Este relato pessoal, passional e parcial jamais chegará aos pés do que foi a noite de 9 de outubro de 2013. Tão pouco algum relato chegará. O que aconteceu não pode ser descrito. Mas a gente tenta.
Meses de espera valeram a pena quando começou tudo. Em um texto anterior sobre o show do Black Sabbath no Brasil, eu havia falado um pouco da importância que é ir a um show e do quão diferente é ouvir a música ao vivo e ouvir em casa.
Pois bem, não existe caixa de som no mundo que soe igual à SG do Tony Iommi na primeira nota de War Pigs. E nem nas seguintes. E nem igual ao baixo secão do Geezer ou a quebradeira do Tommy Clufetos. A música de abertura do show é uma das melhores do Sabbath e foi ideal para já deixar todo mundo arrepiado. Até índio, que não tem pelos para isso, arrepiou-se.
Mas índio não gosta de Black Sabbath, é banda desse pessoal de preto, esses metaleiro (sic). Lhes digo que índios escutam Black Sabbath, sim. Loiros, morenos, negros, ruivos, carecas, cabeludos, homens, mulheres, médicos, garis, engenheiros e artesãos também.
O Black Sabbath ultrapassou a barreira do heavy metal. Bastava olhar para as estampas das camisetas das pessoas que estavam no show. De Cannibal Corpse e Led Zeppelin a Roger Waters e Beatles. É possível não gostar de heavy metal e gostar de Black Sabbath. É possível gostar de Elis Regina e também de Black Sabbath. Conheço várias pessoas assim.
Outra barreira que a banda ultrapassou e que pude presenciar com meus próprios olhos: Ozzy Osbourne foi foda o suficiente para fazer toda a massa balançar os braços de um lado para outro, igual faz a plateia do Faustão. Isso aconteceu em God Is Dead? e em mais umas duas músicas. Eu também fiz o “unidos do sovaco”, admito e não me arrependo.
“Cucko! I’m fucking crazy!” (Ozzy Osbourne)
O repertório foi o mais clássico possível, foi o Sabbath da década de 1970. Muita gente se orgulhava de ter visto a banda com Dio ou com Tony Martin nos vocais, ou até mesmo de ter visto um show do Ozzy, que passou pelo Brasil pela última vez em 2011. Mas os dois juntos foi algo inédito no país. E por isso o frenesi foi geral. O set list foi composto por três músicas de Black Sabbath (1970), cinco de Paranoid (1970), duas de Master of Reality (1971), duas do Vol. 4 (1972), uma de Technical Esctasy (1976) e três novas do álbum 13 (2013), que não são necessariamente clássicas, mas que soam como tal.
A única falta do Black Sabbath neste show foi a de Bill Ward. Mas preciso ser justo, Tommy Clufetos só faltou fazer chover na bateria. Entendi o porquê de um baterista mais novo em detrimento do Bill logo após Rat Salad. Tommy fez um solo espetacular durante mais de cinco minutos, enquanto Geezer, Tony e Ozzy recuperavam as energias no backstage. Foi o sangue novo da banda e que segurou a plateia de forma impecável na necessária pausa feita pelos três vovôs.
Antes do início de Under The Sun, Ozzy gritou Cucko! no microfone. O motivo seria explicado na frase seguinte: I’m fucking crazy!. E em seguida todo mundo enlouqueceu junto. Mesmo não havendo novidades no repertório em relação aos shows do Chile e da Argentina, a apresentação foi de pirar a cabeça e eu assistiria de novo várias vezes.
Depois de Black Sabbath, Behind the Wall of Sleep, N.I.B. (com um espetacular Geezer), Iron Man e outras, o Sabbath chegava ao fim da apresentação. E após uma fenomenal Children Of The Grave, a banda saiu para voltar e tocar o tradicional bis. Todos sabiam a música que faltava e todos esperavam por ela. Por isso quando Tony Iommi começou a tocar o riff de Paranoid eu fiquei surdo, mas não por causa do riff e sim por causa dos gritos de todos que estavam ao redor. Que devoção, minha gente! Que devoção! Sem dúvida um dos melhores shows que Porto Alegre já sediou.
Reparem na risada épica aos 4:06:
Repertório do show:
War Pigs
Into the Void
Under the Sun/Every Day Comes and Goes
Snowblind
Age of Reason
Black Sabbath
Behind the Wall of Sleep
N.I.B.
End of the Beginning
Fairies Wear Boots
Rat Salad
Magistral solo de bateria de Tommy Clufetos
Iron Man
God Is Dead?
Dirty Women
Children of the Grave
Paranoid
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