Imagine-se em uma sala escura, o som do projetor enche o espaço enquanto imagens de um Brasil esquecido começam a ganhar vida. Em meio à ditadura militar, uma mãe se recusa a desaparecer junto com seu marido. Essa não é apenas uma história de resistência; é uma carta aberta a quem ousa lembrar.

Esse é o impacto de “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que não apenas conquistou o coração de 1,7 milhão de brasileiros, mas se tornou um marco no cinema nacional.

De “Central do Brasil” à resistência: o legado de Walter Salles

Para muitos, Walter Salles é sinônimo de “Central do Brasil“, um filme que nos deu uma das imagens mais icônicas de Fernanda Montenegro e uma das narrativas mais comoventes do nosso cinema. Porém, com “Ainda Estou Aqui”, Salles transcende o drama intimista para nos confrontar com uma memória coletiva dolorosa: o Brasil de 1971, uma nação marcada pela sombra da ditadura militar.

Baseado nas memórias de Marcelo Rubens Paiva, o filme não é apenas uma narrativa, mas um testemunho. Eunice Paiva, interpretada com uma força inabalável por Fernanda Torres, é a representação de tantas mulheres que foram obrigadas a se reinventar como mães, ativistas e vozes de resistência em meio ao silêncio ensurdecedor da repressão.

Por que “Ainda Estou Aqui” nos move tanto?

Em tempos de revisões históricas e apagamento de memórias, “Ainda Estou Aqui” é um grito. Walter Salles nos coloca na pele de uma mulher que escolheu lutar, mesmo quando parecia impossível. E não é só sobre Eunice; é sobre cada brasileiro que teve sua história atravessada por desaparecimentos, pela violência e pela perda.

O que torna esse filme tão poderoso é o equilíbrio entre o épico e o íntimo. Por mais grandiosa que seja a narrativa histórica, é na relação entre mãe e filhos, nas cartas nunca enviadas e nos silêncios que dizem tudo, que encontramos a verdadeira força desse relato.

E talvez seja isso que levou mais de 1,7 milhão de pessoas aos cinemas: a necessidade de lembrar, mas também de sentir. Sentir a perda, a luta, e, acima de tudo, a humanidade de quem se recusa a ser esquecido.

Com “Ainda Estou Aqui”, Walter Salles ultrapassa o legado de “Central do Brasil”, que havia atraído 1,6 milhão de espectadores. Mas o que isso diz sobre o público brasileiro? Estamos prontos para abraçar um cinema que nos desafia, que nos provoca, ou este é apenas um caso raro de sucesso?

E o que dizer do elenco? Com Fernanda Torres no papel principal, Selton Mello em um papel transformador e uma participação especial de Fernanda Montenegro, o filme também celebra o melhor do talento brasileiro. É impossível não se perguntar: o que vem a seguir para o nosso cinema? Podemos finalmente competir, em relevância e impacto, com as grandes produções internacionais?

Por que você precisa assistir a “Ainda Estou Aqui”

Se há um filme brasileiro que você deve assistir este ano, é este. Não apenas pela relevância histórica, mas pela força de sua narrativa. Walter Salles não apenas nos entrega uma obra-prima cinematográfica, mas nos convida a refletir sobre quem somos como nação e como indivíduos.

A questão é: você está pronto para ouvir essa história? Ou melhor, para sentir o peso e a beleza de um Brasil que insiste em lembrar?