33 anos de Amy Winehouse: a vida superando a morte

Amy Winehouse

No dia 14 de setembro de 1983, Amy Jade Winehouse deu seu primeiro choro sem ao menos imaginar o quanto acompanharia os momentos de aflições de admiradores por todo o mundo.

Uma das maiores vozes que cantariam amores mal-sucedidos, a cantora conquistou um espaço entre as grandes estrelas, e ainda hoje brilha para todos que buscam letras profundas e vocais libertários.

A vida exposta de Amy Winehouse

Amy Winehouse

Conhecida como uma mente e um coração atormentados, Amy Winehouse teve suas aflições expostas diversas vezes por revistas sensacionalistas, e mais recentemente por um documentário bastante premiado. Para quem deseja conhecer a artista mais a fundo, são vários os materiais que oferecem momentos íntimos em família, entre amigos, além de entrevistas que ficariam esquecidas se Amy não tivesse passado pela vida de uma maneira tão turbulenta.

Seus primeiros passos em direção à música começaram muito cedo. Em 2003 ela teve seu debut, “Frank”, já conquistando o respeito dos críticos apesar de vendas pouco expressivas. Seria apenas o primeiro passo, visto que alguns anos mais tarde ela desenvolveria um estilo próprio, retirado das ruas do criativo bairro de Camden Town, e criando espaço para sua obra mais notória: Back to Black.

Lançado em 2006, seu segundo álbum foi catapultado ao topo dos charts com a música “Rehab”, que fez milhões de pessoas cantarolarem as ideias de Amy sem sequer conhecê-la. Depois disso, sua ascensão ao estrelato só a fez alcançar ainda mais prêmios e paradas mundiais.

Algo não ia bem

Amy Winehouse

No entanto, mesmo com tanto sucesso, Amy Winehouse ainda se via envolvida em um relacionamento abusivo, imersa no consumo de drogas lícitas e ilícitas, o que a fazia um alvo fácil para os tabloides. A vida íntima da cantora passou a chamar mais atenção do que sua própria arte, afastando-a de seu objetivo principal: não apenas cantar soul, mas cantar com a alma.

Em uma passagem pelo Brasil, a cantora apresentava problemas para cantar suas próprias letras, além de parecer relapsa. Em seu hotel no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa, a recomendação da produção era clara: esvaziar o quarto de Amy de qualquer acesso a bebidas alcoólicas, mostrando que a cantora já não tinha qualquer controle no consumo dessas substâncias.

“Agora eu sou uma estrela”

Amy Winehouse

No início do show Trem Azul, Elis Regina lia um texto de Fernando Faro para trazer toda a dramaticidade que ela deseja. O poema era finalizado com a frase “agora eu sou uma estrela”. A morte de Amy Winehouse, no dia 23 de julho de 2011, com a simbólica idade de 27 anos, não deve jamais ofuscar o brilho que ela emanou – e emana – na música mundial.

Após muitos anos com a música britânica sem ocupar um lugar de destaque no mundo, principalmente entre as vozes femininas, Amy chegou ao cenário musical levando frescor, personalidade e autenticidade.

Seu estilo continua sendo imitado por diversas pessoas ao redor do globo. Os lugares por onde ela passou foram marcados pela sua presença, e as próximas gerações continuarão descobrindo suas letras melancólicas e vocais poderosos – como aconteceu com outros grandes ícones, como John Lennon, Janis Joplin, Kurt Cobain e outros.

Além disso, mesmo com uma vida breve, Amy deixou diversos registros e outros materiais que continuam a ser editados por sua gravadora e chegam ao mercado como itens póstumos de alta qualidade. Seu pai, que também é músico, leva em suas turnês o repertório da filha, ao mesmo tempo que convida cantores de sucesso para homenageá-la nos palcos – no Brasil, a representante para essa honraria foi a diva Elza Soares.

O primeiro disco da Augustine Azul vai dropar o seu cérebro

Augustine Azul - Lombramorfose

Vencer no cenário underground é o que diferencia os “homens” dos “meninos”.

Turnês na lombra de uma van, atravessando os estados a torto e a direito, significam noites mal dormidas para ganhar tempo no velocímetro. Perrengues de praxe com o carro,  pouca verba para laricar… Esses são apenas alguns dos problemas enfrentados por quem almeja chegar e conquistar o grande público.

E é justamente desse cenário instável que surge, na cáustica João Pessoa, uma das bandas mais coesas, ainda que não tão conhecida, do cenário instrumental nacional: a Augustine Azul. Trio Progressivo bem grooveado na psicodelia, formado em 2014 pelos músicos locais: João Yor (guitarra), Jonathan Beltrão (baixo) e Edgard Júnior (bateria).

Lombramorfose foi gravado e produzido pelo próprio trio, no Estúdio Peixe Boi, tradicional espaço da cena Paraibana. O sucessor do primeiro EP homônimo da banda lançado em 2015, não só chega sustentando a química kamikaze do trabalho anterior, como ainda eleva o padrão técnico das composições e ganha projeção mundial com o apoio da More Fuzz Records – selo da More Fuzz, talvez o site mais conceituado quando o assunto é a cena gringa de Stoner-Sludge.

É como o João Yor (guitarra) explica:

“As composições foram tomando forma naturalmente, basicamente no mesmo processo em que estávamos compondo na época do EP, a maior diferença desses dois materiais foi o tempo disponível que a gente tinha e a qualidade dos recursos”. 

Com uma estrutura bem montada, composições com espaço para mais experimentos e improvisações, doses de Hard, Funk e Blues embebidos em timbragens Stoner, a Augustine Azul promove uma mescla de sons cheia de sentimento, versatilidade e criatividade, resultado difícil de alcançar, mas que após escutarmos o disco, parece fácil e óbvio.

Saque a cozinha dos caras em primeira mão e prepare-se para o baque!

Erasmo Carlos no Psicodália 2017

erasmo carlos no psicodália

O Festival Psicodália, que sempre acompanhamos e que já registramos como foi em 2014, 2015 e 2016, começou a divulgar as primeiras notas da edição 2017 do evento.

E o primeiro headliner confirmado para a 20ª edição do festival, que acontece durante o Carnaval de 2017, em Santa Catarina, é Erasmo Carlos, ou o Tremendão, ou o Gigante Gentil.

Ótima notícia para o público. Se você ainda não tem programação para o carnaval, vale a pena pensar no Psicodália. Se já tem, também. Deixo abaixo a nota oficial da divulgação.


psicodalia 2017

Mesmo consagrado, Erasmo Carlos continua incansável e com 50 sólidos anos de estrada nos brinda com “Gigante Gentil”, álbum de inéditas com a maioria das músicas compostas por ele mesmo e por alguns parceiros mais do que especiais. E é com imensa alegria que a produção do Psicodália 2017 o anuncia como a primeira atração confirmada da vigésima edição do festival.

Erasmo Carlos fará o show do Palco Lunar, o maior do evento, na noite de segunda-feira de Carnaval (27/2/2017). No repertório não faltarão os clássicos. Afinal, ninguém é um dos maiores hitmakers da história deste país “impunemente” e, com orgulho de um pai, ele desfila sucessos como “Sentado à Beira do Caminho”, “Mulher”, “Gatinha Manhosa”, “Minha Fama de Mau” e “Festa de Arromba”.

Cabeça efervescente e coração a mil, o Tremendão vem nos brindando com sucessos já incorporados ao cancioneiro nacional, com toda a ambiguidade que ele carrega e descarrega em nós. Sua fama de mau, roqueiro, casaco de couro e pulseiras não tira dele o lado terno, singelo, sensível e gentil, ou melhor, Gigante Gentil – alcunha tão apropriada criada por Lucinha Turnbull na década de 80 e amplamente defendida por Rita Lee em entrevistas.

Kassin foi quem recebeu a missão irrecusável de produzir e organizar a panela de influências tão característica dos trabalhos de Erasmo. O álbum traz parceiros de outros carnavais como Arnaldo Antunes e Nelson Motta, além da inédita parceria com Caetano Veloso, que lhe brindou com singela e certeira letra de “Sentimentos Complicados”. Big Bands, samba, o nascer do Rock’n’Roll, João Gilberto, Soul Music, Walter Wanderley e Ed Lincoln, tudo junto e misturado na vida deste carioca de carteirinha e vascaíno roxo, que traz muito rock e a cruz de malta em seu peito.

Erasmo nos mostra mais uma vez que é um artista em ebulição, atuante, efervescente, com cabeça de homem e um coração de menino, arrombando a festa nesta nova turnê Gigante Gentil.

Uma cidade na fazenda

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Psicodália 2016 | Foto: Gui Benck

O Psicodália será de 24 de fevereiro a 1 de março de 2017, na Fazenda Evaristo, como de praxe com uma extensa programação que não se resume aos shows musicais. Haverá também oficinas, apresentações teatrais, cinema e muitas atividades de lazer e recreação, também para as crianças, que são presença constante no Psicodália.

A Fazenda Evaristo tem 500 mil m2 de área verde e receberá toda uma estrutura de reforço, com portaria, estacionamento, bares e praça de alimentação 24 horas. Terá ainda ambulatório 24 horas, minimercado, feirinha e bazar e cinco grandes áreas de camping arborizadas, equipadas com banheiros, iluminação, limpeza e segurança.

Serviço:

Sophia Loren: a napolitana que dominou o mundo e venceu o tempo

Nascida Sofia Villani Scicolone, ela conquistou o mundo sob o nome de Sophia Loren. Seu sucesso ultrapassou gerações e recentemente ela foi a grande homenageada no aniversário da marca da Dolce&Gabbana, que dominou as ruas da cidade de Nápoles, onde a atriz viveu sua juventude.

A atriz, que trabalhou com grandes nomes do cinema, como Federico Fellini, Vittorio de Sica, Charlie Chaplin e Ettore Scola, é até hoje lembrada como uma das maiores estrelas de sua geração.

Os primeiros passos de Sophia Loren

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Nascida em Roma, Sophia Loren se mudou ainda muito pequena para Pozzuoli, área mais humilde e próxima da grande cidade de Nápoles. Ali viveu sua adolescência, uma época financeiramente muito complicada para a sua família.

Depois do pai abandonar a família, ela passou a viver com a avó. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial, Pozzuoli era um alvo constante de bombardeios, sendo que em uma dessas ocasiões, enquanto tentava fugir, Sophia teve o queixo machucado por estilhaços de bombas. Durante este período ela viveu em Nápoles, até poder retornar para a casa de sua avó, onde começou a trabalhar como garçonete enquanto sua mãe tocava piano, sua irmã cantava e sua avó preparava bebidas.

Os passos para o estrelato

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Em 1950, ela participou do Miss Italia, ficando entre as finalistas e tendo seu interesse por atuar despertado. Foi então que ela começou a fazer aulas de teatro e a participar de pequenas produções, ainda sem assumir o nome “Loren”. Foi apenas em 1952, quando conheceu seu futuro marido, que ela começou a assinar como “Sophia Loren”, uma junção de seu sobrenome com o de outra atriz, a quem ela admirava muito, Märta Torén.

Seu reconhecimento em meio aos críticos de cinema já surgiu com Aida, produção de 1953. Depois disso ela atuou em Duas Noites com Cleópatra (1953) e assumiu o papel de destaque em O Outro de Nápoles (1954), com direção de Vittorio de Sica, assumindo sua personalidade napolitana, que a projetaria para todo o mundo.

Reconhecimento internacional

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Em 1961 ela alcançou o mundo todo com sua atuação em Two Women, papel que lhe rendeu 22 prêmios internacionais, além do Festival de Cinema de Cannes e o Oscar de Melhor Atriz, o primeiro prêmio da Academia a reconhecer um desempenho não inglês.

Servindo como o rosto perfeito da Itália no mundo, em 1964 ela chegou a receber US$ 1 milhão para atuar em A Queda do Império Romano. Em 1965 veio a sua segunda indicação ao Oscar, por sua atuação em Matrimônio à Italiana.

Muitos outros prêmios apareceriam em sua história ainda nas décadas seguintes. Em 1991 ela foi honrada com o Oscar honorário, em homenagem à sua contribuição para a história do cinema, além do Grammy.

Em 1999, ela foi escolhida pela American Film Institute (AFI) como uma das lendas da história do cinema, sendo uma das últimas ainda vivas a fazerem parte deste seleto grupo.

Maternidade

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Após se tornar mãe, na década de 70, a atriz recusou diversos papéis para se concentrar na criação dos filhos, buscando dar a estabilidade que ela não encontrou em sua casa nos primeiros anos de vida.

Tornando-se cada vez mais seletiva nos papéis, ela se tornou um mito do cinema, um ícone que remete a um período de divas hollywoodianas.

O rosto da melhor idade

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Além de ser uma das grandes atrizes do cinema, com uma carreira versátil, ela também é um ícone de moda e estilo. Referência para as pessoas de maior idade, Sophia Loren não é apenas um ícone que envelheceu, mas é um ícone que ensinou as pessoas a envelhecerem por uma via alternativa – mantendo uma carreira aberta e participando da vida pública como sempre fez.

Sua participação, muito emocionada, nas festividades do aniversário – além de se tornar a garota propaganda do novo perfume da marca Dolce&Gabbana – é mais uma amostra de como Loren é inesquecível para o cinema, para a moda e para Nápoles, cidade que a acolheu e a que ela destina um enorme carinho.

Livro: Do Arrebatamento

O conhecimento da poesia nos leva ao êxtase. Descobrimos isso quando nos deparamos com o livro de estreia da escritora, poeta, tradutora e agitadora cultural Cristina Macedo.

Abrindo seu livro na turbulência dos poetas libertários e adentrando de imediato no indomável caminho do lirismo erótico – sempre sujeito a interpretações adversas – a poeta revela toda sua arte neste livro inaugural, acertadamente batizado Do arrebatamento (Ed. Gazeta, 2015). Nesse seu primeiro trabalho solo, Cristina Macedo escolheu o caminho dos versos sensoriais e afrodisíacos num ímpeto suspenso, líquido e gozoso que eleva sua poesia ao patamar mesmo de um… arrebatamento. Que belo título!

A reunião de poemas Do arrebatamento é um instante único – como única deve ser a poesia de todo aquele que coloque sua cara pra bater. Pois é disso que podemos falar no instante em que terminamos a leitura do livro de Cristina Macedo: queremos mais, queremos mais daquilo que nos fez calmos.

Trabalhando de forma límpida e rítmica com temas da natureza, do cotidiano e do amor a dois, Cristina parece nos propor aquilo que está em um dos seus epítetos extraídos de Hilda Hilst: “Ama-me. É tempo ainda. Interroga-me”. Dentro desse espírito, poemas como “Urgência”, “Rito” e “Intenso” parecem demonstrar bem a força da escritora. Há neles algo de uma história de amor contada, que perpassa de certo modo todos os poemas e que está na intensidade própria de cada palavra cravada no livro.

A grande força do texto de Cristina parece confundir-se, assim, com a própria trajetória vulcânica e arrebatadora da escritora – tradutora, agitadora e promotora de eventos literários, ela costuma reunir ao redor de si grupo de poetas, colocando-os a exercer seus poemas ao vivo, na intensidade das belas vozes daqui. Esta, aliás, é a própria origem da palavra/poesia/literatura: ritmo e oralidade. E isso, leitor, podemos encontrar como semeadura no livro de Cristina Macedo: seus poemas são recitáveis, seu domínio da palavra rápido e avassalador; sua sintaxe, desconcertante/desconfiante; e finalmente, seu livro de largada, Do arrebatamento, nos convoca: “aqui estou e me extasio / entre tuas coisas ainda”. Depois: “siga o compasso / do meu cansaço / dance comigo”. E por fim: “me ama agora ou não me ama”.

Natural de Santa Maria, a escritora Cristina Macedo tornou-se conhecida pela sensível e adequada tradução da obra Ariel da escritora americana Sylvia Plath, em parceria com Rodrigo Garcia Lopes, reconhecida por sua obra esparsa publicada em inúmeras coletâneas, a autora hoje ocupa a cadeira nº 23 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul.

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Estabelecida territorialmente em Porto Alegre, a poeta é também respeitada como uma autêntica agitadora cultural. Desde 2008 ela é a criadora e a divulgadora do Sarau Literário Zona Sul – atualmente em sua 52ª edição – evento já tradicional do círculo de poetas de Porto Alegre, agregando nomes locais como Berenice Lamas, Paulo Roberto do Carmo e Mário Pirata.  No evento, Cristina costuma trazer aquilo que define como “poemas à flor da pele”, e é comum ela reunir autores para ler poemas de gente do mundo, como Adélia Prado, Hilda Hilst e Wislawa Szymborska. Alguns desses saraus são temáticos, como aquele organizado sobre poetas russos, que aconteceu na recentemente reinaugurada Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande Sul.

Sobre o sucesso da fórmula de agregar poetas para seu Sarau Literário Zona Sul, a autora revelou em entrevista anos atrás: “Acho que a literatura/poesia em um bar, ou cafeteria, ou ainda, restaurante, como tenho feito, permite uma descontração que um palco, por exemplo, não oferece. Quanto ao repertório, faço um ou dois encontros com o escritor antes do evento, e criamos juntos um roteiro. Seleciono cerca de 25 ou 30 poemas, que serão lidos, pelo poeta e por mim, na noite do sarau”. O evento acontece sempre na última semana do mês, quase sempre em algum local conhecido da Zona Sul.

O êxtase proporcionado pela leitura dos escritos de Cristina Macedo resulta ao leitor numa satisfação plena, diria, num arrebatamento – esta tão bela palavra utilizada no título de seu primeiro livro. Com a poesia de Cristina Macedo, vivemos a sensação de liberdade que explode num de seus textos, “Prova”: “antes de ti / não sabia nada / contigo ao lado / sou pós-graduada”. Coisa linda de poeta (e de se ler).

Boa leitura.

Esquadrão Suicida Suicida-se

esquadrão suicida

HA! HA! HA! (Joker)

Esquadrão Suicida não é um trabalho que possa ser avaliado por expectativas. Isso porque o longa abre mão de qualquer sentimento positivo nutrido em relação aos trailers divulgados para simplesmente ser um entretenimento fraco.

Os problemas atravessados durante as filmagens e a consequente mudança de escopo devido as péssimas críticas pós-Batman Vs Superman, não servem, de forma alguma, como desculpa. Foi mais um tiro no pé da Warner que, ainda, tenta seguir desesperadamente o sucesso alcançado pelos estúdios da Marvel.

David Ayer não passa qualquer proximidade e profundidade no comando da adaptação dos piores vilões da DC. A mão do diretor é incoerente e sem tato.

O script, também concebido pelo mesmo, nada mais é que um rascunho contrário aquele ensinado nos mais variados manuais de roteiros cinematográficos. Desde o seu início, a montagem descompassada é suicida, ironicamente.

Will Smith foi uma péssima escalação e o filme comprova isso. O carisma natural do astro não é suficiente para uma identificação do espectador e isso acontece com todos os outros do elenco.

Nem mesmo Jared Leto e Margot Robbie salvam-se da vergonha alheia de um roteiro maltrapilho. Se há um nome a ser aplaudido mediante tantas falhas, esse é o nome de Viola Davis. Davis imprime, na medida certa, toda a galhardia e propriedade de uma Amanda Waller.

Mas o grande ato falho de Esquadrão Suicida é esquizofrenia da sua história. Não faz sentido. Faz apenas graça. E de graça vivem as comédias caricatas, pretensiosas para serem dessa forma. A trilha sonora eletrizante cativa, mas nubla os diálogos piegas, as cenas de ação enfadonhas e o clímax brochante.

Fica cada vez mais difícil levar fé no núcleo criativo do estúdio a respeito das futuras adaptações. A Warner corre loucamente por aceitação e diz não querer ser comparada com a Marvel.

É compreensível tamanha ressalva, até porque não há base para essas discussões. A Casa das Ideias marcou presença nas aulas de cinema. A Warner quis dar uma de viver a vida adoidada, mas desistiu e ficou em casa jogada no sofá assistindo tudo e nada na mesma programação de sempre.

O que você faz e deixa de fazer em um ano?

Um ano se passou desde que eu troquei de emprego.

E esse é o principal motivo pelo qual o La Parola começou a ser atualizado a passos de formiga.

É difícil admitir que você não consegue dar conta de tudo o que planeja.

Sabe aquela listinha de fim de ano que você faz com mil resoluções?

Ou aquelas promessas mentais que habitam em nosso imaginário sempre que colocamos a cabeça no travesseiro?

Há quanto tempo você está planejando?

Há quanto tempo você está “em processo de mudança”?

Há quanto tempo você estará começando na próxima semana?

Eu, Flaubi Farias, fundei o La Parola em agosto de 2012. E até agosto de 2015 foi minha principal diversão e minha principal profissão.

Agosto tem dessas coisas. Sempre marcado por alguma mudança gritante na minha vida.

Enfim, há um ano eu comecei a dividir o La Parola com outra profissão. E me tornei o que pensei que nunca seria: um assalariado.

Mas essa escolha foi feita a dedo.

Mudei de Passo Fundo para Florianópolis e comecei a trampar na Resultados Digitais, na época recém eleita como a melhor empresa para se trabalhar em Santa Catarina.

Curioso que esse foi o primeiro e único currículo que enviei depois de formado na faculdade. Sim, vou fazer uma piadinha: tenho 100% de taxa de conversão (se você não entendeu a piada, precisa saber mais sobre Inbound Marketing e Marketing Digital).

Aqui, sou editor do blog da empresa, e mais do que de fato escrever, tenho o papel de ajudar quem quer compartilhar suas ideias e experiências na internet. Essas experiências, por sua vez, ajudam a milhares de outras pessoas que possuem um sonho: fazer o seu negócio próprio dar certo. É gratificante.

Em paralelo a isso, no último ano também ajudei diretamente na construção de dois negócios (fazendo o marketing de um blog de arquitetura e de um pet shop em Lajeado). São coisas de família. Feitas com pouco dinheiro, mas muita disposição.

Ah, também tive o melhor dia da minha vida, relatado aqui.

Um ano se passou desde que eu troquei de emprego. E esse é o principal motivo por eu estar aqui escrevendo hoje.

É preciso refletir sobre o que você fez e o que deixou de fazer a partir do momento em que uma mudança de alto impacto estacionou em sua rotina.

Já resumi um pouco do que fiz. Mas o que não fiz?

Bom, eu gostaria de ter escrito mais vezes aqui. No mínimo duas vezes por semana.

Mas não deu. Não priorizei. Não calculei direito. Não me esforcei o suficiente. Não sei.

Um ano se passou e eu precisava refletir sobre isso. Talvez você se identifique de alguma forma.

Quantas vezes você já caiu na armadilha do “amanhã eu começo”?

Quantas vezes você deixou a ideia presa apenas à sua própria cabeça?

Você pode sempre começar a fazer muitas coisas. Mas se não medir bem o tempo, sempre vai precisar deixar alguma de lado.

E você?

O que os últimos 12 meses te trouxeram? Ou o que eles não trouxeram?

A cultura oriental traduzida pela veia artística do criativo e crítico ilustrador espanhol Pejac

O artista espanhol Pejac sabe como colocar mil significados em um único desenho. Não é novidade por aqui, a criatividade do artista já foi explorada e noticiada no La Parola em outra ocasião.

Só que nesse novo trabalho, Pejac foi, digamos, um pouco mais temático. Fez as malas e se mandou para a Ásia, onde aprendeu algumas técnicas artísticas com o pessoal de lá e também criou algumas obras em Tóquio, Seul e Hong Kong.

Pejac divulgou seu trabalho em sua página no facebook e, recentemente, fez o mesmo no Bored Panda, onde escreveu um artigo e contou sobre suas experiências. Traduzo:

Uma das maiores satisfações que tenho ao criar minha arte diz respeito às ações que faço nas ruas. Quando eu trabalho nas ruas um dos meus objetivos é alcançar o maior número de níveis sociais possíveis, e não apenas às pessoas sensíveis à arte. As ruas pertencem a todos, especialmente aos que vivem intensamente.

Acabei de voltar de minha primeira viagem à Ásia. Foi uma experiência difícil, excitante e enriquecedora. Nessa viagem, eu quis criar intervenções que lidassem com atuais situações políticas e sociais de cada cidade, abordando temas de um jeito poético e atemporal. A fim de assimilar melhor tantas culturas, foi essencial eu ter me encontrado com pessoas de lá para aprender novas técnicas e ter novas experiências, e no fim das contas, esse trabalho é sobre o efeito que Tóquio, Seul e Hong Kong tiveram em mim, e não o contrário.

Abaixo, deixo todos os trabalhos que Pejac divulgou. As descrições foram igualmente escritas pelo próprio.

Everyone is an Artist (Tóquio)

Meu tributo às mulheres trabalhadoras do Japão. Mostra a silhueta de uma moça fazendo a limpeza com um balde de água e a recriação de “The Great Wave Off Kanagawa”, de Hokusai.

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Shark-fin Soup (Tóquio)

Esse é um trabalho que utiliza estética clássica de animes para camuflar uma crítica a uma realidade nada legal: o genocídio de uma espécie (tubarões) em que os japoneses não são os únicos, mas os maiores responsáveis. Um predador do mar que emerge na cidade revelando uma mordida humana em sua barbatana.

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Gulliver (Tóquio)

Utilizando um ícone da cultura japonesa que sempre chamou minha atenção, como o Bonsai, tentei fazer um trabalho surrealista que brinca com diferentes elementos em diferentes escalas.

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Seppuku (Tóquio)

Originalmente fiz essa criação como se fosse uma pintura interior há um tempo atrás. Eu fiz essa espécie de homenagem como uma maneira de agradecer à cultura japonesa pela inspiração.

Nota: Seppuku é o nome do ritual suicida japonês previsto no Bushido, o código de honra seguido pelos samurais.

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Iron Curtain (Seul)

Esse trabalho representa uma contradição. Vemos uma cortina semiaberta que, em vez de estar presa por um nó, está oprimida por uma trava de metal de verdade. Uma frágil porta aberta trancada por uma resistente porta de aço.

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Icarus (Seul)

Um abatido avião de papel em chamas prestes a cair. Essa é minha maneira sutil de introduzir um fator poético a uma delicada realidade política, como a que se vive na Coréia do Sul.

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Tagger (Hong Kong)

Na China, o dragão é um símbolo de força e poder. Esse feroz animal mítico, que é capaz de provocar furacões e enchentes, transformou-se aqui em um animal de estimação, que envia uma mensagem universal de amor.

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The Re-Thinker (Hong Kong)

A ideia por trás desse trabalho se deu por causa da falta de tempo e espaço e do ritmo da cidade, em que parece que os habitantes locais não são permitidos a refletir. O Pensador, de Rodin, contempla esta mega cidade do alto de arranha-céus, lembrando às pessoas para que elas parem um pouco e “repensem”.

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Livro: Uma Duas

livro uma duas - eliane brum

Tanto tempo para se ler um livro, ali, parado na estante. Depois fazer esse tempo todo valer a pena porque afinal você enfim leu a obra que estava te olhando durante os dias, meses, às vezes até anos. Lançado em 2011, Uma duas (editora Leya) livro de ficção da jornalista e hoje já consagrada escritora gaúcha Eliane Brum é um desses casos.

Desde o seu lançamento, este era um dos tantos livros que havida ficado numa pilha, como se talvez ainda não houvesse certeza sobre a leitura, e essa dúvida, que muitas vezes costuma cercar alguns livros, dissipou-se nas primeiras linhas do livro, obra que já provoca estranhamento no leitor quando a narradora inicia dizendo que “Eu agora sou ficção. Como ficção eu posso existir”. Que belo começo!

Uma duas, romance de Eliane Brum, conta a história de uma filha que se vê diante da doença da mãe, num caminho em que a filha vai descobrindo o seu papel diante do quadro de saúde decadente da mãe, ao mesmo tempo em que a história vai nos mostrando como ela redescobre a própria personalidade e a intensidade viva de sua mãe.

O livro fala portanto dessa relação tensa que por vezes se estabelece entre filhos e pais, e no caso de Uma duas, como o título parece nos propor, é como se fossem as duas uma só pessoa.

Assim, entre a chegada ao apartamento de sua mãe, que foi encontrada quase morta, abrir a porta do imóvel, chamar bombeiros e ambulância, levar para o hospital, o relacionamento com os médicos, a necessidade de envolvimento da filha com a mãe, o imprescindível cuidado que ela terá que dispor, o tempo que dedicará ao cuidado da mãe, tudo isso de alguma maneira vai desencadear na filha o sentimento verdadeiro por essa mãe. Que em um primeiro momento é tenso, a mãe a rejeita, a filha ironiza os médicos, é preciso tomar providências práticas, cuidar de tudo, sozinha, levá-la para casa, arrumar o apartamento imundo e semidestruído, enfim, retomar o diálogo com a mãe que não quer os seus cuidados.

Cruzam por aí as dificuldades com o chefe da redação, a anulação da vida acomodada e solitária da filha que agora tem que cuidar da mãe, as dúvidas profissionais dessa jornalista, que encontrar na nova tarefa de cuidadora um pouco do sentido da vida. Pela primeira vez na vida ela se sente útil a uma pessoa que tanto detestou.

Publicado com um cuidadoso trabalho editorial, o primeiro livro de ficção da escritora Eliane Brum tem todas suas páginas editadas com letras em vermelho (provavelmente simbolizando o sangramento que percorre a todo tempo a relação mãe-filha), mas o livro tem ainda um outro grande atrativo: a forma escolhida para  contar a história.

Enquanto a história vai sendo contada a partir das angústias de uma narradora a todo momento em dúvida, a tipografia do livro é alterada para mostrar os diferentes estados de ânimo da narradora, os momentos da história, e nesse passo o livro é excepcional ao revelar como o pensamento da protagonista se forma. Mais ainda: a inventividade dessa escrita polifônica se revela ainda nas diferentes formas de relacionamento que a filha desempenha em seus diferentes papéis sociais que assume na história: desde a filha que abandonou a mãe sozinha, passando pelo tenso relacionamento com o corpo médico do hospital até a profissional que deixa o trabalho e passa como boa filha para cuidar da mãe, chegando, ao final, na própria interpretação da filha vivendo o papel de filha – algo que ela havia perdido. Tudo como a comprovar o que a protagonista diz ao final do livro: “Escrevi para poder matar minha mãe”. Contudo, não se engane: é justamente o contrário que nos reserva o livro: é a filha quem redescobre o seu papel diante da mãe convalescente.

Isso tudo nos faz pensar não apenas em nossos diferentes papéis na sociedade (filha, jornalista, etc.), mas também como muitas vezes nos escondemos nesses papéis na esperança de fugir da realidade que nos oprime.

Dessa forma, o otimismo final desta obra, sustentado na bela construção de personagem, é que nos faz acreditar ainda mais no ser humano. Ou no fato de que por vezes acertamos ao puxar da estante o livro certo e adequado para ler no momento certo da vida.

Boa leitura.

Viagem em direção às emoções profundas

Quantas vezes você se sentiu profundamente emocionado no último mês? Não valem filmes, notícias chocantes, programas de TV. Quero dizer, quantas vezes você se sentiu profundamente emocional no último mês por um motivo que fosse pessoal? Um motivo seu? Uma alegria contagiante de tornar o mundo algo leve ou uma angústia de dar agulhadas no topo do estômago? Ou uma vergonha de encolher o seu corpo, uma raiva de avermelhar a pele, um nojo que provoque ânsia de vômito, ou o gozo, o mais intenso gozo, um gozo sexual sagrado?

Nós vagamos pela vida na calmaria da rotina. Vagamos nos prazeres fáceis do consumismo. Vagamos na doutrina de nossas morais. Mas, a grande emoção, seja mesmo a grande tristeza, pode nos oferecer mais do mundo do que poderíamos encontrar na cosmética vida moderna.

Ou, você se decepciona, aquele rapaz não é aquilo que desejava, ou a moça, o toque não compensa o desejo e o silêncio diz apenas que não foi e não será; todos eles riem e o escárnio em seus rostos ofende o seu sonho, o seu projeto, tudo aquilo que você trabalhou; a dor é sufocante, ela esmigalha a sua alma, um simples erro de cálculo e você está em risco; tudo é perfeito, os olhos brilham, aquele é o começo de uma relação para a vida toda. Convites às emoções profundas.

Talvez desejemos viver apenas as boas emoções e as grandes boas emoções, elas nos são prometidas pelos comerciais e aprendemos em nosso individualismo ocidental que somos cada um de nós um pequeno floquinho de algodão especial em busca da felicidade.

Mas, é a felicidade o que está nas pequenas injeções de prazer que podemos comprar no cartão de crédito? Estaria a felicidade na proverbial busca da felicidade? A felicidade é suficiente? E se ela não for? E se ela não vier? Você aceitaria a tristeza? A grande tristeza não é tão grande quanto a grande felicidade? Você tomaria do cálice amargo? E se ele é o que lhe é oferecido no banquete?

Talvez, meu amigo, você precise sofrer. Talvez, amar. Sentir o nojo e o gozo. Relembrar de como são essas emoções já calejadas pela vida adulta. O que eu venho propor é um convite ao erro, o acerto imprevisto, as lágrimas de alegria e decepção, um convite às grandes emoções.

Você aceita?

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