Romantizando o mundo

Eu desejo, com todo amor que há em mim, com toda ilusão e utopia, que você tenha prece na vida. Que você saiba discernir os erros dos defeitos e que tenha perdão no coração. Na alma. Frejat e eu te desejamos alguém pra amar, porque uma vida sem amor é monótona. Amor é quase como uma rosa: você precisa sempre tomar cuidado; regá-la, deixá-la ao Sol e disponibilizar sempre as condições favoráveis ao seu desenvolvimento. Com a vida não é diferente. Você precisa regar a sua vida com amor. Deixá-la receber um pouco de luz, um pouco de vento, um pouco de umidade. Um pouco de tudo. Você precisa se deixar receber o amor e o que nele contém de mais bonito. E eu posso te explicar porque todo mundo tem a necessidade incontrolável de amar alguém. A vida a dois faz parte da criação. E tudo bem, você pode não ser adepto ao criacionismo, a questão em pauta não é evolução. Mas na visão mais romântica Eva, por exemplo, foi criada para amar Adão. Na versão fria e seca: perpetuar a espécie. Biologicamente e religiosamente aceitável. Mas aqui não. O amor sempre esteve em pauta. E sempre vai estar. É da raça humana querer alguém pra escrever uma história.

A escrita não foi criada pra facilitar a comunicação entre os sumérios e as civilizações futuras. Provavelmente havia alguém apaixonado naquelas tribos. E com alguns versos em sua mente, necessitava de um meio para gravá-los, grafá-los. Foi aí que um homem, com os sintomas do amor, inventou a escrita. Em pictogramas eles criaram símbolos que representavam algumas ideias. Deve ter sido nesse momento que surgiu o coração. É, aquele que hoje você desenha nas páginas em branco do seu caderno. Então, obrigada, sumeriano! Sem você o que seria dos apaixonados e suas cartas de amor? Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, e outros milhões de casais apaixonados que o diga.

Vocês acham mesmo que quando encontraram a magnetita – pedra-imã – eles pensaram primeiramente em criar a bússola? Não. Unir casais também era uma forma de indicar uma direção. A atração magnética entre as pessoas foi o pensamento mais forte, sem dúvida nenhuma.  Se um imã atrai metal, então há a capacidade incontrolável e incessante de um amor atrair o outro. A magnetita surge pra explicar o porquê dessa atração pulso-magnética entre os corações dos apaixonados. Foi também daí que surgiu a histórica frase: “os opostos se atraem”.

O abraço não foi criado para cumprimentos. Unir os corações é a sua principal utilidade. Sentir a ritmia cardíaca do outro. Transferir paz. Transferir amor. Transferir paixão. O abraço foi criado pra sentir. Pra fazer sentir. Abraço foi feito pra tocar. E ser tocado. Foi feito pra amar.

Os óculos foram criados para melhor enxergar os seus amados ou amadas. A imprensa, para espalhar amor em folhetim. O cinema, para fazer criar o sonho do amor verdadeiro, para iludir, para emocionar e unir casais de todos os lugares do mundo. Inventaram o relógio para que se pudesse contar as horas pro outro chegar. Thomas Edison inventou a luz elétrica para iluminar (óbvio) a noite sem Lua Cheia. O oxigênio foi criado pra faltar; faltar ar ao avistar alguém. Mendel, o pai da genética, a inventou para perpetuar o amor da espécie; para passar a paixão de pai para filho. O telefone, para encurtar saudades, sentir amor na voz. A fotografia surgiu para registrar um beijo, um abraço, um carinho, um sorriso incontido, um olhar apaixonado; surgiu para eternizar momentos apaixonantes. O mundo foi criado para o amor, para amar. Nós fomos criados para doar esse amor. Somos mediadores do sentimento mais óbvio, urgente e necessário do mundo.

Maconha: viagem sem volta?

Para começo de conversa, afirmo: esse texto não é imparcial e nem precisa sê-lo. E você, que está lendo, provavelmente é um viciado. Café, Coca-Cola, trabalho, sexo, futebol, chocolate, internet, celular, PlayStation, novela, séries, cinema francês… E a lista continua.

E que tal um baseado? Ai a conversa muda por completo e qualquer espertinho vem logo dizendo que não tem comparação, que eu devo estar ficando maluco e que os meus neurônios devem estar quase no zero. Previsível.

E se eu te disser que dá no mesmo, que as pessoas se entopem de Rivotril e comida industrializada, ou gastam os dias dentro dos seus apartamentos minúsculos ou escritórios barulhentos, com chefes insuportáveis?

Uns fumam maconha e gostam. Jargões como “viagem sem volta” e que a maconha é a “porta para outras drogas” são ditos centenas de vezes aos jovens, principalmente pelas mães caretas que tem o coração maior do que o mundo — conselho de mãe eu até entendo.

O que eu não engulo é o discurso chato, batido, de que o usuário é um perdido, não tem futuro e logo estará por ai, cometendo furtos para saciar seus vícios. E as mães, coitadas, mal sabem que os filhos estudam com professores barbudos, desligados de deus e de tudo, que fumam aos domingos para aliviar a pressão.

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E nem vou falar dos números, dos fatos, não vou citar depoimentos longos, nem nada parecido. A vida, essa sim não tem volta. É um tempo muito escasso para encontrar o equilíbrio, discutir o certo e o errado (dogmas, no fim das contas).

E se você ainda pensa que a maconha é um problema, que não é legal e que não vale a pena, lembre-se: todo mundo tem direito de ferrar a própria vida.

Quem realmente tem o poder?

Um vídeo de um político japonês chorando foi muito assistido há uns dias atrás, o que me chamou atenção para um fato: os (raros) políticos japoneses suspeitos de corrupção, vão para a frente das câmeras,  se envergonham, abaixam a cabeça e choram; os (não raros) políticos brasileiros corruptos riem da cara do povo.

Segundo dados de 2013, da ONG Transparência Internacional – organização que tem como principal objetivo a luta contra a corrupção – o Japão está entre os 20 países menos corruptos do mundo (o único país sul-americano constante na lista dos 20 menos corruptos é o Uruguai).

https://youtu.be/Ch4OSflh_Sw

No Japão, a coletividade é mais importante que a individualidade. No Brasil, infelizmente, o voto ainda é moeda de troca; seja por uma cesta básica, uma promessa de um emprego, entre outras coisas maiores e menores. Para os cidadãos e políticos que fazem uso dessa troca, o coletivo não importa. O que importa é o que lhes trará retorno imediato. Gosto de pensar (ou me iludir) que isso não ocorre por má-fé dos cidadãos, e sim, por ainda não entenderem o devido valor do voto consciente.  Também gosto de pensar (ou me iludir) que nem todo político é corrupto. Existem sim, muitos políticos corruptos e incompetentes, porém, existem também os que são éticos, íntegros, dedicados e procuram fazer o melhor no cargo que exercem.

Votar é escolher aqueles que devem lutar pelos interesses do povo. Votar conscientemente vai muito além disso. É optar pelo progresso ou pelo atraso, pela saúde ou pela doença, pela educação ou pela ignorância.

Se te falta EDUCAÇÃO, culpe o teu governo. Mas se te falta GOVERNO, culpe a ti mesmo.

Então, como usar corretamente nosso mais poderoso instrumento de escolha, o voto, para escolhermos os representantes certos?

Vivemos a era do conhecimento, e nela os meios de comunicação são de tremendo auxílio para possibilitar o esclarecimento político e propiciar um número cada vez maior de eleitores ativos e conscientes.

É importante acompanhar os noticiários com atenção e critério, conversar, ler, questionar, opinar e compartilhar informações (verídicas) sobre os candidatos. Cobrar o cumprimento de promessas também é um direito que a democracia garante ao eleitor.

Na internet, na medida em que os candidatos solicitam seus registros à Justiça Eleitoral, o TSE divulga em sua página, por meio do sistema DivulgaCand, todos os dados do candidato. Acessando esse site, todas as pessoas conseguem informações detalhadas de qualquer candidato como dados pessoais, proposta de governo, valores gastos com a campanha eleitoral, descrição e valores dos bens que possui e eventuais registros criminais. A pesquisa de ficha limpa pode ser feita por Estado, clicando em um mapa que tem na página, ou digitando o nome do candidato. Isso é possível, porque os candidatos são obrigados por lei a apresentar as certidões de “Nada Consta” à justiça eleitoral.

DivulgaCand

Quem elege corruptos, tendo acesso a tanta informação não é vítima, é cúmplice!

Resgatar a importância do voto como instrumento de cidadania, estimular a informação e o debate, oferecer ferramentas para que as pessoas participem do processo político e consigam analisar de forma crítica as propostas dos candidatos, pode ser elemento transformador em qualquer eleição, tanto no Japão quanto no Brasil.

Precisamos de bons governantes, mas para isso, precisamos antes ser bons eleitores!

Sobre não ter e não ser

Cena do filme Os Edukadores

A grande onda da infância era ter um avião de controle remoto. Tinha um comercial na tevê e a molecada se reunia na sala para ver aquela estrutura rasgando o céu. Era bonito e tudo, mas o dinheiro dos pais era pouco. O tempo passou — voou, na verdade — e a onda mudou.

Na adolescência o barato era sair com os amigos ostentando roupas de marca. Do sapato à camisa, tudo muito elegante. As meninas piravam. Teve até uma época em que era legal usar correntes e boné. Eu nunca gostei de bonés e nem tinha grana para as frescuras da moda.

Depois de algum tempo a coisa ficou séria, além de ter era preciso ser alguma coisa. “É preciso estudar para arrumar emprego, arrumar emprego para ganhar dinheiro e ganhar dinheiro para ter uma vida boa”. E nisso eu fiquei meio confuso, pois não tinha (tenho) nada daquilo que era preciso ter e nem era nada daquilo que era preciso ser.

O ócio fez milagres na história da humanidade, mas agora parece que qualquer trabalho é melhor do que ficar à toa. Pensar é desnecessário e a “cabeça vazia é oficina do diabo”. Os práticos criam empresas do zero e faturam milhões por ano. Viram símbolos de sucesso e inspiram milhões de jovens ao redor do mundo.

E eu, que “sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”, para lembrar Belchior, não sei se sigo ou se fico. Eu sou um tanto quanto desajustado.

Livro: João Ubaldo Ribeiro – Viva o Povo Brasileiro

Na última sexta-feira (18), o Brasil perdeu um de seus grandes narradores, o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro. A perda – como de resto todas as perdas neste país carente de referência culturais sólidas – é lastimável porque não há, acredito, e nunca houve qualquer outro escritor que tivesse conseguido construir um monumento literário sobre nossa nação – o próprio nascimento da nação. Muitos foram os escritores que abordaram com exatidão e escrutínio social os elementos fundadores de nossa cultura, mas seria preciso juntar António Vieira, José de Alencar, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Erico Verissimo, Jorge Amado, Mário Palmério e Guimarães Rosa para termos uma visão global e definitiva desse elemento designado “o brasileiro”. Pois foi o escritor João Ubaldo Ribeiro que em único livro conseguiu não só construir literariamente o nascimento do caráter brasileiro, como definir as raízes sociais desta terra chamada Brasil. Este livro é Viva o povo brasileiro, obra ímpar em nossas letras.

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Considerado um clássico da literatura brasileira, escrito e premiado no início dos anos 1980, a obra máxima de João Ubaldo Ribeiro Viva o povo brasileiro é um tratado sobre a nacionalidade dos povos e das pessoas que formaram este país. Ao percorrer quase 500 anos da história do Brasil (a primeira cena remonta a invasão do Nordeste pelos holandeses), o livro busca as raízes de nossas maiores virtudes da mesma maneira que descreve, com refinado grado e bom humor, o nascedouro de nossos maiores escândalos éticos; de nossas imperfeições morais; de notáveis fatos e enriquecimentos ilícitos; de conveniências sociais acordadas, de megalômanos acordos políticos sombrios na calada da noite; de movimentos sociais revolucionários e de megaeventos históricos irrelevantes; ou ainda, de onde vem nossa capacidade de Capa Viva o povo Brasileiro.aiuso indevido de recursos naturais e da apropriação indébita da coisa pública; e por outro lado, do registro de como o sincretismo religioso no Brasil foi efetivamente uma realidade entre nós; por fim, e como não poderia deixar de faltar na obra do escritor baiano, um pouco da história miúda da perversidade sexual como um estatuto livre entre dominantes e dominadores neste país feito de desigualdades. Na obra, João Ubaldo ainda nos explica em linhas e tons literários (e, repito, com muito bom humor), um pouco do jeitinho brasileiro e muito, bastante mesmo, das perturbações psicológicas de comportamentos desviantes que conduziram não só os rumos deste país, mas também criaram muitas das barbaridades e indecências políticas observadas no Brasil de hoje. Enfim, uma aula de história, um testamento sobre a nossa nacionalidade, um retrato do povo brasileiro.

João Ubaldo Ribeiro nasceu na Ilha de Itaparica, no Estado da Bahia, cenário de boa parte da longa narrativa contida em Viva o povo brasileiro. Estreou na literatura aos 21 anos com o livro Setembro não tem sentido (1968), e em seguida publicou aquele que seria seu primeiro grande livro, o clássico Sargento Getúlio (1971), com o qual já ganhou o maior prêmio literário nacional, o Prêmio Jabuti, e que conta a história de um sargento que enlouquece tentando cumprir uma missão num país que mudou ele ainda não sabe. Anos depois, lançaria Viva o povo brasileiro (1984), tentativa bem sucedida de narrar a História do Brasil a partir de relações familiares, formas de governança política, alternâncias de modo de produção e de ciclos econômicos; do registro de manifestações populares até transformações sociais; de percepção das disposições étnicos-culturais que, dispersas pelo território, formam a essência do povo brasileiro; por fim, anotações sobre o cotidiano que explicam e expõem a confluência de raças, nessa vivência histórica por vezes mansa, por vezes tensa entre as distintas camadas de nossa sociedade, historicamente desigual. A obra de João Ubaldo Ribeiro, composta por excelentes livros (Vencecavalo e outro povo, Já podeis da pátria filho, Vila Real, O sorriso do Lagarto e o já citado Sargento Getúlio, entre outros), tem seu ponto alto em Viva o povo brasileiro. A obra é considerada como uma espécie de sedimento literário bastante firme dentre as tentativas de se criar uma narrativa épica abrangente que explicasse o Brasil.  De todos os autores que tentaram isso, João Ubaldo foi aquele que num único compêndio conseguiu registrar as distâncias sociais entre os grupos e os desdobramentos políticos de nossa nação, chegando à representação literária perfeita de um povo que hoje possui uma mentalidade coletiva única: a de ser brasileiro.

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Em Viva o povo brasileiro, encontramos não apenas uma arquitetura literária de grande porte, aqui digna de registro; temos senão o registro minucioso da própria dinâmica de criação e transformação de uma nação. Se a narrativa básica que sustenta toda essa obra gigantesca são os laços familiares e as relações entre as classe sociais, do Brasil Colonial aos dias de hoje, do capitalismo financeiro, é importante frisar que o mais importante é que o ser humano em João Ubaldo Ribeiro é, acima de tudo, um sujeito histórico universal. A essência do que o escritor baiano escreveu nesta obra está, no limite, em cada habitante deste país – quiçá do mundo. Uma grande perda a lamentarmos.

Boa leitura.

Sobre amar no século XXI

Ama-se tudo. Os livros, as comidas, as letras, os textos, os cachorros, os gatos. Ama-se o céu quando está estrelado ou quando é o Sol que faz estampar brilho sobre ele. Ama-se o presente que se ganha sem data marcada, os cabelos quando acordam de bom humor, as unhas quando estão crescidas. Ama-se o corpo, caso ele esteja nos padrões ou simplesmente ama-se o corpo, caso ele esteja nos seus padrões, nos seus desejos. Ama-se o feriado, a praia em plena terça-feira, a cerveja muito gelada, o vinho tinto que te espera à noite e a roupa que você vai usar no próximo final de semana.

No século XXI ama-se tudo. Fala-se em amor com uma facilidade nunca vista. Banalizou. Esfriou o sentimento. Tudo agora é passível de amar. E pronunciam-se os fonemas sem medo de reação. Afinal, ama-se até o inanimado. Ama-se a cor da pele, dos olhos, dos cabelos. Ama-se a música que aquele cara faz, o solo que ele tira na guitarra ou o show que ele fez semana passada para um milhão de pessoas. Ama-se um filme, uma reportagem, um programa de TV. Ama-se até o apresentador desse programa, o protagonista do filme e o jornalista que escreveu a reportagem.

Ama-se tudo e ama-se muito, exageradamente, enlouquecidamente. Amanhã? Já se amam outras coisas. Amam-se cheiros, gostos e coisas. Mas esquecem-se das pessoas. Aliás, lembram-se incansavelmente, às vezes. Estão a pronunciar o “eu te amo” com a facilidade do “bom dia”, porque todos sabem: amanhã é incerto. Sorte daqueles que amam à moda antiga, que apaixonam-se e esperam o momento mais oportuno – não sem ansiedade ou nervosismo – para dizer que ama. Sorte daqueles que conseguem fugir um pouco da efemeridade do amor do século XXI, dessa capacidade ofensiva de amar tudo e nada ao mesmo tempo; de se declarar no sábado e morrer de amores por outra pessoa no domingo.

Não se ama mais como antigamente. Não se declara mais amor. É mais importante mostrar que está com o outro do que fazê-lo sentir sua presença. É mais importante nomear aquele relacionamento do que realmente manter uma relação afetiva, amorosa e sincera com o outro. É mais importante ter alguém do que simplesmente ser feliz. Vejo muitos casais de mãos dadas por fachada. Juntos por convenção. Namorados por um “relacionamento sério” no Facebook.

Ama-se quase tudo. “Eu amo essa bolsa”, “eu amo esse casaco”, “eu amo essa caneta”, “eu amo esse computador”. Amar é uma coisa, gostar é outra. Gostar é uma coisa, apreciar é outra. Apreciar é uma coisa, simpatizar é outra. Portanto, goste e ame pessoas. Amem-se uns aos outros. E revele. Revele sempre que for verdadeiro, sincero. Não o faça por agrado, muito menos por impulso. Amar é um caso sério. É simples, transparece na gratidão e no olhar. Mas não é vendido no Atacadão de 1,99.  Não se encontra nas prateleiras dos supermercados. Não há código de barras. Não há etiquetas. Não ama-se pelo valor, mas pelo que não se compra, não se vende e não se rotula.

O amor do século XXI é palpável. Ou pelo menos é assim que ele é tratado. Não mais se sente, mas tem-se o amor em mãos, na maior das utopias. Nunca pensei que aquela frase que tanto se ver na internet realmente fosse fazer um sentido tão nítido:

Se as coisas foram feitas para usarmos e as pessoas para amarmos, então por que usam-se as pessoas e amam-se as coisas?

Hoje ela chega a descrever a nossa sociedade. Vivemos um amor incrédulo e deixamos pra trás um amor inédito. Substituímos o “para sempre” por mais uma noite. Substanciamos-nos de um sentimento que nomearam de amor. Mas amor já existe e nada se parece com o que se vive hoje. Estamos deixando pra trás o beijo na testa e esquecendo até de apertar as mãos num cumprimento. Ama-se pela palavra e não mais pelo coração. Estamos trocando a felicidade pela alegria.

O Real do Virtual

O mundo virtual é um espaço que não conhecemos por completo. Já o habitamos e, por alguma razão, temos a impressão de que podemos viver muito bem dentro dele. Ele é atraente e oferece condições sem paralelo na realidade, como a possibilidade de editar, de apagar e de começar de novo, completamente do zero.

Além disso, temos a garantia de que enquanto estivermos conectados nunca estaremos sozinhos. Um milhão de visualizações no Youtube, dois mil amigos no Facebook; são esses os indicadores da nossa interação social. O número como princípio universal, como defendeu Pitágoras.

“Em vez de construir amizades reais, nós ficamos obcecados com a promoção pessoal sem fim”. Tal reflexão é feita na pequena animação “A Inovação da Solidão”, de Shimi Cohen, que segue a mesma linha argumentativa do livro Alone Together, de Sherry Turkle (você pode ver uma palestra da autora sobre o tema aqui).

Até que ponto essa inversão real/virtual é bacana, saudável? E mais, será que o virtual não está ganhando status de real?

Eu acredito que sim. E o filósofo Slavoj Žižek também, ao postular que “real” é uma categoria que só tem sentido se abordada abstratamente. A nossa vida online é real e tem a potencialidade de gerar transformações no mundo na medida em que interagimos.

Talvez o debate mais intenso sobre a matéria devesse girar em torno de um único tópico: estamos prontos para mudar de vez para o mundo virtual? Eu não estou.

Roudini e Os Impostores Live Sessions #1: Tanta Solidão

A Roudini e Os Impostores lançou no ano passado um baita disco chamado “Eldorado” (saiba tudo aqui). O álbum, um dos melhores de 2013, é composto por doze faixas gravadas ao vivo e que reverenciam o melhor do country, do rock e do blues.

Pouco menos de um ano depois do nascimento de “Eldorado”, a banda está lançando um novo projeto, chamado Roudini Live Sessions. Serão quatro músicas regravadas novamente ao vivo em diferentes locais. No primeiro vagão desse trem toca a música “Tanta Solidão”, gravada e filmada na metade do ano passado na Casa do Bosque, em Passo Fundo. O vídeo foi captado pela Creativa Produtora e o áudio pela Musiclass.

Para regravar a música ao vivo, a banda – formada por  Gustavo Leal, Otávio Cruz, Jefferson de Conto e Bruno Philippsen – convidou os músicos Augusto Dossa (bandolim) e Rafael Alam (violão) para participarem. O resultado ficou impecável. Assista abaixo:

No dia 8 de agosto, haverá uma festa de lançamento da Roudini Live Sessions #1. Será na Hija, em Passo Fundo. O La Parola é um dos apoiadores do evento, junto com a Blue Berg e a Creativa Produtora. A festa também terá a discotecagem do Eu Escuto e uma mostra de vinil do Selo 180.

Confira todos os detalhes aqui no evento do facebook.

Amantes Eternos / Only Lovers Left Alive (Jim Jarmusch, 2013)

Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
País: EUA

Sinopse: Este filme mostra a história de amor entre dois vampiros (Tilda Swinton e Tom Hiddleston), cansados da sociedade onde vivem. Durante muitos séculos eles vivem uma relação juntos, até serem interrompidos pela incontrolável irmã caçula da vampira (Mia Wasikowska).

Análise:

O novo filme do estadunidense Jim Jarmusch é uma pérola da nova ordem da decadência humana inserida em filmes de vampiros modernos, a poluição do sangue ocasionadas por uma conduta alimentar que se baseia no consumismo desregrado.

Este filme é uma pérola dos tempos modernos. Adam, interpretado pela ator Tom Hiddleston, é um vampiro com uma personalidade tétrica que vive seus dias melancólicos em busca de uma razão para sua existência sem sentido, criando canções fúnebres por meio de devaneios, relembrando os tempos medievais que foram um paraíso de outrora, onde sua busca por sangue não era uma desventura e sim uma excitante caça que estimulava suas necessidades vampirescas de morticínio, tendo como recompensa o delicioso sangue puro.

Por outro lado, existem vampiros que se adaptaram a este admirável mundo novo se apegando em suas características de seres únicos existentes no planeta Terra, como a imortalidade e a capacidade de ter o domínio do estalo da vida e da morte sobre os meros seres humanos. Neste contexto a perniciosa e bela vampira Eve, vivida pela a atriz Tilda Swinton, vive modestamente. Ela constitui o lado bom e lúdico da personalidade de Adam, os dois formam um casal que constantemente se juntam e se separam através dos séculos e que, num determinado momento, se juntam novamente e decidem terminar seus dias um ao lado do outro devido a recaída emocional de Adam, que o transforma num potencial suicida.

Amantes Eternos Jim Jarmusch (2)

Os vampiros são criaturas cultas que diferentemente da maioria dos seres humanos usam de sua vivência para acumular conhecimento sobre o mundo e todas as forças que o regem, como ciências e arte. Esta é uma premissa usada sabiamente por Jim Jarmusch que também escreveu o roteiro do filme. Adam e Eve são experts em botânica, música, medicina, mecânica e física quântica enquanto o vampiro Marlowe vivido pelo o ator John Hurt é um frustado escritor que teve que sacrificar sua fama para manter sua identidade como vampiro, pedindo para um camponês ignorante chamado William Shakespeare assinar e viver os louros de sua obra. Uma sacada genial.

Adam e Eve formam o casal perfeito que abala as estruturas do submundo que diz que o amor não supera a maldade ou que a maldade provem de um amor mal consentido, seja como for, as inconstâncias de um relacionamento não são uma regra apenas para os frágeis seres humanos, mas também é uma força que define o relacionamento de monstros que permeiam nossos piores pesadelos.

Alua(na)dos ou O dia em que seu Luiz remexeu no túmulo

– Acredito que deve ser ainda muito bonito e bem imaginativo, apesar de ter sido feita há muito tempo, escutar alguns versos como “Quando a manhã vai clareando / Deixo a rede a balançar / No meu cavalo vou montando / Deixo o cão a vigiar. / Cendo um cigarro de vez em quando / Pra esquecer de pra alembrar / Que só me falta uma bonita morena / Pra mais nada me faltar” ou talvez “Vem, morena pros meus braços / Vem, morena, vem dançar (…) / Quero ver tu remexer / No resfulengo da sanfona / Inté que o sol raiá”. Para a maioria das pessoas, Luiz Gonzaga é eterno. Sua genialidade como intérprete e compositor, junto aos seus parceiros, fez com que o Nordeste, o sertão, a seca, a natureza, a mulher, as festas e as críticas fossem vistos para todo o Brasil e mundo.

Pois bem, rememorar seu Lula é muito importante. Vejamos alguns nomes que ainda hoje (ou que até recentemente) bebem (ou beberam) da mesma fonte do grande mestre: Dominguinhos, Sivuca e Marinês – que Deus os tenha – , Antônio Barros e Cecéu, Trio Nordestino, Os Três do Nordeste, Oswaldinho do Acordeon, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Moraes Moreira, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Nando Cordel, Djavan, Lenine, Alcimar Monteiro, Flávio José, Pinto do Acordeon, Falamansa, Rastapé, Mestrinho, Cezzinha, Lucy Alves e muitos outros que me esqueço aqui no momento. Ahhh, claro jamais poderia faltar ele: Luan Estilizado.

– Hã?

– Pois é. Não soube? Provavelmente ele tomou chá de consciência e se converteu.

– Como assim? Pensava que Luiz Gonzaga fosse cantor, compositor, mas nunca santo!

– Mas é algo que está acontecendo. Repare: teve um programa aí que foi ao ar e era uma competição entre bandas.

– Sei…

– Aí tinha Luan como representante da Paraíba. A turma foi à loucura! Mais uma vez a Paraíba sendo valorizada pelas canções desse admirável intérprete. Antes desse programa, teve outro que apresentou para o Brasil Lucy. Lembra, do Clã Brasil?

– Lembro, lembro… lá de Itaporanga?

– É, de lá mesmo. Ela foi para a final do programa, mostrando que tem muita influência do velho Luiz e de Dominguinhos. Eu, curioso, fui escutar as músicas dela e do grupo que fazia parte e percebi que essa influência sempre existiu.

– Sim, mas que tem a ver Luan com isso?

– Fiz a mesma coisa com as músicas dele. Fui escutar…

– E aí?

– Eu acho que ele tem um irmão gêmeo.

– Por quê?

– Era um na tevê e outro no show por aqui.

– Tô entendendo não!

– Olhe, no programa ele cantou: Gostoso demais, Ai que saudade D’ocê, Espumas ao vento, A vida do viajante, Riacho do navio, Disparada, Rindo à toa, Esperando na janela, Hora do adeus, Coração, Xote das Meninas…

– Pera, pêra, pêra… você ta reclamando de quê? Tem muita música boa e de autores consagrados. Dominguinhos, Vital Farias, o velho Lua, Geral Vandré, Targino Gondim…

– Tá certo, tá certo… mas como eu disse, deve ser o irmão. Por que eu fui escutar umas músicas dele e vi isto, repara: “Sou patrocinador, sou eu que pago a conta / Mulher que anda comigo fica logo beba tonta / O cara que tem moral, tem carrão e é estourado / Quem sou eu? O empresário”… Também tem esta: “Bem na cama, bem no amor, / Ela é de quem manda bem / Debaixo do cobertor. / Bem de grana, que é pra dar mais valor, / Ela é de quem manda bem, / Que sabe fazer amor.”

– Vixe…

– Calma… olha: “agora só porque eu tô de boa você vem / pedindo pra ficar / mas hoje eu fecho um bar / bebendo, curtindo até a cachaça acabar…”

– Eita gota! Mas rapaz, que diferença!

– Pois num é? Eu acho que ele deve ter vergonha de cantar isso para todos verem. Aí volta às músicas que sempre fizeram sucesso, de letras boas e marcantes. Eu fui falar isso pra um amigo meu e ele disse que na verdade Luan quis mostrar um pouco de cultura. Eu disse que pensava do mesmo jeito, e era exatamente por isso que se utilizou dessa tática para tentar ganhar o público. Parece que em uma das apresentações no programa, Luan foi cantar uma das músicas dele e quase saiu do programa por pouca votação.

– Meniiiino, foi mesmo? Agora o que me chama atenção é ter gente que escuta esse tipo de letra. E também, ter gente que sabe que ele mudou de plano e foi tocar as músicas mais antigas e votou nele…

– Ah, mas aí tem explicação.

– Qual?

– Amor pela terra. Ele é paraibano e se a Paraíba está aparecendo para todo o Brasil, quer queira ou não, isso é o que importa. Ele vai continuar cantando as mesmas músicas dele aqui e um bocado de gente vai levantar as mãos e achar bonito. Muitos ainda vão curtir as letras que menosprezam a mulher, que só falam de bebida e que dizem que o que importa é ter carrão, dinheiro e tudo mais.

– E tu acha que é só por isso de elevar a Paraíba?

– Rapaz, eu acho. Se também não tiver dinheiro por trás…

– E é?

– É…

– “Fez besteira / Fez besteira”.

 

Faryas e Albuquerque

(Após a leitura desse texto, achei de fundamental importância publicá-lo e divulgá-lo. Tanto pelo seu teor cultural, como pela veracidade de suas palavras. Mas vale lembrar que o texto NÃO É DE MINHA AUTORIA.)

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