Dia 1: Sexy Panchita
Conheci o Matheus mais ou menos um mês antes do Psicodália, na praia Mole, em Floripa. Ali combinamos de irmos juntos ao festival, a bordo da Sexy Panchita, uma majestosa senhora alemã (Volkswagen Transporter T25 “Westfalia” de ano 1985). Ela se uniu ao Matheus há 5 anos, no Canadá, onde foi emplacada, “Beatiful British Columbia”. De lá… bem a Panchita cruzou as Américas! Foram 27 mil quilômetros de história. Embarcamos eu, a Catalina (ver Revista Cultural Sono) e o Jerônimo, todos jornalistas, rumo ao Psicodália. Que honra, grata Matheus !
Saímos de Floripa às 4h22 da manhã de sexta-feira e após duas paradas para ajustes na Panchita, chegamos a Rio Negrinho. Às vezes ser jornalista é massa pra caralho, quando você corta uma fila de horas e entra pelo portão da produção. Dei-me conta que ainda tinha o cartão do Dália de 2013, que pude utilizar para esse também, redução de resíduos, massa galera! Inclusive, após uns tantos festivais e algumas tentativas ecologicamente frustradas de banheiro seco, aqui vi pela primeira vez sendo aplicado de maneira certa, banheiro seco é seco, só cocô, massa de novo! Outra coisa que tá massa também é o som, mas isso é sempre assim, sonzeira pra lá e pra cá. Logo na primeira noite, Pernambuco invadiu o carnaval dálico com Ave Sangria e Orquestra Contemporânea de Olinda. O cansaço tava batendo, mas não me rendi graças aos vocais femininos, flauta, djembê, berimbau, caxixi, rap, dub, reggae, groove da Central Sistema de Som, no Palco dos Guerreiros, demais!
Dia 2: Consuelo do Brasil
A manhã de sábado foi de missão. Mover as coisarada de lugar. Motivo: a nunca ausente chuva. Missão cumprida, mas antes rolou um café da manhã musical na Sexy Panchita, violão, melódica, pandeiro e vocais “…água com areia, brinca na beira do mar, a água passa e a areia fica no lugar…” Aliás, a Sexy Panchita ficou no estacionamento do Dália, assim como todas as outras kombis e motorhomes presentes, ta aí algo a se falar a respeito para o futuro psicodálico, mas isso assunto pra outra hora, porque subiu ao palco Baby do Brasil ou Consuelo, sei lá. Confesso que só conheço a Consuelo acompanhada dos velhos Novos Baianos, foi especial ouvir Tinindo Trincando e A Menina Dança, cantada por ela, ELA! Depois de muito roxo e purpurina, veio a pirataria da Confraria da Costa.
Dia 3: Metá Metá
Domingo amanheceu com mais chuva e até frio, mas o mais legal do Psicodália são as calorosas peculiaridades extra-programação que fazem a umidade e o frio passarem despercebidos. Tipo essa galera do Peixecadália, que veio de caminhão (!) de Itajaí, com todo o equipamento e montou um palco entre umas barracas, embaixo de uma lona, na chuva! Alta sonzeira e improvisos. O Psicodália tem muitos palcos e milhares de malucos loucos por música, que se prestam a trazer toda tralha (inclusive nosotros que viemos com violão, pandeiro, melódica, mini atabaque…) pra um festival de seis dias, debaixo de chuva, com os pés na lama e doses cavalares de musicalidade.
Para iniciar os trabalhos, logo o clássico dos clássicos sulistas, Júpiter Maçã. Já vi alguns shows dele nos últimos anos, e de longe esse foi o melhor. Depois disso veio uma sequência digna no Palco Lunar com Jards Macalé e Metá Metá. Agora vamos falar sério, é algo pessoal, mas Juçara Marçal e essa banda são uma das melhores coisas que já vi ao vivo na vida, para acabar de vez com essa história de que só antigamente se fazia música boa. Destaco a Juçara porque simplesmente ela merece, que voz, que presença, que axé ! Transcendental é a definição. Vida longa Metá Metá!
O Palco do Sol ainda recebeu Nave Maria e Apicultores Clandestinos. Que noite.
Dia 4: Loki, muito prazer!
Bom, a segunda-feira foi dedicada a uma única pessoa, Arnaldo Baptista. Pilhas para o gravador, bateria para as câmeras, crachá, caderno, caneta, uma roupa livre de lama e inspiração pra mente, comecei a sentir uma sensação muito estranha misturando euforia com a intimidação de encarar ele, que para mim foi e sempre será o cara mais importante da música brasileira. Foi chegando perto da hora de ir para o hotel em Rio Negrinho e estranhamente todo nervosismo sumiu e uma certeza de que tudo sairia bem estagnou. Confere o que rolou na entrevista nesse link. Por fim, estavam todos os jornalistas na entrada do hotel com um sorriso de orelha à orelha. Gratidão pela experiência Psicodália e La Parola.
Nessa noite o Palco Lunar ainda foi contaminado por reações eufóricas ao som da flauta e a voz excêntrica do Jethro Tull man Ian Anderson, seguido pela clássica Bandinha Di Dá Dó.
Dia 5: Quem não quer tocar no Dália?
Na terça-feira tudo que eu queria era ver o Loki subir ao palco de uma vez por todas, mas antes disso Próspero Albanese e a Joelho de Porco trocaram uma ideia com a imprensa sobre o movimento artístico alternativo no Brasil, festivais e a sempre presente psicodelia, coisa fina. Logo na sequência começou o roots reggae da Gaiá Piá e então finalmente, Loki. Improviso, arte plástica, piano e respeito mútuo entre o ídolo e a plateia, que diga-se de passagem é constantemente elogiada por todos as bandas que sobem ao palco do Pscicodália, desde sempre. A possibilidade de artistas como o Arnaldo, Mutantes, Tom Zé, Alceu Valença, Hermeto Pascoal, Moraes Moreira, Ian Anderson tocarem no festival é grande parte mérito do próprio público. Quem não quer tocar no Dália?
Dia 6: Eu nunca mais não vou
Último dia e a galera ainda firme e forte na Fazendo Evaristo. Todos querem morar no Psicodália para sempre, e como não querer? É tudo pela música, ela não para nunca, nunca mesmo, tem música no Palco Lunar, tem música no Palco do Sol, tem música no Palco dos Guerreiros, tem música no Saloom, tem música no camping, tem música dentro das barracas, no Pizza Dália, no Massachusetts, no Rango Star, no banheiro, na fila, no estacionamento… Música infinita, é o paraíso. A programação é gigantesca, são oficinas de tudo e mais um pouco, mas a onda do festival mesmo é a música, ponto final.
Não posso deixar de comentar sobre certos personagens do Psicodália, como o clássico Plá, que fechou o festival no Palco dos Guerreiros, que se teletransportou pra praça de alimentação na penúltima noite para maior conforto de todos.
Mais uma vez uma festival para ficar na memória. Até 2016, Dália, porque como dizem, ”eu nunca mais não vou…”.