Assistir a uma apresentação do Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense é uma experiência emocionante. Não teria como escrever este relato se não fosse em primeira pessoa. O conjunto é um dos melhores exemplos de música tocada pela alma humana que já presenciei. O sentimento está intrínseco na sonoridade e na forma com que o quarteto de cordas da capital do Rio Grande do Sul demonstra. É, sem dúvida alguma, uma das maiores valorizações do ser humano como músico – e não como produto da indústria – que já presenciei. De elétrico, o único elemento é um microfone. Sim, um único microfone condensador é o responsável por captar a ambiência sonora do quarteto.
Bluegrass é um estilo musical criado na década de 1940 e que só existiu por causa de imigrantes europeus que se estabeleceram na região dos montes Apalaches – no leste dos Estados Unidos – no século XVIII. O resultado dessa imigração, musicalmente falando, foi uma mescla entre estilos de raízes britânicas, escocesas e irlandesas com elementos tradicionais americanos, como o jazz e o blues.
O bluegrass utiliza como instrumentos básicos o bandolim, o violino, o violão, o contrabaixo e o banjo de cinco cordas. Harmônica e violão de aço também são ocasionalmente utilizados. Tem como principal nome, Bill Monroe (1911-1996), considerado o pai do bluegrass. Bill Monroe era o dono da banda “The Bluegrass Boys“, que durou quase 60 anos e teve mais de 150 integrantes.
A história do bluegrass é instigante e é contada pelo conjunto durante a apresentação. Na noite de 18 de maio, no teatro do SESC em Passo Fundo, assisti à apresentação e, entre música e outra, ouvi Márcio Petracco (bandolim/voz) e Ricardo Sabadini (violão/voz) contarem, de forma eloquente e até descontraída, a história do estilo e outras curiosidades do bluegrass e do próprio conjunto. A apresentação foi mais do que musical, foi uma imersão às raízes culturais norte-americanas daquela região. Não esquecendo, claro, dos outros ótimos músicos que estiveram no palco naquela noite, os brilhantes Heine Wentz (violino/voz) e Jose Baronio (contrabaixo/voz).
A apresentação do Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense – roubando a piada: o melhor conjunto de bluegrass da cidade – funciona assim: O quarteto toca ao redor de um único microfone condensador, que capta o som da forma mais natural possível, simulando às gravações originais de bluegrass. Durante as músicas, o quarteto se reveza para ir à frente do microfone e ganhar um destaque maior em um solo. Quando é o caso de ouvir o violino mais alto do que os demais instrumentos, lá vai Heine Wentz para a frente. Quando é o caso do violão, lá vai o Ricardo Sabadini. E assim por diante.
Teve apenas dois momentos da apresentação em que isso não aconteceu. Duas músicas foram apresentadas só em harmonia vocal, sem o acompanhamento dos instrumentos. Foi de arrepiar. No dia seguinte fui obrigado a voltar ao teatro para buscar meu queixo que estava no chão. Sensacional presenciar um momento in loco onde quatro músicos se apresentavam da forma mais humana e natural possível, sem a companhia dos instrumentos que o próprio homem criou para fazer música.
Após o fim do show e de uma chuva de aplausos da plateia presente, o conjunto aceitou tocar mais uma saideira. Afinal, depois de uma apresentação de gala como essa, não seria possível o conjunto ir embora sem tocar um bis. Por fim, desci até a frente do palco, comprei o CD do grupo com a Cida Pimentel e fui lá dar um abraço no Rica, que foi um monstro no violão naquela noite, juntamente com os outros companheiros em seus respectivos instrumentos.
Recomendo não perderem a oportunidade de assistir à apresentação do Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense quando eles estiverem em sua cidade. Ou, se for o caso de você morar em Porto Alegre, vale a pena presenciar o conjunto na rua e contribuir com uma ajuda para o café da manhã do quarteto. O bluegrass rola – sempre que o tempo permite – aos domingos no brique da Redenção e às sextas-feiras na praça da Alfândega, a partir das 10 horas da manhã. Fica abaixo uma demonstração:
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