Observar o quão rápido algo ou alguém ganha ou perde relevância pelo Facebook é quase um estudo antropológico. Hoje uma foto ganhas centenas de likes e comentários, amanhã, nenhum. Hoje alguém é extremamente bem sucedido, com uma vida super interessante e relevante, amanhã é alguém que está lá escondido na timeline sem existir.
O medo de “não existir” leva as pessoas a encherem a timeline alheia de informação desnecessária. Em casos extremos a isso é dado a alcunha de attention whore (prostituta de atenção), mas vamos ser sinceros com nós mesmos, dê o primeiro block aquele que nunca se decepcionou com um post super pensado e interessante, que ganhou dois likes apenas.
As notificações vermelhas no canto superior esquerdo da tela se tornaram um juiz do seu status dentro da sociedade. Tantos posts (meus inclusos) reclamam sobre a necessidade de expor felicidade maior do que da de senti-la. Mas todo mundo quer ser relevante, todo mundo quer fazer parte de algo, e o Facebook proporciona algo que muitos jogos proporcionam, e que a vida não. Gratificação instantânea.
Na vida você precisa trabalhar e se esforçar anos pelas gratificações, que as vezes nem aparecem. No Facebook você recebe uma gratificação instantânea, um “joinha” por dizer algo, ou postar alguma foto. Você colhe frutos do seu esforço (ou nenhum) quase que automaticamente. Essa gratificação pode se tornar viciante, como muitos jogos, mas com a grande diferença que você geralmente termina os jogos, ou se cansa deles. O Facebook representa uma segunda via da sua vida, você pode se cansar dela, mas acaba voltando. Todos os seus amigos e familiares estão ali, é difícil não fazer parte.
Por um lado essa rede pode aproximar pessoas que estão muito longe, fazer você parte da vida delas e vice-versa, mas por outro, essa necessidade de nos conectar com pessoas distantes coloca grilhões nos nossos membros. Relevância, relevância, relevância. A necessidade de mostrar uma vida feliz e produtiva no Facebook, gera estresses na vida fora dele. Quantas vezes aqui alguém postou fotos de um lugar que estava odiando, lugar com pessoas desconhecidas, ou com conhecidos demais, enfim, por motivos próprios, pelo costume de mostrar no Facebook a felicidade que a sua vida é. Mas não concordem comigo, eu sei como é difícil admitir isso abertamente.
Feiticeiros e bruxas confabulando com o Tinhoso - Compendium Maleficarum
Abertura
Era 1994. Copa do mundo acontecendo na Itália. Brasil versus Camarões. Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos, Leonardo, Mauro Silva, Dunga, Raí (Muller), Zinho (Paulo Sérgio), Bebeto e Romário. 3×0. Não pude ver aquele jogo, estava em um micro-ônibus junto com um grupo de pré-adolescentes interioranos (Rodrigo, Dumbo, Corvo e quase toda Nova Araçá) em direção a Curitiba, ia ser seminarista por alguns dias. Apesar de possuir – se é que isso é algo que possuímos – uma terrível memória, três coisas me marcaram muito durante os poucos dias que dediquei minha vida ao Senhor: 1) um soco no estômago que levei de um padre mexicano renegado da lucha libre; 2) a performance de um “casal” de padres se fazendo passar por Elis Regina e Tom Jobim cantando “Águas de março”; e finalmente 3) a salutar brincadeira do “caça diabo”.
A primeira me fez compreender a lógica da fé de maneira visceral, literalmente. Por conta da segunda acabei desistindo de participar daquele reality show sacerdotal, salvando assim minha adolescência futura, garantindo um asco aparentemente inexplicável com relação aos clássicos da MPB e, consequentemente, uma vida sexual normal e regular. Mas a caça ao tinhoso que acabou por ter um efeito progressivo na minha mente e serviu de base para uma sequência de ideias que viriam. Deixe-me explicar, brincadeiras são coisa séria, e essa dizia muita coisa. Reuniam-se todos os seminaristas cedo pela manhã devidamente armados com sarrafos feitos de papelão muito bem enrolado, escolhia-se dentre eles um para ser o “diabo” (os critérios de escolha variavam entre o ânimo dos padres, a feiura de algum seminarista ou faltas nas atividades durante a semana) e lhe era dada uma dianteira de uma hora para se esconder no território gigantesco que era a sede dos “Legionários de Cristo”. As regras eram simples e consistiam em dizer ao “zé pelintra” da vez: Te esconde, se os outros te encontrarem antes do fim do dia o sarrafo vai comer.
Brasil 3 x 0 Camarões 1994
Naquele final-de-semana sobrou para o Corvo, um guri de Nova Araçá que recebeu a alcunha pela ausência de queixo e presença demasiada de nariz. E essa era a única explicação para a escolha, afinal, o “tinhoso” tem que ser feito, certo? Pessoalmente desisti da brincadeira e fui jogar futebol, ou melhor, “pelada de Jesus” onde aprendíamos que passar a bola era uma virtude cristã. Ao final da tarde, porém, observava de longe o fim da caçada… uma dezena de seminaristas furiosos enchendo o pobre Corvo de porrada e, em seguida, carregando-o ainda esperneando para jogá-lo em um açude próximo do refeitório. Tudo bíblico, canônico, descente. Entre os sorrisos dos padres que observavam ao longe pensei “sovar o diabo de paulada e quase afogá-lo deve ser outra virtude cristã”. Em dois dias estava de volta em casa jogando video-game, escutando música, lendo gibis e vendo pornografia como qualquer adolescente, eu havia me identificado com o demônio.
Exposição
O mito, antes de se juntar ao “logos” e se tornar “mitologia”, era corpo. Corpo como símbolo, dança e ritmo. A palavra com sentido vem depois e não participa de sua infância. Tratava-se do rito, do movimento repetitivo e do transe do xamã. Já em sua fase descritiva, quando as primeiras histórias foram contadas, surge um padrão que se repete em diferentes pontos do tempo e do espaço. É aquilo que Joseph Champbell chama de “monomito” a jornada heroica e cíclica do herói. A paixão representa isso claramente, bem como incontáveis hagiografias pelo mundo também o fazem. O diabo era pois aquele que buscava quebrar o ciclo, o obstáculo que se devia superar mas, ainda assim, inevitável. Um bom exemplo desse tipo de personagem controverso na cultura antiga é Shiva, o destruidor. Parte da trindade hindu juntamente com Vishnu (preservador) e Brahma (criador), ele porta um tridente em uma das mãos e um tambor em outra. Conhecido como o senhor da dança cósmica, é ele quem dita o ritmo do cosmos em seu eterno retorno. Da mesma forma que o equilíbrio do Tao chinês, o culto à Pã na cultura greco-romana ou a eterna guerra entre Ahura Mazda e Arimã na Pérsia, tais ciclos não eram progressivos, ao contrário, toda a evolução previa também uma entropia.
Feiticeiros e bruxas confabulando com o Tinhoso – Compendium Maleficarum
No auge do medievo europeu, mais precisamente na época do Papa Gregório Magno (em torno do séc. VI) surge a semente de um fenômeno que mudaria nossa forma de pensar e agir no mundo. Poderíamos explicar o processo de várias maneiras, sejam elas econômicas, sociológicas ou filosóficas, porém o faremos através do já citado “sete peles” e de sua grande companheira, a música. Em sua ânsia por domar os resquícios pagãos na Europa, a igreja passa a condenar (a partir de Santo Agostinho e das doutrinas platônicas) as expressões naturais e corpóreas, colocando toda a ênfase da fé no “reino dos céus”, na razão, na contemplação. É importante notar aqui que as únicas figuras diabólicas presentes na Bíblia são, respectivamente, aquele que tece um longo diálogo desafiador com Jeová sobre o destino de seu querido servo Jó, e o tentador do deserto que ofereceu todos os reinos do mundo a Jesus. Em ambos os casos o diabo aparece em uma posição claramente inferior e de acordo com os padrões mitológicos da época, ou seja, tentador mas não a encarnação do mal ou reflexo invertido da divindade. A associação da figura do deus Pã com esse personagem fez parte de uma campanha ostensiva de dominação da igreja cristã. Foi a partir deste ponto que o mundo, a natureza, o corpo (em especial o feminino) passaram a ser relacionamos diretamente com o maligno. Nesta tentativa de arrebatamento aos céus da razão contemplativa surge a transição entre a música modal e tonal, entre o transe e o êxtase.
Aqui a música (e também a cultura) passa a se simplificar e formar padrões. Baseando-se na harmonia das esferas pitagórica, e na divisão tonal por ele proposta, usa-se o canto para aquietar o corpo, dominando assim os fatores diabólicos, e elevar o espírito até a verdade. Foi justamente a racionalização e a simplicidade (no sentido dos poucos elementos em jogo na linguagem) que foram responsáveis pelas incríveis modificações da cultura ocidental através dos séculos. O canto gregoriano exemplifica perfeitamente esse processo. A caça ao diabo havia sido bem sucedida, o corpo foi espancado, e escondido no lago.
http://youtu.be/GfbITZgBZzs
O fim do período feudal europeu, a ascensão da burguesia, a queda das monarquias hereditárias, a troca da religião pela ciência e o consequente culto ao capital consumam um novo mundo e um novo tempo. Um novo mundo por que toda a cosmologia estava em fase de reconstrução, as fronteiras se expandiam e/ou eram modificadas e os óculos dos dogmas religiosos foram substituídos pela lente de aumento da ciência. Um novo tempo pois a circularidade do sagrado acaba por ser rompida em função de uma crescente crença no futuro proveniente dos princípios racionais e capitalistas. Se antes o tempo era um círculo que emulava a própria criação, agora ele mais parece uma flecha em direção à uma utopia humana, sempre evoluindo. A música vai ser, ao mesmo tempo, causa e sintoma dessas mudanças. Se no canto gregoriano o trítono, esse famoso “diabolus in musica” (não se trata do álbum da banda estadunidense Slayer), era evitado, aqui ele serve de motor para a evolução. Note-se a diferença, na antiguidade o diabo promovia o reinício do ciclo através da destruição, a repetição era inevitável. Já no alto medievo ele era renegado em favor de uma certa “calma” musical e espiritual. Mas na modernidade ele passa a ser uma escada, o catalizador da evolução, já em uma oitava superior. Se aqui o tempo é uma flecha talvez ela não seja assim tão linear afinal, mas uma espiral logarítmica.
O Fausto de Murnau (1926) o “sete peles” contratualista.
O “escamoso” também obtém aqui um novo significado. Longe de ser o mal encarnado ele passa a ter um papel, ao mesmo tempo, de inspirador intelectual, representante dos mistérios da natureza e daquele que confere dons extraordinários. Por um lado é o retorno da figura de Hades e sua imensa riqueza, por outro o trato com este é completamente inédito. Surgem as histórias fáusticas e seus pactos em troca de favores. O diabo, o corpo, a natureza agora não são mais indesejáveis mas domináveis por meio da razão, um pacto devidamente acordado entre as partes. A aceitação do trítono na música representa a vitória do antropocentrismo moderno e sua racionalidade contra as superstições e seres sobrenaturais. Isso acaba por afetar toda a cultura em especial a música onde podemos ver o ápice da transição tonal, aqui surge a sonata (em oposição à cantata) e sua progressão em torno de um tema com espaços bem definidos e acordos engenhosamente arranjados. A música é vista como a expressão mais pura da matemática e esta, por sua vez, da própria razão. Talvez o maior exemplo seja a obra de Beethoven, em especial na sua famosa 9ª sinfonia, que representam esse triunfo sobre o modo antigo. Agora toda a civilização ocidental havia se identificado de forma irreversível com o demônio, assim como eu havia feito enquanto os padres cantavam “águas de março”.
Recapitulação
Desde o mito primitivo e seus primeiros sons rítmicos que imitavam a pulsação do próprio universo, passando pela antiguidade e a primeira tentativa de racionalização e ordenação, pela idade média onde a “caça ao diabo” foi institucionalizada, até a visão moderna fruto do paradigma científico/capitalista voltada para o futuro, tudo se resume em uma alternância de som e ruído. Este ensaio falou um pouco sobre a importância do ruído, esse tinhoso, fugindo da dicotomia que acabou em maniqueísmo prático entre mundo e espírito, clamando por uma guerra em cada homem, buscando aquilo que se tornou na idade moderna o motor da inovação por meio de uma simples mudança de perspectiva. Essa forma de tratar o mundo permeou a literatura, pintura, escultura e principalmente a música até o princípio do século XX tornando-se sinônimo do caráter imperialista europeu. Por conta disso, uma herança positiva e negativa, somos hoje todos europeus na forma de pensar e viver. Porém após a massificação por meio das técnicas de reprodução midiáticas, especialmente nos últimos anos por meio da rede mundial, voltamos novamente a um ciclo de ruptura e abertura, e estamos ainda aguardando (ou criando) uma resolução apropriada para esse processo.
Coda
Como estava a procura do elemento perturbador acabei indo escrever no lugar mais óbvio, a igreja. Foi uma psicografia de uma tarde, acabou sendo uma confissão sem padre. A pergunta que fica é: Não seria, quem sabe, uma questão de dimensões? Se observamos a progressão cultural ocidental de longe, levando em conta que ela ocorre em espirais cada vez mais “elevadas” propiciadas por rupturas, não poderíamos observar um círculo formado por uma única espiral? Como uma resistência elétrica cósmica? Quando tudo foi rompido, não seria a hora de resignificar? E, por fim, “Coda” está entre os melhores álbuns da discografia do Led Zeppelin?
Nota: Este humilde ensaio foi feito durante as aulas de Filosofia Estética do Prof. Gerson Luis Trombetta e inspirado em seu artigo “O círculo e a flecha: Representações do tempo na música” uma leitura extremamente recomendada!
O Conexões Globais é um evento que acontece nos dias 24 e 25 janeiro na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre. Durante dois dias, o público poderá debater com ativistas e acadêmicos de diferentes partes do mundo, pessoalmente ou via web. Além de debates, haverá oficinas e apresentações multiculturais. O evento poderá ser acompanhado todo via internet.
O que a internet oferece para a civilização hoje? Qual o papel da rede nas manifestações globais? O que é democracia 2.0? Nossos dados online estão em sigilo? Existe liberdade de expressão na internet?
Poderíamos passar uma bela madrugada apenas indagando sobre internet. É tão amplo que respostas simples não resolvem, é preciso filosofar, discutir, refletir ou outro verbo similar. Com esse propósito, o Conexões Globais chega à sua terceira edição, promovendo uma série de debates sobre o tema. O evento é uma realização do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A ideia é conectar mais o povo com a administração estadual, tanto que terá o governador Tarso Genro como um dos debatedores.
As mobilizações populares em rede ao redor do mundo, a cultura digital, os protestos de junho de 2013 no Brasil, o direito à privacidade e liberdade de expressão e outros assuntos relacionados serão discutidos entre o público e ativistas, acadêmicos e demais debatedores. O Conexões será norteado por uma discussão descentralizada e com o recurso tecnológico da webconferência, características que condizem com a temática.
O evento será realizado na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, mas será transmitido em tempo real pela internet para que pessoas de qualquer parte do globo possam participar.
Além dos debates centrais, o Conexões terá oficinas, concursos e espetáculos multiculturais. Durante os intervalos dos debates terá uma série de apresentações artísticas. A programação conta com artes cênicas, danças e apresentações musicais. Apanhador Só, Wander Wildner, Nitro Di, Laura Finocchiaro, Dziw Jazz Trio, Dani Umpi e outras atrações farão parte das Conexões Culturais do evento.
Confira a programação dos debates centrais. A programação completa com agenda de shows e oficinas você confere aqui.
24/01
14h – Cultura de rede, colaborativa e digital 16h – Soberania digital e vigilância na era da internet 18h – As jornadas de junho e o futuro da democracia no Brasil
25/01
14h – Três anos de revoltas interconectadas – De Túnis ao Brasil 16h – Tecnopolítica dos #protestosbr e um enfoque global 18h – Espaço público e sociedade em rede.
O Conexões Globais poderá ser acompanhado em tempo real no site oficial e nas redes sociais do evento, que não são poucas:
Se você chegou até aqui sem ter assistido ‘Clube da Luta‘, assista e volte depois. Caso contrário, isso não fará sentido algum. Mas, se você assistiu à fantástica adaptação cinematográfica da obra literária de Chuck Palahniuk, dirigida por David Fincher, seja bem vindo ao clube.
Um grande fã da história, quiçá membro do clube, resolveu mostrar como seria se o personagem Tyler Durden, interpretado por Brad Pitt, não fosse visível ao espectador. Para isso, removeu digitalmente o personagem em uma cena em que ele e Jack (Edward Norton) duelam.
Após a divulgação do vídeo, amplamente compartilhado na internet, usuários do Reddit pediram a Richard Trammell, autor da adaptação, que fizesse o mesmo com o filme todo. Mas, se depender de Richard, isso não irá acontecer. No mesmo tópico do Reddit, falou:
Posso dizer que, agora, não está ao alcance fazer a coisa toda. A menos que David Fincher topasse participar […] Honestamente, não acho que seria um filme muito bom como um todo.
A ideia é interessante, mas ir além de uma ou mais cenas seria mesmo um trabalho desnecessário. ‘Clube da Luta’ não seria de maneira alguma o mesmo sem Tyler e a espetacular atuação de Brad Pitt. Dê uma olhada no resultado da brincadeira no vídeo acima.
Lembrando que a primeira regra deste post é ‘você não fala sobre esse vídeo’ e a segunda regra é ‘você NÃO fala sobre esse vídeo’.
Um hiato de mais de 20 anos chegou ao fim. David Crosby divulgou na internet em 21 de janeiro de 2014 o álbum CROZ. Com onze faixas, o disco será lançado oficialmente dia 27, mas já está disponível para ser ouvido na íntegra (o autoplay é automático, então deixa rolar que vale a pena).
David Crosby foi um dos formadores da banda The Byrds, na metade dos anos 1960, mas consagrou-se de verdade no ramo musical no fim da mesma década com o supergrupo formado por ele, Stephen Stills, Graham Nash e, esporadicamente, Neil Young. ‘CROZ’ é o quarto álbum solo de Crosby, que foi, na verdade, muito mais produtivo com seus comparsas. Com o grupo, gravou oito álbuns de estúdios, além de compilações, álbuns ao vivo e afins.
Eu gastei muito tempo trabalhando com o Crosby, Stills & Nash nessas duas últimas décadas. Mas eu queria desafiar a mim mesmo e trabalhar fora do grupo. Também queria fazer coisas diferentes do que eles fazem e, há alguns anos, comecei a escrever muito. Estou feliz que tenha feito isso. (Em entrevista à Rolling Stone americana)
O último trabalho solo de Crosby havia sido Thousand Roads, gravado em 1993. Este novo trabalho demorou dois anos para ser concluído e foi feito com seu filho, James Raymond, com quem Crosby já trabalhara anteriormente no projeto CPR (Crosby, Pevar & Raymond). ‘CROZ’ também tem a participação de Mark Knopfler na faixa What’s Broken.
Após o lançamento, Crosby, mesmo com o peso de seus 72 anos, fará uma pequena e raríssima turnê solo em fevereiro. Mas deverá ser só isso. Em março, o músico se juntará outra vez a Stills e Nash para uma nova turnê do grupo.
Antes de tudo, não o sou original. Não importa o que digam ou o que pensem, de originalidade nada tenho, tudo o que sou, já muitos foram antes, tudo o que escrevo, já foi escrito por outros, eu sou assim uma repetição.
Continuo a afirmar que não sou original, mas nunca serei uma cópia de ninguém, nunca serei um Dostoiévski, Kafka ou Adorno, pois todos esses tem nome, e eu também tenho um, e é um dever natural fazer desse nome alguma coisa, dar-lhe a minha própria história.
E ambiciono sim ser original, mas nunca vou conseguir ser, ninguém realmente é, porque o nosso pensamento é sempre construído por algo que nunca foi nosso, somos estimulados pelo exterior e pelos outros, ou seja, pelas as experiências diretas e indiretas de nossa vida.
Nós não somos simplesmente nós, desde que nascemos aprendemos com o que nos rodeia, e, portanto também com as pessoas. Quem julgamos ser, é quem apresentamos ao mundo. É, portanto, muito subjetivo e quase impossível ser original, pois somos todos parte daquilo que outros já foram. Além dos condicionamentos e das educações conscientes ou inconscientes que sofremos. Somos um ser social e não isolado numa redoma de vidro, longe das influências dos costumes e culturas.
Porém, apesar de tudo, estou cansado de ver escritores que têm várias influências que condizem em nada com a proposta deles. O problema é que no Brasil, a maioria praticamente só gosta de coisas que conhece. Tem medo do desconhecido. Prefere ficar na mesmice, porém quando um escritor faz uma literatura diferente e acerta, ele dura o suficiente para ser melhor do que 100 escritores que soam iguais e vão ao embalo de 2 ou 3 que fizeram um sucesso absurdo.
Não digo que é preciso ser 100% original, não tem como ser assim, mas o famoso mais do mesmo não dá mais. E não digo também que faço melhor. A questão aqui é que prefiro errar por tentar algo de novo do que “acertar” praticamente copiando algo já feito, ou seja, sendo sombra dos outros, uma mera caricatura.
Muitos escritores deveriam ser naturais. Ler grandes autores, mas jamais perder sua naturalidade. Segundo o escritor David Morrell, é importante ser você mesmo na hora de escrever, evitando contar uma história de uma maneira que você não está acostumado, já que o leitor escolhe seus autores pelo estilo e pelo tipo de texto que escrevem.
Imagem e texto irônicos sobre certos escritores.
Como dizia Chimamanda Adichie: contar uma única versão sobre nós mesmos pode significar abrir mão de viver. E era só o que nos faltava, ter que fazer uma literatura politicamente correta. O problema não é o que existe, mas o que não existe, o que não está lá. O perigoso é não existirem livros com outras cores e realidades, com diferentes autores e personagens.
A mesmice: um monte de escritores iguais, escrevendo o mesmo tema, que parece que é tudo uma coisa só. O bom é que sempre tem aqueles subversivos, que mesmo não sendo uma obra-prima, são neles que me agarro, fugindo das rimas, enredos óbvios e manjados com um estilo padronizado. O verdadeiro artista continua lá e graças a sua incapacidade de adaptação, a sua loucura, conservou contraditoriamente os atributos mais preciosos do ser humano.
Não obstante às incertezas do tempo presente, sonhar é uma urgência da alma. O sonho, assim como a esperança, é o que dá sentido e leveza ao existir.
Falar de sonhos e ideais sólidos numa sociedade cada vez mais líquida e heterogênea como a de hoje – diria o sociólogo Zygmunt Bauman, marcada por infinitas possibilidades e escolhas, pela liquidez nas relações e, sobretudo, pela notória fragilidade dos sentimentos e desejos humanos – parece um discurso meramente utópico. Afinal, para que perder tempo com sonhos demorados, se a felicidade pode ser “comprada” agora?
O fato é que o homem contemporâneo, de modo geral, está demasiadamente habituado às facilidades dos sonhos prontos, dos caminhos isentos de desafios e dos resultados imediatos. Mais cômodo, portanto, é “comprar” pequenos momentos de alegrias nos grandes shoppings centers, ou ainda, gastar fortunas em passeios glamorosos de finais de semana e sentir-se realizado por algumas horas… Simples assim!
Mas… Quantos realmente sonham e lutam por um grande ideal? Quem, de fato, está apto a encarar as próprias angústias e, sem máscaras, superar a efemeridade dos prazeres fáceis?
As janelas da vida se abrem em cada alvorecer, para que os grandes e pequenos sonhos humanos se tornem realidade. O sonho é o combustível indispensável às lutas e realizações, essa força indomável que nutre esperanças apontando novos horizontes e possibilidades. Nesta travessia de partidas e desencontros cultivar a autoconfiança é pérola imprescindível a todo sonhador.
O idealista não é alguém que finge felicidade, mas um entusiasta da vida que aprendeu o valor do tesouro antes mesmo de encontrá-lo. Aí reside o segredo de acreditar por si. Todavia, aquele que não sonhar e que, neste vasto mundo de amores e dissabores, não souber aonde ir, facilmente se perderá em caminhos indicados por outros, os quais nem sempre o levarão à autorrealização.
Que sonhos você ainda cultiva no peito? O que você tem feito de concreto para torná-los reais?
O tempo passa num piscar de olhos, e com ele, surgem novas inquietações, experiências e as mudanças parecem inevitáveis. No entanto, se você parasse por alguns instantes e revisitasse os caminhos pelos quais passou há alguns anos, certamente reencontraria sonhos que outrora lhe pareciam importantes, mas que hoje talvez não possuam relevância alguma em sua vida. A bela canção de Oswaldo Montenegro, “A Lista”, reflete exatamente isso:
Faça uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar! Quantos amores jurados pra sempre, quantos você conseguiu preservar…
Existência sem mudança é travessia sem crescimento. “Tudo muda o tempo todo no mundo” e viver é estar aberto ao novo, às mudanças internas e externas, é acreditar em ideais revolucionários onde muitos já deixaram de crer em si mesmos e naquilo que são capazes de realizar. É urgente não perder o encanto pela vida nem o entusiasmo perante os sonhos que se acredita. Não obstante às incertezas do tempo presente, sonhar é uma urgência da alma. O sonho, assim como a esperança, é o que dá sentido e leveza ao existir.
Ninguém nasceu para abrir as cortinas da existência e ficar apreciando o “espetáculo” da vida sem atuar. Não! Toda pessoa pode e deve ser muito mais que mero espectador. O mundo clama por sonhadores insatisfeitos e “anormais”, sim, porque ser normal, hoje, é ser igual a todo mundo. No entanto, que mérito há em reproduzir ideias prontas e percorrer estradas aplainadas por outros, quando se é capaz de construir seus próprios caminhos? Fazer o que todo mundo faz é aceitar-se medíocre, e isso é pequeno demais para quem pode ir muito além!
O que a gente precisa entender é que apegos a futilidades passam como o sibilar do vento, o que permanece de verdade são sonhos que cultivamos no peito. Como disse, sabiamente, Renato Russo: “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar nos sonhos que se tem. Confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança”.
Lista de alguns dos grandes filmes existenciais, belíssimos, delicados, intensos, profundos e reflexivos. Pensar no valor da vida, na escala social que diferencia pela posição de classe, status. Quem é cada um em seu mundo particular, na beleza de sua singularidade, surpreendente em assinar com diferença a vida, o cotidiano, ou a repetição do ser moldado
Para os acostumados com o padrão hollywoodiano de fazer filmes, será no mínimo estranho conferir pela primeira vez alguns dos filmes abaixo.
As Virgens Suicidas
Gênero: Drama
Duração: 97 min.
Origem: Estados Unidos
Estreia: 12/05/2000
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Jeffrey Eugenides, Sofia Coppola
Distribuidora: Paramount Pictures
Censura: 14 Anos
Ano: 1999
Sinopse: Durante a década de 70, o filme enfoca os Lisbon, uma família saudável e próspera que vive num bairro de classe média de Michigan. O sr. Lisbon (James Woods) um professor de matemática e sua esposa uma rigorosa religiosa, mãe de cinco atraentes adolescentes, que atraem a atenção dos rapazes da região. Porém, quando Cecília (Hanna R. Hall), de apenas 13 anos, comete suicídio, as relações familiares se decompõem rumo a um crescente isolamento e superproteção das demais filhas, que não podem mais ter qualquer tipo de interação social com rapazes. Mas a proibição apenas atiça ainda mais as garotas a arranjarem meios de burlar as rígidas regras de sua mãe.
Para sempre Lilya
Diretor: Lukas Moodysson
Produção: Lars Jönsson
Roteiro: Lukas Moodysson
Duração: 109 min.
Ano: 2002
País: Suécia/ Dinamarca
Gênero: Drama
Sinopse: Lilya (Oksana Akinshina) tem 16 anos e vive em um subúrbio pobre, em algum lugar da antiga União Soviética. Sua mãe mudou-se para os Estados Unidos, com seu novo marido, e Lilya espera que ela lhe envie algum dinheiro. Após algum tempo sem receber notícias nem qualquer quantia dela, Lilya é obrigada a se mudar para um pequeno apartamento, que não possui luz nem aquecimento.
Desesperada, ela recebe o apoio de Volodya (Artyom Bogucharsky), um garoto de apenas 11 anos que de vez em quando dorme no sofá de Lilya. A situação muda quando Lilya se apaixona por Andrei (Pavel Ponomaryov), que a convida para iniciar uma nova vida na Suécia. Apesar da desconfiança de Volodya, Lilya aceita o convite e viaja com Andrei. Mas a história que se conta é a de uma adolescente que se vê abandonada pela família e pelos amigos, e que, devido a uma sequência de traições e de desilusões, cambaleia continuamente no caminho da felicidade. Para Lilya, a felicidade é fora dali, noutro lugar, noutro país. Se ali é o Inferno, sair dali só pode ser o Paraíso. Mas o Inferno pode ser em qualquer parte e isso cedo deixará de constituir uma surpresa, já que o filme arranca com a protagonista a correr pelas ruas, desesperada e visivelmente maltratada fisicamente, antes de partir para um flashback que nos vai apresentar o seu percurso até ali.
O filme mostra quem vive sentindo as dificuldades na pele, no dia-a-dia e pelos cidadãos ou poder político dos países economicamente estáveis, para os quais o problema se traduz em números (qual a capacidade de absorção e de integração no tecido social, etc.).
http://youtu.be/UGVyhiVUROc
Réquiem para um Sonho
Direção: Darren Aronofsky
Duração: 102 minutos
Gênero: Drama
Origem: Estados Unidos da América
Ano: 2000
Sinopse: Uma visão frenética, perturbada e única sobre pessoas que vivem em desespero e ao mesmo tempo cheio de sonhos. Harry Goldfarb (Jared Leto) e Marion Silver (Jennifer Connelly) formam um casal apaixonado, que tem como sonho montar um pequeno negócio e viverem felizes para sempre. Porém, ambos são viciados em heroína, o que faz com que repetidamente Harry penhore a televisão de sua mãe (Ellen Burstyn), para conseguir dinheiro.
Já Sara, mãe de Harry, viciada em assistir programas de TV. Até que um dia recebe um convite para participar do seu show favorito, o “Tappy Tibbons Show”, que transmitido para todo o país. Para poder vestir seu vestido predileto, Sara começa a tomar pílulas de emagrecimento, receitadas por seu médico. Só que, aos poucos, Sara começa a tomar cada vez mais pílulas até se tornar uma viciada neste medicamento.
Sinopse: Um dos representantes da importante Trilogia do Silêncio de Bergman, conheça a história do pescador que vai buscar ajuda de um pastor quando descobre que a China tem uma bomba atômica e pretende usá-la. Só que o pastor, também temendo a crise nuclear, passa por uma séria crise de fé e teme não poder ajudá-lo.
O Substituto
Diretor: Tony Kaye
Produção: Bingo Gubelmann, Benji Kohn, Carl Lund, Chris Papavasiliou, Greg Shapiro, Austin Stark
Roteiro: Carl Lund
Trilha Sonora: The Newton Brothers
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Drama
Sinopse: Henry Barthes é um professor brilhante com um verdadeiro talento para se conectar com seus alunos. Em outro mundo, ele seria um herói para sua comunidade. Mas, assombrado por um passado conturbado, ele escolhe ser professor substituto – nunca na mesma escola por mais que algumas semanas, nunca permanecendo tempo suficiente para formar qualquer relação com os alunos ou colegas. Uma profissão perfeita para alguém que busca se esconder ao ar livre. Quando uma nova missão o coloca numa decante escola pública, o isolado mundo de Henry é exposto por três mulheres que mudam a sua visão sobre a vida: uma estudante, uma professora e uma adolescente fugitiva.
Trinta Anos Essa Noite
Título Original: Le feu follet
País de Origem: França
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 110 minutos
Ano de Lançamento: 1963
Direção: Louis Malle
Sinopse: São as últimas 48 horas de um homem totalmente perdido. Alain acaba de sair de um hospital onde fazia um tratamento para desintoxicação alcoólica. Sua amante e amiga de sua ex-mulher – que o abandonou – deseja ajudá-lo. Alain volta a Paris e, através dos bares e de velhos amigos, começa uma espécie de busca de si mesmo na reconstituição do passado. Ao final dessa peregrinação, Alain vai se preparar para a grande partida. Considerado por muitos como a obra prima do cineasta Louis Malle.
Na Natureza Selvagem
Diretor: Sean Penn
Roteiro: Jon Krakauer, Sean Penn
Duração: 140 min.
Ano: 2007
País: EUA
Gênero: Drama
Sinopse: Após concluir seu curso na Emory University, o brilhante aluno e atleta Christopher McCandless (Emile Hirsch) abre mão de tudo o que tem e de sua carreira promissora. O jovem doa todas as suas economias – cerca de US$ 24 mil – para caridade, coloca uma mochila nas costas e parte para o Alasca a fim de viver uma verdadeira aventura. Ao longo do caminho, Christopher depara-se com uma série de personagens que irão mudar sua vida para sempre.
http://youtu.be/D4SeyeHEC6I
Orações Para Bobby
Gênero: Biografia, Drama
Origem: Estados Unidos
Direção: Russell Mulcahy
Roteiro: Katie Ford, Leroy Aarons
Ano: 2009
Sinopse: Mary (Sigourney Weaver) é uma religiosa que segue à risca todas as palavras da bíblia. Quando seu filho Bobby (Ryan Kelley) revela ser gay, ela imediatamente leva o filho para terapias e cultos religiosos com o intuito de “curá-lo”. Este é um filme baseado na história verídica de um jovem homossexual, que aos 20 anos suicida-se.
A sua mãe, “Mary Griffith”, interpretada por Sigourney Weaver, a senhora dos ELIEN, sabedora da sexualidade do filho acredita “curar” o filho com base na religião e terapias, para quatro anos depois (1979) Bobby lançar-se de uma ponte. Um filme intenso, dramático, e que espelha ainda hoje a realidade de muitos jovens no mundo. Originalmente feito para TV sendo exibido na noite que antecedia o Oscar, o filme é um dos fortes concorrentes aos prêmios de filmes para televisão. O filme conta com uma boa nota no IMDB.
As Horas
Dirigido por: Stephen Daldry
Gênero: Drama , Romance
Nacionalidade: Reino Unido , EUA
Ano: 2002.
Duração: 115 min
Sinopse: Em três períodos diferentes vivem três mulheres ligadas ao livro Mrs. Dalloway. Em 1923 vive Virginia Woolf (Nicole Kidman), autora do livro, que enfrenta uma crise de depressão e idéias de suicídio. Em 1951 vive Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa grávida que mora em Los Angeles, planeja uma festa de aniversário para o marido e não consegue parar de ler o livro. Nos dias atuais vive Clarissa Vaughn (Meryl Streep), uma editora de livros que vive em Nova York e dá uma festa para Richard (Ed Harris), escritor que fora seu amante no passado e hoje está com AIDS e morrendo.
Os Inocentes
Título Original: The Innocents
País de Origem: EUA
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 110 minutos
Ano de Lançamento: 1961
Direção: Jack Clayton
Sinopse: Algo e estranho e sinistro estava acontecendo naquela casa, pensou senhora Giddens (Deborah Kerr), contratada para cuidar de Flora e Miles, dois irmãos que ficaram órfãos em circunstâncias misteriosas. Com o passar do tempo, Giddens acredita que existe alguma coisa escondida nas trevas da mansão, fazendo com que as crianças tenham um comportamento muito assustador. E a jovem governanta não sabe se terá forças para enfrentar esse perigo oculto na face de crianças inocentes demais para cometer algum mal. Será mesmo? Adaptação da obra de Henry James, “A Volta do Parafuso”.
http://youtu.be/BiW89dreaew
Trainspotting
Direção: Danny Boyle
Gênero: Drama
Origem: Reino Unido
Duração: 94 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 1996
Sinopse: O filme conta a vida de um grupo de jovens viciados em heroína em Edimburgo, na Escócia. Nasceu da adaptação de John Hodge para o romance homônimo. Num subúrbio de Edimburgo, quatro jovens sem perspectivas mergulham no submundo para manter seu vício pela heroína. “Amigos” que são ladrões e viciados, caminham inexoravelmente para o fim desta amizade e, simultaneamente (com exceção de um do bando), marcham para a auto-destruição.
Assim, se a vida do ser humano perde o sentido e a segurança sobre o devir se desfaz, ou seja, não há ninguém que lhe diga sobre o que seria a referência para viver, se tem então a necessidade de curar a angústia através de especialistas, combatê-la pelo envolvimento com as ocupações úteis ou se entregar as drogas. A angústia aponta para a dimensão trágica da existência, a fragilidade, vulnerabilidade e finitude perante a vida e isso as pessoas tendem em não reconhecer.
Sinopse: O exército alemão entrou em colapso. O Terceiro Reich chegou ao fim e os aliados ocuparam a Alemanha na primavera de 1945. Esta situação faz com que a família da jovem Lore (Saskia Rosendahl) se desintegre, já que seu pai (Hans-Jochen Wagner), um oficial da polícia nazista, foge às pressas e logo é seguido pela mãe (Ursina Lardi). Lore recebe instruções para levar seus quatro irmãos mais novos ao encontro da avó, que vive na distante Hamburgo, precisando enfrentar a fome, o frio e os perigos inerentes da viagem.
Sinopse: Na Berlim pós-guerra, dois anjos perabulam pela cidade. Invisíveis aos mortais, eles lêem seus pensamentos e tentam confortar a solidão e a depressão das almas que encontram. Entretanto, um dos anjos, ao se apaixonar por uma trapezista, deseja se tornar um humano para experimentar as alegrias de cada dia.
As Harmonias de Werckmeister
Direção: Béla Tarr
Gênero: Drama
Origem: Hungria
Duração: 145 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2000
Sinopse: János Valuska, um simples carteiro apaixonado por astronomia, vê sua cidade sofrer uma revolta depois da chegada de um circo e suas atrações: uma baleia gigante e um príncipe medonho com seus seguidores, pessoas simples das cidades vizinhas que ficaram seduzidas pelo seu discurso niilista contra a burguesia local.
Poucos diálogos sobre a vida, a morte e a filosofia. Principalmente, a beleza melancólica das imagens propositalmente em preto e branco.
O Cavalo de Turim
Direção: Béla Tarr
Gênero: Drama
Origem: Alemanha
Duração: 146 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2011
Sinopse: Turim, 3 de Janeiro de 1889. O filósofo Friedrich Nietzsche sai de casa. Ali perto um camponês luta com a teimosia do seu cavalo, que se recusa a obedecer. O homem perde a paciência e começa a chicotear o animal. Nietzsche aproxima-se e tenta impedir a brutalidade dos golpes com o seu próprio corpo. Naquele momento perde os sentidos e é levado para casa onde permanece em silêncio por dois dias. A partir daquele trágico evento Nietzsche nunca mais recuperará a razão, ficando aos cuidados da sua mãe e irmãs até ao dia da sua morte, a 25 de Agosto de 1900. Partindo deste evento, o filme tenta recriar o percurso do camponês, da sua filha, do velho cavalo doente e a sua existência miserável.
Amadeus
Direção: Miloš Forman
Gênero: Drama
Origem: Estados Unidos da América
Duração: 160 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 1984
Sinopse: Amadeus é uma adaptação da peça sobre a vida de Mozart, o gênio da música. A história foca em Salieri (Abraham), músico contemporâneo de Mozart (Tom Hulce) que, ao mesmo tempo em que admira e inveja o talento do compositor, o despreza por seu comportamento grosseiro. Salieri se pergunta por que Deus deu tamanho talento a alguém tão vulgar, enquanto ele, esforçado e devoto, está tão aquém de tal genialidade.
A inveja torna Salieri um rival, disposto a usar sua influência na corte de Viena para sabotar Mozart. Não sendo o bastante, após tentar se suicidar, Salieri confessa a um padre que foi o responsável pela morte de Mozart e relata como conheceu, conviveu e passou a odiar Mozart, que era um jovem irreverente, mas compunha como se sua música tivesse sido abençoada por Deus.
Azul é a Cor Mais Quente
Direção: Abdellatif Kechiche
Gênero: Drama / Romance
Origem: França
Duração: 179 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2013
Sinopse: Adèle (Adèle Exarchopoulos) é uma garota de 15 anos que descobre, na cor azul dos cabelos de Emma (Léa Seydoux), sua primeira paixão por outra mulher. Sem poder revelar a ninguém seus desejos, ela se entrega por completo a este amor secreto, enquanto trava uma guerra com sua família e com a moral vigente.
Melancolia
Direção: Lars Von Trier
Gênero: Drama
Origem: Dinamarca
Duração: 130 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2011
Sinopse: O tempo só serviu para afastar as irmãs Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg). Nem o casamento entre Justine e Michael (Alexander Skarsgård) serve como desculpa para aproximá-las e, depois da cerimônia, Justine começa a ficar triste e melancólica. Quando o anúncio sobre a colisão da Terra com outro planeta chega ao conhecimento, as reações são bem diferentes. Justine está conformada, enquanto o desespero do iminente fim apavora Claire.
Donnie Darko
Direção: Richard Kelly (II)
Gênero: Drama
Origem: Estados Unidos da América
Duração: 113 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2001
Sinopse: A história se desenrola em uma atmosfera sombria do fim dos anos 80, em uma pequena cidade claramente dividida entre liberais e conservadores. Nesse turbilhão se encontra Donnie Darko (Jake Gyllenhaal), um garoto considerado problemático com alguns traços de esquizofrenia (assim caracterizado pela psiquiatra que ele frenquenta, Ms. Thurman).
Em uma noite, um coelho monstro gigante acorda Donnie, salvando sua vida, pois repentinamente uma turbina de avião despenca do céu caindo exatamente na cama de Donnie. O coelho monstro gigante ainda profetiza que o mundo irá se acabar dentro de pouco tempo, este mundo, Donnie entederá ser o mundo pessoal dele.
Donnie se mostra dividido entre a realidade e suas alucinações, junto a isso, muitos questionamentos sobre o sentido da vida e, principalmente, da morte.
Filme do Desassossego
Direção: João Botelho
Gênero: Drama
Origem: Portugal
Duração: 90 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2010
Sinopse: A ação decorre em três dias e três noites, num quarto de uma casa na Rua dos Douradores, em Lisboa. Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros, é um homem solitário e atormentado que vai anotando os seus pensamentos e angústias num livro, que intitula de “Livro do desassossego”.
“A solidão absoluta e perfeita do eu, sideral e sem remédio. Deus sou eu!”, escreveu Bernardo Soares.
O filme baseia-se no “Livro do Desassossego” do escritor Fernando Pessoa.
Sinopse: Ramón Sampedro (Javier Bardem) é um homem que luta para ter o direito de pôr fim à sua própria vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com a igreja, a sociedade e até mesmo seus familiares.
Ramón leva quase trinta anos debilitado em uma cama sob os cuidados de sua família. Sua única janela para o mundo é a do seu quarto, junto ao mar por onde tanto viajou e onde sofreu o acidente que interrompeu sua juventude. Desde então, seu único desejo é terminar com sua vida dignamente. A chegada de duas mulheres alternará seu mundo: Júlia (Belén Rueda), a advogada que quer apoiar sua luta e Rosa (Lola Dueñas), uma vizinha do povoado que tentará convencer-lhe de que viver vale a pena. A luminosa personalidade de Ramón termina por cativar a ambas, que terão que questionar como nunca os princípios que regem suas vidas.
Crime e Castigo (versão da BBC)
Direção: Julian Jarrold
Gênero: Drama
Origem: Reino Unido da Grã-Bretanha
Duração: 180 minutos
Tipo: Longa-metragem
Ano: 2002
Sinopse: O longa traz a história de Raskolnikov (John Simm), um inteligente e bem conceituado jovem estudante, que massacrado pelo mundo à sua volta, comete um assassinato para testar sua coragem e princípios.
O filme é baseado na obra do escritor Dostoiévski que vai além da trama e aprofunda-se na trágica história deste anti-herói, um dos personagens mais cativantes da literatura, que combina juventude, paixão e a busca pela essência perdida.
“Trainspotting – Sem Limites” é um filme britânico de 1996, do gênero drama, dirigido por Danny Boyle e com roteiro baseado em livro homônimo do escritor Irvine Welsh. O filme conta a vida de um grupo de jovens viciados em heroína em Edimburgo, na Escócia. Num subúrbio de Edimburgo, quatro jovens sem perspectivas mergulham no submundo para manter seu vício pela heroína. “Amigos”, que são ladrões e viciados, caminham inexoravelmente para o fim desta amizade e, simultaneamente (com exceção de um do bando), marcham para a auto-destruição.
Logo no início do filme “Trainspotting”, apresenta-se a fala de um personagem que diz:
“Escolha viver. Escolha um emprego. Escolha uma carreira, uma família. Escolha uma televisão enorme. Escolha lavadora, carro, CD Player e abridor de latas elétrico. Escolha saúde, colesterol baixo e plano dentário. Escolha viver. Mas por que eu iria querer isso? Escolhi não viver. Escolhi outra coisa. Os motivos? Não há motivos. Quem precisa de motivos quando tem heroína?”.
É com esse discurso inicial no filme que podemos perceber, também, a ideia da procura de controle e de algo padronizado sobre a vida. O costume de escolher carreira, família, carro etc., no discurso desse personagem, nos remete ao conceito de uma vida segura, estabilizada e previsível, onde tudo está no seu lugar. Fugir deste controle é entrar na angústia. Então, se faz necessário criar um sentido para a nossa existência para se combater o sem-sentido que gera a angústia. Nem que este sentido seja escolher um carro ou se tornar um consumidor alienado (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
Através da ciência, no mundo contemporâneo, o homem procura dominar as circunstâncias da vida. Mas há um preço a se pagar por essas ilusões de controle e previsão, que é administrar a angústia no seu modo patológico de expressão, como as fobias, compulsões, estados de pânico e depressão. Então, o ser humano, na sua ilusão de controle sobre o devir, não aceita a angústia como sinalizadora da limitação da ciência e dos padrões sociais de uma vida, que tenta explicar os fenômenos da vida perdendo a angústia como espaço de reflexão privilegiado sobre a existência (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
Assim, “em nosso contexto histórico, a angústia é, em geral, considerada uma condição patológica que deve ser ‘aliviada’ por terapias ou medicamentos. O bem-estar humano encontra-se, cada vez mais, dependente de saberes técnicos especializados” (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, pag. 7, 2009).
Mas o personagem do filme evidencia, desde o início, essa não-necessidade de viver uma vida padrão que tenta ter o controle sobre o devir, no entanto, para compensar a sua angústia de um mundo fora do modelo padrão, ele se envolve com as drogas, quando o mesmo diz: “[…] não há motivos. Quem precisa de motivos quando tem heroína?”. A heroína se torna em uma fuga. O que reafirma também a angústia como algo patológico. Assim, se a vida do ser humano perde o sentido, e a segurança sobre o devir se desfaz, ou seja, não há ninguém que lhe diga sobre o que seria a referência para viver, se tem então a necessidade de curar a angústia através de especialistas, combatê-la pelo envolvimento com as ocupações úteis ou se entregar as drogas. A angústia aponta para a dimensão trágica da existência, a fragilidade, vulnerabilidade e a finitude perante a vida, e isso as pessoas tendem em não reconhecer (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
O sujeito que rompe com as familiaridades cotidianas, com os padrões, com as respostas científicas que passam segurança sobre o devir, mostra que o território da angústia é exatamente esta insuficiência de qualquer território antecipadamente formado ou explicado (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
Se a proliferação de respostas científicas, religiosas, moralizantes e a padronização de uma vida segura não podem deter a devastação do mundo enquanto habitação existencial; se em algum momento o sujeito pode fugir destas respostas, dando a entender que elas não são o suficiente para suprir a falta que ele tem, é perceptível que a angústia é algo que nos é essencial e, sendo assim, assumirmos nossa singularidade é fundamental para que existam outros modos de experiência da angústia, outras formas de desvelamento do real (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
Desse modo, o personagem do filme tenta sair dessa patologização da angústia como marcas recorrentes dos modos de produção de subjetividade na época contemporânea, mas, ao invés de saber lidar com a nova demanda, que é conseqüência de uma vida sem sentido por não ter mais aquela sociedade atual que lhe fornecia este sentido, o personagem se envolve com as drogas para suprir o seu sem-sentido da vida. Isso mostra o quanto a sociedade do consumo, da ciência e da moral, padronizou a subjetividade humana, lhe ensinando como ser feliz, ao invés do próprio sujeito aprender a lidar com a sua singularidade e ser feliz ao seu modo (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
Assim, percebe-se o papel essencial da angústia na dinâmica da singularização da existência humana e a importância da ciência apropria-se desta questão não como uma reforçadora de patologias, mas abrir espaço para os processos de singularização que a angústia pode propiciar, pois é preciso que se aproprie de outras possibilidades, para além das dadas pela ideia de patologizar a angústia. (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
A angústia não pode ser vista como mero transtorno neuroquímico ou subjetivo a ser sanado por algum tratamento farmacológico ou psicoterápico adequado, mas como um espaço para uma nova formação do ser, já que a angústia pode ser uma possibilidade de uma experiência mais própria do existir enquanto ser-no-mundo. Aprender a lidar com ela é aprender a lidar com nosso existir e com tudo o que, a partir dele, nos vem ao encontro (DANTAS; SÁ; CARRETEIRO, 2009).
O que pode ser compreendido nesse contexto é que a vida é insegurança. A cada momento nos dirigimos para uma insegurança maior. É um apostar. Nunca se sabe o que vai acontecer. E é belo que nunca se saiba. Se fosse previsível, não valeria a pena viver a vida. Se tudo fosse como se gostaria que fosse e se tudo fosse uma certeza, não seriamos ser humano, seriamos uma máquina. Só existem certezas e seguranças para as máquinas.
http://youtu.be/Sl6O7sad9hI
REFERÊNCIA:
DANTAS, B. J; SÁ, N. R; CARRETEIRO, C. O. C. T. A patologização da angústia no mundo contemporâneo. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 61, n. 2, 2009.
Young Avengers #4 (2013), de Kieron Gillen, Jamie McKelvie e Mike Norton
“Queríamos fazer uma revista que parecesse 2013, acabando na aurora de 2014. E foi exatamente o que fizemos”, escreveu o roteirista Kieron Gillen ao fim da edição 15 de Young Avengers, última do volume e da equipe criativa atuais, publicada nesta semana. A HQ mais 2013 de 2013, uma boa definição da estrutura e do estilo do run de Gillen e McKelvie. Ou, como escreveu o artista Christian Ward – que colaborou na edição 14 da série –, “Young Avengers é o gibi de super-heróis da geração tumblr”.
Young Avengers é uma história sobre crescimento, juventude, conflito de gerações, relacionamentos, sexualidade, amizade, identidade, culpa. É uma HQ com coração e alma. E com personagens carismáticos – incluindo o mesmo (ou não exatamente) Loki que Gillen trabalhou tão bem em sua sensacional passagem por Journey Into Mistery e vários dos jovens vingadores originais criados pelo produtor e roteirista de The O.C., Allan Heinberg. E mesmo com tantos temas complicados, é uma HQ levíssima, extremamente divertida e descompromissada, com diálogos geniais, humor inteligente e muitas referências à cultura pop e a nossos comportamentos cotidianos contemporâneos.
A arte de Jamie McKelvie – e, em menor grau, de outros ilustradores que colaboraram eventualmente ao longo da série – é um espetáculo à parte, com traços limpos e cheios de expressão, sem falar nas excelentes e, por vezes, bastante inusitadas composições de página. E até as páginas de recapitulação – imitando o tumblr – e de créditos – com um tema diferente a cada edição – são divertidas.
Vai fazer (muita) falta… Então, sugiro que vocês, leitores, aceitem o “convite” do Marvel Boy (o cara da imagem aí em cima), vão com ele e sejam “incríveis” (AWESOME!). Afinal, como escreveu Gillen, também ao fim da 15ª edição da HQ: “Ser um super-herói é espetacular. Salve o mundo”.
fragmentos9 – Fragmentos de genialidade (ou infâmia) da nona arte. Um quadrinho (ou sequência) de cada vez. Seleção arbitrária por nosso comitê (de uma só pessoa). Para mais, visite o tumblelog.