A Estratégia de Tim Maia

Tim Maia, durante todos seus anos de malandragem, desenvolveu uma estratégia para contornar situações desastrosas. E como não foram poucas vezes em que o rei do soul se meteu em situações desastrosas, a “estratégia” se tornou uma marca em sua vida.

Na biografia Vale Tudo: O som e a fúria de Tim Maia, magistralmente escrita por Nelson Motta, algumas histórias das estratégias foram contadas pelo autor.

Reproduzo aqui três delas. Saca só:

Réu confesso de ter faltado a diversos shows, muitas vezes Tim foi vítima de empresários e produtores trambiqueiros, que se aproveitavam de sua má fama para tentar explorá-lo. Para se proteger deles, criou uma senha de retirada, caso o contratante não aparecesse com 50% do levado em dinheiro vivo antes do show. Bastava gritar ou sussurrar “estratégia” que o pessoal nem tirava os instrumentos das caixas e começava a andar acelerado para o ônibus.

Assim que voltou com os músicos ao Hotel San Raphael, não deu outra:

“Estratégia!”

“Aí, rapaziada, é o seguinte: embala tudo que a gente vai fazer um show”, Tim deu a senha para a retirada.

Foi o que ele disse na recepção enquanto os músicos faziam uma confusão proposital na saída para esconder as sacolas de roupas misturadas com as caixas de instrumentos. Deixou a chave do carro alugado na recepção, pago com um cheque sem fundos, e partiu.

Tim Maia -

Num show no Cassino Bangu, um outro tipo de problema apareceu, além da polícia. Homens de ternos escuros, oficiais de Justiça com mandados para cobrar de Tim indenizações judiciais e seqüestrar seus cachês ou a bilheteria dos shows.

Tim os apelidou de “os corvo”, no singular mesmo, e não lhes daria moleza. Assim que soube, já no final do show, que eles o esperavam na saída para dar o bote, gritou “estratégia” para a banda e avisou ao público que ia tomar uma água e já voltava:

“E agora fiquem um pouco com a Vitória Régia.”

Passou correndo pelo camarim para pegar o levado, saiu batido pela porta da cozinha e entrou no primeiro táxi.

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No dia seguinte, de manhã cedo, a limusine verde-claro ganhava a estrada rumo à Pensilvânia. Duas horas depois, quando o pneu furou, não adiantava acender o farol, era melhor procurar um borracheiro na beira da estrada. Como Bonaveres falava péssimo inglês, foi Tim que teve que se entender com o mecânico grandalhão, grosso e imundo de graxa, a quem logo mandou tomar no cu, em português naturalmente, e depois seguiu se desentendendo em inglês do Harlem, até o pneu ser trocado e consertado. Botou um bolo de notas na mão do brutamontes e, enquanto ele contava o dinheiro, gritou “estratégia” e mandou Bonaveres acelerar.

Tinha pago só metade do cobrado.

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Autor: Nelson Motta
Editora: Ponto de Leitura
Nº de Páginas: 448