Uma tempestade ameaçou Porto Alegre no dia 2 de março. E, por incrível que possa parecer, o melhor abrigo foi a céu aberto.
Os Rolling Stones em Porto Alegre foram o ápice. O evento mais grandioso, gigantesco, fenomenal que a cidade já viu.
Para um fã não é exagero dizer que foi o momento da vida. Estar frente a frente com esses jovens septuagenários foi meio que uma prova de que eles existem e são seres humanos como a gente. Na verdade, tenho minhas dúvidas ainda.
Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts pisaram em Porto Alegre e fizeram o melhor show dos Rolling Stones no Brasil. Quem esteve entre os 49 mil fãs presentes já sabe os motivos. Quem não foi, tudo bem, eu conto.
Setlist e outros acontecimentos
As 18 músicas escaladas para fazerem parte da apresentação foram dominadas por clássicos dos anos 60 e 70, as duas décadas mais produtivas da banda.
As únicas exceções foram uma emocionante Out Of Control, do Bridges To Babylon (1997) e uma enlouquecida Start Me Up, do ótimo Tattoo You (1981).
O tiro inicial, com Jumpin’ Jack Flash pegou direto no olho e chacoalhou todos os tímpanos que estavam pelas redondezas. Certeiro! Histeria coletiva. Parecia como nos vídeos dos Rolling Stones tocando nos anos 60, onde em algumas passagens, os gritos da audiência presente ficava mais alto que a própria música, o que se repetiu em It’s Only Rock and Roll, Tumbling Dice e Out Of Control. Essa última, com Mick Jagger na harmônica, com todo mundo já com a roupa encharcada e finalmente com a certeza de que estava rolando.
Aliás, Mick Jagger, ao longo de seus 72 anos e demonstrando uma energia de uma criança de 6 anos, tomou o maior banho de chuva da vida e dançou a noite inteira na frente da plateia, com coreografias características, indo pra frente e pra trás, pra esquerda e pra direita, do palco prolongado. Keith e Ronnie perceberam que a chuva não iria cessar e não se importaram também. Foram várias vezes para a frente do palco e se conectaram à plateia ao entrarem na mesma chuva.
A música escolhida pelo público, entre as quatro opções que a banda disponibilizou para votação antes do show, foi a atemporal Let’s Spend The Night Together. Essa é uma eleição que ninguém poderia reclamar. Nem falar que houve fraude ou golpe. Street Fightin Man, Get Off My Cloud e You Got Me Rocking ficaram de fora, mas se tivessem entrado, quem ousaria ficar insatisfeito?
E justamente depois da escolha da audiência aconteceu a maior surpresa da noite. Após Mick Jagger com seu português britânico falar ao microfone “Canção rrrromântico”, começa a sussurrar calmamente acompanhado do piano os primeiros versos de Ruby Tuesday. Foi uma dose dupla do classudíssimo Between The Buttons (1967) batendo muito forte em todo mundo antes de continuar batendo mais forte ainda com Paint It Black e Honky Tonk Women.
Um dos momentos mais esperados no show foi quando Keith Richards assumiria os vocais. Acompanhado de Ronnie Wood, foi com o violão um pouco mais para a frente do palco dar um alô mais íntimos para o pessoal. E com uma cara muito sorridente, nos presenteou com You Got The Silver e Before They Make Me Run.
Na volta, Mick Jagger puxou de novo a harmônica para tocar o blues furioso de Midnight Rambler, em uma versão bem mais longa que os registros de estúdio. Aliás, boa parte do show foi assim, com a banda prolongando refrões e solos, correndo de um lado para o outro.
Jagger foi o jogador que mais se movimentou no estádio, e algumas vezes recebia a companhia dos dois guitarristas lá na frente. Keith não tem (e quando teve?) a energia infinita de Mick, mas ainda caminhou bastante pelo palco, fazendo seu estilo, tocando um acorde e olhando para o outro lado, como se passasse a bola pro Ronnie e virasse o rosto. Enquanto isso, Charlie segurava o ritmo lá atrás como o defensor mais elegante que já vimos.
Conhecemos de perto também um baixista chamado Daryl Jones, que mostrou o maior groove da noite em Miss You. E Sasha Allen, que arrepiou até os mais desalmados no refrão de Gimme Shelter, outro momento indescritível do show.
Outro riff que acertou mais uma vez no olho de todo mundo, Start Me Up, começou quando a chuva já havia virado temporal. Ninguém mais se importava do tempo que substituiu o calor característicos que é ficar em meio à multidão. Outro detalhe percebido em virtude do clima foi que menos celulares estavam assistindo aos shows.
Em Sympathy For The Devil, Mick Jagger vestiu peles vermelhas, combinando com o telão rubro, cheio de referências à própria música, e acompanhado de tinhosos uh uh’s da massa. O solo de Keith nessa também foi outro momento aguardadíssimo. Depois de ouvir centenas de vezes pelas caixas de som e pelos fones de ouvido, presenciar ao vivo foi especial demais.
O mesmo valeu quando a próxima música começou, com Keith indo mais para a frente do palco e iniciando Brown Sugar em minha frente! A prolongada versão de mais um hino da banda acabou e, junto, iniciava o fim. A banda foi embora, e nesse momento todo mundo já percebeu: “Agora é o bis só faltam You can’t always get what you want e Satisfaction“.
E no retorno, quem abriu os trabalho foi o coral da PUC, cantando I saw her today at the reception… e sendo acompanhada depois da banda toda. Imagina a honra! No final da música, o momento de desespero de “putz, só tem mais uma e parece que eles começaram a tocar há 5 minutos”. É, shows épicos costumam avacalhar com a nossa noção de tempo. Quando menos percebi lá estava Keith Richards iniciando o riff mais famoso do rock. É bem justo que os Rolling Stones fechem o show com Satisfaction. Ainda mais em uma versão diferente da que estamos habituados a escutar, com refrões muito mais longos e grudentos.
Posfácio
De repente a banda apareceu no palco e foi tudo muito mágico. Finalmente estávamos vendo nossos ídolos por meio de nossos próprios olhos. E de repente acabou Satisfaction e a banda já estava toda reunida na frente, sendo aplaudida e reverenciada por todo o estádio. Ainda continuava chovendo e a esfriar cada vez mais.
Charlie Watts colocou até um casaquinho quando se levantou da bateria e se juntou à banda para um abraço coletivo. Aliás, todos pareciam muito bem e felizes por estarem juntos. Mick e Keith por várias vezes ficaram junto, e trocaram alguns abraços. Ronnie e Keith se olhavam como melhores amigos, e sorriam um para o outro como dois guris tocando pela primeira vez em uma banda.
Mick Jagger, o stone mais brasileiro, arranhou um português em vários momentos e, muito bem assessorado, usou alguns regionalismos pra ganhar o público. E ganhou. Afinal, como não ia ganhar ao começar o show falando “tudo bem, gurizada?” e continuando na onda com outras expressões como: “capaz”, “tri foda”, “as gurias de porto alegre são as mais bonitas” e outras expressões.
Certo de que foi um show que superou qualquer expectativa, tanto para os fãs como para a banda, que agradeceu publicamente no Facebook.
Obrigado Porto Alegre por uma noite inesquecível na chuva! E obrigado a todo o Brasil por quatro shows maravilhosos, foi…
Publicado por The Rolling Stones em Quinta, 3 de março de 2016
Que banda. Que show. Que noite. Muito obrigado, Rolling Stones, por esses momentos. O Brasil espera ansiosamente por mais uma oportunidade!