Mohammad Domiri é o responsável por essas incríveis fotografias. Domiri é um talentoso fotógrafo de arquitetura do norte do Irã que tira fotos impressionantes de grandiosos templos em todo o Oriente Médio. O fotógrafo passa horas pesquisando as famosas arquiteturas do seu país de origem. Devido às restrições de tripés dentro das mesquitas, bem como a superlotação, é muito difícil conseguir permissão para filmar no interior dessas grandes maravilhas. Como resultado, há poucas imagens de tais templos – o que significa que suas fotografias são extremamente raras.
“No Irã, nós temos muitos locais históricos, mas alguns dos maiores são locais de cultos, como as mesquitas.
Como temos uma grande mesquita em toda grande cidade, existem muitos edifícios históricos, com variados belos mosaicos para capturar”, diz Mohammad Domiri. “Gosto de olhar para a simetria, mosaicos e obras de arte desses templos”.
A arquitetura do Oriente Médio é bastante reconhecida pelos seus arcos, elegantemente curvos e colunas em espiral. Muitos desses locais estão decorados com coloridos vitrais, decorações geométricas e mosaicos cuidadosamente detalhados, sendo necessário lentes especiais para se certificar de que todos os detalhes estão sendo capturados.
“Talvez alguns desses locais históricos não existam mais daqui a 20 anos ou mudem muito durante o tempo. Com essas fotos, eu espero que as pessoas lembrem de toda beleza que há ou que houve aqui.” (Mohammad Domiri)
Se tiver mais curiosidade sobre o trabalho do fotógrafo, acesse as páginas do Facebook – 500px – Site Pessoal.
O desconhecimento não se justifica. Podemos viajar o mundo, e ainda assim o acesso aos maiores escritores da literatura universal continuará a nós inacessível. Veja-se o exemplo da literatura polonesa. Quem pode dizer que conhece um escritor que escreve ou escreveu em polonês? Quase ninguém sabe e esta carência de boas referências da literatura vinda deste noutros tempos sofrido país europeu está, agora, sendo preenchida com o lançamento, pela editora Cosac Naify, de um nome representativo da literatura polaca: Bruno Schulz. A Polônia hoje é outra; conhecer sua literatura é um passo para conhecer um pouco dessa cultura.
A reunião de contos e novelas de Bruno Schulz agrupados no título “Ficção Completa” apresenta pela primeira vez ao leitor brasileiro a obra de ficção completa de Bruno Schulz (1892 – 1942). São dois livros de contos do autor polonês – “Lojas de canela” e “Sanatório sob o signo da Clepsidra” – e mais quatro contos inéditos em português. Os contos reunidos nesse livro retrata um mundo em desencanto, abordam os usos e costumes de uma pequena localidade no leste europeu e revelam os códigos de convivência de uma família judia num contexto de transformações que foi as primeiras décadas do século XX. Trata-se uma obra importante para se conhecer um pouco da literatura polonesa aqui entre nós. A peculiaridade da escrita também tem sua representação gráfica única, uma vez que o livro traz uma série de ilustrações do próprio escritor, autor também de uma extensa obra artística. Há também uma apresentação do poeta e ensaísta Czeslaw Milosz – Nobel de Literatura de 1980 –, posfácio do tradutor e sugestões de leitura. Completam o volume trechos dos diários de Witold Gombrowicz sobre o amigo Bruno Schulz. Um trabalho editorial lindo.
Autorretrato
Bruno Schulz foi um romancista e pintor polonês de família e religião judia, reconhecido como um dos expoentes da literatura polaca do século XX. Schulz nasceu em Drohobycz, que à época de seu nascimento era parte do Império Austro-Húngaro, e após a Primeira Guerra Mundial passou para a Polônia (sua cidade natal hoje pertence à Ucrânia). Muito jovem interessou-se pela pintura, e acabou por estudar arquitetura na universidade de Lwów e Belas Artes em Viena. Ensinou desenho na cidade natal, onde o seu pai, Jacob Schulz, vendia roupa. O autor alimentou a sua extraordinária imaginação com uma variedade de identidades e nacionalidades: um judeu polaco que falava iídiche, polaco e alemão. Apesar disso, nada havia de cosmopolita nele, pois sua inventividade alimentava-se nos aspectos locais e étnicos da comunidade onde residiu. Esta, aliás, é a principal característica dessa estupendo escritor polonês: extrair da banalidade do cotidiano a sua arte. Entre as características que marcam sua obra (tão singular) está o fato de ter passado a maior parte de sua vida na cidade natal. Isso se reflete na temática de seus contos, que exploram o cotidiano, a vida em família, os costumes judeus, além do peculiar, existencial e sufocante de cada um de nós. Nas duas obras reunidas, estão as histórias curtas mais importantes de Schulz: “As lojas de canela”, publicado em 1934, ao qual lhe seguiu “Sanatório sob o signo da Clepsidra”, definiram o gênio de um autor que foi comparado em vida ao escritor tcheco Franz Kafka. Morreu, contudo, desconhecido e por pouco não teve seus escritos consumidos pelas sucessivas invasões alemãs à região durante a Segunda Guerra Mundial. Deixou, contudo, textos que refletem as possibilidades do homem em tempos sombrios….
Escritor multicultural, Schulz falava o alemão e o iídiche, escrevia os seus relatos em polaco e foi reconhecido como um representante polonês da literatura angustiante ao estilo de Kafka. Nessa bonita edição brasileira de sua obra, encontramos aquilo que de melhor já foi produzido por esse desconhecido mas importante escritor polonês. A aventura de abrir “Ficção Completa” e embrenharmos nesse universo caleidoscópico de sentimentos e culpas é gratificante. É também garantia de boa literatura.
Sou estudante de jornalismo e quero ser colunista da Folha algum dia. O semestre na Universidade em que estudo chegou ao fim. Estou em uma festa com algumas amigas comemorando o término e a aprovação bem sucedida. Então, suporemos que escrevo no jornal aos sábados e domingos, semanalmente. Hoje é sexta e ainda não enviei o texto para a minha editora. Ela me manda emails sequenciais cobrando o meu trabalho. Mas a inspiração me falta, o que fazer? Escrever o primeiro texto – que não será publicado – da minha coluna – que não existe.
Parecia muito fácil sentar à mesa, abrir o notebook e escrever sobre qualquer coisa. Parecia fácil colocar um título e discorrer sobre ele. Mas aprendemos na escola que o título, de preferência, deve ser o último a ser escolhido. Sempre que inicio por ele já tenho certeza da conclusão: ela não existirá. Ele irá sobrevoar todos os cantos do meu quarto naquele papel branco esperando para um dia ser utilizado. E eu vou escrever algumas centenas de textos até o momento em que aquele assunto chegue sobre mim como míssil, e seja veloz, não me poupe tempo nem espaço.
E é isso. Estou aqui na mesa enquanto as minhas amigas sambam um pouco na sala de estar. É do desespero da entrega que as ideias aparecem. Quando a inspiração chega é bom aproveitá-la, ela é vital, desperdiçar não é aconselhável. Uma semana sem escrever. O porquê disso? Ócio. Em todas as férias que tiro eu percebo o quanto elas são ruins pra mim. A desocupação é uma ocupação que destrói toda a sua capacidade criativa em escrever. Estar atarefada é um passo indispensável para a tomada de inspiração. Vontade não falta, isso não há como negar. Inclusive, o coração se aperta, o estresse começa a chegar e a insatisfação consigo mesma cresce consideravelmente. Não escrever é uma doença passageira que não gosto de sofrer. Prefiro a gripe ao bloqueio literário.
O primeiro texto da minha coluna não possui um tema específico, delimitado e demarcado há duas semanas. Existe vontade. E coragem de dedilhar sobre o teclado o que a minha cabeça anda gritando. Ou vagando. Poderia ser sobre o “fazer nada” que ronda a vida de uma estudante em férias, sem estágio e sem projeto, mas também com uma vontade filha da puta de estudar sobre outras coisas. O tema poderia ser sobre a lista enorme de coisas que quero fazer contrastando com a falta de tempo para todas elas. O resultado disso é a procrastinação. E não é bem por querer. É por não querer, na verdade, escolher apenas uma das atividades. É uma vontade incessante de estudar, ler e escrever ao mesmo tempo. De não sair da tela do Word, mas também não fechar o livro nunca – mesmo que ruim ele precisa ser concluído.
Do ócio criativo eu não conheço muito. Não basta arrumar a escrivaninha, sentar e escrever. Músicas também não me ajudam. Sou uma escritora em caráter de estudo. Quase nada me inspira. Exceto situações reais. Histórias e causos da vida humana. Reflexões do mundo real. Ainda estou em processo de revitalização das ideias. Ainda não me encontro completa. Este não é um dos melhores textos, de longe isso é perceptível. Mas é um belo tapa buraco pra mostrar que nós, escritores, estamos sempre presentes. Quando não escrevemos para o mundo estamos em luta com nossa própria mente, procurando palavras, formulando frases, desvendando assuntos e esperando, não sem esforço, que o famoso insight apareça e nos contemple com um belo texto.
Olhando bem, esse nunca seria o primeiro texto – não publicado – da minha coluna – não existente. Mas é um início para a constância da escrita. Um dia vou estar na Folha procurando algum assunto pra escrever, vai me faltar inspiração e ócio criativo. Então, lembrarei-me dessa situação angustiante que é não conseguir fazer o que ama por alguns dias e escrevei novamente sobre essa sensação de correr e não sair do lugar – querer escrever e não conseguir.
“Eu, se eleito for, farei pela saúde, pela educação e pela segurança pública”. É esse o tripé em que se baseia o velho e carcomido discurso político brasileiro, sem inovar absolutamente nada, incorrendo em erros do passado. De quatro em quatro anos as figurinhas mudam (ou não), mas os problemas continuam os mesmos.
É de conhecimento geral que a Educação no Brasil não é das melhores, que a violência é uma constante no dia-a-dia e que os serviços de Saúde Pública estão sucateados ao máximo. O que surpreende é a habilidade política de repetir velhos discursos e negligenciar a sua total incapacidade de encontrar soluções — supondo que os políticos tenham real interesse em contribuir para o desenvolvimento social.
Ilustração: Pawel Kuczynski
Aqueles que destoam da tradicional abordagem o fazem de maneira surreal: pregam a redução da maioridade penal, maior investimento na polícia e exército, criminalização das drogas, além de outras propostas de caráter homofóbico e preconceituosas.
Escolher entre um candidato e outro é tarefa das mais complexas, realizada quase sempre pelo princípio da exclusão: vota-se no “menos pior”. As propostas de governo são padronizadas, inexistindo grandes diferenças entre os diversos partidos, o que nos leva até mesmo a questionar a existência da esquerda e direita, como polos opostos. São políticos, e só.
Trata-se de um círculo vicioso e, como no livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell, aqueles que ascendem ao poder logo “se esquecem” dos princípios e premissas que outrora foram estabelecidos, deturpando o sistema e perpetuando as injustiças.
Os cartões de visita pertencem a mesma e singular era pré-digital, como as câmeras de filme e discos de vinil. Nós ainda podemos tê-los, mas com o avanço tecnológico, dificilmente queremos usá-los. Isso também serve para os cartões de visita, já que encontrar informações de um contato através do Google ou LinkedIn é muito mais prático, convenhamos né.
Bem, os dispositivos USB são um pouco mais úteis, mas geralmente acabam na mesma gaveta dos seus antecessores analógicos. Pensando nisso, a Intellipaper criou os SwivelCards, um grosso pedaço de papel que é, ao mesmo tempo, um cartão pessoal e um dispositivo USB. Uma vez dobrado ao longo das linhas perfuradas, uma parte do cartão pode ser inserido em uma porta USB e te enviará para qualquer página da Web que você indicar, seja ela o seu site pessoal ou conta no Dropbox. Mesmo se o destinatário não tiver um notebook à mão eles serão capazes de acessar as informações usando o código QR do cartão, que pode ser programado para ir ao mesmo local que o USB ou a um destino diferente, se o usuário escolher.
O legal é que, por meio do portal SwivelCard – que em breve será lançado, você vai ser capaz de registrar os cartões individuais e editar o endereço IP a qualquer momento. Então, se um arquiteto quiser orientar um cliente em potencial para seus empreendimentos comerciais, ao invés de casas particulares, ele pode especificar o link remotamente muito tempo depois da troca do cartão. Além disso, Andrew DePaula – um dos diretores da empresa, diz que os compradores também podem rastrear onde e quantas vezes o cartão foi usado, de modo que o arquiteto [do nosso exemplo] será capaz de ver se o potencial cliente revisou seu trabalho.
A IntelliPaper, empresa criadora do SwivelCard, é especializada em publicidade de produtos e tem as patentes sobre o papel USB. A empresa criou um protótipo e lançou uma campanha no Kickstarter, que é – basicamente, uma plataforma onde as pessoas investem dinheiro com o objetivo de ver o projeto pronto. Para saber mais sobre a evolução do SwivelCard, acesse o site da campanha. Seria show ter essa ideia funcionando.
Sobre o título: Citação da última entrevista cedida pelo escritor e poeta portenho Jorge Luis Borges, realizada alguns meses antes de sua morte ocorrida em 14 de junho de 1986, o mesmo sofria de cegueira desde 1956.
Escrever sobre determinada cena literária sem ressaltar o indiscutível papel que as livrarias desempenham para a disseminação das obras é uma tarefa impossível. Na capital portenha, difundidas pelas “calles” da cidade, as mesmas atraem diariamente inúmeros interessados na busca de um ambiente para relaxar, saborear um bom café e ler.
Compreendo que já é perceptível que esta primeira publicação da coluna trata-se de um artigo pautado nas livrarias portenhas. Nesse sentido, objetivou-se a recomendação de três espaços para visitação, selecionados sob o quesito de que as sugestões abordassem propostas distintas em relação ao público alvo e ao acervo bibliográfico. E que as mesmas tivessem um foco pautado em um tema previamente definido e não uma temática tão ampla (por exemplo: 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer é um bom livro para se conhecer inúmeros filmes e diretores, sendo encontrado na grande maioria das livrarias, mas não é esse o caso nem o objetivo de nenhum dos lugares que serão abordadas). Igualmente, nesta publicação estendem-se para, além da visitação, a aquisições de livros, degustação de café, empanadas, medialunas, etc. Rememorando que a coluna Buenos Aires Além do Óbvio não tem (e nunca terá) a pretensão de qualificar os espaços referenciados.
Contudo, antes de adentrar propriamente nas três indicações, visa-se destacar primeiro a mundialmente renomada e a mais famosa livraria de Buenos Aires, El Ateneo (julgou-se como injusto uma publicação acerca das livrarias da cidade e não fazer ao menos uma referência ao local, mesmo que esta soasse algo como “Buenos Aires Somente o Óbvio”).
El Ateneo Grand Splendid, Av. Santa Fé 1860 Foto: Cementerio de Ideas Perdidas
Localizada no antigo prédio do cine teatro Gran Splendid, a livraria apresenta a arquitetura onipotente derivada do período histórico de sua construção, em 1919. Contando com um acervo de mais de 120 mil livros, um bar e um café, este último situado no palco do antigo teatro. Indiscutivelmente, um ponto turístico da capital de visita obrigatório (seja pelo acervo bibliográfico ou pela ornamentação arquitetônica da primeira metade do século XX).
Entretanto, pelas ruas de Buenos Aires não se encontram somente livrarias de dimensões arquitetônicas tão expressivas como El Ateneo. E, mesmo propondo a recomendação de mais três livrarias da cidade, compreende-se que estas representam somente uma pequena parcial da cena local (somente na capital portenha existem mais de 600 livrarias). Outro ponto que prende a atenção é o caráter cosmopolita das livrarias portenhas, sendo possível, em qualquer estabelecimento, por menor que seja, sempre encontrar volumes de autores de distintas nacionalidades. Enfim, sem mais procrastinações, as indicações:
Rayo Rojo Librería – Quadrinhos, Fotografia e Artes Plásticas
Rayo Rojo Librería, Av. Santa Fé 1670, Local 21/23
Especializada em quadrinhos, fotografia e artes plásticas e visuais a Rayo Rojo Librería é um exemplo daqueles locais onde se encontra um material de extrema qualidade em um espaço físico relativamente pequeno. Situada dentro da famosa galeria portenha Bond Street, a mesma exibe uma abundância de volumes em inglês e espanhol de grandes clássicos dos quadrinhos underground e da contracultura como Robert Crumb (gênio absoluto), Gilbert Shelton e Vaughn Bodé, bem como uma expressiva quantidade de material de quadrinistas argentinos. Em âmbito nacional destaca-se o material produzido por autores como Liniers, Kioskerman, Juan Sáenz Valiente e Lautaro Ortiz. Podendo encontrar ainda muitos fanzines argentinos produzidos com tiragens limitadas (estes em grande maioria raríssimos e algumas vezes apenas disponíveis neste local).
Rayo Rojo Librería, Av. Santa Fé 1670, Local 21/23
Na questão relacionada à fotografia, artes plásticas e ilustração é possível encontrar muito material importado ao exemplo de livros do fotógrafo de moda alemão Helmut Newton, do artista norte-americano Mark Ryden ou compilações de ilustração do cineasta Tim Burton, entre outros. Deste modo, a partir destes meros exemplos já se pode perceber que para alguém que seja amante das artes de modo geral torna-se uma difícil tarefa se controlar na hora das compras na Rayo Rojo Librería. No entanto, os livros e os quadrinhos geralmente variam o valor dependendo se é importado ou nacional, mas garimpando se encontra raridades a bons preços no local.
Libro Film – cinema e biografias
Libro Film, Av. Corrientes 1145, Local 13
Livraria indicada para os amantes e estudantes da sétima arte. A Libro Film existe desde 1988 na cidade e conta com uma gama imensa de livros sobre a temática, que vão desde biografias de Stanley Kubrick, Federico Fellini e Godard até livros técnicos para profissionais e entusiastas da área.
Além disso, o local conta com um catálogo expressivo que aborda diretores ou mesmo temáticas e filmes oriundos do cinema argentino. Igualmente estão à venda alguns livros acerca de expoentes do cinema brasileiro como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Walter Salles e Fernando Meirelles. No geral, apresenta preços acessíveis, sendo possível garimpar algumas particularidades encontradas somente em um local especializado no assunto.
Libro Film, Av. Corrientes 1145, Local 13
Eterna Cadencia – literatura e ciências humanas e sociais
Eterna Cadencia, Honduras 5574.
Esta livraria em relação às outras duas supracitadas possui um perfil de público mais amplo. Todavia, tem um estoque significativo de livros alternativos, possui um excelente café e serve almoço a um preço justo.
Na questão ornamentação o local se destaca por possuir uma decoração semelhante às antigas livrarias da metade do século passado. Além de possuir um pátio bem convidativo para que o visitante fique sentado horas lendo sem se preocupar com o tempo. Diferente de algumas livrarias tradicionais os livros geralmente ficam desordenados e em cima das mesas, dando um ar mais intimista ao local. Os preços dos livros variam dependendo da obra e do autor, mas os títulos aos quais são produzidos pela própria livraria, que também é uma editora, geralmente são bem acessíveis.
Eterna Cadencia, Honduras 5574
Ainda, em 2012 a Eterna Cadencia lançou o projeto denominado “El libro que no puede esperar”, que se trata de um livro embalado a vácuo que depois que a tinta estabelece contato com o ar posterior a 60 dias tem suas páginas apagadas. O conceito do projeto é genial e foca nos escritores latino-americanos da atualidade. Enfim, para que um escritor torne-se conceituado este primeiramente precisa ser lido e nesse caso os escritores contemporâneos são os mais prejudicados com a falta de leitura. Afinal, Kafka já é Kafka, se você não quiser lê-lo à responsabilidade é sua, mas seus livros permanecerão.
As particularidades e especificidades dos espaços recomendados (e outros tantos não referenciados, mas igualmente indicados à visitação como Libros del Pasaje, La Biblioteca Café, Clasica y Moderna, Dain Usina Cultural…) naturalmente expõem a intensidade da múltipla expressão da cena cultural portenha no quesito livrarias. Algumas vezes objetivando um público underground ou específico, no entanto fiel.
Não compreendendo, por exemplo, que “ter cultura” (como alguns indivíduos infelizmente ainda pensam) seria apreciar um livro que se utiliza de uma linguagem erudita de difícil acesso ou mesmo assistir uma peça renomada no Teatro Colón em Buenos Aires, mas sim, que estas fazem parte unicamente da vasta gama que compõem o campo cultural, tratando-se apenas de representações simbólicas em meio a outras tantas e não da cultura em si.
Por fim, ao final de cada artigo serão sugeridas algumas músicas de distintos artistas portenhos os quais (se possível) estabeleçam alguma relação entre os temas e o assunto da publicação. Nesse sentido, creio que inúmeras pessoas apreciam a experiência de ler ouvindo música, sendo que na maioria das vezes (ao menos no meu caso) determinado perfil sonoro aguça a concentração da leitura, e algumas vezes ocasionam um completo desligamento da “realidade” e uma plena imersão na obra que está sendo lida.
“É uma suposição padrão no Ocidente: à medida que uma sociedade progride, uma hora ela se torna uma democracia capitalista multipartidária.” Partindo dessa premissa, que ocupa lugar comum no pensamento ocidental, Eric X. Li faz dura crítica ao mito da democracia como única forma adequada de governo.
Tomando como exemplo o caso da China, hoje a segunda maior economia do mundo, Eric, que é cientista social e investidor de risco, traça, durante uma breve palestra para o TED (sobre o qual já falamos aqui), um paralelo entre os sistemas multi e unipartidário.
Ele não pretende provar que a democracia é um sistema falido — apesar das suas incongruências internas —, mas tão somente romper com a ideia de que nenhuma outra forma de governo é possível. E como ele faz isso? Com dados empíricos: a economia chinesa está crescendo de forma assustadora e, pasmem, não se trata de um sistema democrático.
Claro, nós do ocidente não podemos fechar os olhos para os problemas que assolam a China, como é o caso da exploração infantil, longas jornadas de trabalho e cada vez menos espaço nos grandes centros urbanos. Problemas assim existem em qualquer lugar do planeta, em maior ou menor grau.
Qual o segredo do sistema unipartidário, responsável por elevar a China ao posto de segunda maior economia? Competência, resume Eric X. Li. Nos sistemas democráticos, as eleições periódicas acabam por legitimar sujeitos que não possuem competência para governar. No sistema unipartidário, por sua vez, os sujeitos enfrentam um longo percurso antes de assumirem grandes responsabilidades.
Essa é apenas uma das diferenças abordadas ao longo da fabulosa palestra, que pode ser assistida abaixo. Não é fácil romper com o fetiche democrático tão acentuado entre nós, ocidentais, mas podemos considerar um “e se?”. A China, bem ou mal, está ai para mostrar que é possível.
Ninguém sabe a hora de ir embora deste mundo, mas existem pessoas que escolhem esse momento. E o motivo pra isso, geralmente é o mesmo, tristeza, cansaço, sensação de estar incompleto – depressão.
Esperei um certo tempo pra falar sobre o assunto, precisava aceitar que o meu belo e brilhante professor John Keating, teve o mesmo destino de um de seus pupilos. Acreditar que ele, que tanto me ensinou, partiu dessa forma tão triste e solitária.
John Keating e seus alunos em “Dead Poets Society”
Pode ser clichê dizer que dinheiro, fama e sucesso não é tudo, mas é o que comprovamos todos os dias, essa é uma das verdades que mais têm sido jogada na nossa cara. O fato é, nada disso importa quando se está sentindo falta de algo que não se sabe o que é, e que não está ao alcance das mãos.
Quantos já se foram dessa maneira? E quantos ainda irão? Pessoas que preencheram nossas vidas com sons e cores, que realizaram o sonho do homem de poder voar, que escreveram nossas vidas sem nos conhecer, que nos despertaram paixão pela arte de fazer sentir, seja ela qual for.
Champignon / Santos Dumont / Kurt Cobain / Robin Williams
Como aceitar que pessoas como essas, tão bem sucedidas, não desejam mais desfrutar de tudo o que conseguiram? Como acreditar que pessoas que te fizeram rir incontáveis vezes, não consigam colocar um sorriso no próprio rosto?
Nem sempre “isto” se acha útil e nosso Andrew Martin não poderia ter se tornado mais humano.
Robin Williams como Andrew Martin em “O Homem Bicentenário”
Robin Williams escolheu ir, deixando incontáveis fãs arrasados e confusos.
Mas será que o suicídio é realmente uma escolha? Será que quem o cometeu realmente queria isso pra si?
Sim, eu sei, todos nós temos escolhas, mas nem sempre temos condições de ver nossas outras opções, às vezes apenas uma é exaltada pelas circunstâncias em que vivemos e fazemos dela a nossa única e última alternativa.
Rob tinha família, amigos, trabalho, atuou em clássicos do cinema, fez milhões de pessoas gargalharem e se emocionarem com seus personagens, foi indicado a dezenas de prêmios, ganhou vários, tinha obras de caridade e uma história de luta, persistência e superação. Ninguém imaginaria que alguém assim, pudesse um dia sofrer do novo mal da humanidade – a depressão. Uma doença grave, que já nos levou tantos e que continua levando. Muitos sem nem saber que a possuem.
Robin Williams como Alan Parrish em “Jumanji”
Vários dos personagens de Rob marcaram a história de muitos. Quem não ficava ansioso esperando qual a próxima supresa que sairia do emocionante Jumanji? Aguardando a cada jogada, que aparecessem os números cinco ou oito para que Alan pudesse voltar pra casa?
Quem não se emocionou com as constantes tentativas de Andrew em se tornar um ser humano de fato? Quem não derramou baldes de lágrimas quando o mesmo, já em seus últimos minutos de vida foi finalmente reconhecido pelo presidente do mundo como cidadão, título pelo qual tanto lutou durante a vida, e foi então proclamado ”Homem Bicentenário”?
Qual o ser que em toda a sua vida nunca usou as palavras ”Carpe Diem”? Uma das mensagens mais propagadas no filme Dead Poets Society. Quem não quis ter um professor como John Keating? Alguém que nos incentiva a pensar livremente, fazer dos nossos sonhos nossa realidade, lutar por nossas paixões e ainda nos ensina poesia?
Impossível relatar o que cada personagem de Rob significou na vida de quem o viu atuar brilhantemente.
Rob como John Keating em “Dead Poets Society”
Enquanto ainda nos despedimos dele, fica a preocupação com os próximos que poderão nos deixar. Fica o medo de ser a próxima vítima. Depressão não é um momento, você não escolhe ter e nunca sabe quando pode ser atingido por ela. A busca por algo que nos dá prazer, nos faz rir e crescer, pode nos ajudar a escapar desse mal que está a espreita. Busque o que te faz feliz.
Tristeza mata de verdade. E fica um conselho de John Keating quando ela aparecer: “Rasguem a página”!
Rob como “Patch Adams”
Você prefere terminar a vida, com alegria, coisas legais e humor, ou continuar a desgraça que é morrer, na tristeza, na ruindade?
(Patch Adams)
Tenho orgulho de dizer que a primeira vez que ouvi O Terno não foi por indicação de alguma alma. Na verdade foi uma indicação indireta, mas não lembro de quem. Só lembro que apareceu na minha timeline do feice “Fulano curtiu O Terno“, aí fiquei intrigado e fui pesquisar sobre essa banda de nome legal. Acabei ouvindo uma música chamada “Zé, Assassino Compulsivo”. Minha reação foi: HAHAHAHA SENSACIONAL!
Dois anos depois, a reação em várias músicas do novo álbum do trio continua a mesma. O Terno acaba de lançar seu segundo álbum, chamado (adivinha?) O Terno.
A banda – formada por Tim Bernardes (guitarra e vocal), Guilherme d’Almeida (baixo) e Victor Chaves (bateria) – fez sua estreia com o álbum “66”, em 2012. No ano seguinte lançou o baita single “Tic Tac – Harmonium” e participou do disco “Tribunal do Feicibuqui”, de Tom Zé. No novo trabalho do trio a sonoridade alcançada atingiu – ou a sonoridade atingida alcançou? – níveis atemporais, sendo um sucesso mundial até mesmo antes de seu lançamento (ver vídeo abaix0).
O Terno é um álbum que merece ser ouvido sem mais nada a ser feito. Sem conversar com os amigos no feice, sem trabalhar, sem se distrair com os vizinhos que estão fazendo bizarrices na janela do outro lado da rua, sem nada. Depois sim, é recomendado que se ouça sempre, mas você precisa primeiro não só prestar atenção, mas prestar atenção com atenção. Explico.
O experimentalismo come solto no álbum. Instrumental e poeticamente. Algumas estrofes, bem compridas, parecem um parágrafo de algum livro de um escritor beatnik. É como se o trio tivesse composto a música na maior espontaneidade possível e já gravado na hora, sem pensar muito no que mudar ou tirar ou acrescentar ou se a rima rima ou não rima ou se o refrão vai pegar ou não vai pegar ou qualquer outra preocupação que desaceleraria o processo e o momento e acabaria quebrando o ritmo da ideia, fazendo com que tudo o que fosse falado já caísse em um esquecimento repentino, não sei, pode não ter sido, mas a impressão que tenho é que foi assim, em um fluxo de pensamento contínuo perfeito como a essência e a mente da casca de banana.
Algumas canções carregam o cotidiano em seu cerne, como “O Cinza”, primeira música a ser divulgada.
Mais um fim de tarde que garoa em SP
Hoje o sol não vai se pôr porque não quis nascer
(O Terno – O Cinza)
Outras parecem viagens de uma mente insana, com maluquices que só adoradores do maluco beleza poderiam expressar, como em “Quando Estamos Dormindo” e “Desaparecido”.
“Brazil” é uma faixa cantada inglês e que fala sobre…vocês sabem, né. E “Vanguarda”, uma das mais experimentais do disco, uma crítica:
Quem vai ouvir não sabe bem distinguir o que é bom do que é ruim
E o que não entenderem vão dizer: vanguarda
(O Terno – Vanguarda)
E, por fim, o sentimento. Os temas mais cantados da música pop (amor, saudade, ilusão e similares) estão em outras canções, como nas baladas “Ai, ai como eu me iludo” e “Eu vou ter saudades”. Essa última uma English Pale Ale com notas de Rolling Stones e Black Crowes.
Porque eu já fiz isso milhares de vezes
Como é que eu nunca aprendi a não gostar das pessoas tão rápido assim?
(O Terno – Ai, ai como eu me iludo)
O Terno foi gravado no estúdio Canoa, em São Paulo. O álbum foi finalizado via financiamento coletivo no Catarse. A banda planejava arrecadar 30 mil reais. Arrecadou 35 mil. O adicional deverá ser usado para a produção de um clipe.
O álbum contém 12 faixas – e não só as 7 supracitadas – bastante originais. Um dos embaixadores do novo álbum d’O Terno é ele, uma das mentes mais brilhantes da música brasileira: Tom Zé. E se Tom Zé recomendou, quem somos nós para não ouvir?
É fortíssimo candidato a disco do ano da música brasileira. Escute já:
Lista de alguns dos grandes filmes existenciais, belíssimos, delicados, intensos, profundos e reflexivos. Pensar no valor da vida, na escala social que diferencia pela posição de classe, status. Quem é cada um em seu mundo particular, na beleza de sua singularidade, surpreendente em assinar com diferença a vida, o cotidiano, ou a repetição do ser moldado.
Curta argentino que já recebeu mais de 100 prêmios em diversos festivais ao redor do planeta. Com a direção de Santiago Grasso, a animação mostra uma sociedade doente em que todas as pessoas são objetos de outra. Assista.
3. Room 237: O que você não viu em “O Iluminado”
O documentário Room 237, dirigido por Rodney Ascher e lançado em 2012, revela teorias implícitas e mensagens subliminares impressionantes na obra de Stanley Kubrick.
O fotógrafo franco-canadense Ulric Collette provou como a genética é fantástica com o projeto Portraits Génétiques. Na série, Collette fotografou dois membros de uma mesma família, dividiu os rostos pela metade e criou um retrato como se as duas pessoas fossem a mesma.
No feriado da Páscoa representei o La Parola no festival Spiroway. Foi muito bom. Tempo para ouvir bom som, aproveitar o momento sem se preocupar com a correria cotidiana e curtir a tranquilidade da natureza. Resolvi fazer uma cobertura jornalística um pouco diferente, em primeira pessoa. Portanto, deixo aqui o meu relato pessoal, parcial e subjetivo, desejando vida longa aos festivais de música, cultura e arte!
Sim, existe um app e uma rede social que deixam as fotos antigas, mas o fotógrafo britânico John Keys não se dá por satisfeito apenas com edições. Para retratar o cotidiano da cidade inglesa de Newcastle, Keys não sai com um smartphone em mãos, mas com uma grande câmera de madeira Circa da década de 1880.