A viagem no tempo é uma das utopias que mais fascina o homem. Mesmo sendo algo impossível, basta um objeto, cheiro, som ou qualquer coisa que aguce os sentidos para nos transportar às memórias mais queridas. Quando o assunto é quadrinhos, vale dizer que a turma criada por Mauricio de Sousa é parte significativa das lembranças de muita gente. A obra Turma da Mônica: Laços, releitura criada pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, é uma nostálgica viagem no tempo até as recordações que levamos do Bairro do Limoeiro.

A obra faz parte do selo Graphic MSP que iniciou seus trabalhos com a coletânea “MSP 50″, um projeto especial editado por Sidney Gusmão e dividido em quatro partes, cada uma reunindo 50 artistas – autores como Ziraldo, Fábio Yabu, Fábio Moon, Gabriel Ba e Larte participaram da primeira edição – que desenham suas próprias versões dos personagens. A partir disso, surgiu a ideia de recriar não penas tirinhas, mas histórias completas da turma. Astronauta Magnetar (2012), do autor Danilo Beiruth, foi o primeiro lançamento e trouxe uma visão mais intimista do personagem, além de um traço mais puxado para os gibis de super-heróis.

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Cebolinha ganhando Floquinho, (ambos) ainda filhote

Foi durante a produção do primeiro MSP 50 que Maurício de Sousa conheceu o trabalho de Vitor e sua irmã, e os convidou para recriar uma história inteira. O quadrinista explica que a ligação com Mônica e cia. vem de longe. “As revistas da turma foram meu primeiro contato com a linguagem dos quadrinhos. Quando era bem pequeno, os gibis de super-heróis eram um pouco cansativos pra mim, tinham muito texto e valiam mesmo só pelas imagens. A Turma da Mônica não, eu queria ler, eu queria entender o que aqueles personagens estavam fazendo”, explica lembrando que desde sempre gostou de desenhar.

Rumo à aventura

A trama de Laços começa com o desaparecimento do Floquinho. Com um “plano infalível” em mãos, a turma inteira se reúne e sai em busca do cão de estimação do Cebolinha. A grande maioria dos personagens é mencionada, nem que seja de relance, mas o foco é no quarteto Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha. As referências pipocam pelas páginas e vão de filmes como Conta Comigo, Goonies e Warriors – Os Selvagens da Noite e vão até séries como Chaves. Quem assistiu bastante televisão nos anos 80 e 90 terá boas surpresas durante a leitura.

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Atenção para os detalhes, especialmente a luz.

Infância

Mas não é somente de referências e influências externas que a base de Laços foi criada. Para Lu e Vitor, a ideia era “apresentar nossa visão de cada um desses personagens e, ao mesmo tempo, ser fiel à visão que cada pessoa já tinha deles. Queríamos uma história que conversasse com a infância das pessoas”. A sinceridade, o respeito e, principalmente, o carinho dos autores pela obra original estão explícitos em cada quadrinho, desde a recriação das roupas até a expressão facial de cada personagem. “Com isso, as pessoas acabam se identificando com a gente, se enxergando em nosso trabalho. A Turma da Mônica faz, ou fez parte da infância de muita gente. Lu e eu procuramos resgatar esse sentimento”, completa Vitor.

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Vitor e Lu Cafaggi
Foto: Paula Markiewicz

O nível de atenção e cuidado com os detalhes é percebido, por exemplo, na passagem de tempo. À medida que anoitece as cores e as sombras acompanham a hora, ajudando bastante o leitor a entrar no clima da história. E se tratando de carinho e detalhes, a homenagem a Mauricio de Sousa é uma das partes mais emocionantes de toda história. “Queríamos que ele participasse diretamente da história. Mauricio é praticamente um personagem, tão conhecido quanto seus personagens”, explica Vitor, ressaltando que foi um orgulho enorme ter uma história de infância do próprio Maurício na sua versão da turma. Essa parte é diferenciada com traços mais suaves e um visual envelhecido, um tom meio sépia para dar sensação de tempos atrás, seguindo o mesmo estilo no prólogo e epílogo.

Tanta atenção só poderia resultar em algo atemporal, provavelmente o quadrinho mais relevante e bonito lançado esse ano no país. A obra criada pelos irmãos Cafaggi será lida, relida e lembrada por muito tempo, especialmente para aqueles que cresceram com a Turma da Mônica. Para falar a verdade, é muito bom voltar no tempo, basta folhear as páginas para revisitar laços cujos nós nunca irão desatar.

Laços-Capa

500 Dias com Valente

Os amores da adolescência sempre foram um bom pano pra manga em qualquer história, e nos quadrinhos não é diferente. Publicada no jornal O Globo desde março de 2010, a vida amorosa e social de Valente é baseada na adolescência de Vitor Cafaggi. “Como eu não tinha muito tempo para criar, resolvi contar uma história que eu já conhecia bem, com personagens que eu conhecia tão bem quanto conheço meus amigos, minha família, minhas ex-namoradas”, conta o autor. Além da publicação impressa, as tirinhas do Valente estão disponíveis no site Punny Parker.

Valente 143 cor

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