Li ‘Clube da Luta’ depois de ver o filme e descobri que além de um puta filme é um puta livro. ‘Clube da Luta’ não é uma obra sobre violência. Mentira, é sim, mas vai além. É sobre violência física-mental-social-governamental-midiática.
Também não é um livro de autoajuda ou sobre como conquistar o sucesso em poucos passos. É sobre como o mundo trata você como mera mão de obra e ainda tenta te enganar, mentindo que você é importante. Como uma das citações abaixo entrega: é sobre autodestruição.
O livro, escrito por Chuck Palahnuik, foi publicado em 1996 e ganhou uma versão cinematográfica de alto nível em 1999, dirigida por David Fincher. O filme é narrado por Edward Norton e tem Brad Pitt no papel de Tyler Durden e Helena Bonham Carter no papel de Marla Singer.
‘Clube da Luta’ é cheio de frases para facebook de alto impacto. Selecionei algumas para você que já leu se relembrar um pouco ou para você que ainda não leu se convencer e se preparar para explodir os miolos. Foi!
1.
Então cai prisioneiro de seu adorável ninho, e as coisas que antes lhe pertenciam passam a possuir você.
2.
A primeira regra do clube da luta é não falar do clube da luta.
Digo ao Walter que caí.
3.
São só dois por luta. Uma luta por vez. Os dois lutam sem camisa e sem sapatos. A luta continua até onde eles aguentam. Essas são outras regras do clube da luta.
4.
Nada é estático. Até a Mona Lisa está se desintegrando. Desde que o clube da luta começou, tenho metade dos dentes moles na boca.
O autoaperfeiçoamento talvez não seja a solução.
Tyler não conheceu o pai dele.
A solução talvez seja a autodestruição.
5.
Sabe, a camisinha é o sapatinho de cristal da nossa geração. Você calça quando conhece uma pessoa. Dança a noite toda e depois joga fora. A camisinha, não a pessoa.
6.
Só se pode ressuscitar depois do desastre.
— Só depois de perder tudo você vai fazer o que quiser — continua Tyler.
7.
Estou rompendo meus vínculos com a força física e os bens materiais, porque só destruindo a mim mesmo vou descobrir a força superior do meu espírito.
8.
Você tem uma classe de mulheres e homens jovens e fortes que estão dispostos a dar a vida por alguma coisa. A publicidade persegue essa gente com carros e roupas desnecessários. As gerações vêm trabalhando em empregos que odeiam, comprando o que não têm a menor necessidade.
9.
Nós dois usamos o mesmo corpo, mas em horas diferentes.
10.
Ah, que besteira. Isto é um sonho. Tyler é uma projeção. É um distúrbio de personalidade dissociada. Um estado psicogênico de fuga. Tyler Durden é minha alucinação.
– Pare com essa bobagem – diz Tyler. – Talvez você seja a minha alucinação esquizofrênica.
Quem foi ao Psicodália em 2017 presenciou mais uma vez uma experiência única. Os anos passam e o festival que acontece todo ano em Rio Negrinho, no interior de Santa Catarina, segue proporcionando muita música, arte, cultura, psicodelia e profundas reflexões.
A edição de 2017 foi comemorativa. Marcou os 20 anos de Psicodália. E também foi histórica. Recorde de público, com 6,5 mil pessoas passando o carnaval na Fazenda Evaristo durante os 6 dias de festival.
O festival teve a participação de 52 bandas que se apresentaram em 4 palcos: Lunar, Sol, Guerreiros e Palco de Dentro. Além de apresentações espontâneas que aconteceram no Palco Livre e no Palco do Lago, onde qualquer pessoa poderia participar livremente.
Dos nomes mais conhecidos, o festival teve shows de Ney Matogrosso, Di Melo, Céu, Liniker, Erasmo Carlos, Metá Metá, Casa das Máquinas, Confraria da Costa e Relespública.
Mas não só de shows vive o festival. Uma extensa programação com oficinas de diversos temas, como teatro, cinema, música, política, esportes e sustentabilidade movimentaram o Psicodália. Foram 63 oficinas com 170 oficineiros compartilhando conhecimento para cerca de 4,5 mil pessoas que participaram ao menos de uma atividade, incluindo o público infantil: ao menos 50 crianças estiveram presentes na recreação infantil.
Vemos crianças que participaram de todas as edições desde que nasceram e agora já estão maiores e entendendo cada vez mais o que acontece ao redor” – Alexandre Osiecki, diretor do festival.
Toda essa programação mais a movimentação nos acampamentos foram registradas pelo fotógrafo Gui Benck, que pela 4ª vez foi ao festival relatar em imagens momentos únicos do Psicodália.
Confira a galeria abaixo e sinta saudades:
Para uma melhor experiência, clique na imagem para visualizar em tela cheia.
Com o coração palpitando chegamos ao lugar que leva as pessoas a uma experiência astronáutica. Festival multicultural que anualmente nos resgata da ficção do dia a dia, e nos leva a um espeço atemporal. Durante uma semana a Fazenda Evaristo é tomada por arte, cultura, boa música e sede de expressão, tudo que absorvemos e estava acumulado nos corpos, transborda em muita cor e brilho.
Ao acordar no festival ao som dos vizinhos de barraca, percebo o camping tomado logo cedo de boa música e uma energia extraordinária. Sorrisos espalhados por toda parte, vou despertar o corpo com um banho, e então a RádioKombi me deixa a par de toda a programação do dia, tomado pelas notas psicodélicas dos Mutantes ainda no chuveiro, me dou conta de que o Psicodália Começou!
WAGNEEEEEERRRR!
Caminhar pelo festival entre oficinas, aulas e Yoga e seres culturalmente livres, a consciência já mergulha em uma atmosfera de amor. Todas as artes para todas as idades por todo canto, pois além da programação recheada e oficial, a todo momento o palco do psicodélica é o camping, e a cozinha comunitária se torna o mundo, ao cozinhar ao fogo da lenha, conhecemos pessoas de toda parte.
A psicodelia do ser, entre as meditações dos órgãos e o despertar da consciência, faz a coexistência aflorar como flores na cabeça. Não é apenas um festival, mas uma forma de agir e de pensar diferente o modo de existir no mundo.
Ao lado de amigos navegantes de primeira viagem ao festival, vejo além da purpurina no corpo inteiro, a empolgação e o brilho nos olhos, de perceberem que já estão imersos nesse caldo. Ouvi muito de veteranos que psicodélica não era o mesmo, que o festival mudou.
Psicodália mudou? Ou nós mudamos? Como que permitimos a ficção nos convencer que toda essa simulação é um simulacro? Que devemos temer, sentir medo do outro.
Não é verdade, a arte é resistência, e ela nos lembra que dá para fazer diferente. O “Fora Temer” engasgado na garganta sai como um vômito, e o espaço atemporal se torna válvula de escape, a arte e seu poder extraordinário de mudar nosso estado de espírito nos mostra que juntos somos mais lindos, que mais com mais é igual a mais, e um mais um é igual a três, porque com o outro compartilho, e observamos o céu e sua cachoeira de glitter, a cachoeira que deságua amor.
A resistência está nas pequenas atitudes, o Psicodália é uma resistência, e na sua vigésima edição ainda nos abre as portas da percepção, e como um enorme ritual, celebra a arte independente e autoral, intenso o bastante para voltarmos à cidade e toda essa energia surreal estar escorrendo pelos poros.
A Pata de Elefante está entre as maiores bandas instrumentais dos últimos tempos. E isso mesmo tendo ficado tanto tempo fora.
O trio Gustavo Telles (bateria), Daniel Mossmann e Gabriel Guedes (que se revezam entre guitarra e baixo), criou uma sólida trajetória de 11 anos e 4 grandes discos lançados:
2004 – Pata de Elefante
2007 – Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha
2010 – Na Cidade
2014 – Julio Rizzo e Pata de Elefante
No último álbum, lançado após o término da banda, o trio se tornou um sexteto. Participaram também Julio Rizzo (trombone), Edu Meirelles (baixo) e Luciano Leães (teclados). Vale ouvir também!
O fim da Pata de Elefante foi anunciado em 2013. Porém, nos dias 20 e 27 de outubro, Gabriel Guedes, Daniel Mossmann e Gustavo Telles se reuniram para dois shows no Bar Ocidente, local que foi palco de apresentações marcantes da banda.
O Gui Benck foi no segundo dia (em 27/10), fotografou tudo e fez uma entrevista com o baterista Gustavo Telles. As fotos e a conversa estão mais abaixo, siga rolando a página.
A Pata de Elefante é uma banda marcada na minha estante e nos meus ouvidos. Meu primeiro contato com a Pata foi em 2006, no épico festival Armênios on Fire, em Passo Fundo. Já o último, foi em 2010, na saudosa Velvet, também no Passo.
A chance de revê-los deverá acontecer em Florianópolis, em 10/12, na festa Funk’N’Roll. Se tudo der certo, futuramente eu conto aqui como foi.
Abaixo está a galeria de fotos que o Benck registrou naquela noite. (pra visualizar em tela cheia é só clicar no meio da foto).
E abaixo da galeria, a entrevista.
1 of 26
Créditos das fotos e da entrevista: Gui Benck.
Como é voltar a tocar com a Pata depois de tanto tempo? Alguma motivação especial fez isso acontecer?
Ficamos mais de 3 anos e meio sem tocar juntos. Mas quando aconteceu, foi como se não tivéssemos parado. Nós temos a manha de tocar juntos. A sintonia é fina e tem sido muito bom. Quando paramos, estávamos cansados, pois foram 11 anos em que fizemos muitas coisas. Foram 4 discos, muitos shows por diversos Estados do Brasil, prêmios e músicas incluídas em trilhas de filmes e documentários.
Acho que esse reencontro se deu na hora. Estávamos com saudade de tocar e do público.
A Pata deve fazer alguns outros shows agora?
A ideia inicial era fazer dois shows de reencontro no Bar Ocidente, em Porto Alegre, os quais rolaram em outubro e foram excelentes. Com certeza, foram dos melhores shows que já rolaram da Pata.
Quando divulgamos que faríamos esses dois shows, outros convites começaram a surgir. E agora temos mais dois: dia 02/ 12 no Festival Morrostock, em Santa Maria/ RS, e dia 10/ 12 na festa Funk’N’Roll, em Florianópolis/ SC.
Sendo assim, acredito que faremos outros shows no ano que vem (2017).
E gravar algo inédito, talvez?
Por enquanto, não há planos de se gravar nada inédito. Queremos é nos divertir tocando ao vivo, e músicas pra isso não faltam.
E são de ampliar os limites da imaginação. O surrealismo do artista russo mescla com maestria formas vivas com objetos inanimados e amplifica a percepção das coisas.
Nascido em 1965, na capital Moscou, Vladimir Kush pinta desde muito cedo. Entrou na escola de arte logo os 7 anos de idade e nunca mais parou de criar. Nem quando foi chamado para o serviço militar, aos 18 anos. Na ocasião, Vladimir foi ordenado pelo comandante a ficar longe dos trabalhos pesados. Sua contribuição no quartal foi pintar cartazes de propaganda do exército russo. Foram dois anos sendo um militartista.
A virada em sua carreira de pintor chegou muito mais tarde. Nos anos 90 fez exibições de superar as expectativas em Hong Kong e nos Estados Unidos. Com o sucesso, abriu em 2001 sua própria galeria, em Lahaina, no Hawaii. Hoje, Kush tem quatro galerias próprias. Além da havaiana, possui uma em Laguna Beach, Califórnia e outras duas em Las Vegas.
Vladimir Kush tem seus desenhos surrealistas publicados em quatro livros e cita Salvador Dalí, Caspar David Friedrich e Hieronymus Bosch como máximas referências na arte. O russo também ataca na escultura, mas não é esse o seu ponto forte.
Abaixo, algumas das telas mais inspiradas que Kush pintou:
No dia 8 de dezembro de 1980, um filho da puta chamado Mark David Chapman escreveu seu nome na história. Eram 23 horas, quando Mark, de tocaia, enxergou John Lennon e Yoko Ono entrando no Hotel Dakota, onde moravam. Mark, que havia recebido na mesma tarde um autógrafo de John, puxou um revólver e atingiu o músico com 4 tiros. Estava decretado o fim da vida de John Lennon.
Não foi a morte precoce (tinha 40 anos) que fez de John Lennon ser reconhecido como um ícone mundial. Biologicamente, o ex-Beatle é um ser humano como todos nós, consciente e mortal, mas suas ideias tiveram um alcance absurdo e duração perpétua.
John Lennon é um dos meus ídolos e, mesmo não sendo nascido em 1980, a data 8 de dezembro é muito marcante pra mim. Foi o dia em que as minhas chances de um dia vê-lo pessoalmente foram liquidadas, mesmo anos antes de eu sentir essa vontade.
O legado cultural, humano, filosófico, comportamental e intelectual que Lennon deixou para os fãs é inspirador até hoje, exatos 34 anos após sua morte. Por isso, para homenagear um dos maiores que a Terra já abrigou, selecionei 9 obras audiovisuais sobre o fundador dos Beatles. Entre cinebiografias, dramatizações, documentários e apresentações ao vivo, aqui há um pouco do que há de melhor sobre John Lennon.
Títulos originais mantidos.
Bed-in For Peace
Ano: 1969 Sinopse: Yoko Ono publicou no YouTube o documentário de 1h10m que ela fez com John Lennon em 1969, durante um protesto pacífico do casal em Montreal.
O filme documenta a semana que o casal passou deitado numa cama, recebendo visitas e tocando músicas, numa tentativa de promover a paz mundial durante o auge da Guerra do Vietnã.
John Lennon e Yoko fizeram a primeira versão do “bed-in” durante sua lua de mel no hotel Hilton, em Amsterdã. Depois repetiram o ato de protesto não-violento em Montreal, no Canadá, quando receberam membros da imprensa além de visitas de gente como o ativista Dick Gregory, Timothy Leary, Derek Taylor, entre muitos outros. (via)
Imagine: John Lennon
Ano: 1988 Sinopse: A frase mais ouvida após John Lennon ser alvejado tornou-se definitivamente realidade com o lançamento de ‘Imagine: John Lennon’. Isso aconteceu graças à fabulosa coleção particular de John Lennon e Yoko Ono, contendo filmes inéditos, tapes, entrevistas de rádio e TV, fotos, pequenos curtas, etc.
O produtor-roteirista David L. Wolper (ganhador de vários prêmios, entre eles o Emmy e o “Oscar”) e o diretor-produtor Andrew Solt (que também fez “Elvis é Assim”) criaram sobre esse riquíssimo acervo de mais de 200 horas de duração e contaram a fascinante história do homem que foi o cérebro do Beatles. (via)
The U.S. vs. John Lennon
Ano: 2006 Sinopse: O documentário cobre o período entre 1966 a 1976, uma década fundamental na evolução artística e espiritual de John Lennon, que de grande artista musical torna-se um ativista convicto (e sucessivamente um ícone) contra a guerra. O filme faz um um grande paralelo da trajetória do músico com o governo dos Estados Unidos da mesma época. (via)
Chapter 27
Ano: 2007 Sinopse: Drama biográfico que descreve a vida de Mark David Chapman (Jared Leto) momentos antes de ele se tornar mundialmente conhecido como o assassino de John Lennon. (via)
http://youtu.be/SyvXIeuyJ0w
Lennon Naked
Ano: 2010 Sinopse: O filme aborda a vida de John Lennon desde sua conturbada relação com o pai até o fim do casamento com Cynthia Lennon e o começo da história com Yoko Ono. Com o ator Christopher Eccleston no papel principal, o filme mostra, principalmente, as questões de Lennon com a paternidade e a fama. (via)
Nowhere Boy
Ano: 2009 Sinopse: Imagine John, um jovem inteligente e solitário, que vive pelas ruas da agitada Liverpool, sonhando em ser como o rei Elvis Presley, tentando encontrar seu papel no mundo. Criado pela tia Mimi, John encontra no Rock´n´roll um lugar para expor seus dilemas e energia. E foi ao lado de Paul, sua melhor sintonia, que este garoto de Liverpool conquistou o mundo com sua genialidade, nesta verdadeira e emocionante história real. (via)
John Lennon Live in New York City
Ano: 1986 Sinopse: Em 1972, John Lennon, Yoko Ono, e a banda de apoio Elephant’s Memory, se juntaram em um show beneficiente em New York. Sua performance no Madison Square Garden, incluía em maior parte, material do seu respectivo álbum na época: “Some Time in New York City”. (via)
https://www.youtube.com/watch?v=pyisavj9iV4
A Hard Day’s Night
Ano: 1964 Sinopse: O ano é 1964 e a Beatlemania está no seu auge. Os quatro rapazes de Liverpool estão a ponto de mudar o mundo da música – se conseguirem deixar o quarto do hotel onde estão hospedados. Enfrentando produtores nervosos, fãs histéricos e parentes problemáticos, Paul, John, George e Ringo buscam de todas as maneiras se divertir e ao mesmo tempo cumprir seus compromissos firmados. (via)
Birth Of The Beatles
Ano: 1979 Sinopse: Filmado em Liverpool, retrata o início dos Beatles, desde o seu nascimento, até a ida a Hamburgo e aos Estados Unidos. O foco do filme está nos dias vividos em Hamburgo e em Stu Sutcliffe. “Para onde estamos indo, rapazes?” Pete Best foi o consultor técnico. A única biografia dos Beatles feita enquanto John Lennon ainda estava vivo. (via)
Foram cinco meses de espera após ficar mais de 16 horas na fila em frente ao computador para comprar o ingresso para o show do Guns N’ Roses em Porto Alegre. Não consegui, mas fui salvo graças a um amigo que estava em Porto Alegre na época e não hesitou em comprar os tickets no seu cartão de crédito.
Peço licença aos amigos leitores, mas dizer o nome desse amigo (não é todo dia que alguém empresta dinheiro para comprar ingresso para alguém, ainda mais o cartão de crédito) é como uma forma de agradecimento: Vinicius de Moura, obrigado.
Ingressos na mão, saímos de Passo Fundo (interior do Rio Grande do Sul) rumo à capital. Reservamos um hotel pelo site, pagamos uma bagatela pra ficar em hotel bom e perto do show (R$ 150 para cada um), café da manhã garantido para a volta e uma boa noite de sono. Senhoras e senhores, planejamento é tudo na vida de uma pessoa.
Enfim a fila, tudo certo. Era aguardar e sobreviver à tentação de comprar algo dos ambulantes. Impossível, na conta três cervejas, dois botons e uma camiseta. A fila seguia aumentando de forma organizada pelos funcionários, que usavam megafone e indicavam o fim da fila para os fãs.
Abertura dos portões e seguiu a galera entre o gradeado de entrada, alguns malandros tentavam furar a fila e prontamente eram denunciados por vaias e uivos da galera.
Ao acessar o estádio, revista e em seguida a emoção de chegar ao local do show. Uma megaestrutura e as pessoas da pista se aglomerando para garantir o lugar mais perto possível. Cerveja R$ 15 e o copo da turnê R$13 na mão do ambulante.
Deixei os amigos e fui até o bar do estádio, lá a cerveja a R$13 e o copo de graça, comprei também a última bandana oficial da banda e uma sacola ecológica oficial (presente para a patroa, que preferiu não se aventurar e aprovou a viagem). Se tivesse uma loja oficial fora do estádio não teria comprado a camiseta lá fora (agora paciência, vou usar a falsificada). Em tempo: um relacionamento deve sempre respeitar a individualidade do outro, você não pode mudar a pessoa, você deve amá-la do jeito que ela é.
Aproveitei e fui ao banheiro, muvuca total, alguns conhecidos pelo caminho ensandecidos pela oportunidade de ver a banda na sua formação de tríade inicial (Axl, Slash e Duff). Na volta peguei a sacola e suas alças, coloquei junto a cinta, assim tinha uma mochila no show e os braços livres, ali guardei os copos comprados no bar.
Antes do show veio uma moça de óculos espelhados à frente do palco, perdoe não ouvi o nome dela. Era DJ, veio animar a galera, mesclou batida eletrônica com clássicos do rock, achei bacana, no meio da intervenção apareceu um jovem da década de 70 com uma guitarra e uma camisa de surfista (estampada) e tocou junto um solo.
Depois veio a banda de abertura, não curti, acho que não conseguiram se ajustar com a parafernália de equipamentos de som.
Enquanto isso apareceu um alemão com uns copos do show nas mãos e lotados de ceva. Num show você fica aberto a novas amizades, aconteceu na fila, perto do palco, e agora esse rapaz. Disse que era de Caxias do Sul. Ofereceu a ceva pra mim e o meu fiel escudeiro Moura, eu aceitei. O Moura fez uma cara de reprovação, mas pegou a ceva também. Só que esse cara começou a incomodar, depois eu ignorei o cara, discutiu com uma guria que estava ao lado e por aí foi, até vazou, bah chato no show, já chega o trânsito, em um show vá com o espírito leve, mas não seja trouxa, me disse o Moura, quando foi minha vez de pagar uma cerveja pro tal alemão. Para me livrar dele usei a técnica da indiferença, quando começou o show tinha sumido, queria atenção, foi incomodar outro.
Entre fotos e vídeos o show iria começar, percebi no palco um batalhão equipado com capacetes próprios de rapel, e lá de cima onde fica a iluminação desceu uma escada e a turma subiu, não faço ideia se era para consertar ou por lá ficariam durante o show.
A apresentação iniciou 20 minutos depois do previsto, em se tratando de Guns N’ Roses isso não é atraso. Não foram tão pontuais, em comparação aos Stones em Porto Alegre (também fui nesse) em que subiram ao palco às 21h01 e o ingresso prometia 21h, mas ainda pode ser que meu relógio na época estivesse atrasado.
Foto: Katarina Benzova Photography
Que baita show, quem manda na banda é o Slash, Axl se mostra mais profissional do que nunca (disse obrigado ao público em português) e ao cantar mostra seu talento e preocupação em agradar (ou seja, enfim amadureceu o astro do rock, até onde li, não quebrou nenhum quarto de hotel). Duff é o simpático, usou boné que a galera jogou pra ele e tocou muito.
Vou escrever somente sobre uma parte do show, o hit November Rain, na frente do palco, mecanicamente do piso onde pulavam Slash e sua turma, silenciosamente subiu um magnífico piano, para os amantes de Opala, parecia um belíssimo Opala Preto modelo 4.1.
Aí vem o roadie e coloca o banco e o microfone junto ao piano (aquele com a espuma vermelha, clássico, quem é fã sabe), volta ao backstage e traz três copos, é preciso hidratar a voz da fera (duvido alguém saber o que tem lá dentro destes copos). E aí vem a música, o estádio vem abaixo.
Show é para curtir, se fosse para filmar você trabalharia na TV! A tela do celular ou ver ao vivo? Filme uma ou duas músicas, nenhum celular tem uma supercâmera e provavelmente o vídeo não ficará top, já a sua memória te garanto que vai ajudar, desde que você não encha a cara, deixe para beber no final de ano com a família, não seja juvenil.
No show tinha mais de 49 mil pessoas, todas filmaram alguma coisa, e que estava ao meu redor cometeu o erro clássico, não viu o palco, viu a tela do celular. Deixa a filmagem para a fotógrafa oficial da turnê, Katarina Benzova Photography.
Foto: Katarina Benzova Photography
Um show pensado em cada detalhe, em cada acorde o palco dançava com a música (seja em imagem do palco projetada no telão, ou as imagens produzidas exclusivas para cada pancadaria da banda, que na real é painel de led, telão é coisa do passado). Tudo foi pensando, fogo na hora do riff da guitarra e no bis canhão de papel picado nas cores do Brasil. Baita show.
Em relação à produção de um grande show no Brasil estamos na era dos dinossauros, os americanos vivem na contemporaneidade, não em criação, mas em produção sim.
“Se tiver meio milhão sobrando, você pode demolir e começar a reconstruir de novo”. Assim se ilustra o tom da incompreensível realidade em meio à qual Courtney Barnett imergiu liricamente seu aclamado álbum Sometimes I Sit And Think, And Sometimes I Just Sit, tomando de assalto o mundo do rock em 2015, e que se apresenta em novembro naquele que pode ser o show do ano em São Paulo. A frase, surgida de forma tão estarrecedora quanto natural em meio à conversa fiada entre corretor e cliente no subúrbio de Melbourne, foi a inspiração para Depreston, faixa da aclamada bolacha.
Orgânico, o sucesso de Barnett tem mais de uma explicação. Primeiramente, ela e sua banda são uma máquina de excursionar. Ao mesmo tempo em que aparece na lista dos dez álbuns do ano da Rolling Stone, na playlist oficial de Barack Obama e toca em todos os talk shows americanos, não há lugar inapropriado para seus shows: de programas de rádio a festivais, passando por pequenas casas e os grandes festivais, seja na Austrália, em algum lugar do meio-oeste americano ou, agora em novembro, na América do Sul, não há lugar errado para a australiana desaguar seus versos bem humorados e de rara espirituosidade.
Assim como as letras e o jeito de tocar guitarra, a australiana transparece um certo ar atrapalhado na arte da capa de seu álbum e em seu merchandising. A estética infantil dos desenhos e seu próprio visual (camiseta surrada e boné, na maioria do tempo) aliado ao ritmo frenético dos versos (mesmo nas canções mais lentas, tudo parece, de alguma forma, ser acelerado), seu trunfo é justamente o de oferecer uma certa transição da vida para o palco sem cortes, o que faz com que suas letras consigam transcender da narrativa ordinária ao ordinário travestido de fantástico.
Oliver Paul, 20, acorda tarde e sai do bonde sem pagar a passagem enquanto seu café da manhã, engolido às pressas, se esfarela sobre sua roupa. Em frente ao computador, a epifania de quem não aguenta mais a ansiedade de estar ficando careca (ainda tem a cabeça forrada de cabelo), tampouco a correria sem sentido dessa vida que, quando tudo dá certo, leva no máximo ao dia seguinte e à vertigem existencial do eterno retorno. Tudo que ele quer é ir ao topo do prédio ver tudo pequeno na cidade e imaginar que está jogando Sim City. No elevador, ouve da senhora perfumada e carregada de botox que tudo que queria era ter a pele como a dele. Ela acha que ele é jovem demais para querer se jogar do prédio; ele acha que só queria ser um ascensorista.
A verborragia de Elevator Operator, doce e violenta ao mesmo tempo, é o autêntico grito primal de uma geração sujeita ao turbilhão de informação provido pela internet, ansiosa e deprimida pela vida precária e que vive a falta de perspectiva e um futuro que parece cada vez mais sombrio. A vida, que para a senhora do botox era um misto de rotina com estabilidade, para o jovem Oliver Paul é o contraditório coquetel da depressão millenial, quando o tédio da rotina se une à incerteza do amanhã.
Não só proficiente com as palavras, a guitarra de Barnett tem certo estilo que, após poucas audições, torna-se facilmente reconhecido, principalmente por seu aspecto rítmico (principalmente quando o twang da sua telecaster se faz presente). Mesmo nos momentos mais sutis, seu jeito de tocar, sempre percussivo, casa bem com sua voz que mais recita do que canta, e são vários os momentos em que o resto da banda não se faz necessário como, por exemplo, na bela Depreston.
Mas nem só de talento seu sucesso é feito. A opção por fundar o próprio selo, Milk Records, e tocar a carreira de forma basicamente “do it yourself” certamente ajuda a criar empatia com os fãs, o que é potencializado em suas letras. Dead Fox, segundo single de Sometimes I Sit And Think…, começa com “Jen [Cloher, sua companheira] insiste para que compremos verduras orgânicas”. Courtney, quinze anos mais nova, acha que “um pouco de pesticida não deve fazer mal”. A mistura do contraste geracional (assim como a dicotomia Oliver Paul x “senhora do botox” em Elevator Operator) e do clima cinemático dão o tom irresistivelmente intimista de suas letras.
Mulher, canhota, lésbica, millenial e independente, Courtney Barnett é aquilo que cantos mais antiquados do mundo chamariam de “tudo de ruim”. Seu trunfo, no entanto, é sua nonchalance, que orbita em torno do fato de que não faz disso a bandeira de sua música ao mesmo tempo em que não a nega. Ao mesmo tempo, suas músicas são como uma placa de vidro quente numa noite de ar gelado, condensando o espírito de uma geração na forma de versos tão despretensiosos quanto cirurgicamente certeiros, e é justamente disso que se alimenta a áurea daquela que pode ser a próxima grande anti-heroína do rock.
Serviço:
Popload Gig #46 com Edward Sharpe and the Magnetic Zeros + Courtney Barnett
Quando: 16/11/2016
Onde: Audio (Av. Francisco Matarazzo, 694 – São Paulo)
Informações sobre venda de ingressos em www.poploadgig.com
Colocou tudo na mochila e foi para longe. Com esperanças e frustrações, foi para o mais longe que pode ir. Não queria mais ser quem era. Estava esgotada daquela vida medíocre. Cansada de ser quem sempre foi, aquilo que sempre esperaram. O que o pai queria, o que a mãe sonhou, o que namorado admitia. Viveu oprimida por ideologias alheias, sentia-se reprimida de ser quem era, de ser ela mesma, autêntica. Viveu querendo ser mais para o outro que para si. Esqueceu por alguns momentos que o amor deveria vir primordialmente de dentro. Quis tanto agradar, percorreu tanto essa tal de aprovação que se deixou de lado, esqueceu de si.
Mas agora era hora de recuperar o tempo perdido. Antes tarde que nunca, não é mesmo? Quis mudar. Mudar radicalmente, deixar completamente para trás a imagem de que um dia foi. Cortou seus longos cabelos. De morena passou a ruiva. Fez uma nova tatuagem que cobriu o braço, colocou um piecing e fez um terceiro furo na orelha. Seu visual deu um giro de 360º, mudou absolutamente. Todas as roupas que seu pai reclamava e seu namorado fechava a cara, agora faziam parte do seu cotidiano. Desde as mini-saias aos croppeds que tanto gostou de usar. Tudo que a fazia se sentir bem, se sentir bela, inclusive seu batom vermelho, cor de rubi que fazia um belo contraste com sua pele.
Agora ela havia um grande meio de mudança em suas mãos. Tinha o bilhete que podia mudar sua vida, a passagem só de ida para São Paulo. Ia fazer um trabalho como modelo, umas fotos sensuais, que outrora era inimaginável devido a vida repleta de interdições que se sujeitou a levar em prol de uma enganosa felicidade. Resolveu se libertar. De uma vez por todas, se libertar. Ia viver uma nova vida, também ia se arriscar nos bares e palcos paulistas. Construiria sua nova vida dia após dia com a força diária que teria para se reinventar. Quis ousar descobrir, conhecer um lado seu ainda oculto, uma força profunda que dormia. Sabia que haveriam altos e baixos, mas quis tentar. Sentia-se vitoriosa apenas com o fato de ter abandonado e deixado tudo que não a convinha mas para trás. Já era uma grande conquista. O que viesse era lucro e aprendizado. Foi, foi pronta para si arriscar nos palcos da vida, para fugir… Fugir para dentro de si mesma.
Estamos diante de um dos lançamentos musicais mais surpreendentes dos últimos anos tupiniquins.
Lapso é o disco de estreia da banda paranaense Trem Fantasma, que carrega consigo vagões iluminados de lisergia, poesia e rock.
O quarteto é composto por Leonardo Montenegro, Marcos Dank, Rayman Juk e Yuri Vasselai. Todos cantam, todos compõem, todos arranjam e todos tocam pra caralho, como ressaltou Beto Bruno, um dos produtores do disco, junto com Sanjai Cardoso (dá uma lida na resenha do Beto mais abaixo).
Com nítidas influências de bandas psicodélicas, principalmente Tame Impala e Pink Floyd, o disco flutua rápido nos ouvidos, com batidas eletrônicas, timbres modernos e sintetizadores hipnotizantes.
Nas letras, salientes pitadas poéticas caminham entre os instrumentos. Uma influência de peso: Paulo Leminski. Pensamentos do escritor fazem parte de canções como “O Silêncio e o Estrondo” e “Lua Alta”.
Capa de Lapso, por Pietro Domiciano.
O disco ainda tem a participação de dois convidados. Pedro Pelotas, da Cachorro Grande, toca piano em “Pesadelo”. Charly Coombes toca piano em “Antimatéria”.
Foi gravado nos estúdios Casa de Rock (Curitiba), Jamute (Curitiba), Gorila (Porto Alegre) e Live Rec (São Paulo); mixado por Sanjai “Siri” Cardoso e Jander “Cavalo” Antunes na Jamute (São Paulo) e Live Rec (São Paulo); e masterizado por Rob Grant no Poons Head Studios (Austrália).
Lapso é um lançamento do 180 Selo Fonográfico, um dos mais novos e conceituados selos musicais brasileiros, com um catálogo composto por grandes nomes, como O Terno e Cachorro Grande.
Ouça abaixo:
Duas resenhas excelentes foram escritas por duas pessoas monstras da música.
Beto Bruno, vocalista da Cachorro Grande e produtor do disco. E Rodrigo de Andrade, idealizador do Selo 180, que está lançando o disco.
Vou reproduzir abaixo. Dê o play acima e preste atenção ao que esses caras têm a dizer abaixo.
Debaixo de um céu que é de ferro
Beto Bruno (Cachorro Grande)
Estava nascendo o sol em algum aeroporto por aí e o Gross me mostrou no computador um clipe de uma banda nova de Curitiba chamada Trem Fantasma. Na hora nós chapamos nos caras. Tinha tudo. Som, imagem, atitude e bom gosto. Procurei saber com meu amigo Siri, que na época morava em Curitiba, se conhecia essa banda. E ele não só conhecia como era amigo dos caras. Na época, eu disse até que adoraria gravar o disco deles. Demos risada e nunca mais falamos a respeito.
Quase um ano depois, em um outro aeroporto — nesse caso o de Curitiba —, eu encontrei o Dank — que faz parte da banda — bebendo no restaurante do andar de cima. Nós estávamos com o voo atrasado havia horas e também estávamos bebendo. Por isso tomei coragem e fui falar com o cara. Me apresentei, pedi para tirar uma foto com ele e me declarei como um grande fã. Não sei se ele levou a sério, mas trocamos contatos e combinamos de nos encontrar no show do Tame Impala em São Paulo, que seria dali a um mês.
Como planejado, assistimos juntos ao show e saímos para beber na Augusta. Falei que realmente queria produzir o disco de estreia deles. Combinamos que ele iria me mandar 10 músicas demo em 30 dias. Foi apenas 6 meses depois que eles me mandaram as músicas e me apaixonei por elas de primeira. Fiquei muito empolgado com as canções e começamos a montar um esquema para gravá-las, após o término das sessões do Costa do Marfim que estavam rolando nessa época. Botei no jogo dois amigos de muito tempo para nos ajudar. Fantástico… mostrei o som para o Rodrigo Garras, da gravadora Selo 180, e caiu o cu dele. É claro que ele lançaria, porque não é burro. E o Siri, Sanjai, que seria o cara para me ajudar a produzir o disco e conhecia todos os estúdios de Curitiba. Os dois entraram de cabeça. Parabéns.
Começamos as gravações em Curitiba e conheci o restante do grupo uma hora antes de iniciar os trabalhos. Adorei o clima de banda que rolava entre eles. Ao mesmo tempo, fiquei surpreso com a atenção e o amor que eles tinham com cada detalhe dos takes que estavam rolando. Aqueles foram dias muito bons e produtivos. Aprendi muito com esses rapazes. As mixagens fizemos em São Paulo com o Jander “Cavalo” Antunes, que também entrou nessa porque se amarrou no som. Gordo e Charly gravaram pianos pelo mesmo motivo.
O Trem Fantasma é uma banda de verdade. Todos compõem, todos cantam, todos arranjam, todos tocam prá caralho. E eu fico muito orgulhoso de ter participado de um dos melhores discos de estreia que eu já ouvi na história do rock brasileiro. Muito obrigado, Marquinhos Dank…
Em um distante conjunto de dimensões de segunda mão
Rodrigo de Andrade (Selo180)
Quando fundei o Selo180, parti em busca das melhores bandas. Minha intenção era certeira: montaria o melhor selo de rock do Brasil. A estreia foi com a banda Cachorro Grande. Perfeito! Precisava então de um grupo novo. Logo lembrei de um pessoal que havia lançado um videoclipe no ano anterior: a banda se chamava Trem Fantasma e a música era Nunca se sabe. Será que eles teriam um disco pronto para lançar?
Fiz um contato através das redes sociais e consegui o telefone do Marcos Dank. Lembro muito bem da ligação. Foi decepcionante. Fui informado que a banda estava com suas atividades suspensas. Dois integrantes haviam partido em uma viagem mundo afora e não tinham previsão de retorno. E se lançássemos a faixa do videoclipe em uma coletânea ou compacto? Sem chances. O Dank respondeu que o futuro da banda era incerto e que não havia interesse em investir ou lançar aquela música. Fiquei desolado. Mas tudo tem o seu tempo.
No mesmo dia, fiz um contato com o Tim Bernardes, d’O Terno. Na época eles só possuíam um CD. Acabei firmando uma parceria com a banda e o selo Risco. Juntos, lançamos um compacto em vinil e o segundo LP d’O Terno. Eu já podia me dar por satisfeito. Podia dizer que estava com uma das melhores bandas da nova geração no catálogo do selo.
Mas algum tempo depois, o Beto Bruno — mais que um amigo, uma influência decisiva na formação da minha personalidade e gosto musical na adolescência — veio falar comigo sobre o desejo de se lançar como produtor e citou um grupo de Curitiba em que reconhecia um enorme potencial e gostaria de trabalhar. Ele nem precisou concluir: eu sabia que era o Trem Fantasma. Porém, disse o Beto, seria um projeto que precisava ser desenvolvido praticamente do zero. Ótimo! Mais que receber um disco pronto, cuidaríamos dos pormenores em todo o processo.
Foi então que o Sanjai surgiu talvez como a peça principal. Amigo meu e do Beto há mais de duas décadas, morava em Curitiba e já vinha gravando a produção mais relevante que acontecia na cidade. Mais que um produtor musical, o Siri foi praticamente um integrante da banda. E muito do resultado espetacular de Lapso se deve a ele. O arremate final foi a masterização primorosa do Rob Grant (o mesmo cara que grava, mixa e masteriza o Tape Impala) lá na Austrália. Nesse momento, estamos com o álbum no forno e aposto todas as fichas nele. Não me importam as listas no final do ano. Lapso já é um dos melhores discos de estreia dessa década. Embarque no Trem Fantasma e prepare-se para uma viagem sem volta. Eu não voltei.