Foto: Gui Benck

Com o coração palpitando chegamos ao lugar que leva as pessoas a uma experiência astronáutica. Festival multicultural que anualmente nos resgata da ficção do dia a dia, e nos leva a um espeço atemporal. Durante uma semana a Fazenda Evaristo é tomada por arte, cultura, boa música e sede de expressão, tudo que absorvemos e estava acumulado nos corpos, transborda em muita cor e brilho.

Ao acordar no festival ao som dos vizinhos de barraca, percebo o camping tomado logo cedo de boa música e uma energia extraordinária. Sorrisos espalhados por toda parte, vou despertar o corpo com um banho, e então a RádioKombi me deixa a par de toda a programação do dia, tomado pelas notas psicodélicas dos Mutantes ainda no chuveiro, me dou conta de que o Psicodália Começou!

WAGNEEEEEERRRR!

Caminhar pelo festival entre oficinas, aulas e Yoga e seres culturalmente livres, a consciência já mergulha em uma atmosfera de amor. Todas as artes para todas as idades por todo canto, pois além da programação recheada e oficial, a todo momento o palco do psicodélica é o camping, e a cozinha comunitária se torna o mundo, ao cozinhar ao fogo da lenha, conhecemos pessoas de toda parte.

A psicodelia do ser, entre as meditações dos órgãos e o despertar da consciência, faz a coexistência aflorar como flores na cabeça. Não é apenas um festival, mas uma forma de agir e de pensar diferente o modo de existir no mundo.

Todas as fotos: Gui Benck

Ao lado de amigos navegantes de primeira viagem ao festival, vejo além da purpurina no corpo inteiro, a empolgação e o brilho nos olhos, de perceberem que já estão imersos nesse caldo. Ouvi muito de veteranos que psicodélica não era o mesmo, que o festival mudou.

Psicodália mudou? Ou nós mudamos? Como que permitimos a ficção nos convencer que toda essa simulação é um simulacro? Que devemos temer, sentir medo do outro.

Não é verdade, a arte é resistência, e ela nos lembra que dá para fazer diferente. O “Fora Temer” engasgado na garganta sai como um vômito, e o espaço atemporal se torna válvula de escape, a arte e seu poder extraordinário de mudar nosso estado de espírito nos mostra que juntos somos mais lindos, que mais com mais é igual a mais, e um mais um é igual a três, porque com o outro compartilho, e observamos o céu e sua cachoeira de glitter, a cachoeira que deságua amor.

A resistência está nas pequenas atitudes, o Psicodália é uma resistência, e na sua vigésima edição ainda nos abre as portas da percepção, e como um enorme ritual, celebra a arte independente e autoral, intenso o bastante para voltarmos à cidade e toda essa energia surreal estar escorrendo pelos poros.

Veja também a cobertura fotográfica no link: Psicodália 2017 em fotos.