Para aqueles que gostam de thrillers psicológicos e romances de horror, as obras do escritor americano Thomas Harris sem dúvida exercem um enorme fascínio. Mas quem é Thomas Harris?
Thomas Harris é um escritor e roteirista americano natural da cidade de Tennessee, EUA. Conhecido popularmente por suas séries literárias sobre Hannibal Lecter, ele geralmente é considerado um autor introspectivo, recluso e arraigado por manter pouco contato com a mídia e o público.
Seu posicionamento deveras discreto é justificado por Harris como sendo uma oclusão de seu trabalho, já que ele sempre diz que suas obras “podem falar tudo sobre si mesmo”.
“Quando você está escrevendo um romance, não está fazendo nada. Está tudo lá, você só precisa encontrar.”
Os livros de Harris são muito apreciados pela crítica especializada, e todos eles constituem ótimos romances psicológicos baseados puramente em suspense e horror.
A linguagem do autor é rebuscada, incisiva, refinada, sombria e assustadoramente inteligente. Pode-se dizer que os trabalhos de Harris são evidências perturbadoras de uma mente obscura e inquieta. Stephen King, seu colega, certa vez disse que:
“Para Harris, o próprio ato de escrever é uma espécie de tormento.”
É sabido que Harris fez carreira no Jornalismo. Ele foi repórter policial no jornal texano Waco Tribune Herald durante boa parte dos anos 60, e oito anos mais tarde acabou ingressando na agência de notícias Associated Press como repórter investigativo, e depois como editor.
Simultaneamente às suas atividades profissionais, Harris costumava escrever romances e contos de caráter macabro, coisa que fazia muito bem por trabalhar imerso no submundo do crime.
De acordo com relato de seu amigo e ex-agente Mort Janklow:
“Harris foi um grande repórter, de lealdade inquestionável. Ele possui um conhecimento íntimo sobre procedimentos policiais e investigações de homicídio, de fato, sobre a psicologia de assassinos.”
Devidamente enriquecido com experiências no ramo criminal, e contando com a colaboração financeira de dois amigos, Harris conseguiu terminar e publicar seu primeiro romance em 1975, intitulado Black Sunday, que fala sobre um atentado terrorista islâmico planejado para acontecer durante um importante evento esportivo. A obra foi um sucesso, tendo sido adaptada para o cinema com o mesmo título, em 1977.
Entre 1975 e 1980, o autor direcionou seus esforços produtivos em investigações criminais nas quais colaborava como analista e consultor, e foi justamente durante essa época áurea que ele desenvolveu e publicou seu romance mais aclamado, Red Dragon (1981). O nome desta obra foi dado por Harris tendo como inspiração uma pintura apocalíptica do poeta inglês William Blake, cujas fantasias o estimularam a conceber seu lendário personagem Hannibal Lecter.
Hoje em dia, Harris permanece ainda recluso, vivendo com um amigo no estado da Flórida, mas continua sendo um dos escritores mais privilegiados do mundo e também um dos mais referidos por roteiristas em abordagens sobre psicologia criminal e patologia forense.
Hannibal Lecter
Existe outro personagem de ficção contemporânea que exerce um fascínio mais horripilante do que o psiquiatra, médico, cirurgião e canibal assassino Hannibal Lecter? Talvez sim, talvez não.
O personagem Hannibal Lecter foi originado no livro Red Dragon. Todavia, o maior frenesi em torno de Hannibal se deu através do filme O Silêncio dos Inocentes, estrelado por Anthony Hopkins em 1991 e que conquistou 5 Oscars.
Hannibal é popularmente conhecido por ser um personagem de duas faces: um psiquiatra, médico e cirurgião enigmático de um lado, e assassino canibal do outro.
No reino do suspense psicológico, que explora a natureza da maldade humana e a anatomia da investigação forense, Hannibal pode ser deslumbrado em uma visão assustadora. Categoricamente, ele não deixa de ser uma definição de anti-herói baseada nos preceitos hollywoodianos.
Historicamente falando, o personagem Hannibal Lecter é lituano e descendente direto da linhagem dos Visconti, uma antiga família italiana que possuía a alcunha de “Dragão Antropófago”, indicando assim que as tendências canibalescas de Hannibal são uma herança familiar.
Na infância até a adolescência, Hannibal presenciou de perto sua família ser vitimizada por invasões alemãs durante a II Guerra Mundial. De acordo com a novela Red Dragon, a família de Hannibal acabou se tornando íntima dos hiwis (grupos de lituanos traidores que ajudavam os nazistas). Conta a história que, certa vez, os hiwis se instalaram na casa de campo da família Lecter, onde eles impiedosamente planejaram e executaram o assassinato de Mischa, irmã de Hannibal, que testemunhou a moça ser devorada viva.
Assim, Hannibal se tornou o único sobrevivente da devastação dos Lecter.
Após o fim da guerra, o castelo no qual Hannibal morava foi demolido e transformado em orfanato, que se tornou sua nova casa pelos anos seguintes. Lá, ele viveu uma vida monótona e melancólica. Por vezes, ele ficava se martirizando devido às ameaças de bullying e violência que recebia constantemente (inclusive foi abusado por um monitor).
Ao deparar-se totalmente perdido e isolado de qualquer laço de afetividade, Hannibal acaba decidindo ir morar com seu tio em Maryland, nos EUA, onde mais tarde se tornaria PhD em Psiquiatria pela Universidade Johns Hopkins.
Em termos comportamentais, Hannibal Lecter se mostra brilhante no entendimento da mente primitiva do ser humano. Um ser inteligente, meticuloso, persuasivo, que planeja todas as suas ações (e assassinatos) tendo em vista a satisfação de suas duas únicas necessidades: fome e vingança. Um ser dissidente, perverso e implacável que caça pelo prazer sanguinário de consumir. Esse é o resumo do atemorizante e icônico Hannibal Lecter.
A série Hannibal
Meu primeiro contato com o famoso canibal assassino de Thomas Harris foi através da série de TV Hannibal, produzida pelo canal americano NBC entre 2013 e 2015, contendo 3 temporadas. Todo o conteúdo da série foi estruturado a partir do livro Red Dragon.
Na série, podemos acompanhar o agente do FBI Jack Crawford (vivido por Laurence Fishburne) e seu consultor perturbado, Will Graham, incumbidos de investigar e capturar um assassino monstruoso, inescrupuloso, astuto e manipulador que esconde suas intenções maléficas e consegue deturpar o conhecimento alheio de sua identidade misteriosa.
Considere a série como sendo um filme contemporâneo de Hannibal com aproximadamente 30 horas de duração. O roteiro é fiel à obra de Harris, incrustado de suspense e terror. A narrativa é repleta de detalhes bem construídos, os diálogos são extremamente complexos, intelectuais e intrincados, as fotografias são muito belas, e o elenco no geral é muito bom. O ator Mads Mikkelsen, em evidência, personifica Hannibal de uma maneira incrivelmente fria, calculista e sagaz como o personagem que representa.
A série Hannibal é entretenimento garantido para quem percebe o potencial dramático de uma história de terror e, claro, para quem não se intimida com um assassino que literalmente se alimenta de suas vítimas.
Segundo o site americano de entretenimento Slate:
“A série Hannibal é a melhor adaptação de Thomas Harris.”
Infelizmente, a política americana de renovação/cancelamento de séries é exageradamente formal e rigorosa, muitas vezes ingrata com os fãs. Devido a inconsistências técnicas, Hannibal foi cancelada após três temporadas, mas isso definitivamente não tira o mérito da série que de forma concisa retratou o universo de Thomas Harris.
Segundo o jornal gaúcho Zero Hora:
“A série Hannibal foi vítima da própria ousadia.”
O criador da série, Bryan Fuller, agradeceu ao canal NBC pela oportunidade de poder veicular sua adaptação televisiva de Hannibal. Em nota, ele comentou cordialmente:
“A NBC nos permitiu criar uma série de TV que nenhuma outra emissora teria ousado. Hannibal está chegando ao fim após três maravilhosas temporadas, mas um canibal faminto pode sempre repetir seu prato.”
Com isso, podemos esperar que Fuller apresente outras propostas de roteiro atrativas em um futuro próximo, possivelmente com o personagem Hannibal Lecter em foco.
*Com informações do The Guardian.