O Mar, a Muda e a Metáfora

Fotografia: Ansel Adams

Sempre gostei do mar. Nasci em Minas Gerais, nenhuma mísera faixa de litoral ao redor, mas mesmo assim, o mar…

Toda vez que contemplo aquela imensidão, sinto uma sensação maravilhosa de impotência. Explico: é um sentimento de ser tão pequena e frágil perto de tamanha quantidade de água, de tamanha força, de tamanha complexidade. É como se o fardo da sobrevivência, as responsabilidades, as pressões e tudo mais que parece tão pesaroso e difícil de lidar nesse breve organismo antropomórfico, simplesmente se esvaísse, transcendesse as células e se perdesse em ondas e água salgada.

Acho que sou uma pessoa de sorte, já vi muitas obras espetaculares construídas pela mente e pelos braços do homem. Monumentos, templos, castelos… mas nada me tira tanto o fôlego quanto as obras arquitetadas pela natureza. Admirar o trabalho dos milênios, as paisagens que mudam, e todavia, perduram e resistem (por enquanto) às intervenções de nossas descuidadas mãos, observar aqueles átomos que flutuam de corpo em corpo desde a infância das estrelas. São partículas que formam a nós mesmos, e que pra mim, constituem a beleza mais pura da vida e da morte: a renovação e a transformação de toda matéria, aquilo que faz com que estejamos interligados, que sejamos parte de um todo e isso por si só, já é um motivo imenso para que tenhamos respeito e gratidão por tudo à nossa volta.

Nós, ditos ápices da cadeia evolutiva, somos capazes de grandes bondades, mas também de profunda perfídia. Alguns dizem que o mal deve ser suprimido, outros dizem que ele é necessário. Quando olho para o mar, sinto que há tanto além disso, e que às vezes nos embrenhamos em inúteis lamentações misantropas fomentadas pela insatisfação de não estarmos no controle de nós mesmos e, mais egoisticamente, no de outros seres vivos. De vez em quando me pergunto o quão irônico é nos autodenominarmos humanos, sendo tantas vezes desprovidos de humanidade.

Para mim, a harmonia da vida consiste na busca pelo alinhamento entre o universo que vejo e o que existe dentro de mim mesma. Está na sinergia entre a força criativa que compõe os grãos de areia e as galáxias, e a que faz com que, a todo instante, meu corpo compartilhe novas células e novas sinapses.

Acredito que uma das melhores qualidades do homem e a capacidade de metaforizar, de lidar com o abstrato, com o que vai além da denotação. É o que o mar representa para mim, corpóreo em sua grandiosidade, porém, imensurável como todas as histórias, trajetórias e existências que derramaram seus elementos químicos e traçaram suas próprias rotas por esse mesmo solo onde pisamos nesse exato momento.

Que tal uma voltinha no Inferno?

inferno de dante alighieri

Quem nunca imaginou como seria o Inferno? Como seríamos castigados por nossos pecados? Bem, Dante Alighieri imaginou. Imaginou e descreveu com uma riqueza de detalhes tão grande, que é capaz de aterrorizar até os mais incrédulos.

A Divina Comédia é com certeza um dos maiores poemas já escritos, não só por conter em sua estrutura, 100 cantos e 14.233 versos, mas sim por ter sido fonte de inspiração para grandes nomes da arte, resultando em dezenas de obras baseadas na viagem de Dante Alighieri pelo Inferno, Purgatório e Paraíso.

Uma dessas obras (e a minha favorita) é o chamado “Mapa do Inferno”, de Sandro Botticelli, a ilustração retrata os Nove Círculos concêntricos descritos no Inferno, com todo o sofrimento dos que tiveram esse, como destino final.

La Mappa dell' Inferno - Sandro Botticelli
La Mappa dell’ Inferno – Sandro Botticelli

Mas antes de começarmos a nossa viagem, vamos saber um pouco do homem por trás da mente que criou este épico poema.

dante alighieri
Portrait of Dante – Sandro Botticelli

Dante Alighieri nasceu em Florença, na Itália, em maio de 1265, era escritor, poeta, político, e suas inúmeras obras lhe renderam o título de “Il sommo poeta”. Mas Dante não é lembrado apenas por ter redigido uma das obras-primas da literatura universal, sua paixão pela jovem Beatriz Portinari deixou grandes marcas na sua história, estando ela presente na “Divina Comédia” como sua guia pelo que equivale a terceira e última parte do poema, o “Paraíso”, além de ter sido uma de suas grandes fontes de inspiração para outros poemas. Dante foi exilado de sua amada Florença e faleceu em Ravena no ano de 1321.

Agora chegou a hora de darmos início ao nosso passeio pelos Nove Círculos por onde Dante andou guiado pelo seu mestre, o poeta Virgílio. O Inferno descrito por Dante está em forma de um funil, que segue em direção ao centro da terra, onde Lucífer está à espera. Em cada círculo são punidos pecados distintos, de acordo com seu grau de “gravidade” Os pecados menos graves são punidos nos primeiros círculos e os mais graves nos últimos.

E lá vamos nós…. “Deixe toda esperança, ó vós que entrais”.

Primeiro círculo – o Limbo

É destinado aos pagãos virtuosos e aos não batizados, àqueles que morreram antes da vinda de Jesus Cristo, suas almas vagam pela mais completa escuridão, o que representa a não iluminação das mentes que não conheceram o Evangelho e seus ensinamentos.

Segundo círculo – Vale dos Ventos

Encontra-se a sala do julgamento, é lá que o juiz do inferno, chamado Minos, ouve a confissão dos mortos e os destina a um dos nove círculos, faz isso enrolando sua enorme cauda envolta do corpo, cada volta representa um círculo abaixo.

Nesse mesmo círculo, estão aqueles que cometeram o pecado da luxúria, que são atormentados por furacões e ventanias representando os vícios da carne, que assim como o vento, os levavam de encontro ao pecado.

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Minos – Gustave Doré

Terceiro círculo – Lago da Lama

Encontram-se os gulosos, atolados numa lama suja, são punidos ao ficarem prostrados debaixo de uma forte chuva de granizo, água e neve, sendo arranhados, esfolados e dilacerados por um enorme cão de três cabeças chamado Cérbero, que retrata o apetite sem fim.

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Cérbero – Gustave Doré

Quarto círculo – Colinas de Rocha

É o destino dos pródigos e avarentos, que possuem como punição, rolar com os próprios peitos grandes pesos, que representam as suas riquezas e estão fadados a trocarem injúrias entre si.

Quinto círculo – Rio Estige

Abriga os acusados de ira, estes ficam amontoados em um lago formado de água e sangue borbulhante, batendo-se e torturando-se. No fundo do Estige, estão os rancorosos que não demonstraram sua ira e permanecem proibidos de subir à superfície.

Sexto círculo – Cemitério de Fogo

lugar dos que em vida foram hereges, os que não acreditaram na existência de Deus e de Jesus como seu Filho. A punição que eles recebem é o sepultamento em túmulos abertos, de onde sai fogo (o que nos lembra a sentença dada aos condenados por heresia pela Igreja, que eram queimados em fogueiras)

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Ilustração Gustave Doré

Sétimo círculo – Vale do Flegetonte

É o destino dos que praticam violência. Esse círculo é dividido em três vales:

No primeiro vale (Vale do Rio Flegetonte), estão às almas dos que foram violentos contra o próximo, aqui eles permanecem mergulhados em um rio feito com o sangue dos que eles oprimiram. Na margem do rio ficam o Minotauro de Creta e centauros, que atiram setas nas almas que se erguem do sangue;

No segundo vale (Vale da Floresta dos Suicídas) estão os que praticaram violência contra si mesmo, esses se transformam em árvores sombrias e retorcidas;

No terceiro vale (Vale do deserto Abominável), estão os que praticam violência contra Deus, contra a natureza e contra a arte, e são condenados a permanecer em um deserto de areia quente, onde chovem chamas de fogo, um lugar estéril e sem vida, contrário ao mundo criado por Deus.

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Vale do Flegetonte – Gustavo Doré

Oitavo círculo – Malebolge

É dividido em dez fossos, onde são punidos diversos pecados:

No primeiro fosso estão os rufiões e sedutores, açoitados continuamente pelos demônios, que os obrigam assim a cumprir os seus desejos;

No segundo estão os aduladores e lisonjeiros, estes estão imersos em fezes e esterco, que representa a sujeira que deixaram no mundo, resultado do proveito que tiravam dos medos e desejos dos outros e das falsas palavras proferidas;

O terceiro é destino dos simoníacos, enterrados de cabeça para baixo e com as pernas sendo queimadas por chamas;

No quarto encontram-se os adivinhos, que como punição têm suas cabeças voltadas para as costas, os impossibilitando de olhar pra frente;

No quinto fosso estão os corruptos, submergidos em um lago de piche fervente;

No sexto são punidos os hipócritas, estes estão vestidos em pesadas capas de chumbo dourado;

No sétimo estão os ladrões, que são picados por serpentes que os atravessam e os desintegram;

No oitavo são castigados os maus conselheiros, aqui eles são envolvidos por infinitas chamas, e padecem ardendo;

O nono fosso abriga os que semearam a discórdia, e são então esfaqueados e mutilados por demônios que lhes arrancam o que representa a discórdia semeada;

No décimo fosso, os falsários são punidos com úlceras fétidas e diversas enfermidades;

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Malebolge – Gustave Doré

Nono e último círculo – Lago Cócite

Cujo pavimento é formado por gelo, é onde estão presos os traidores. Este círculo é dividido em quatro esferas:

A primeira esfera é a de Caína, onde são punidos os que traem seus parentes, estes ficam apenas com o tórax e a cabeça fora do gelo. O nome Caína faz referência a Caim que matou seu irmão Abel.

Na segunda esfera, a esfera de Antenora, estão os que traíram sua pátria, aqui apenas as cabeças ficam fora do gelo;

A terceira esfera, chamada esfera da Ptoloméia ou Toloméia, é onde os traidores de seus convidados são punidos, ficando apenas com o rosto exposto e quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem os seus olhos;

A última esfera do nono círculo do inferno, é chamada de esfera Judeca, seu nome claro, faz referência ao traidor mais conhecido da história, Judas Iscariotes e é o destino dos que traíram seus senhores e benfeitores, permanecendo completamente submersos no lago de gelo, conscientes. No meio da esfera está Lucífer, que com suas três cabeças prende de um lado Judas, e do outro Brutus e Cássio, responsáveis pela morte de Júlio César.

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Lucífer no Nono Círculo do Inferno – Gustave Doré

Ao passar por todos os círculos, valas, fossos e esferas, chegamos (nós, Dante e Virgílio) ao centro da Terra e é lá que começa a subida em direção à saída, em busca do céu estrelado, da luz no fim do túnel, encerrando assim nossa viagem pelo temido inferno.

O Livro ”Inferno”, escrito por Dan Brown, foi o responsável por despertar o meu interesse pela Divina Comédia e pela história de Dante, além de ser uma bela leitura pra quem é fã da Renascença Italiana.


Livros relacionados para você saber mais

Confira abaixo alguns livros que complementam este texto. Em nome da transparência: os links são afiliados, comprando por eles você ajuda o site com uma pequena comissão. Esperamos que você goste das sugestões. Boa escolha!

O ‘Eu Escuto’ está comemorando 5 anos. Venha para a festa!

“Neste mundo só música boa salva, então estamos aqui para disponibilizar isso.”

O melhor site de música das galáxias está completando 5 anos de existência. O Eu Escuto é, em tempos atuais, responsável em fazer com que as barreiras geográficas não impeçam a proliferação da boa música. Isso porque todos devem ter o direito de ouvir além do que é lançado pelas grandes gravadoras, que têm cacife para disseminar os artistas em todas as partes do globo. Ou o que é lançado apenas em uma determinada região e que não é exportado da forma adequada a todos os ouvidos humanos – e alienígenas -, seja por dificuldades financeiras do artista ou até mesmo de distribuição.

A descrição do Eu Escuto resume bem a missão do site e dos envolvidos no projeto: “Neste mundo só musica boa salva, então estamos aqui para disponibilizar isso”.

E muito mais do que podemos escutar em rádios, players online ou o que for, o Eu Escuto é um grande incentivador da cena musical brasileira. Todas as semanas inúmeros artistas lotam a caixa de entrada do Cristian Farias, fundador e manda-chuva, pedindo que seus trabalhos sejam divulgados. E é isso que justifica a missão do site, pois música boa pode até ser encabeçada por gigantes como Rolling Stones e Led Zeppelin, mas também está presente em novos trabalhos autorais, como Mustache & Os Apaches, Apanhador Só, Maglore e mais um monte de preciosidades que você pode encontrar por lá.

Em 5 anos no ar, o Eu Escuto já divulgou mais de 2.100 álbuns! Tem para todos os gostos: edições oficiais, alternativas, demos, raras e bootlegs. E todos os discos são bons, cumprindo com o objetivo do site.

Para comemorar essa marcante data haverá uma festa de aniversário no dia 1º de agosto. Será no Siri Cascudo, em Passo Fundo-RS, a cidade em que o Eu Escuto (e o La Parola, diga-se de passagem) nasceu. A festa terá a discotecagem musical do Selo 180 e show com a Blunt. Todas as informações estão no cartaz abaixo e no evento do facebook. O La Parola apoia o evento do comparsa e convida a todos que se façam presentes nessa noite especial!

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Por que fazer da taça alemã um ouro para o Brasil?

A FIFA disponibilizou algumas opções para que as delegações escolhessem o seu local de treinamento e hospedagem. A Alemanha recusou. Decidiu se acomodar num município no Sul da Bahia chamado de Santa Cruz Cabrália. Longe dos polos, a seleção foi a que mais ganhou na Copa do Mundo – não se tratando somente de chutes a gol. E por que não tirar experiência e aprendizado dessa sua passagem harmoniosa pelo Brasil?

Ao se instalar, a seleção alemã logo recebeu uma visita de alguns índios da Aldeia Indígena Pataxó de Coroa Vermelha. Eles puderam assistir às entrevistas de alguns jogadores e foram presenteados pelos alemães com um cheque de 10 mil euros (aproximadamente 30 mil reais) para investirem em uma ambulância que facilitará o atendimento médico na região. Além disso, estão financiando a construção de um campo de futebol para os moradores do local. Os índios foram tão cordiais e receptivos quantos os jogadores, oferecendo instrumentos de sua tribo como lembrança aos visitantes. Dançaram, comeram e com certeza aprenderam lições incríveis. A seleção que trajou o rubro-negro em campo deixou a frieza – que caracteriza o seu povo – em Berlim. Vieram para o Brasil e vestiram a camisa da alegria. Ao invés de nós contagiarmos esses estrangeiros, foram eles que acabaram por encantar uma legião de fãs que foi crescendo com os dias que se passavam no Mundial. Por que ajudar a minoria de um país que não se é naturalizado? Os alemães não pensaram nos motivos, simplesmente fizeram. E fizeram maravilhosamente bem. Deram um exemplo de compaixão, solidariedade, humildade e honestidade que, inclusive, muito se falta no Brasil.

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Além disso, levamos 7×1 de uma seleção estruturada em todos os sentidos. Jogamos contra um time completo, perfeito, estudado. Vimos de maneira escancarada a crise do futebol brasileiro quando demos de cara com a organização alemã. O bom futebol da Alemanha é mais uma questão para refletirmos. Os nossos erros estão pautados na falta de muitos aspectos, como tática, jogo coletivo, humildade para aprender, pressão excessiva e respeito ao adversário. A Alemanha se mostrou completa em cada âmbito do futebol. E melhor, fez isso dentro e fora de campo. A disciplina da seleção é de se admirar e de se inspirar. Inspirar-se principalmente. É disso que o Brasil precisa: inspiração. E não nos faltam fontes. A Alemanha, desde o seu primeiro jogo contra Portugal, deixou escrito que a final teria o seu nome e que vencer era só mais um degrau a subir. E subiram firmes. Mostraram seu futebol leve e principalmente um futebol coletivo, que não se sustenta num craque. Quando Messi recebeu a bola de ouro como melhor jogador do Mundial algumas pessoas me falaram o seguinte: “Esse troféu deveria estar nas mãos de algum alemão”. Mas qual? Eles possuem uma seleção e não apenas jogadores. São únicos em coletivo. Seria difícil destacar algum.

E a principal questão que engrandeceu os alemães foi o respeito com o país do futebol. Não só com isso, mas com toda a história dos gramados e com todos os jogadores que por aqui já passaram, desde os que marcaram o nosso auge no mundo esportivo até os que hoje tentam construir os seus próprios caminhos. O meia-atacante Lukas Podolski deu a sua declaração em uma rede social, deixando todo o seu apoio e admiração para com a seleção brasileira após a nossa maior goleada em Copas do Mundo. Além disso, o jogador alemão demonstrou total respeito pela história do futebol brasileiro e por tudo que já fomos nesse esporte. Desde que chegou ao Brasil, Podolski se instalou como um brasileiro nato. Para se sentir em casa e próximo do nosso povo, o jogador fazia flashs dos seus momentos e publicava-os nas redes sociais, sem dispensar o português. Chegou-se a dizer que Podolski era o mais brasileiro dos alemães.


Toda essa educação muito me questiona se o caso em questão fosse invertido. E se o Brasil fizesse 7×1 em cima da Alemanha? Estaríamos até hoje zombando do país de população conhecida vulgarmente como gélida. Uma torcida que vaia um hino adversário não seria capaz, talvez, de aplaudir um time que foi humilhado em campo, que deixou nos gramados a vergonha de uma copa sediada no seu próprio país. Sentiríamos-nos superiores e custo a acreditar que seríamos tão cordiais como os alemães assim mostraram.

Todos eles foram exemplos pra nós e para o mundo. Não só dentro de campo, com seu futebol único e decisivo, mas também mostrando em atitudes que na Alemanha a base desse esporte realmente é a educação. Foi a educação que fez a Alemanha ser maior. É a educação que faz a Alemanha ser maior sempre. Segundo a reportagem exibida pela Rede Globo por Renato Ribeiro e Cleber Schetini, “na Alemanha, ‘jogador’ e ‘estudante’ não são palavras incompatíveis. Ao lado do estádio do Schalke 04, um dos times mais populares da Alemanha, tem uma escola pública. Desde 2001, colégio e clube têm um convênio para formar juntos jogadores e alunos. Desse projeto, saíram Özil e Neuer.” Nesse país que ainda não foi considerado o do futebol, todos os jogadores precisam, primeiramente, concluir o Ensino Médio. E ainda finaliza: “Na Alemanha, craques não surgem em escolinhas, mas em escolas”. É esse o maior legado que devemos absorver de um time tão talentoso em campo e tão inspirador fora dele. Que a taça alemã seja também um ouro para o Brasil.

20 Álbuns de 2014 que seus ouvidos merecem

Jack White Lazaretto

Já temos álbuns suficientes para elencar o que de melhor tem saído dos alto-falantes nesse ano de 2014. O ano tem sido generoso aos ouvidos e tem como carro-chefe Lazaretto, de Jack White. Que disco!

O Kasabian confirmou que é uma grande banda lançando o melhor disco da carreira. E os irmãos Rich e Chris Robinson mostraram a razão de os Black Crowes ser uma baita banda ao lançar cada um o seu disco solo.

Beck e Damon Albarn voltaram a protagonizar a cena musical com discos bem sólidos, assim como Neil Young, que quanto mais velho fica mais material ele produz. A propósito, ele mesmo, com A Letter Home e David Crosby, com CROZ, estão presentes na lista e estarão na seguinte em virtude de um precioso registro lançado no mês de julho: O box CSNY, que nada mais é que um resumo triplo da turnê Re-Union que Crosby, Stills, Nash e Young fizeram em estádios no ano de 1974.

Falando em box, as edições de luxo que o Led Zeppelin re-lançou para os três primeiros álbuns da carreira não poderiam ficar de fora. Assim como o álbum póstumo do grande Johnny Cash, a volta de Bruce Springsteen, a maluquice de John Frusciante e o Black Keys, que na ressaca do El Camino lançou Turn Blue, que mesmo bem abaixo do álbum anterior merece uma vaga na lista.

A música brasileira é representada nessa lista pelos Titãs, que parecem ter voltado a ter 20 anos de idade, pelos Variantes, pela Nação Zumbi e por Charlie e os Marretas. Mas o melhor álbum nacional de 2014 será lançado no segundo semestre e chegará ao Brasil direto da Costa do Marfim. Aguardem!

Confira abaixo a lista, em ordem alfabética. A maioria dos álbuns estão disponíveis para streaming. Aproveite e escute!

Beck – Morning Phase

The Black Keys – Turn Blue 

Capa

Bruce Springsteen – High Hopes

Charlie e os Marretas

Chris Robinson Brotherhood – Phosphorescent Harvest

Damon Albarn – Everyday Robots

David Crosby – CROZ

Jack White – Lazaretto

John Frusciante – Enclosure

Johnny Cash – Out Among The Stars

Kasabian – 48:13

Led Zeppelin I, II e III – Super Deluxe Edition Box

Led Zeppelin Edição de Luxo Remasterizada

Mac DeMarco – Salad Days

Nação Zumbi

Neil Young – A Letter Home

Rich Robinson – The Ceaseless Sight

Titãs – Nheengatu

Variantes – Tudo Acontece

Willie Nelson – Band Of Brothers

Wolfmother – New Crown

Papagaio Tagarela – A fábula do papagaio e da arara azul

Uma pequena fábula sobre tolerância.

Um papagaio tagarela.
Nada de novo, certo?

Mas, e um papagaio tagarela e maledicente?

Ai, o que era corriqueiro se torna preocupante!

Intolerância com tudo que lhe é diferente, esse é o mote do livro “Papagaio Tagarela – A fábula do papagaio e da arara azul” (Editora ArtPensamento; Texto: Pedro Paulo da Luz / Arte: Milena Barbosa).

No livro, o temperamento intolerante do Papagaio, distribuindo críticas maldosas a todos à sua volta, se contrapõe a paciência e compreensão da Arara Azul, que tenta fazer o pássaro falador rever seus (pré) conceitos.

Mas, cuidado Papagaio, você pode ser vítima da sua tagarelice!

Maledicentes e intolerantes todos somos em algum grau. Alguns mais, outros mais do que mais, outros menos… Então todos – adultos e crianças – temos algo a aprender com pequenas fábulas como essa. Afinal, o destino (ou seja lá como queira chamar essa roda universal que comanda a lei da ação e reação) pode presentear a qualquer um de nós, papagaios ou não, com surpresas nada agradáveis.

Com seu colorido, ora extrapolando os contornos dos desenhos, ora não os preenchendo totalmente, a arte de Milena Barbosa lembra a pintura despreocupada, e por isso bela, de uma criança, dando um charme especial à obra.

Com a ajuda de 47 colaboradores, o livro foi viabilizado através de uma campanha no site de crowdfunding Catarse, mas também está à venda no site da Editora, onde também é possível adquirir fantoches dos personagens da história. Achei bem bacana 🙂

Em tempos onde as diferenças estão cada vez mais atuantes no sentido de ocuparem seus espaços e serem respeitadas, a mensagem de tolerância do livro “Papagaio Tagarela – A fábula do papagaio e da arara azul” é mais do que bem-vinda.

Os melhores covers feitos pelo The Killers

Desde o início da carreira, o quarteto de Las Vegas nunca deixou de fazer covers de bandas que gostam, tanto em shows como no estúdio.

Trago aqui aqueles que considero os mais interessantes em termos de qualidade, alguns até superando o original.

1. Romeo and Juliet (Dire Straits)

2. Why Don’t You Find Out For Yourself (Morrissey)

3. Bad Moon Rising (Creedence Clearwater Revival)

4. Girls Just Wanna Have Fun (Cyndi Lauper)

5. Forever Young (Alphaville)

6. Ruby Don’t Take Your Love to Town (Kenny Rogers)

7. Hotel California (The Eagles)

E aí, qual o seu preferido?

Sobre a Felicidade

“Felicidade é que nem fumaça de charuto, uns não se incomodam, outros ficam putos”, escreveu o poeta Makely Ka no livro “Ego Excêntrico”. E acertou na mosca, felicidade é assim: uns não se importam e outros mordem os lábios — de inveja.

É bem verdade que felicidade é coisa incerta. Uma criança brincando de esconde-esconde, uma menina ganhando a boneca mais desejada do momento (aquela que ela vai mostrar para todas as amigas durante o chá das seis), um trabalhador assalariado recebendo o pequeno salário ao final do mês.

Tudo muito relativo. A felicidade está em tudo que a gente desejar e não está em lugar algum. É um ideal e não uma substância palpável. E pode ser apenas um momento. Sim, felicidade é coisa passageira. Difícil ser feliz o tempo todo. Pensando bem, felicidade nunca dura muito.

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Makely Ka, poeta Mineiro

Tem a felicidade que ninguém vê e a felicidade que transborda. Felicidade em encontrar um amigo da infância e reconhecê-lo no primeiro instante. Felicidade em ler aquela velha carta de amor que nem sequer foi entregue. Nostalgia às vezes se confunde com felicidade.

Mas por que é que felicidade incomoda? Isso eu não sei dizer, tenho algumas suspeitas. Em primeiro lugar, somos invejosos. Queremos ter o que o outro tem e viver como o outro vive. E felicidade é um desses sonhos de consumo universais, todo mundo quer. E em segundo lugar, sei lá, a gente vive em função de ser feliz.

Oito ou oitenta. Felicidade é isso, ou não.

Death Race 2000: Uma Corrida com Carros Alucinantes e Muita Violência

O filme, dirigido pelo o cineasta Paul Bartel e lançado em 1975, faz uma analogia genial para onde a indústria do entretenimento está evoluindo, tendo como perspectiva a busca selvagem por audiência. As mídias sempre retratam a situação política e social da época em que está inserida e neste filme o mundo está num contexto distópico onde um tirano ditador governa com punhos de ferro os EUA. Para distrair e divertir seu povo, o governo totalitário cria um novo esporte que tem como premissa a violência brutal e gratuita, instigando os instintos mais básicos do ser humano, tentando acabar com o pingo de humanidade do povo oprimido os mantendo sob controle.

O esporte é uma corrida automobilística transcontinental que consiste na marcação de pontos através do percurso, a pontuação é conseguida pelo atropelamento sem piedade de várias pessoas, uma atitude radical do governo em diminuir a superpopulação, e pasmem! Os idosos e as crianças são os mais visados por valerem mais pontos…

Os carros do filme dão um show a parte, devido ao baixo custo da produção a equipe cenográfica teve que se virar como podiam, buscando carros destruídos em ferro-velhos e os modificando com os mais baratos e absurdos ornamentos. Cada carro representa a personalidade do seu condutor e são equipados com armas capazes de destruir de forma criativa os pobres coitados pelo caminho, aumentando assim a emoção sádica do esporte, o transformando em paixão nacional e os pilotos em super celebridades.

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Sylvester Stallone

A caracterização excêntrica dos personagens é fantástica, desde os seus figurinos a suas personalidades pérfidas e canalhas. Eles se utilizam de tudo quanto é jogo sujo e trapaças para estar à frente na corrida. Os personagens vividos por David CarradineSylvester Stallone são os grandes rivais do filme. Depois estes dois atores viriam a trabalhar na nova produção de Paul Bartel, Cannonballde 1976, que também é um espetacular filme de corrida de carros mas com um orçamento maior e que deixa muito a desejar quando comparado ao Death Race 2000.

O produtor Roger Corman não conseguiu autorização para gravar as cenas de corrida mas isto não foi um empecilho para esta grande lenda transgressora do cinema norte-americano, para fazer as cenas, ele mesmo pilotou os carros já que os atores não quiseram correr o risco de serem pegos pela polícia e presos por um período de até dois anos.

É incrível como este filme mescla crítica social com o mais puro humor negro e diversão despretensiosa com um roteiro canastrão cheio de buracos. O grande diferencial deste filme é a sua originalidade e a sua trama subversiva que, com o passar dos anos, provou ser atemporal. No filme, o governo encontrou neste esporte um modo eficaz de diminuir a crise populacional, descartando de vez os grupos sociais que esta ditadura considerava como pária, como os presos políticos, idosos, deficientes físicos, sem tetos, mendigos, prostitutas, miseráveis, viciados em drogas e etc. Tudo isto com a aprovação incondicional da população, que está submersa na ignorância e na alienação

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David Carradine

Como todos os filmes distópicos este também dá seu sinal de alerta para as futuras gerações, hoje vemos o crescimento a cada dia na mídia mundial de programas onde a humilhação dos participantes são postos no contexto de entretenimento e quanto maior o número de programas e de pessoas assistindo, maior será a busca desenfreada por audiência. Aí, meu caro amigo, desabe o seu centro moral, prepare a pipoca e retire o seu estômago, Death Race poderá vir a ser o seu programa favorito no domingo de manhã.

E o Brasil, hein?

Quando o Brasil perdeu para a Alemanha e entregou a taça, o jogo e a copa eu escrevi um texto extremamente pessoal. Era sobre como eu me sentia. Sobre a humilhação que pairava dentro de mim, o sentimento de derrota escancarada e encravada nos corações dos brasileiros, a angústia de acordar no dia seguinte com um sonho adiado. Escrevi esse texto porque eu precisava desfazer esse aperto no meu coração. Como David Luiz assim pronunciou, nós só queríamos ser felizes com o futebol. Queríamos levantar a taça mais uma vez. Crianças torciam para presenciar uma cena inédita e histórica na vida delas. Nós só queríamos comemorar e fazer jus ao país do futebol.

Mas guardei-o. Deixei o texto escondido em meio a pastas e documento do meu computador. Remexi o quanto pude, vasculhei letras, frases e fonemas. Não dava pra escandalizar minha tristeza assim. Era demais para um jogo de menos. Então resolvi esperar para escrever algo melhor. E hoje, pela manhã, enquanto caminhava para Universidade, a única coisa que pensava era:

“Espero que ninguém se dirija até mim para falar sobre a copa, o jogo, a derrota ou sobre o Brasil. Ninguém!”

E assim segui. Mentalizando outros assuntos para não sentir, novamente, o coração apertar. Parece fútil, parece demais, parece exagerado. Mas é tradição. É amor por essa tradição. É esperança de que isso tudo oxigenasse a alegria do povo.

Quando cheguei à parada de ônibus, ainda muito cedo, já havia uma senhora em pé. Como o perigo ronda o meu bairro, fiquei ao lado dela pra não ficar sozinha a mercê de ladrões. Quando me acomodo e respiro fundo pra enfrentar mais um longo dia, a senhora – diga-se de passagem, nunca trocamos mais de duas palavras – olha pra mim e solta essa:

“Mulher, e o Brasil, hein?”

Foi então que a palavra Brasil me tocou de uma maneira diferente. Tocou na alma de uma Nação que, embora nunca se prive de suas emoções em partidas de futebol de eventos como esse, se faz maior. Maior e mais preocupante. Preocupante e até assustadora. Brasil não é somente minha Seleção. Mas é ela e um povo inteiro, torcedor e cidadão. Foi a partir daí que eu pensei em responder:

Senhora, o Brasil navega a esmo. Não há projeto para nada importante. Os políticos adoram um samba e dançam na nossa cara com um salto agulha tamanho 15. Está difícil! Brasília é palco das maiores barbáries de ladrões poderosos que se vestem de terno e gravata. Estou aqui com medo de levarem mais um celular meu, mas tem gente lá no Palácio do Planalto nos roubando nesse exato momento. Pois é, acredita nisso? Essa passagem, por exemplo, que a senhora vai pagar nesse ônibus que está vindo… Precisava ser tão cara? E os motoristas mereciam ganhar tão pouco? Pior: e essa lotação que encontraremos ao subir os degraus do transporte coletivo, é o que o merecemos? Essa desordem é um insulto à população. Chegarei à minha sala de aula e, acredite se quiser, talvez nem tenha professor me esperando. Não há mais comprometimento! No caminho veremos moradias impróprias, crianças morando na rua mendigando algum dinheiro e um trânsito insuportável nas avenidas. Dentro do coletivo, segure a bolsa da senhora. Puxe-a pra frente do corpo e esconda seu dinheiro. Nunca se sabe quando o ônibus será invadido por bandidos e nossos pertences roubados. Ao descer, todo cuidado ainda é pouco. Caminhe com atenção até o seu trabalho. Olhe muito bem para os lados e para trás. A senhora pode ser surpreendida com algum pivete de faca na mão. O problema? É, ele não estudou. O governo não deu subsídio pra isso. Esqueceu-se das nossas crianças, dá pra aceitar isso? O futuro do nosso país foi abandonado. Aí então eles crescem e encontram no crime a saída ou para pôr dinheiro em casa ou para sustentar os seus vícios que lhes foram entregues de bandeja. Saúde? Não, não. Eu sei que a senhora não espirrou. Eu que estou procurando por ela. Os atendimentos públicos são tão precários que a gente até desiste de tratar algum problema. Tem gente morrendo nos corredores dos hospitais enquanto os médicos estrangeiros que para cá vieram estão lavando suas mãos e dando o pé. Nem eles aguentam o descaso com a medicina, com a saúde e com o profissional. Fazem bem! Serão valorizados como merecem. O Brasil tá desse jeito, senhora. É humilhante também. Em outubro tem um evento chamado Eleição. Conhece? A gente vai escolher um representante para o nosso país. Olha só a responsabilidade, hein? Lançaram uma campanha com a hashtag #vempraurna. A senhora vai? Eu vou. É a única forma que eu encontro de tentar mudar um pouco essa baderna. E se me deram voz pra isso, eu preciso gritar. A nossa Seleção? A nossa Seleção não tem culpa não, moça. A Copa também não. Algum país teria que sediá-la e escolheram a terra que recebe como título o esporte em questão. Sim, senhora! Era, sim, uma verba suficientemente necessária para tirar um dos pés da lama. Era, sim, o mínimo que uma população carente em serviços públicos merecia. Mas esse dinheiro não vai voltar. E sim, ainda temos verba para investir nos setores públicos. Não estamos falidos. Só nos falta alguém que queira ajudar o povo brasileiro. Houve muitos investimentos com o Mundial? Bilhões. B I L H Õ E S. O que mudou? Nada. Ou a senhora acha que o governo iria investir essa maleta de reais em nós? Que nada. Íamos continuar estagnados. A verdade é essa. O Brasil está assim e permanece do mesmo jeitinho de quando a Copa ainda não era evento confirmado. E se queria saber do jogo contra a Alemanha, olha, vou te contar, não quero falar sobre isso. Tô triste, tô chateada, tô humilhada, tô derrotada. Foi vergonhoso. Mas passou. É futebol. É esporte. Erros táticos acontecem. Jogadores talentosos nós tínhamos, mas não souberam usar. Portanto, senhora, ainda bato no peito esquerdo: sou brasileira. Vou lá estudar e tentar mudar um pouco essa loucura que se chama Brasil. Estou indo, mas vou trajada na camisa da Seleção.

Porém, evitei o sermão, aproveitei que o ônibus já se aproximava e respondi brevemente, com uma feição de não-queria-falar-sobre-isso:

“Pois é, humilhação, né?”

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