Pouco se sabe sobre a vida, personalidade, valores e ambições do pintor holandês Hieronymus Bosch, e isso de alguma forma parece inapropriado, uma vez que seu trabalho é tão enigmático. O que nos resta, porém, é uma série de pinturas que desafiam a nossa consciência e imaginação.
Sabemos que Bosch viveu na época da Renascença, entre os séculos XIV e XV. Ele adotou seu nome de sua cidade natal, ‘s-Hertogenbosch, na Holanda.
Hieronymus Bosch veio de uma família de pintores. Ele foi ensinado a pintar por seu pai e pelo tio, sendo que quatro de seus cinco filhos também tornariam-se pintores assim como ele. Arquivos antigos comprovam que Bosch era um artista muito requisitado em seu país, mas a maioria das encomendas de arte que recebia vinham do exterior, especialmente da Espanha, onde ele foi apelidado de El Bosco.
Especula-se que Bosch foi um fanático religioso bastante conservador. Em 1488, ele supostamente entrou para a Irmandade de Nossa Senhora, uma comunidade ortodoxa na qual era muito respeitado.
Hieronymus Bosch foi um pintor audaz, enigmático, fantástico e imaginativo. Não se sabe ao certo quantas obras ele criou, mas é estipulado que sejam entre vinte e trinta, muitas delas pinturas trípticas, de três partes, conhecidas por sua aparência mística que ilustram histórias ou conceitos morais, tradicionais e religiosos.
As obras de Bosch são meio que palestras visuais sobre moralidade; personificações imaginárias de criaturas míticas e religiosas que servem não apenas para causar instigação e angústia, mas também para suscitar no observador o mistério por trás das sombrias crenças e tradições históricas como, por exemplo, o mito da Criação, ou a eterna luta entre Homem e Demônio, este confrontado como um inimigo interno.
No mais, as pinturas de Hieronymus Bosch representam velhas e ricas tradições de metáforas verbais e visuais, bem como trocadilhos extraídos de fontes bíblicas ou folclóricas.
Dizem que o rei espanhol Filipe II (patrono da Inquisição) era um fã inveterado da obra de Bosch. O rei colecionava várias obras do holandês e as mantinha em seu quarto privado para fins de reflexão. Conta-se que, todos os dias, Filipe II acordava e ficava contemplando os quadros de Bosch por horas a fio antes de começar a tratar dos negócios do dia.
Bosch canalizava em seu trabalho sua indignação perante a moral e religião burguesa controladoras e, portanto, críticos insatisfeitos declaravam na época que ele era um blasfemador, sádico e herético.
Talvez por ele ser uma figura tão misteriosa, há inúmeras interpretações diferentes de suas obras. O primeiro relato conhecido das pinturas de Bosch se deu em 1560, quando o espanhol Felipe de Guevara escreveu que o holandês foi, meramente, “o inventor de monstros e quimeras”.
No início do século XVII, o historiador de arte holandês Karel van Mander descreveu o trabalho de Bosch como “maravilhoso, estranho e fantasioso”, entretanto, ele concluiu depois que as pinturas são “frequentemente menos agradáveis do que horríveis de olhar”.
O psicanalista suíço Carl Jung também opinou sobre o trabalho de Bosch, afirmando, inusitadamente, de ele ser:
“O mestre do monstruoso, o descobridor do inconsciente”.
Para conseguir explicar os trabalhos de Bosch com precisão, talvez seja mesmo necessário recorrer ao simbolismo dos sonhos, visto que suas obras são possíveis descrições e manifestações de desejos reprimidos e reminiscências cruzadas.
Enquanto alguns artistas pensam que as obras de Bosch são herméticas, outros acreditam que seu trabalho era simplesmente divertir e envolver o espectador. Hoje em dia, é mais aceito que sua arte era para ensinar valores morais e espirituais, e que suas criaturas fantásticas são extremamente bem pensadas, cada uma delas com sua importância significativa. Existem outros ainda que enquadram Bosch como um precursor do Surrealismo. Um deles é o historiador francês Marcel Brion:
“O que faz de Bosch um dos percursores e mesmo um dos pais do surrealismo contemporâneo é o fato de se encontrar nele uma sistematização da confusão e uma irracionalidade concreta que seriam preconizadas quase meio milênio depois por Salvador Dali.”
Em qualquer caso, não importa tanto a compreensão da arte de Bosch pelo fato de ele ser um dos pintores mais extravagantes e inovadores de seu tempo. Hoje em dia, o grande interesse em sua obra reside justamente na imaginação extraordinária, a única capaz de criar seres e cenários incríveis que podem refletir nossas mais profundas dúvidas e medos.
Bosch é emprestado como referencial criativo para diversos artistas contemporâneos. O diretor Guillermo Del Toro, por exemplo, cita Bosch como uma inspiração para seu famoso imaginário surreal percebido em alguns de seus filmes, como O Labirinto do Fauno.
As obras de Hieronymus Bosch
Hieronymus Bosch é amplamente considerado um artista revolucionário de seu tempo. Abaixo, estão algumas de suas mais famosas obras:
The Final Judgement

Tondal’s Vision

The Temptation Of Saint Anthony

The Concert In The Egg

Christ Descend Into Hell
The Conjurer

The Fight Between Carnival And Lent
Christ In Limbo
The Haywain

Mythology Hell
