Jogos eletrônicos: como os videogames moldam moda, música e comportamento no século XXI
Em um passado não muito distante, os videogames eram vistos como uma forma de entretenimento jovem, muitas vezes desvalorizada e, não raro, culpada por comportamentos sociais considerados problemáticos. Hoje, essa perspectiva já não se sustenta.
Os jogos eletrônicos deixaram de ser um passatempo para se consolidar como um dos pilares da cultura pop contemporânea. Isso se reflete não apenas na popularidade crescente dos games, mas em como eles influenciam outros campos como a música, o cinema, a moda e até a linguagem.
A estética dos games: imagens, sons e símbolos que nos definem
Personagens icônicos como Mario, Lara Croft e Kratos transcendem seus universos originais e habitam o imaginário coletivo, ao lado de super-heróis e estrelas do cinema. A linguagem visual dos games – colorida, fluida, dinâmica – influencia videoclipes, animações, publicidade e até exposições de arte.
A pixel art, por exemplo, nasceu como limitação técnica, mas hoje é explorada intencionalmente como estilo artístico em diferentes mídias. No campo sonoro, os videogames também deixaram sua marca.
Trilhas como a de The Legend of Zelda, ou os temas épicos de Final Fantasy, por Nobuo Uematsu, tornaram-se parte do acervo musical de toda uma geração. Além disso, concertos sinfônicos com músicas de jogos percorrem o mundo, reunindo plateias diversas em torno de uma experiência nostálgica.
A sonoridade dos games impacta ainda a produção musical contemporânea, com batidas eletrônicas e loops rítmicos presentes em gêneros como o hip-hop e o synthwave.
Moda, comportamento e linguagem: como os games moldam o cotidiano
Grandes marcas da indústria do vestuário já firmaram parcerias com franquias de games, lançando coleções inspiradas em jogos eletrônicos. Há o exemplo da Louis Vuitton, que usou a personagem Lightning, de Final Fantasy XIII, como modelo de campanha.
O streetwear, por sua vez, explora estampas com píxeis, personagens clássicos e referências aos consoles antigos. No campo da linguagem, termos originados em jogos, como “farmar”, “nerfar”, “boss”, “GG” ou “noob”, ultrapassaram os limites das comunidades gamers e passaram a integrar o vocabulário de jovens conectados.
A formação de comunidades e o poder dos coletivos virtuais
Fóruns, lives em plataformas como Twitch e servidores temáticos no Discord tornaram-se espaços de troca, aprendizado e pertencimento. A experiência de jogar, antes individual, passou a ser também social.
Em muitos casos, os jogos promovem encontros entre pessoas de diferentes países, raças, gêneros e idades, criando pontes entre universos distintos. Essa vivência coletiva gera novos códigos de conduta, regras de convivência e até formas de resistência, como o uso dos games para pautas de diversidade e inclusão.
Além disso, muitos jogos são espaços para expressão política e crítica social. Papers, Please, por exemplo, propõe reflexões sobre burocracia e autoritarismo. Life is Strange discute identidade de gênero e relações familiares. Celeste aborda saúde mental. São narrativas que expandem os limites do entretenimento e posicionam os videogames como ferramentas de empatia e pensamento crítico.
Os consoles híbridos e o papel do Nintendo Switch
Parte desse impacto se deve à acessibilidade dos consoles atuais, como o Nintendo Switch, que popularizou títulos com forte apelo cultural e estético, atraindo tanto jogadores ocasionais quanto fãs engajados.
A proposta híbrida do console, que pode ser usado tanto em casa quanto em movimento, contribuiu para incorporar os games na rotina cotidiana de maneira fluida. Jogos como Animal Crossing: New Horizons e The Legend of Zelda: Breath of the Wild são fenômenos, tanto por sua estética quanto pela experiência imersiva e pessoal que oferecem.
O Switch também fortaleceu a cena de desenvolvedores independentes, abrindo espaço para narrativas autorais e visões de mundo plurais. A presença de jogos como Celeste, Hades e Undertale no console prova que há público – e demanda – por experiências sensíveis, narrativas inovadoras e representações diversas.
Games como espelhos e motores da cultura contemporânea
Reconhecer os videogames como cultura é, antes de tudo, reconhecer o valor das experiências compartilhadas que eles proporcionam. Ao ocupar espaço em outras linguagens artísticas, influenciar comportamentos e fomentar debates sociais, os jogos se consolidam como uma das manifestações culturais mais potentes do nosso tempo.
Assim como o cinema se afirmou no século XX, os videogames têm tudo para ser a grande plataforma cultural do século XXI. E mais do que isso: já são. Se antes eram vistos com olhar de desconfiança, hoje é necessário encará-los com seriedade, respeito e, principalmente, curiosidade.