“Somos todos um pouco Frida, se já amamos, se já sofremos, se já fomos deixados, traídos, se já traímos. Somos Frida porque somos latinos, passionais, raivosos, ciumentos, possessivos.”

(Texto de abertura da exposição “Call me Frida”, de 2013, escrito por Fernanda Young)

Em setembro desse ano, os paulistanos poderão apreciar as obras de Frida Kahlo no Instituto Tomie Ohtake. A exposição trará os trabalhos de diversas artistas mexicanas, colocando os contrastes e as semelhanças entre elas. A exibição promete ser mais um sucesso de longas filas – um fenômeno comum para o Instituto, que já recebeu instalações de Yayoi Kusama e Salvador Dalí.

Mas Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, ou apenas Frida Kahlo, é mais do que uma pintora, ela se tornou um verdadeiro ícone pop. Venerada por homens e mulheres ao redor do mundo, ela encarna o espírito latino para pintar, se expressar, viver e principalmente amar.

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Amor é dor e dor é arte

Uma mulher à frente de seu tempo, a principal característica de Frida era a intensidade com que ela sentia o mundo ao seu redor e como absorvia isso para si mesma. Única, ela foi capaz de superar problemas pessoais, transformando cada uma dessas dificuldades em arte intensa nas telas que pintava.

Em sua infância, a pintora contraiu poliomielite, deixando uma lesão em seu pé esquerdo que lhe rendeu o triste apelido de “Frida perna de pau”. Alguns anos mais tarde, ela sofreu um acidente e teve múltiplas fraturas, precisando fazer 35 cirurgias – período em que ficou presa à cama, sofrendo também com problemas na coluna. Foi nesse momento que ela começou a pintar e expressar suas angústias através das tintas que colocava na tela.

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No entanto, todas essas dificuldades foram usadas como tijolos na construção da personalidade excêntrica e marcante de Frida. O visual colorido cheio de estampas e flores era, na verdade, uma maneira de chamar a atenção para outros aspectos que não a sua aparência. Já o corpete, uma de suas marcas registradas, servia para dar sustentação à sua frágil coluna.

Sua paixão por Diego Rivera era vista como o mais forte e conturbado amor do século 20, já que na mesma intensidade que ela o amava, eles acabavam se magoando. No entanto, Diego foi essencial para que ela se revelasse como artista, já que Frida muitas vezes retratava na tela essa grande paixão.

Conforme o tempo passava, sua saúde apenas piorava. Em 1950, ela teve de amputar uma perna, o que fez com que caísse em profunda depressão – passando todos os seus pensamentos e sentimentos para as telas e seu diário. No dia 13 de julho de 1954 – apenas alguns dias depois de completar 47 anos, Frida foi encontrada morta em sua casa. Suas últimas palavras foram registradas em seu diário: “Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais”.

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Amamos e somos Frida

Em 2013, a escritora Fernanda Young, ao lado de Alexandre Herchcovitch, estrelou no espaço de eventos Duda Molinos, também na capital paulista, “Call me Frida”, uma ocupação inspirada no estilo de Frida Kahlo. Houve um bazar com peças inspiradas no estilo de Frida, além de fotos da escritora caracterizada como a homenageada da exposição.

Na ocasião, a personalidade de Frida era exaltada em sua totalidade, de mulher à artista. E mais do que artista, uma precursora do pós-modernismo, cujo ego é colocado como objeto de estudo. Assim como Frida disse:

“Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.

O que sobrava na vida de uma mulher limitada pelo próprio corpo, pelos próprios sentimentos e pela impossibilidade de realizar o sonho de ser mãe – depois de três gravidezes frustradas?

Frida Kahlo foi a maior prova de como a Arte pode salvar. E é difícil até mesmo escrever algo diferente sobre a pintora, uma vez que ela não teve pudores de se mostrar em suas obras, suas cartas, seus diários:

Pintar completou minha vida. Perdi três filhos e uma série de outras coisas, que teriam preenchido minha vida pavorosa. Minha pintura tomou o lugar de tudo isso. Creio que trabalhar é o melhor”.

Não há nada que possa ser dito sobre Frida que a própria não tenha nos dito, fazendo fofoca sobre si mesma e ajudando a humanidade a entender um pouco mais das misérias e da força humana.

E que venha a exposição no Instituto Tomie Ohtake, provando que Frida jamais estará sozinha e mostrando para o público que o ser humano pode ir muito mais longe do que a vida impõe a ele.