O filme, dirigido pelo o cineasta Paul Bartel e lançado em 1975, faz uma analogia genial para onde a indústria do entretenimento está evoluindo, tendo como perspectiva a busca selvagem por audiência. As mídias sempre retratam a situação política e social da época em que está inserida e neste filme o mundo está num contexto distópico onde um tirano ditador governa com punhos de ferro os EUA. Para distrair e divertir seu povo, o governo totalitário cria um novo esporte que tem como premissa a violência brutal e gratuita, instigando os instintos mais básicos do ser humano, tentando acabar com o pingo de humanidade do povo oprimido os mantendo sob controle.

O esporte é uma corrida automobilística transcontinental que consiste na marcação de pontos através do percurso, a pontuação é conseguida pelo atropelamento sem piedade de várias pessoas, uma atitude radical do governo em diminuir a superpopulação, e pasmem! Os idosos e as crianças são os mais visados por valerem mais pontos…

Os carros do filme dão um show a parte, devido ao baixo custo da produção a equipe cenográfica teve que se virar como podiam, buscando carros destruídos em ferro-velhos e os modificando com os mais baratos e absurdos ornamentos. Cada carro representa a personalidade do seu condutor e são equipados com armas capazes de destruir de forma criativa os pobres coitados pelo caminho, aumentando assim a emoção sádica do esporte, o transformando em paixão nacional e os pilotos em super celebridades.

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Sylvester Stallone

A caracterização excêntrica dos personagens é fantástica, desde os seus figurinos a suas personalidades pérfidas e canalhas. Eles se utilizam de tudo quanto é jogo sujo e trapaças para estar à frente na corrida. Os personagens vividos por David CarradineSylvester Stallone são os grandes rivais do filme. Depois estes dois atores viriam a trabalhar na nova produção de Paul Bartel, Cannonballde 1976, que também é um espetacular filme de corrida de carros mas com um orçamento maior e que deixa muito a desejar quando comparado ao Death Race 2000.

O produtor Roger Corman não conseguiu autorização para gravar as cenas de corrida mas isto não foi um empecilho para esta grande lenda transgressora do cinema norte-americano, para fazer as cenas, ele mesmo pilotou os carros já que os atores não quiseram correr o risco de serem pegos pela polícia e presos por um período de até dois anos.

É incrível como este filme mescla crítica social com o mais puro humor negro e diversão despretensiosa com um roteiro canastrão cheio de buracos. O grande diferencial deste filme é a sua originalidade e a sua trama subversiva que, com o passar dos anos, provou ser atemporal. No filme, o governo encontrou neste esporte um modo eficaz de diminuir a crise populacional, descartando de vez os grupos sociais que esta ditadura considerava como pária, como os presos políticos, idosos, deficientes físicos, sem tetos, mendigos, prostitutas, miseráveis, viciados em drogas e etc. Tudo isto com a aprovação incondicional da população, que está submersa na ignorância e na alienação

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David Carradine

Como todos os filmes distópicos este também dá seu sinal de alerta para as futuras gerações, hoje vemos o crescimento a cada dia na mídia mundial de programas onde a humilhação dos participantes são postos no contexto de entretenimento e quanto maior o número de programas e de pessoas assistindo, maior será a busca desenfreada por audiência. Aí, meu caro amigo, desabe o seu centro moral, prepare a pipoca e retire o seu estômago, Death Race poderá vir a ser o seu programa favorito no domingo de manhã.