Fotografia: Ansel Adams

Sempre gostei do mar. Nasci em Minas Gerais, nenhuma mísera faixa de litoral ao redor, mas mesmo assim, o mar…

Toda vez que contemplo aquela imensidão, sinto uma sensação maravilhosa de impotência. Explico: é um sentimento de ser tão pequena e frágil perto de tamanha quantidade de água, de tamanha força, de tamanha complexidade. É como se o fardo da sobrevivência, as responsabilidades, as pressões e tudo mais que parece tão pesaroso e difícil de lidar nesse breve organismo antropomórfico, simplesmente se esvaísse, transcendesse as células e se perdesse em ondas e água salgada.

Acho que sou uma pessoa de sorte, já vi muitas obras espetaculares construídas pela mente e pelos braços do homem. Monumentos, templos, castelos… mas nada me tira tanto o fôlego quanto as obras arquitetadas pela natureza. Admirar o trabalho dos milênios, as paisagens que mudam, e todavia, perduram e resistem (por enquanto) às intervenções de nossas descuidadas mãos, observar aqueles átomos que flutuam de corpo em corpo desde a infância das estrelas. São partículas que formam a nós mesmos, e que pra mim, constituem a beleza mais pura da vida e da morte: a renovação e a transformação de toda matéria, aquilo que faz com que estejamos interligados, que sejamos parte de um todo e isso por si só, já é um motivo imenso para que tenhamos respeito e gratidão por tudo à nossa volta.

Nós, ditos ápices da cadeia evolutiva, somos capazes de grandes bondades, mas também de profunda perfídia. Alguns dizem que o mal deve ser suprimido, outros dizem que ele é necessário. Quando olho para o mar, sinto que há tanto além disso, e que às vezes nos embrenhamos em inúteis lamentações misantropas fomentadas pela insatisfação de não estarmos no controle de nós mesmos e, mais egoisticamente, no de outros seres vivos. De vez em quando me pergunto o quão irônico é nos autodenominarmos humanos, sendo tantas vezes desprovidos de humanidade.

Para mim, a harmonia da vida consiste na busca pelo alinhamento entre o universo que vejo e o que existe dentro de mim mesma. Está na sinergia entre a força criativa que compõe os grãos de areia e as galáxias, e a que faz com que, a todo instante, meu corpo compartilhe novas células e novas sinapses.

Acredito que uma das melhores qualidades do homem e a capacidade de metaforizar, de lidar com o abstrato, com o que vai além da denotação. É o que o mar representa para mim, corpóreo em sua grandiosidade, porém, imensurável como todas as histórias, trajetórias e existências que derramaram seus elementos químicos e traçaram suas próprias rotas por esse mesmo solo onde pisamos nesse exato momento.