém pode dizer que existe, mas o importante é que tudo isso não faz mais parte de minha vida. Me libertei disso e a busca da liberdade é tremendamente humana. Você finalmente descobre que você é você, e nada mais.

Com membros da ASL (Foto: J.O. Quevedo)

Palestra na ASL

Assim que a entrevista acabou agradeci pela oportunidade e mais tarde acompanhei ainda sua palestra na sede da Academia Soledadense de Letras. Durante sua fala ele explorou ainda mais suas ideias sobre ecossociologia e sobre ações verdadeiramente sustentáveis: falou sobre o seu Sítio das Neves no Distríto Federal, o lugar que se dedicou a transformar em uma verdadeira área de preservação permanente (APP) e onde “não se faz mais nada a não ser respeitar a natureza”. Explorou mais sua teoria sobre a interdependência entre os seres vivos, falou sobre anarquia e sua compreensão de que não se deve batalhar para derrubar governos, mas sim construir coisas novas, concordando que “pode haver governos, só haverá governo sobre mim”. É claro que falou sobre seu pensamento sem Deus, ideia polêmica, e demonstrou que ele e sua esposa finlandesa, a jornalista HilkkaMäki, criaram sua filha, Aino Alexandra, em plena liberdade – tanta que escolheu por vontade própria ser luterana.

Conhecê-lo, e conhecer suas ideias, foi uma experiência de transcendência. Transcenderam-se alguns preconceitos, o corriqueiro, a ideia de que não se pode fazer muita coisa. Novos significados foram tomados para tanta coisa que se vê e se ouve todo dia, e para qual pouca atenção verdadeira é dada.

Eugênio Giovenardi é licenciado em Sociologia (UFRGS e UNIJUÍ), pós-graduado em Sociologia do Desenvolvimento na Universidade de Paris e na Loughborough University of Technology, Inglaterra. Acadêmico do Instituto Histórico e Geográfico do DF e da Associação Nacional dos Escritores de Brasília. Ganhou o Prêmio Açorianos de Literatura em 2003, pela sua obra Em Nome do Sangue.

Sobre mudanças

Passaram-se as eleições. Um das mais atípicas e desrespeitosas que pude presenciar. Os xingamentos, os preconceitos, os desrespeitos, as ofensas, todas essas questões disfarçadas numa verborragia nojenta de quem não sabe o que diz e que na verdade transmite um discurso de ódio que vê na TV, nas revistas e na rua mesmo, na boca de um povo que deixou de estudar política porque, vá lá, eles são todos iguais. Passaram. E como uma eleitora fajuta, ainda que preocupada com o futuro do meu país e completamente ciente dos nossos problemas, mas também das melhorias, como essa eleitora desnaturada, que nem uma filha que não houve os conselhos da mãe, eu digo ininterruptamente: ainda bem!

As mudanças que trago não são nacionais. E é até um pouco tarde para falar sobre isso. A pauta até já caiu. Mas é sempre tempo de escrever e de procurar colocar os pontos nos “is”. Essas mudanças que tanto quero falar são internas. São humanas e hereditárias. Elas passam de eleições para eleições – pelo menos não são genéticas. Mudaram as personalidades brasileiras. Foi-se, com os nossos bisavós e avós, a capacidade de reflexão e o pensar antes de falar. Foi-se embora, infelizmente, a necessidade de se desculpar e de reconhecer os próprios erros, mas também os acertos dos outros. Nossas eleições revelaram quem são os seres de atualmente, quem são nossos semelhantes.

Dentro do ônibus, no trabalho, na universidade, o cara do churros, o garçom do restaurante, o executivo, o professor, entre todas as classes, entre todos os lugares existiu, mesmo que por alguns meses, um cidadão que não mediu suas palavras e que não aceitou sequer um “não é bem por aí, cara”. Difícil nadar cotra corrente, mas mais difícil ainda é perceber que pela correnteza passam peixes e passam tubarões. Nenhum fica. Ou morrem na praia ou morrem no caminho. Vociferaram o desrespeito que virou anárquico e a arrogância que se tornou de extrema direita. Entre os jacobinos e os girondinos, eu escolho o pântano se a discussão desviar o caminho da civilidade.

Mas para que eu mesma não tangencie o meu assunto – como muitos tangenciaram os seus nas redes sociais – voltemos. É sobre mudanças, não é isso? Pois bem. É sobre mudança negativa. Hoje ninguém se olha mais sem pensar: esse aí tem todo jeito de “reaça”. Ou então: essa daí tenho certeza que é comunista. E então a ditadura era pregada sem conhecimento e as elites colocadas em cheque como afronta. Ser rico foi motivo de segregação. Ser pobre significou receber a culpa de um resultado meio a meio, dividindo o Brasil em ricos e pobres, teoricamente. Nossa Terra Brasileira parecia a Terra Americana com vitória de Obama: nosso tapeto deixou de ser verde e amarelo e por algumas semanas ele foi vermelho e azul. Nem a derrota fez isso mudar. E quem dera a divisão ter sido só na aquarela.

Fomos rotulados de cristãos e “aquele que não prega a palavra de Deus”. Comunistas contra defensores do catolicismo. Defensores tão fajutos quanto a eleitora que aqui escreve, que agradeceu o fim dessa corrida por uma verdade que não existiu, por uma doutrina que não era a que estava escrita, por uma corrente que não condizia com a que a História escrevera séculos atrás.

Comecei esse texto no intuito de refletir sobre mudanças pessoais que começaram com as eleições e prometem não esgotarem enquanto eu estiver sob o meu próprio comando. Comecei com esta ideia, mas me pareceu extremamente necessário escrever sobre a ignorância brasileira, sobre a falta de reflexão duas semanas após as urnas serem seladas, sobre o quanto a gente não aceita o que é contrário aos nossos princípios e sobre a nossa boca maior que o coração e a razão. Melhor do que escrever sobre as minhas mudanças tão pessoais e intrínsecas é escrever sobre um Brasil que tenta mudar, e até muda, mas que permanece habitado por pessoas estáveis no seu meu próprio mundo.

Assista: Vídeo mostra a evolução de Batman em seus 75 anos de vida

O homem-morcego completou 75 anos de vida em maio de 2014. Para celebrar a história do personagem, a DC Comics criou um vídeo mostrando todos os figurinos oficiais de Batman nos quadrinhos, desde sua criação, em 1939 até os dias atuais – 2014, caso você esteja lendo isso no futuro.

Assista:

A festa completa da The Basement Tapes, de Bob Dylan e The Band

No final dos anos 60, Bob Dylan mudou-se para uma casa em West Saugerties, no Estado de Nova York, com o propósito de se recuperar de um acidente de moto e da exaustão das turnês. A casa, chamada carinhosamente de Big Pink, era propriedade de músicos da The Band, que gravaram com Bob Dylan – mais precisamente entre 1967 e 1968 – uma centena de canções folk no porão. A The Band, formada por  Rick Danko, Richard Manuel, Garth Hudson, Levon Helm e Robbie Robertson foi durante muito tempo a banda de apoio perfeita de Dylan. E sem Dylan, diga-se de passagem que foi uma baita banda também.

Dessa reunião, nasceu o álbum The Basement Tapes, lançado em 1975. Só que esse álbum foi bem resumido e saiu com apenas 24 faixas. Muitas gravações eram mistérios até para fãs mais aficionados do judeu. Isso durou até o dia 4 de novembro de 2014, quando Bob Dylan lançou o registro completo do que aconteceu naquele porão. São 138 músicas, entre composições próprias e regravações de folk songs tradicionais.

Bob Dylan and The Band - The Basement Tapes Complete

Editor da Rolling Stone, Anthony DeCurtis, acredita que o The Basement Tapes é importante pois revela um lado de Dylan que é impossível de encontrar em outro momento, um lado em que Dylan está apenas relaxando e compondo, longe dos holofotes, fãs, turnês, compromissos e mídia, que o acompanhavam desde The Freewheelin’ Bob Dylan, lançado em 1963.

O álbum The Basement Tapes Complete: The Bootleg Series Vol. 11 disponível em CD e Vinil. Escute uma amostra:

Bônus:

Love My Baby, uma ‘inédita’ balada de Paul McCartney gravada em 1974

Paul McCartney e o piano. Dois elementos suficientes para uma boa canção. Love My Baby é uma gravação rara, lançada pelo Sir dia 04/11/14.

A música é uma sobra das gravações do documentário One Hand Clapping, gravado com os Wings em 1974, logo após o Band On The Run, no Abbey Road Studios. O documentário, no entanto, só foi lançado em 2010, mas sem a canção.

Ouça:

O Foo Fighters ultrapassou limites com Sonic Highways

Sempre despertou minha curiosidade essa energia do Dave Grohl e como ele parece conseguir fazer tudo ao mesmo tempo. Em 2014, seu espírito workaholic ficou ainda mais evidente.

Afinal, Sonic Highways é um álbum? Um seriado? Um documentário? Dave Grohl diz que Sonic Highways é um mapa musical da América. Algo sobre as estradas sônicas que interligam os Estados Unidos. E foi para traduzir essa ideia que o Foo Fighters transformou seu oitavo álbum em uma obra completa: para ouvir, para assistir e para ensinar.

Tranquilo chamar esse projeto de desafio. A banda passou oito semanas em oito cidades diferentes. Uma semana para compor, gravar, filmar, dar uma banda pela cidade e entrevistar músicos, produtores, engenheiros de som, jornalistas, empresários e todo mundo que tenha ligação com a história musical de cada uma das cidades visitadas.

Foo Fighters-Chicago-Steve-Albini
Steve Albini contando uma historinha

“Toda cidade tem seu passado”, Dave Grohl fala em um dos capítulos. Sonic Highways mergulha nesse passado musical, cultural e político, mostrando como as cenas locais foram se desenvolvendo ao longo dos anos. O que temos é um documento musical histórico de cada uma das cidades com um olho bem fixado no underground. E você acaba percebendo que vários cenários que fazem parte dessas histórias foram na verdade criados por uma quantidade de pessoas muito menor do que imaginávamos.

Uma homenagem musical à música. Sonic Highways é também metalinguagem. A rota do projeto segue por Chicago, Washington D.C., Nashville, Austin, Los Angeles, Nova Orleans, Seattle e Nova York. O conceito é deixar uma marca de cada cidade em cada música gravada. Seja na sonoridade ou nas letras, isso acontece. Dave Grohl definiu que as letras seriam escritas por ele após a gravação do instrumental e a realização das entrevistas. Isso se confirma ao escutar a música no fim de cada capítulo. As referências são encontradas, muitas vezes, de forma bem explícita.

Chicago – Something From Nothing

“Looking for a dime and found a quarter” – disse Buddy Guy durante o episódio de Chicago. a frase foi incorporada na letra de Something From Nothing.

Ao final de cada capítulo, uma nova música é revelada. Assim que o Foo Fighters tem divulgado o novo trabalho. Quando o álbum for oficialmente lançado, dia 10 de novembro, as quatro primeiras faixas já terão sido lançadas. Até o momento em que essa matéria foi escrita, três músicas já foram conhecidas – ouça abaixo.

Sonic Highways  estreou dia 17 de outubro, na HBO norte-americana. No Brasil, a série irá ao ar pelo Canal BIS a partir do dia 30 de novembro.

Washington D.C. – The Feast and The Famine

Nashville – Congregation

Clicar a essência e os detalhes dos pequenos momentos: essa é a arte do casal de fotógrafos do Sambajoy

Madalena, Marcelo e, claro, o pug mais hipster já visto, Bacon. Este é o trio que compõe a empresa Sambajoy photo&art. Conheci a arte da fotógrafa Madalena aos meus 12 anos. “Mada” (para os íntimos) é uma inquieta artista que se apaixonou perdidamente pela fotografia e um dia decidiu que faria disto sua profissão. Criativa demais, Mada criou um padrão todo relevante pra marcar os pequenos acontecimentos do que ela descobriu ser sua paixão: casamento – inclusive, Mada e Marcelo não se casaram uma, mas duas vezes!

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Mada e Marcelo

Apaixonados também por viagens e por conhecer cada cantinho desse mundo, este é um dos casais que eu mais admiro.

“Me encontrei em mim e meus olhos passaram a enxergar o mundo como uma grande aventura! Passei então a procurar pessoas que acreditam que fotografia é um doce investimento e que eu possa usar meu coração como principal ferramenta enquanto trabalho” – disse a fotógrafa em sua biografia no site oficial Sambajoy.

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Bacon

Mada e Marcelo moraram em São Paulo, onde se conheceram, e onde ela trabalhou por anos como editora de foto e, em seguida, fotógrafa. Há pouco mais de um ano, o casal deu um adeus (por hora, permanente) ao Brasil e passaram a morar em Winnipeg, na província de Monitoba, no Canadá. Foi aí então o meu reencontro com estes artistas queridos, onde tive inclusive a oportunidade de trabalhar em dois stop motions e ensaios!

Um dia sentamos na sala e o casal me contou como se apaixonaram por stop motions e como decidiram fazer disso mais uma parte de seu trabalho absolutamente encantador! O escritório deles é na própria casa e o ambiente é tão criativo que você entra e quer pegar um bloquinho de notas, uma caneta e criar um brainstorm todo novo. E é isto que eles fazem: brainstorms, fotografia e stop motions!

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Sala de estar/escritório Sambajoy

Tive a honra de ser clicada por eles quando iniciei minha jornada canadense em junho deste ano. Fizemos o stop motion para a White Faux Taxidermy, uma companhia de home décor com cabeça de animais feitas de resina:

http://vimeo.com/100463545

Num mundo todo cheio de regras e clichês, Mada, Marcelo e Bacon usam o coração para promover a arte, viajando pelo mundo, clicando eventos e aumentando cada dia mais o seu portfólio por amor ao trabalho. Confiram alguns stop motions de casais que esse trio inspirador já fez:

Meu preferido, até agora, o “save the date” do casal LeighAnn e Paul, com participação de seu filho (extremamente fofo) Huxley:

http://vimeo.com/105932674

E o girl night out com cenouras, bolos e gostosuras em Winnipeg:

http://vimeo.com/101355830

Outros vídeos podem ser vistos no vimeo do Sambajoy e o blog oficial está sempre sendo atualizado.

Em 2015, o casal será palestrante no evento Photo Field Trip, um grande acampamento de fotógrafos de todo o mundo que se reúnem para trocar experiências na California. Confira informações sobre o evento em seu site oficial.

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