Em março, Ian Anderson traz ao Brasil a turnê de 40 anos de Thick as a Brick, do Jethro Tull. Pela primeira vez desde 1972 esse clássico do rock progressivo está sendo apresentado na íntegra ao vivo.

Realmente não me importo se você vai agüentar até o fim…

Em 1972, Thick as a Brick — sequência direta do clássico Aqualung — era o tijoláço que faltava para sedimentar a carreira do Jethro Tull para sempre. O álbum tem uma única faixa: quando o lado A acaba, você precisa virar a bolacha para curtir a outra metade da música. Período áureo da era do exagero e pedantismo no rock, tal feito discográfico era encarado por si só como algo louvável. E deu certo: o LP atingiu o primeiro lugar nos EUA — o maior mercado consumidor de discos da época —, foi eleito o 3º melhor álbum do ano na Inglaterra pela Melody Maker, enquanto Ian Anderson foi agraciado como o melhor dentre os instrumentistas “não tradicionais” pelo seu desempenho como flautista de Hamelin do rock.

O Jethro Tull em 1972
O Jethro Tull em 1972

Thick as a Brick tem inúmeros méritos: é um projeto corajoso para um momento em que a banda — com as atenções voltadas para si — precisava de uma cartada definitiva; trazia a melhor formação do Jethro Tull no auge da sua capacidade, apresentando uma peça vigorosa, cheia de mudanças de tempo; é uma ópera-rock complexa, bem estruturada e consistente. Mas o fato principal é o seguinte: Thick as a Brick funciona. E mais que isso, é o melhor dentre todos os discos já lançados com uma única faixa.

Ian Anderson (1972)

Tijolo na vidraça

A crítica insistia em rotular Aqualung como um álbum conceitual e o som do Jethro Tull como rock progressivo. A banda nunca gostou de tais comparações, mas resolveu levar tal sugestão ao extremo em Thick as a Brick. Para tanto, criou uma idéia que transbordava o estritamente musical para abarcar a totalidade do álbum, criando uma obra de arte completa.

O LP vinha encartado em um jornal de 12 páginas, todo recheado com notícias, anúncios e textos falsos, repleto de piadas internas, produzido pela própria banda que assinava com pseudônimos. Uma espécie de paródia de tablóide de alguma pequena localidade inglesa.

Jethro Tull - Thick as a Brick (1972)
Jethro Tull – Thick as a Brick (1972)

A matéria de capa traz uma notícia sobre Gerald Bostock, garoto autor de um longo poema épico sobre os desafios de envelhecer. Gênio precoce, a criança foi aclamada como “o pequeno Milton”, porém a notícia informa sua desclassificação, no último minuto, em um importante concurso nacional de poesia. O jornal traz o texto do menino, intitulado Thick as a Brick — uma expressão inglesa para designar um indivíduo burro, de raciocínio lento — cuja letra pode ser ouvida no decorrer dos dois lados do LP.

Na época, muitos acreditaram que a história era real e que o Jethro Tull havia musicado os versos do pequeno Gerald. Entretanto, tudo não passava de um engenho muito bem arquitetado pelo grupo, que na verdade criticava a mídia musical, o gênero e o público mais inocente que levava a sério demais a obra dos principais grupos do rock progressivo.

Jethro Tull em 1972
Jethro Tull em 1972

Do conceito até a concepção de arte, com atenção especial à música, Thick as a Brick é um trabalho completo. Provavelmente, a melhor realização do Jethro Tull.

Thick as a Brick, por Lester Bangs

Em maio de 1973, o beatnik & jornalista musical gonzo Lester Bangs — que não gosta do Tull — publicou um texto na revista Creem falando sobre a passagem da turnê de Thick as a Brick por Detroit. Tamanha foi a procura por ingressos que o Jethro precisou voltar outra vez para os Estados Unidos em 1972, realizando ainda mais shows nessa segunda passagem. Todas as apresentações tiveram lotação esgotada, mesmo com o preço tendo aumentado no retorno do grupo. Segundo Bangs, cambistas comercializavam ingressos por até 20 vezes o preço original.

Capa da revista Creem de maio de 1973 com texto de Lester Bangs sobre a tour de Thick as a Brick, do Jethro Tull
Capa da revista Creem de maio de 1973 com texto de Lester Bangs sobre a tour de Thick as a Brick, do Jethro Tull

Essa matéria, intitulada Jethro Tull no Vietnã, foi publicada no Brasil na coletânea Reações Psicóticas (Conrad, 2005). Confira um trechinho abaixo:

Em todo caso, eles conquistaram o direito de serem arrogantes. Aqualung é um gigante, e sua sequência, Thick as a Brick, demorou mais de um ano para ser feita e é ainda maior. Maior em todos os sentidos: a única vez na história do rock antes disso em que uma única música cobria os dois lados de um LP foi “Refried Boogie”, no disco Livin’ the Blues, do Canned Heat, mas no caso trata-se apenas de uma Jam esticada. Brick era um bicho completamente diferente: uma série de variações (apesar de eles não conseguirem variar o suficiente para sustentar 40 minutos) sobre um único e simples tema, que começava com uma melancólica melodia folk inglesa e evoluía através de compassos de marcha, guitarras amplificadas, jogos de sinos, explosões dramáticas de staccatos como uma trilha de filme, e montes de solos de Anderson do início do lado 1 até o fim do disco.

A coisa toda foi construída em cima de um longuíssimo poema de Anderson, que por si só definiu novos parâmetros no cânone do Tull de sentimentos altivos e ataques bíblicos aos excessos contemporâneos. A primeiríssima linha era “I really don’t mind if you sit this one out” (eu realmente não me importo se você agüenta ouvir essa peça até o fim), um gancho clássico que dá o tom da obra inteira, repleto de dísticos como

The sandcastle virtues ar all swept away

In the tidal destruction of the moral melee

(As virtudes de castelos de areia foram todas varridas / pelas marés destruidoras da zorra moral)

Mais alguns tijolos no muro

Em 1997, coincidindo com o centenário da gravadora EMI, Thick as a Brick ganhou uma edição comemorativo ao seu 25º aniversário em CD e LP. O jornal original também foi reproduzido e a versão digital teve duas faixa bônus (uma versão ao vivo de Thick as a Brick e uma longa entrevista).

Edição expandida de 2012 de Thick as a Brick
Edição expandida de 2012 de Thick as a Brick

Já em 2012, para os 40 anos da obra, Ian Anderson — sem mais ninguém da formação que gravou o disco original — partiu em turnê tocando o álbum na íntegra. O título também ganhou uma versão expandida, com um DVD contendo várias mixagens alternativas e até um box set com um livro adicional de 104 páginas.

Mas o destaque do relançamento é o fato de Ian ter acrescentado uma continuação. “Thick as a Brick 2: Whatever Happened to Gerald Bostock?” relata o que aconteceu com autor do poema ao chegar na velhice. Muitos fãs não aprovaram a “expansão”, citando o fato dos outros integrantes do grupo não terem participado e sugerindo que o lançamento era apenas uma manobra para faturar um pouco mais em cima do clássico.

Serviço:

Jethro Tull
12 de março (terça-feira)
Horário: 21h
Local: Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre
Duração: 2h20min
Classificação: 12 anos (menores de 12 anos somente acompanhados de pais ou responsáveis)

Ingressos:
Plateia alta lateral: R$ 110
Plateia alta central R$ 140
Plateia baixa lateral: R$ 160
Plateia baixa central: R$ 200

Excursão saindo de Passo Fundo com o Jamil Magic Bus
(54) 9964 4403
(54) 3313 1703
jamilmilmil@gmail.com

Ian Anderson em ação no palco em 1972
Ian Anderson (1972)

 

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