Uma poderosa mulher deu origem a uma das bebidas mais famosas do mundo

Veuve Clicquot

Jovem inteligente, visionária, determinada e mulher de negócios. Não estamos falando de ninguém que prospera no século 21, e sim de uma mulher do século 19.

Barbe-Nicole nasceu em 1777 na cidade de Reims, na França. Era filha de Nicolas Ponsardin, um grande empresário da indústria têxtil.

Como a economia  do período era muito baseada nos vestuários e em tecidos, o pai dela se tornou um homem muito rico. Foi nesse contexto de alta aristocracia e nobreza que Barbe-Nicole cresceu.

Mais tarde se tornaria uma das mulheres de negócios mais poderosas e influentes da Europa.

Em 1798, em meio à efervescência política causada pela Revolução Francesa, Barbe-Nicole casou-se com François Clicquot. François havia herdado uma empresa de seu pai, chamada de Maison Clicquot-Muiron, que se dividia entre serviços bancários, comércio de lã e fabricação de bebidas.

Tudo mudou em 1805, quando François veio a falecer. Alguns dizem que foi por febre infecciosa; outros, que ele se suicidou. Independentemente do motivo, o fato é que, agora, Barbe-Nicole era a viúva Clicquot – ou, se preferir, veuve Clicquot, em francês.

Embora não tivesse experiência alguma com vinhos, ela sempre acompanhava seu marido em viagens de negócio e era curiosa o bastante para querer entender como funcionava a produção e o mercado de bebidas.

Apesar disso, a grande dama de Champagne, como também ficou conhecida, tinha, anteriormente, uma vida dedicada a ser dona de casa e servir ao marido. Mas, depois da morte de François, Clicquot tomou uma decisão corajosa: assumir todos os negócios do marido falecido.

Partiu, então, para uma jornada empreendedora de muito sucesso e desafios. Primeiramente, optou por focar só na produção de vinhos; em seguida, empenhou esforços para tornar o produto popular entre os soldados estrangeiros e na sociedade burguesa.

E conseguiu. A bebida se expandiu pelas cortes europeias e posteriormente ganhou o mundo, tornando-se uma das marcas mais valiosas e consumidas de champagne. Aos 40 anos, Clicquot era uma das mais ricas empresárias da Europa.

Veuve Clicquot

A dama do champagne, além de visionária e inteligente, foi inovadora. Com certeza uma das principais contribuições dela foi a criação do remuage, uma rotação semanal pela qual as garrafas deveriam passar. Após o processo, a bebida ficava límpida e cristalina.

Clicquot também participava de cada etapa de comercialização do produto. Com a visão de negócios que possuía, transformou o Veuve Clicquot em um dos vinhos mais importantes do mundo até hoje.

Faleceu aos 89 anos, sem ter se casado novamente. Barbe-Nicole Clicquot abriu portas e inspirou gerações.

Em 1972, foi criado o Prêmio Veuve Clicquot da Mulher de Negócios, em homenagem a essa destemida e imponente mulher. Desde sua criação, já foram premiadas mais de 300 mulheres em 27 diferentes países.

6 iniciativas de jornalismo independente para ficar de olho

jornalismo independente

O jornalismo é uma área essencial para o desenvolvimento da sociedade, já que são os profissionais da área que se comprometem com a verdade e mostram ao mundo as notícias e as novidades de cada categoria.

Porém, quando o jornalismo é controlado por grandes empresas, organizações políticas ou redes de mídia, a verdade pode ser relativa, pois há um interesse muito grande na exposição dos fatos.

Neste contexto, surgiram os canais independentes de jornalismo, que buscam noticiar com máxima veracidade e clareza as novidades do país e do mundo. Essas iniciativas se deram graças ao avanço da internet e, desse modo, os canais não precisam do apoio de grandes redes.

Confira abaixo 6 iniciativas de jornalismo independente para você ficar de olho:

Ponte

Uma organização sem fins lucrativos composta por vários profissionais da área de jornalismo e comunicação. A Ponte foca os esforços em noticiar a verdade sobre segurança pública, direitos humanos e justiça.

O objetivo desse veículo é dar voz aos injustiçados e vítimas do sistema, mostrando histórias que são excluídas das redes clássicas por conta de interesses externos. Como a Ponte não possui vínculos políticos e econômicos, tem liberdade total para expor a insegurança do país.

Nexo

Este outro veículo de informação possui uma ampla abordagem, estando dividido em diversas categorias. O objetivo geral deles não é apenas apresentar fatos de uma área específica, e sim esclarecer e noticiar de forma clara e de fácil entendimento.

O Nexo tem como público-alvo pessoas que querem uma interpretação mais equilibrada, sem complicações, para que possam compreender melhor as notícias.

Agência Pública

A pioneira do jornalismo independente brasileiro. Objetiva-se em publicar as notícias do ponto de vista popular, garantindo o direito à informação para todos, fazendo um jornalismo mais claro e aberto.

A Agência Pública também se destaca por incentivar os outros veículos independentes, apoiando organizações – como a Ponte – com programas de mentorias, bolsas entre outras atividades oferecidas.

Aos Fatos

Em tempos de crise política, a organização Aos Fatos assume uma grande responsabilidade na averiguação dos discursos políticos e documentos públicos.

Os jornalistas que atuam nela se comprometem em descobrir se as informações publicadas são realmente verdadeiras.

Essa plataforma categoriza as declarações públicas de cinco formas diferentes:

  • Verdadeiras;
  • Imprecisas;
  • Exageradas;
  • Falsas;
  • Insustentáveis.

Draft

Essa organização foge um pouco do jornalismo investigativo e político dos outros jornais independentes e foca mais nas inovações tecnológicas do mundo do empreendedorismo.

O principal foco do Draft é analisar o impacto de novas empresas criativas e startups na economia e no mercado atual.

AzMina

Representando o público feminino, a organização AzMina procura utilizar o jornalismo como arma contra os abusos e violências contra a mulher, noticiando as histórias desse tema e realizando campanhas virtuais para conscientização dos direitos femininos.

A equipe é composta por uma grande porcentagem de jornalistas mulheres que contribuem com notícias investigativas, artigos e publicações, garantindo acesso à informação para todas as mulheres e expondo os abusos que elas sofrem.


A faculdade de comunicação e de jornalismo é um grande berço de iniciativas independentes, já que os jovens em formação e os recém-formados buscam nessas iniciativas espaço para começarem suas carreiras lutando pelo que acreditam.

Conhece algum outro veículo independente de destaque que não foi citado aqui? Compartilhe conosco!

Michael Jordan: esportista e uma mina de ouro

michael jordan

Cinco vezes MVP (melhor jogador da temporada da NBA), seis vezes MVP das finais, dez vezes cestinha, seis vezes campeão da NBA. A lista de prêmios é extensa e pertence a Michael Jordan, considerado o maior jogador de basquete de todos os tempos.

Não bastassem os números dentro de quadra, Jordan, que se aposentou em 2003, tornou-se um dos atletas mais rentáveis do mundo, sendo porta-voz de várias marcas ao longo da carreira, como Nike, Coca-Cola, Chevrolet e Gatorade.

A Forbes elegeu Michael Jordan como a vigésima celebridade mais poderosa do mundo em 2010. Em 2015, o mesmo veículo decretou: Jordan tem uma fortuna avaliada em US$ 1 bilhão. Com o feito, tornou-se o primeiro atleta a entrar para a lista de bilionários da revista.

Os ganhos são diversificados. Grande parte da fortuna do ex-jogador é proveniente dos contratos com a Nike, mas o bem mais valioso de Jordan é o time de basquete Charlotte Hornets. Comprado em 2010 por US$ 275 milhões, teve receita de US$ 725 milhões em 2015.

michael jordan

De apelido a marca multimilionária

Michael Jordan entrou na NBA em 1984, jogando pelo Chicago Bulls. Seus incríveis saltos e enterradas levavam o público ao delírio, o que fez o ex-atleta ser apelidado de Air Jordan e His Airness. A Nike foi visionária e foi a primeira empresa a vislumbrar seu potencial lucrativo.

MJ fechou um contrato de US$ 500 mil por cinco anos com a marca no mesmo ano em que entrou para o Bulls. Em 1985, a Nike lançou uma linha de tênis assinada pelo jogador, com o mesmo nome com o qual era apelidado: Air Jordan.

O sucesso foi estrondoso. Depois de mais de três décadas e vários comerciais, a linha continua gerando muita receita para o astro e para a Nike.

De acordo com projeção feita pela companhia, até 2020, a marca Air Jordan deve chegar aos US$ 4,5 bilhões em receitas anuais.

O sucesso midiático levou MJ também às telas de cinema. Em 1996, ele contracenou com Pernalonga e Patolino, personagens de Looney Tunes, no filme Space Jam.

Na história, Jordan é convocado para vencer um jogo de basquete contra extraterrestres. Foi um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US$ 90 milhões nos Estados Unidos.

michael jordan space jam

De lá para cá, são diversos produtos licenciados: bolas, chaveiros, camisetas. Os ganhos com publicidade são astronômicos. Em 2015, Frederick Sperling, advogado do ex-atleta, fez um cálculo e descobriu que o nome de MJ vale nada mais nada menos do que US$ 10 milhões.

Dream come true: IronMan Barcelona 70.3

ironman barcelona

Percorrer mais de 12 mil quilômetros para conhecer uma cidade, sozinho, carregado com uma bicicleta, uniforme de triathlon, roupa de neoprene para natação, sapatilha para o pedal e tênis para a corrida foi o desafio que tracei para minha vida no dia 21 de maio de 2017.

Embarquei na rodoviária de Passo Fundo rumo a Porto Alegre para pegar o voo para Lisboa e posteriormente para a cidade de Barcelona, onde iria participar do IronMan na distância média (113 quilômetros entre natação, ciclismo e corrida).

Antes de seguir com o relato tenho que agradecer amigos e professores que ajudaram na preparação para encarar a prova. Ao total foram três meses, somando 45 treinos de ciclismo, 44 de corrida e 26 de natação, seja o amigo Leonardo auxiliando nos treinos durante os fins de semana na barragem do Capingui, amigos nos pedais, orientações dos professores Tomaz Bigliardi e Vinicius de Moura, embarcamos neste projeto além fronteiras.

Também fundamental, diria mais, pilares que solidificaram este sonho, foram os patrocinadores Viv Mizik e Villa Vergueiro Hotel, apoiadores Win Natação e Assessoria Esportiva, Rodrigo Arenhart Bike Fit, Med Call, Sicredi, Wagner & Cia, La Parola, Correria e Center Care.

Mas seguindo, um voo tranquilo até Portugal, porém preocupado com o horário de embarque da escala para Barcelona pois o tempo estava apertado. Antes do embarque era necessário enfrentar um trecho de ônibus no interior do aeroporto de Lisboa (trecho da área de desembarque para área de embarque), encarar a fila da imigração, encarar a fila dos detectores de metais e ainda encontrar o portão 17 onde ocorreria o embarque. Fiz este trecho correndo, consegui chegar a tempo e embarcar para Barcelona.

Mais uma hora e meia de voo, estava eu finalmente em solo catalão. A missão era buscar a bicicleta. Pense num aeroporto grande, agora multiplique. Após percorrer o saguão, já de cara encontrei uma loja do time de futebol do Barcelona, segui como meta a busca da mala onde estava a bicicleta, a mala das roupas não era uma preocupação.

Eis que existem muitas esteiras para entregar as malas aos passageiros, eis que a minha esteira era a de número 8, começou a girar a esteira e lá veio a minha mala de roupas girando… e nenhum movimento da mala que tinha a BICICLETA.

Passou o tempo, o suor, o frio na barriga começou a tomar conta, porque todo mundo pegou suas bagagens e eu estava sem a minha principal bagagem, afinal era a minha bicicleta que iria me conduzir 90 quilômetros pelo desafio do IronMan Barcelona.

Imediatamente avistei um posto de informações. Corri. Naquele momento não sei se falei em inglês, português ou castelhano. Quando o funcionário entendeu as palavras “bicicleta” e “pacote grande” disse: já verificou na esteira de bagagens especiais que fica ao final do corredor das esteiras?

Corri outra vez. E por sorte e competência da empresa de transporte aéreo lá estava a minha bicicleta, meu Corcel Negro. Pensei: agora só falta montar a bike.

Procurei um carrinho para poder transportar as duas malas grandes e a mala de mão. Um detalhe: todos estes equipamentos como malas e outros foram emprestados por amigos de Passo Fundo, obrigado.

E agora como vou para o local da prova? Já havia pesquisado que era uma localidade chamada Calella (que na pronúncia é Caleia, mas isso demorei três dias para aprender a falar). Segui em busca de um ônibus, saí do aeroporto, atravessei a rua, escapei dos táxis e encontrei um rapaz com uma bicicleta, segui até ele e puxei conversa: algo como IronMan!!!

Me falou que era da República Tcheca e que vivia em Dubai, e às vezes participava de provas de triathlon. Logo em seguida chegou outro rapaz com uma bicicleta, chamava-se Manuel, este era venezuelano. Meus Deus, mais um latino-americano perdido aqui, pensei.

Enfim o ônibus chegou, seguimos conversando sobre a vida, um pouco em inglês outro pouco em espanhol, chegamos a Calella e cada um seguiu para a sua hospedagem.

Tive muita sorte, descolei um dos melhores hotéis da costa e distante 300 metros do local da prova. O hotel me custou, na beira da praia, com elevador panorâmico (vista para o mar), quarto com banheira, terraço com duas jacuzzi, mais café da manhã: R$ 190 por dia, parcelados em 10 vezes.

Faço um comparativo, verifica quanto é o custo de um hotel na beira da praia em Itapema a diária??? HAHAHAHAHAH. Outro detalhe, a passagem ida e volta custou R$ 2.700, também parcelados em dez vezes, o que muita vezes parece ser inatingível, na verdade pode ser falta de planejamento.

De pronto já queria saber onde montar a bicicleta ou como faria isso, conversei com Ricardo, um dos gerentes do hotel, pessoa incrível, catalão puro como ele diz, me entregou um folder onde poderia montar a bike. Fiquei amigo de Ricardo.

Segui pela rua e encontrei o mecânico Alberto tomando um café, numa mistura de português com castelhano descobri que o custo para montar a bike era 20 euros. Pensei, nem vou arriscar montar, vou pagar 20 euros. Corri até o hotel, trouxe a maleta e Albert montou a bike. Ainda teve um momento de tensão: quando havia se perdido no interior da maleta um parafuso de uma das rodas, e ele dizia: onde está? Estamos mal, se não encontrarmos. Gelei a alma mais uma vez, mas em alguns segundos encontramos o tal parafuso. Fiquei amigo de Alberto.

Dia da prova

Tive sorte porque o colega de IronMan que estava hospedado no quarto ao lado era brasileiro e muito gente boa, Rogério, mora na Europa há bastante tempo e estava com a família para participar do seu vigésimo quarto Ironman (viveu um tempo na Bósnia e agora estava morando na Alemanha). Tomamos café e seguimos para a área de transição da bike e natação.

O dia estava lindo, nascer do sol pintava o céu com um vermelho incrível. Perdi minha touca de natação, até descobrir que para falar touca tinha que dizer gorro. Fui em busca de outra, consegui.

Deu a largada dos profissionais, desta vez as largadas foram feitas em ondas, quem achava que faria a natação em 25 minutos, 30 min, 35 min, 40 min, 45 min, 50 min, resolvi largar na onda dos 40 min.

A natação seguia na forma de retângulo, na primeira boia tomei um soco no olho, mas beleza segui forte, trabalhando bastante a braçada esticada. Na primeira curva já ultrapassava alguns competidores. Segui com a respiração 2 e 1, intercalando o lado da respiração, um pouco esquerda outro direita. O mar estava lindo, se enxergava os pés, cheguei até a segunda boia, da curva, agora era voltar.

Entrei num cardume e erramos 80 metros. Saí da água bem, fechando em 37 minutos, nos cem metros finais acelerei, achei que era o César Cielo (ahauhauah).

Chegou a bike, era a hora de pegar o Corcel Negro e enfrentar as montanhas da Europa.

Retirei a roupa de neoprene, coloquei capacete, meias e sapatilhas, esqueci de secar os pés, coloquei óculos de sol e segui (demorei seis minutos até chegar a parte da cronometragem do chip do tempo).

Segui, uma prova de bike dura, muita subida, quando pensava que havia vencido uma subida, lá estava outra subida, e ainda enfrentando frio, no pé da montanha é frio!!! A alegria era imensa, não havia nenhum veículo na rua, apenas triatletas percorrendo seu trecho de bike, cada um no seu ritmo. Após percorrer 45 km de subida, começou a descida, foi nesse momento que o Rogério passou por mim como um foguete.

Doce ilusão, ia ter mais subida à frente sim, intercaladas, com pouco menos de intensidade, faltando 10 quilômetros para o fim da prova, um rapaz estava parado, resolvi gritar “do you need something?” e ele gritou “yes”, havia furado o pneu, parei a bike e entreguei uma câmera, o CO2, equipo para usar o CO2, nunca mais me devolveu, fiquei feliz em ajudar.

Fechei a bike em 3h 36min. Levei a bike na moral, poupando para a corrida.

ironman barcelona

Calcei meu tênis, um baita tênis, macio e leve (New Balance, o que usei durante toda a preparação), coloquei a bandeira do Brasil (bandeira emprestada pelo amigo Dudu) em um compartilhamento na roupa e segui encarar os 21 km. Controlei o batimento cardíaco na casa dos 160, em alguns momentos forçava e em outros o corpo e a cabeça me pregavam peças, mas agora faltava pouco para que meu sonho se tornasse realidade.

Na última curva antes da linha da chegada, puxei minha bandeira e segui agitando a galera, chorei, sorri, enfim.

A adrenalina e a emoção de conquistar o que se almeja tem um sabor que somente aqueles que acreditam sempre e decidem seguir em frente conhecem.

Essa vitória não é só minha, é de todos os amigos e familiares que ajudaram a levar o nome do Brasil além fronteiras, sem que seja uma notícia de corrupção.

ironman barcelona

Roosevelt recebe exposição que retrata o Pixo no centro de São Paulo

Pixo

“Quem não é visto não é lembrado”, como já cantou Mano Brown. A necessidade de ocupar o espaço público e deixar seu registro pela cidade não vêm de hoje. Contestar seu valor histórico e artístico também não.

Sendo a principal forma de expressão da plebe, a pichação começou no Império Romano e, desde aquela época, era não só discriminada como também reprimida.

Dentro desse contexto polêmico, Fellipe Lopes, fotógrafo paulistano, engajado em produções artísticas audiovisuais, criou o [CentrøPixø], série fotográfica que propõe uma visão analítica e sensível sobre o pixo e sua relação com a cidade.

Em seus passeios por São Paulo, a pé ou com sua bike, o artista capturou o cotidiano das pessoas, focalizando na presença das pichações como plano de fundo da vida delas.

pixo

“O pixo é protesto visual, livre expressão e é grito de liberdade. Ele está lá, resistindo, no caminho do trabalho, indo pro rolê, todo dia, toda hora e em todo lugar. Muitas vezes passa despercebido, mas faz parte da vida da gente. É o ‘plano de fundo’ na Babilônia paulistana, refletindo o caos de uma sociedade injusta’’ comenta.

[CentrøPixø] levanta a discussão sobre a predominante presença do pixo na região central e o quanto ele vai desaparecendo de outras áreas mais elitizadas da cidade.

“Comecei pelo centro velho: Sé, República, Anhangabaú, e vim subindo a Augusta. Pouco antes de chegar na Paulista, as pichações começam a sumir e na avenida mais famosa de todo o rolê, já não se acha pixo nenhum”.

A Pichação é uma prática que pode ser encarada por muitos como manifesto, escrita contestatária, por ser, desde sua origem, expressão gratuita, subversiva e que rompe certos valores sociais das classes dominantes. Bate de frente com a questão do que é Arte, do belo e da liberdade de expressão.

O fato é que ela já faz parte da paisagem urbana de forma orgânica e sua existência pode ser considerada uma interferência espacial característica de uma cidade como São Paulo.

Confira algumas fotos de Fellipe Lopes e que fazem parte da exposição:

Pixo Pixo Pixo Pixo

Serviço

Projeto [CentrøPixø] – Sábado, 27 de maio, das 16h/ 21h. Praça Franklin Roosevelt, 76, São Paulo. Exposição gratuita e aberta ao público.

O Blues vive na Ilha: TBZ Blues lança Tribuzana em show em Florianópolis

tbz blues

Há mais ou menos um ano fui conhecer um bar em Florianópolis chamado Doctor Julio Pub.

A esperança era de ter uma noite divertida com os amigos em um lugar com boa música, ambiente legal e cerveja gelada.

Nesse bar, vi pela primeira vez a banda TBZ Blues tocar. No palco, quatro ótimos músicos emendaram um clássico atrás do outro (Howllin’ Wolf, Muddy Waters, JJ Cale, Allman Brothers, Bo Didley e Robert Johnson aplaudiriam as versões) e aproveitaram alguns espaços para apresentar músicas próprias.

Trago essa história porque naquela noite eu gostei muito dessa banda. E acho justo eu recomendá-la para quem gosta de ouvir um blues classudo e bem tocado. Tanto que até gravei um vídeo.

O TBZ Blues está prestes a lançar seu primeiro álbum, Tribuzana. O show de lançamento vai ser dia 9 de maio, no Teatro Álvaro de Carvalho, em Florianópolis.

A noite promete ser muito boa e estaremos lá para presenciar, registrar e contar como foi. Além do show, haverá degustação de cerveja artesanal e tortillas. Também estarão sendo arrecadados alimentos não perecíveis no evento para instituições de caridade. Contribua!

Abaixo, deixo algumas informações para você conhecer a banda, o álbum, o projeto e como participar dessa celebração do blues nacional!

TBZ Blues

TBZ Blues

Nascido do encontro de músicos numa Jam Session em 2012, o TBZ Blues se consolidou em Floripa como uma das poucas bandas que toca regularmente um repertório de clássicos de Blues, R&B e afins, se destacando no cenário musical da cidade.

A banda é formada pela força do vocal e guitarra de Marcel Coelho, manezinho da ilha, autodidata, que capitaneia a banda com muita garra, despejando todo seu talento em solos enérgicos.

O baixo sólido e marcante do paulistano Renato de Carvalho, experiente músico radicado em Floripa que ao longo da sua carreira musical também tocou com músicos norte-americanos, durante sua estadia no exterior.

A bateria precisa, com swing, é levada com maestria por Martín Bustingorri, músico muito atuante no cenário catarinense.

Posteriormente, a banda passou a contar com o som rouco do sax tenor de Xuan Arfenoni, jovem argentino fortemente influenciado pelos saxofonistas dos anos 40/50.

Tribuzana

Em “Tribuzana”, seu primeiro álbum autoral, a banda traduz as realidades “Blues” da Ilha da Magia, cantando os amores e desamores à contemplação dos fortes ventos que sopram na região.

Um disco eclético, que tem influências do Blues e suas vertentes, mas que vai além, pela sua criatividade e busca da própria identidade.

O primeiro clipe do álbum já foi lançado. A música escolhida foi Vanessa. Assista abaixo:

Projeto TAC 8

O TAC 8 em Ponto é uma ação da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), que teve início em março de 2012. O projeto apresenta todas as terças-feiras espetáculos de música, dança e teatro no palco do Teatro Álvaro de Carvalho, espaço administrado pela FCC em Florianópolis.

Foi baseado no modelo do antigo TAC 6:30, projeto de grande sucesso na década de 1990. O objetivo é promover a cultura catarinense por meio da realização de apresentações artísticas semanais.

Serviço

TBZ Blues

O quê: Lançamento do álbum “Tribuzana” por TBZ Blues – TAC 8 em Ponto

Quando: 09/05/2017, às 20h

Onde: Teatro Álvaro de Carvalho (TAC) – Rua Marechal Guilherme, 26 – Centro – Florianópolis (SC)

Quanto: Inteira: R$20,00 | Meia-entrada: R$10,00

Venda Online: http://www.blueticket.com.br/19759/TBZ-Blues/?obj=busca

Realização: Saravá Cultural Produções, TBZ Blues e Fundação Catarinense de Cultura.

Apoio: The Brick House

Outras informações no evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/202630383573165/

A melhor forma de gravar uma música, segundo Keith Richards

Existe toda uma mística por trás de cada gravação de uma música. Tão importante quanto as letras rascunhadas em papel é a timbragem do instrumento, mixagem, posição de microfones na captação, ambiência da sala, e até estado de espírito do músico no estúdio.

De um tempo pra cá, as gravações analógicas perderam um grandioso espaço para as digitais. Programas de edição de áudio profissional e o exorbitante número de canais disponíveis são os meios mais utilizados na maioria dos estúdios. Resta, ainda, a velha guarda, que gosta de captar o som da forma como ele é, ao vivo, como se fosse uma apresentação, um ensaio ou enfim, que faça parecer mais puro e menos editado.

Keith Richards é um cara que gosta dessa simplicidade. Em sua estupenda autobiografia, Vida, ele fala qual é a melhor maneira de gravar uma música dos Rolling Stones. Reproduzo abaixo a citação do genial guitarrista:

Dickinson me fez lembrar a rapidez com que fazíamos as coisas naqueles dias. Como consequência da excursão, já estávamos bem ensaiados. Mesmo assim, ele lembrou que tanto “Brown Sugar” como “Wild Horses” foram gravados em dois takes – o que jamais aconteceria mais tarde, quando eu passava quarenta ou cinquenta variações de uma música, atrás daquela faísca. O bom de gravar em oito canais era que bastava apertar o botão e ir em frente. Era o formato perfeito para os Stones. Você entra no estúdio e já sabe onde a bateria vai ficar e o som que vai produzir. Logo depois, apareceram dezesseis e mesmo 24 canais e fica todo mundo esbarrando em volta daquelas mesas enormes. Ficou muito difícil gravar. A tela ficou enorme e é muito mais difícil achar o foco. O oito canais é minha forma preferida de gravar uma banda de quatro, cinco ou seis músicos”.

Capa de Vida, autobiografia de Keith Richards

Em Vida, Keith Richards conta, de maneira crua e feroz, sua história, vivida de forma intensa. “Esta é minha vida. Eu não esqueci de nada, acredite se quiser”, diz Keith na introdução.

10 curiosidades sobre Alice e seu criador Lewis Carroll

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Já se passaram mais de 150 anos desde o lançamento do absoluto clássico da literatura Alice no país das maravilhas, do britânico Lewis Carroll. Se você vive em algum planeta do Sistema Solar, você sabe de qual livro estamos falando, então dispensaremos apresentações.

Catalogado equivocadamente muitas vezes como um livro infantil, a obra ultrapassa os limites de faixa etária e tudo mais. É psicodélica, imaginativa, crítica e atemporal. Dessa história, são tiradas lições e ideias para crianças, pré-adolescentes, adolescentes, adultos e idosos. Tudo depende do contexto inserido.

O Blog da Cosac Naify publicou essas dez curiosidades sobre a personagem e o autor que reproduzo abaixo. A editora, é bom lembrar, está lançado um box de luxo especialíssimo com os livros Alice no país das maravilhas Alice através do espelhoa continuação da história, lançada seis anos depois da original. A caixa está disponível e já pode ser encomendada.

Lewis Carroll

1. O nome de batismo de Carroll é Charles Lutwidge Dodgson. O pseudônimo Lewis Carroll foi adotado em 1856, por sugestão do editor da revista The Train, na qual o autor publicou seus primeiros contos e poemas.

2. A famosa personagem de Carroll é inspirada em Alice Liddell, que o autor conheceu em 1856, então com três anos de idade. A pequena era filha do meio de Henry Liddell, amigo de Lewis Carroll e decano da Christ Church, a mais prestigiosa instituição da Universidade de Oxford.

3. Alice no País das Maravilhas surgiu durante um passeio de barco com as três filhas de Henry Lindell, em 4 de julho de 1862. Carroll improvisou uma história fantástica em que Alice, a sua preferida entre as irmãs, era a personagem principal.

4. No final daquele mesmo ano, a história da menina que caía em um buraco se transformou em livro, atendendo ao pedido dela. As aventuras de Alice debaixo da terra era o título do livrinho que Lewis Carroll deu para Alice como presente de Natal.

5. Lewis Carroll teve por anos a fotografia como um de seus passatempos prediletos. Abaixo, uma imagem de Alice Liddell, já com dezessete anos, que integra o 9º volume da coleção Photo Poche, dedicado à produção fotográfica de Carroll:

Alice Liddell - 17 anos

6. Uma nova adaptação cinematográfica de Alice através do espelho está prevista para 2016. O elenco inclui Johnny Depp, Anne Hathaway e Helena Bonham Carter.

7. O primeiro a ilustrar Alice no País das Maravilhas foi o inglês John Tenniel, celebrado artista da época, em 1865. Sete anos depois, quando Carroll publicou Alice através do espelho, Tenniel também assinou as ilustrações.

8. Alice no País das Maravilhas e Alice através do espelho tiveram suas primeiras adaptações cinematográficas em 1903 e 1915, respectivamente.

https://youtu.be/Ke25rh_8veM

9. A rainha Vitória e Oscar Wilde eram fãs assumidos da saga de Alice.

10. Nos anos 1930, Alice no País das Maravilhas foi banido na China, porque alguns julgavam desrespeitoso que personagens animais fossem capazes de usar a linguagem humana.

alice no país das maravilhas ilustração original em cores (2)

Como seriam as casas de diretores do cinema se elas fossem baseadas em seus próprios filmes

O ilustrador Federico Babina, mais uma vez, achou uma maneira de demonstrar sua fissura e paixão por três artes em comum: ilustração, cinema e arquitetura.

Imaginando como seriam as casas de icônicos diretos de cinemas se elas fossem baseadas em seus filmes, Babina criou uma série ilustrativa denominada Archidirector. A série segue os mesmo moldes de outra série, Archicine, em que Babina ilustra famosas casas e construções de determinados filmes.

Nesse trabalho, o italiano mostrou sua admiração por nomes como Federico Fellini, George Lucas, Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick, Wes Anderson, Charlie Chaplin, David Lynch, Tim Burton, Lars von Trier, Ingmar Bergman, Irmãos Coen, Fritz Lang e mais.

Confira na galeria abaixo e tente identificar quais filmes de cada diretor foram utilizados para a criação dos modelos:

Stanley Kubrick
Stanley Kubrick
Wes Anderson
Wes Anderson
Tim Burton
Tim Burton
Alfred Hitchcock
Alfred Hitchcock
Lars Von Trier
Lars Von Trier
Zhang Yimou
Zhang Yimou
Wim Wenders
Wim Wenders
Ridley Scott
Ridley Scott
Peter Greenaway
Peter Greenaway
Michelangelo Antonioni
Michelangelo Antonioni
Michel Gondry
Michel Gondry
Krzysztof Kieslowski
Krzysztof Kieslowski
 Jim Jarmusch
Jim Jarmusch
Irmãos Coen
Irmãos Coen
Ingmar Bergman
Ingmar Bergman
George Lucas
George Lucas
Fritz Lang
Fritz Lang
Charlie Chaplin
Charlie Chaplin
Federico Fellini
Federico Fellini
Emir Kusturica
Emir Kusturica
Elia Kazan
Elia Kazan
David Lynch
David Lynch
Andrei Tarkovsky
Andrei Tarkovsky
Blake Edwards
Blake Edwards
Abbas Kiarostami
Abbas Kiarostami
Aki Kaurimaski
Aki Kaurimaski
 Jacques Tati
Jacques Tati

Federico Babina - Archidirector City

 

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A História de Buda

história de buda

“Buda” é o título dado ao grande mestre da filosofia do Budismo, uma antiga abordagem de pensamento que incentiva o homem à busca de compaixão e sabedoria sobre a realidade e os fenômenos naturais, de forma que essa compreensão possa agir como eliminatória do sofrimento humano, servindo então como um meio para se conquistar a felicidade.

Partindo do entendimento de que todos os desejos e interesses humanos são impermanentes, transitórios e impessoais, o mestre Buda chegou à conclusão de que dor e sofrimento são causados principalmente pelo apego ao ego (eu interior), que na verdade não passa de uma ilusão criada pelo homem em sua incessante busca por satisfação, esta que nunca lhe é plena.

A história de Buda (Siddhartha)

Mas então, qual é a história por trás desta lenda da filosofia que hoje inspira o pensamento de aproximadamente 400 milhões de pessoas no mundo todo?

Reza a lenda, Buda nasceu há cerca de 2.600 anos em um pequeno reino onde atualmente fica o Nepal.

Conta a história que, em certo dia, a rainha Maya regressava ao vilarejo onde os pais moravam para dar à luz seu filho (como era tradição naquele tempo). Era um longo caminho pela frente, e por isso a caravana na qual ela viajava parou para que todos pudessem descansar um pouco. Nesse meio-tempo, Maya resolveu fazer um breve passeio pelas matas da região, apenas para espairecer a cabeça. Durante sua excursão, subitamente ela sentiu intensas dores na barriga que anunciavam a chegada prematura de seu bebê. Nesse momento, uma grande árvore, compreendendo a importância do momento, se curvou à sua presença e a englobou, oferecendo seus ramos para ela se apoiar.

Minutos depois, dizem que a criança nasceu quase sem dor; sua pele era bronzeada e brilhava como se reluzisse a ouro. Maya, por sua vez, estava totalmente lúcida ante aquele momento gracioso, sem demonstrar vertigens nem sinal de indisposição após o parto.

Quando a rainha Maya chegou ao vilarejo com sua caravana, imediatamente ela foi recebida por seu marido, o rei Suddhohana. Os dois nomearam o filho de Siddhartha que, reza as tradições, significa “aquele que despertou”.

Após uma série de cortejos e felicitações por parte dos moradores, Suddhohana exigiu que seus homens organizassem uma grande festança a fim de comemorar o nascimento de Siddhartha, seu primogênito.

No meio da cerimônia, surgiu um convidado inesperado a todos: o grande eremita e astrólogo Asita, dado como desaparecido há anos.

Quando Asita olhou para o bebê que agora estava aninhado no colo de Maya, duas lágrimas logo caíram de seus olhos, tamanha comoção que sentiu. Asita se dirigiu a Maya e disse:

“Não tema, minha rainha. Estas lágrimas são apenas de um velho que sabe que não viverá tempo suficiente para aprender os ensinamentos de seu filho.”

O rei Suddhohana aproximou-se de Asita e, curioso, perguntou ao velho:

– Meu filho algum dia será rei?

– Ele será o dono do mundo, ou seu redentor.

– Ele poderá ser um mestre como o senhor se quiser, mas antes, deverá seguir meus passos e ser um rei!

– Meu rei, poderá acontecer como deseja mas, muitas vezes, os deuses traem os desejos dos mortais.

Nesse mesmo instante o bebê Siddhartha chorou, como se tivesse sido afligido por aquelas palavras. Suddhohana tomou o filho em seu colo, levantou-o em direção ao céu e bradou:

– Ele será rei!!

Naquele mesmo dia, após as festividades, a rainha Maya sentiu um mau agouro. Ela teve um estranho pressentimento, como se soubesse que também não viveria o bastante para ver cumprido o destino de seu filho. E, exatamente 7 dias depois, Maya veio a falecer de uma terrível doença que médico algum conseguiu entender.

Pulemos então uma boa parte da história.

Vinte e oito anos depois, o jovem príncipe Siddhartha, agora um homem crescido, morava em uma majestosa cidadela junto do pai e seu povo. Diz a lenda que ele conheceu, se apaixonou e casou com uma linda moça, ou melhor, uma princesa, que se chamava Yashodhara.

A vida de casado não foi diferente à Siddhartha do que era antes. Ele gozava dos inúmeros confortos e prazeres que lhe eram propiciados pela riqueza de seu pai, único possuidor do poder político e econômico na cidadela. Como sempre, Siddhartha fazia o que queria, quando queria, onde queria e na presença de quem desejasse.

Dentre as atividades de rotina, sua predileta era lutar. De porte atlético, vigoroso e sempre com ótima disposição, Siddhartha praticava luta diariamente com seus amigos através de um jogo chamado “Kabadi”, uma espécie de arte marcial semelhante à luta greco-romana (que viria a surgir séculos depois). Siddhartha havia se tornado um excelente guerreiro, honrado, digno e muito respeitado por todos aqueles com quem convivia.

Enfim, sua vida era extremamente luxuosa e privilegiada.

Segundo a lenda, no exato dia em que completou vinte e nove anos de idade, Siddhartha recebeu de seu pai 3 enormes palácios: um para o verão, outro para o inverno e mais outro para a estação das chuvas. Dessa forma, o rei Suddhohana esperava poupar seu filho de todo sofrimento e preocupação inerentes à existência.

Porém, em certo dia, durante uma manhã ensolarada, Siddhartha ouviu uma maravilhosa canção de harmonia encantadora. A princípio ele não conseguiu identificar de onde a música vinha, sendo assim, ele resolveu caminhar em determinada direção para tentar localizar a origem daquela melodia que lhe era tão gratificante.

A canção era entoada em uma língua estranha e desconhecida a ele, e por isso soava assim tão misteriosa. O que ela dizia? O que significava?

Enquanto Siddhartha prestava total atenção na melodia, sua esposa Yashodhara surgiu sorrateiramente de uma viela escura. Ela caminhava com lentidão, mas não demorou a perceber a figura do marido que tinha o semblante demonstrando uma mórbida curiosidade. Ela então se dirigiu ao marido para que talvez pudesse prestar algum auxílio.

– Yashodhara, que canção sensacional é essa?

– É de uma terra longínqua, meu príncipe. Evoca as belezas do país que a autora conheceu quando criança. As montanhas, vales, florestas e lagos que ela nunca poderá esquecer.

Siddhartha sentiu-se confuso e também surpreso, uma vez que não se lembrava de ter ultrapassado os muros daquela cidadela e, portanto, nunca havia visto nada além. Ele achou estranha a menção de tais lugares, o que lhe causou um grande senso de descobrimento.

– Se tais lugares que você diz são tão belos quanto à música que ouço, então preciso conhecer o que há além deste lugar.

– Meu príncipe, eu ouvi dizer que só existe sofrimento além desses muros.

– O que quer dizer com sofrimento?

– Seu pai foi quem me disse, meu príncipe. E não deve ser mentira. Lembre-se que ele nos deu tudo o que poderíamos desejar. Para quê visitar outros lugares quando estamos rodeados de tanta beleza?

– É verdade, nós temos tudo, e tudo parece tão perfeito. Então, que sentimento é esse que estou sentindo? Se o mundo é assim tão belo, por que será que nunca o vi? Ainda não vi a minha própria cidade. Tenho de ver o mundo com meus próprios olhos!

Siddhartha ansiava conhecer o mundo; desbravá-lo assim como um marinheiro sedento por aventura.

Não demorou muito para o rei Suddhohana descobrir aquela ambição desmedida de seu filho. Como sempre foi obcecado por sua proteção e segurança, mandou preparar tudo devidamente para que nada que Siddhartha visse em sua viagem o perturbasse ou aborrecesse.

Para Suddhohana, todos deveriam ser jovens, imaculados e saudáveis. Para o rei, todos deveriam ser poupados da vida.

E então chegou o tão esperado dia da partida de Siddhartha. Enquanto o príncipe deixava a cidade, pôde ver todos à sua volta o ovacionando com urros de alegria e excitação. E de dentro de sua antecâmara vazia e escura, seu pai o observava secretamente com olhos compenetrados e premonitórios, e ele não parecia nem um pouco feliz.

Assim que os portões centrais da cidadela foram abertos e Siddhartha obteve o primeiro vislumbre do mundo exterior, dois seres excepcionalmente velhos e carcomidos, cada um segurando suas respectivas bengalas, arrastavam-se para frente como criaturas desesperadas por encontrar algum tipo de solenidade. Eram duas pessoas com aparência diferente de tudo que Siddhartha havia visto. Estupefato, ele perguntou a um servo que estava a seu lado:

– Me diga você, quem são aqueles homens horripilantes?

– São homens como nós, meu príncipe, que já mamaram no seio de suas mães.

– Mas por que eles têm aquele aspecto?

– Estão velhos, meu príncipe.

– O que quer dizer com velhos?

– A velhice destrói a memória, beleza e força. Acontece com todos, meu príncipe.

– Com todos?! Comigo e com você também?!

– Meu príncipe, sugiro não se preocupar com essas coisas.

Durante a conversa, dois outros criados agarraram os velhos pelos braços que mais pareciam paus de arara, e trataram de levá-los para um local reservado nos confins do vilarejo.

Inconformado, pesaroso e mais uma vez confuso com o cenário que observava, Siddhartha resolveu seguir os viajantes recém-capturados.

Chegando ao local designado para acomodação dos velhos, Siddhartha percebeu que, na verdade, havia apenas uma mulher deitada em um saco de grãos. Ela estava tão velha e em condições tão judiadas que poderia ser transformada em pó ao mínimo impacto de uma ventania. A velha chorava profundamente com voz tão debilitada quanto seu corpo. Então, Siddhartha ajoelhou-se perante ela, e perguntou ao mesmo servo com quem havia conversado dois minutos atrás (o servo se apresentou como Gholeim), e que o acompanhara até ali:

– Por que ela está chorando assim, Gholeim?

– Está sofrendo, meu príncipe. Está muito doente.

– Doente? O que é isso?

– Ninguém atinge o momento da morte sem antes adoecer ao menos uma vez.

– Até os reis? Eu não entendo, Gholeim. A morte, que diabos é isso? Me mostre agora!

Então, o servo levou Siddhartha à beira de um rio lodoso que cortava a cidadela de ponta a ponta. Gholeim apontou seu dedo indicador na direção das águas, dizendo:

– É isto a morte, meu príncipe.

Jazia no rio um velho (o viajante que fazia companhia à velha doente). Siddhartha mirou aquela figura mortuária que, de tão minúscula e tênue, parecia não influenciar na correnteza.

Paralisado pela visão da morte, o príncipe Siddhartha não conseguiu pensar em meio à desolação que sentia. Conseguindo enfim sair do estado de petrificação, lentamente ele caminhou ao leito do rio com o objetivo de ver mais de perto algo que até minutos atrás achava impossível.

Ao se aproximar, Siddhartha viu três homens colocarem o velho em cima de uma pira de madeira fria e sólida como o corpo que sustentava. Fogo foi atiçado à estrutura, que logo cedeu juntamente com as cinzas do velho que serviriam de oferenda para o rio.

Observando as chamas crepitarem e a fumaça negra invadir o ar puro, Siddhartha captou um insight que levaria para a vida toda.

Príncipe ou não, Siddhartha entendeu que era igual a todos, e todos eram iguais a ele. Ele percebeu que havia sido iludido o tempo inteiro e, até aquele momento, sua vida não passava de uma mentira. No entanto, apesar das duras constatações, ele também havia reconhecido os princípios da humildade e da compaixão, algo que também não conhecia.

Frustrado e raivoso por ter sido enganado à respeito da vida, Siddhartha foi até a presença de seu pai para tirar satisfação:

– Meu pai, por que escondeu a verdade de mim? Por que mentiu sobre a existência do sofrimento, da doença, da velhice e da morte?

– Se menti, é porque te amo.

– O seu amor tornou-se uma prisão. Ele o cegou completamente, e por consequência a mim. Agora, como posso viver aqui como vivia, sabendo que todos sofrem lá fora?

O rei Suddhohana nunca respondeu àquela pergunta.

Siddhartha logo chegou à conclusão de que nada mais valeria a pena e nada mais faria sentido dali para frente se continuasse a negar a vida. E foi assim, na contemplação do máximo desespero, do real sofrimento, da doença, velhice e morte, que nasceu em Siddhartha o maior propósito de seu destino: libertar as pessoas do sofrimento.

De acordo com a lenda, Siddhartha decidiu queimar todos os seus pertences pessoais e, na madrugada seguinte à sua verdadeira compreensão da realidade, ele deixou a cidadela para onde jamais voltaria.

Por vários meses Siddhartha peregrinou com apenas sua consciência lhe fazendo companhia. Em uma ocasião qualquer, enquanto buscava atravessar uma densa floresta de vegetação robusta, ele avistou ao longe um grupo de indivíduos que pareciam unidos em um grande círculo. Após tímidas apresentações e reconhecimento de ambas as partes, Siddhartha finalmente veio a conhecer os velhos ascetas: pessoas que assumem a causa de renunciar prazeres e confortos da vida.

Após 5 anos em convivência agradável, harmônica e muito produtiva, conta a lenda que Siddhartha passou a exercer papel de líder, tamanha confiança, clareza, inspiração e influência que transmitia.

Então, ele passou a integrar diversos grupos de entusiastas que, assim como ele, estavam motivados pelo desejo de conhecer verdadeiramente a si mesmos e os fenômenos da natureza. Por meses, Siddhartha e seus novos companheiros treinaram a mente com coragem, força e dedicação. Eles passaram a conscientizar, observar e perceber o mundo não como ele se apresentava a seus sentidos, e sim de acordo com a própria vontade.

Em certo dia de treinamento, passava pela região uma jovem pastora chamada Sujata. A moça era jovem, tinha cabelos amendoados e uma expressão gentil. Ela dirigiu-se diretamente à Siddhartha, oferecendo-lhe uma tigela de leite coalhado. Sentindo compaixão e acima de tudo gratidão, o mestre Siddhartha aceitou, quebrando o atual jejum que durava 30 dias.

Contrariados pela atitude de Siddhartha, os companheiros logo pensaram que ele era um desertor; fraco e covarde por não ter resistido àquela tentação banal. E então, todos eles resolveram abandoná-lo.

Mas, antes dos velhos ascetas irem embora, eles ouviram de Siddhartha uma devida explicação.

Apontando o dedo para o rio Nairanjana, Siddhartha falou:

“Vejam aquele rio. Sua correnteza corre em ritmo normal. Ela nunca se adianta e nem se atrasa. Ela apenas corre. Nós temos que ser como aquele rio.”

Apesar daquele dizer enigmático, atitudes demonstram mais que palavras e, sendo assim, os velhos ascetas foram embora e deixaram Siddhartha sozinho. O mestre se tornou um eremita.

Entretanto, Siddhartha compreendeu que aquela exclusão era apenas mais um teste de provação, no qual ele passou sem maiores dificuldades.

Continuando seus rituais de contemplação, meditação e serenidade, Siddhartha passou todo o próximo ano acompanhado de Siddhartha.

Diz a lenda que, em certo dia tempestuoso, surgiu à presença de Siddhartha uma charmosa deusa chamada Mahra. Ela tentou seduzí-lo do modo mais inteligente, disfarçando as tentações da vida sob as formas mais simples. A deusa ofereceu a ele todos os recursos que, segundo ela, o fariam se deleitar em estado permanente de felicidade. Mas Siddhartha enxergava além do presente. Ele negou tudo veementemente, e então Mahra se enfureceu, revelando ser uma figura dissidente e horrorosa.

Esse foi também um enorme desafio para Siddhartha, pois ali foi testada sua disciplina ascética e meditação. A oferta de Mahra foi certamente tentadora, mas Siddhartha compreendeu que isso o levaria a se distanciar do mundo real e o impediria de passar seus ensinamentos adiante.

E ele retornou a fazer o que lhe era destinado.

Num certo dia especial a todo o universo, Siddhartha, motivado por um poderio psicológico indescritível, sentou-se em frente a uma árvore com 30 metros de altura; uma árvore da mesma espécie daquela que ofereceu arbustos como suporte á sua mãe, Maya, quando de seu nascimento.

E diz a lenda que ele permaneceu sentado, na mesma posição, por tempo tão longo e demorado que nem os deuses aguentavam mais olhar para baixo, tamanho o tédio que sentiam de sempre depararem com sua presença. Sol, chuva, tempestade, furacão, terremoto, tornado e todo tipo de catástrofe não ousou se apoderar da calma de Siddhartha, que passou tempo suficiente em estado de contemplação para que seu corpo se tornasse apto a se satisfazer plenamente com nada.

Naquele ínterim introspectivo desigual, diz a lenda, Siddhartha se transformou em Buda, pois havia atingido a plenitude da sabedoria humana e, iluminado dessa forma, chegou enfim ao estado de Nirvana.

Essa é a linda história que precedeu Buda.

Escritos budistas comprovam que Buda sempre enfatizou não ser um deus; uma autoridade superior. Após o choque da realidade que veio quando deixou a cidadela (a prisão onde era mantido), ele sempre carregou consigo a crença de que a capacidade de se tornar um “Buda” pertencia ao ser humano, já que este é o único detentor do potencial para a sabedoria e iluminação. De acordo com a tradição, suas últimas palavras foram:

“Tudo o que foi criado está sujeito à decadência e à morte. Tudo é impermanente. Trabalhem duro pela própria salvação com atenção plena, esforço e disciplina.”

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