Não obstante às incertezas do tempo presente, sonhar é uma urgência da alma. O sonho, assim como a esperança, é o que dá sentido e leveza ao existir.
Falar de sonhos e ideais sólidos numa sociedade cada vez mais líquida e heterogênea como a de hoje – diria o sociólogo Zygmunt Bauman, marcada por infinitas possibilidades e escolhas, pela liquidez nas relações e, sobretudo, pela notória fragilidade dos sentimentos e desejos humanos – parece um discurso meramente utópico. Afinal, para que perder tempo com sonhos demorados, se a felicidade pode ser “comprada” agora?
O fato é que o homem contemporâneo, de modo geral, está demasiadamente habituado às facilidades dos sonhos prontos, dos caminhos isentos de desafios e dos resultados imediatos. Mais cômodo, portanto, é “comprar” pequenos momentos de alegrias nos grandes shoppings centers, ou ainda, gastar fortunas em passeios glamorosos de finais de semana e sentir-se realizado por algumas horas… Simples assim!
Mas… Quantos realmente sonham e lutam por um grande ideal? Quem, de fato, está apto a encarar as próprias angústias e, sem máscaras, superar a efemeridade dos prazeres fáceis?
As janelas da vida se abrem em cada alvorecer, para que os grandes e pequenos sonhos humanos se tornem realidade. O sonho é o combustível indispensável às lutas e realizações, essa força indomável que nutre esperanças apontando novos horizontes e possibilidades. Nesta travessia de partidas e desencontros cultivar a autoconfiança é pérola imprescindível a todo sonhador.
O idealista não é alguém que finge felicidade, mas um entusiasta da vida que aprendeu o valor do tesouro antes mesmo de encontrá-lo. Aí reside o segredo de acreditar por si. Todavia, aquele que não sonhar e que, neste vasto mundo de amores e dissabores, não souber aonde ir, facilmente se perderá em caminhos indicados por outros, os quais nem sempre o levarão à autorrealização.
Que sonhos você ainda cultiva no peito? O que você tem feito de concreto para torná-los reais?
O tempo passa num piscar de olhos, e com ele, surgem novas inquietações, experiências e as mudanças parecem inevitáveis. No entanto, se você parasse por alguns instantes e revisitasse os caminhos pelos quais passou há alguns anos, certamente reencontraria sonhos que outrora lhe pareciam importantes, mas que hoje talvez não possuam relevância alguma em sua vida. A bela canção de Oswaldo Montenegro, “A Lista”, reflete exatamente isso:
Faça uma lista dos sonhos que tinha, quantos você desistiu de sonhar! Quantos amores jurados pra sempre, quantos você conseguiu preservar…
Existência sem mudança é travessia sem crescimento. “Tudo muda o tempo todo no mundo” e viver é estar aberto ao novo, às mudanças internas e externas, é acreditar em ideais revolucionários onde muitos já deixaram de crer em si mesmos e naquilo que são capazes de realizar. É urgente não perder o encanto pela vida nem o entusiasmo perante os sonhos que se acredita. Não obstante às incertezas do tempo presente, sonhar é uma urgência da alma. O sonho, assim como a esperança, é o que dá sentido e leveza ao existir.
Ninguém nasceu para abrir as cortinas da existência e ficar apreciando o “espetáculo” da vida sem atuar. Não! Toda pessoa pode e deve ser muito mais que mero espectador. O mundo clama por sonhadores insatisfeitos e “anormais”, sim, porque ser normal, hoje, é ser igual a todo mundo. No entanto, que mérito há em reproduzir ideias prontas e percorrer estradas aplainadas por outros, quando se é capaz de construir seus próprios caminhos? Fazer o que todo mundo faz é aceitar-se medíocre, e isso é pequeno demais para quem pode ir muito além!
O que a gente precisa entender é que apegos a futilidades passam como o sibilar do vento, o que permanece de verdade são sonhos que cultivamos no peito. Como disse, sabiamente, Renato Russo: “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar nos sonhos que se tem. Confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança”.