Durante a vida, passamos por breves momentos em que não tendo nada a se fazer, sentimo-nos entediados, olhando os ponteiros do relógio e percebendo a morte se aproximar a cada segundo. Por esse ângulo, percebemos um lado bom em nossa rotina de trabalho, ou seja, de que se estamos com a mente ocupada tiramos o sentimento de morte que o tempo nos mostra, através do relógio. Caso contrário, poderíamos estar com o rabo colado numa poltrona, mudando o canal a espera de algo que fizesse esquecer aquele tédio, o qual só piorasse à medida que os canais fossem passados.
Sem muitas oportunidades, durante certo feriado, estava eu mudando de canal, quando de repente ouvi meu vizinho escutando um clássico do rock nacional:
“sabe esses dias em que horas dizem nada…”
Isso fez com que eu refletisse sobre a questão da solidão, pois agora éramos três passando pelo mesmo sentimento: eu, meu vizinho e o cara que escrevera a letra da música. Então resolvi continuar meu trabalho de troca de canais, quando parei em um que me chamou a atenção.
Sendo que um líder religioso, meio que caracterizado de cowboy, mostrava centenas de fiéis seguidores. Dentre estes, alguns davam seus testemunhos que achei interessante: “…depois que entrei para igreja consegui seis carros, uma moto e ainda tenho oitenta mil no banco. Quero agradecer o senhor por ter feito isso por mim”.
O cowboy limpando o suor do rosto recebe alguns cheques do fiel que diz ser para a igreja, em seguida o líder ainda faz uma sátira: “mas este cheque não é sem fundo não né?”.
“a monotonia tomou conta de mim…”
Em seguida aparece outra fiel com uma criança de colo, a discípula, pior que o cara dos oitenta mil no banco, aparece toda sorridente falando ao seu mentor: “antes de me converter, eu não tinha onde cair morta, agora tenho muito dinheiro para gastar”. (A maioria dos dentes superiores dela era de ouro. Outra coisa que chamou atenção do seu conselheiro que não deixou de fazer outra piadinha).
“cortando os meus programas, esperando o meu fim…”
Quando estava quase para mudar de canal, eis que aparece mais uma fiel, surgindo do meio da multidão aos berros e quase derrubando o líder, e este quase esbofeteando a mulher a qual fazia questão de dar seu testemunho (ou aparecer na TV): “eu estava sem andar, com problemas disto e daquilo, dada como morta pelos médicos até que o senhor surgiu e me fez curar…”.
Depois disso resolvi parar de perder tempo. E meu vizinho resolveu finalmente trocar de música.
“Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal, e fazer tudo igual, eu do meu lado aprendendo a ser louco…”
Então, fui ao bar mais próximo comprar uma caixinha de cerveja gelada para matar o calor e o enfado do tempo perdido.
E pensando que enquanto alguns ganham dinheiro em sua igreja vendendo a água, eu gasto na minha igreja comprando o vinho.
Ouvi de um grande cara uma vez que a arquitetura era música petrificada. Lembro que na hora que escutei isso fiquei completamente maravilhado. No ato, comecei a imaginar grandes castelos, dunas monumentais e todo e qualquer tipo de construção mirabolante que pudesse ser erguida como uma torre de cartas, só que nesse caso, com uma lage 100% batida em tijolinhos de groove.
Faz bastante tempo que ouvi essa frase. Creio que faz mais tempo ainda que não relacionava a mesma com nada, mas veja só como é a vida, foi só sair da estação da Luz e começar a caminhar rumo à Sala São Paulo, que ao observar os primeiros contornos desse ótimo exemplo de excelência arquitetônica, já lembrei da adaptação do grande Danniel Costa.
O engraçado é que nunca tinha visitado o recinto. Sabia que era uma das melhores salas para concerto do planeta, mas depois de entrar e sentir o ambiente, confesso que fiquei envergonhado por ter nascido na capital e nunca ter aparecido por lá antes.
Foto: Wilian Aguiar
Mas também é aquela história, se por um lado eu demorei pra comparecer, por outro acredito piamente que fui no dia certo, afinal de contas na noite do dia 30 de março, 2 gigantes do Jazz estariam caminhando sobre aquele palco de incontáveis sinfonias.
O King Herbie Hancock e o Kong Wayne Shorter. Quando o BrasilJazzFest anunciou esse evento de proporções históricas, quase tive um leve infarto. Lembro que dei até um F5 na tela pra saber se não era mentira ou algum tipo de pegadinha implantada pela minha própria mente.
Mas graças à Charlie Parker era a mais pura verdade, mas confesso que ainda assim só acreditei quando vi Herbie & Wayne chegarem aos seus respectivos aposentos. Um foi para o piano, o segundo sentou no saxofone e, sem ao menos tocarem uma nota, já foram completamente ovacionados.
Foto: Wilian Aguiar
Na plateia a tensão era tanta que era possível ouvir a respiração das pessoas. Se um afinete caisse no chão todos olhariam para o lado com um reflexo digno da fuga de uma bomba, mas bastou o início do mais cristalino Jazz, que tudo foi ficando mais leve enquanto a dupla pintava imagens belíssimas dentro da mente de cada um dos presentes.
Foram 75 minutos de um dos shows mais livres que pude presenciar. Se não me engano foram 3 paradas antes do bis com uma versão Free-Jazz absurda para a clássica ”Encontros e Despedidas”, tema do grande Milton Nascimento, um dos mais célebres amigos desse duo-meca do Jazz.
Confesso que estou digerindo essa performance desde o momento em que sai da casa e declaro que ainda não consegui enumerar com precisão toda a leva de absurdos pelos quais fui submetido. Aos 75 anos foi impressionante ver a vitalidade do senhor Hancock. Wayne, dessa vez com 82 verões Jazzísticos, foi outro que me impressionou, a calma de ambos foi digna de um Buda. É notável como eles parecem frágeis até o momento de se verem empunhando seus instrumentos… Dali pra frente a vida eterna parece a mais pura realidade.
Foto: Wilian Aguiar
A suavidade. O pleno controle da longevidade das notas e a qualidade de som… Acredito que tenha sido a primeira vez na vida que pude ouvir uma nota reverberar em sua totalidade. E entre devaneios eletrônicos/experimentais, o tempo passou como um sopro de ar fresco pela janela, enquanto apreciava o melhor show da minha vida em termos de Jazz e de qualidade de som.
A imersão de improvisos foi imensa e todos os presentes seguiam perplexos a cada nota. Não teve nada do Headhunters ou da época do Miles Davis Quintet, mas o legado dessa performance é mostrar como a desconstrução musical promovida por esses dois gênios, segue explorando um infinito particular que é o que mantém ambos na ativa.
A música não termina, as notas seguem no complexo sonar e no dia em que me perder num feeling tão intenso, leve, denso, quente e frio como este, confesso que as sinestesias perderão o significado.
Escolha um dia cinza,
Se possível feriado nacional
Aproveite a solidão de um quarto escuro
Deixe a porta meio aberta para clarear as palavras
Sente-se na poltrona mais confortável que puder.
Se não tiver, pode ser no chão mesmo.
Pegue uma cerveja bem gelada
e não se esqueça do maço de cigarros
Encare a obra como se estivesse com o autor do lado falando os velhos palavrões
Não se assuste! Os xingamentos fazem parte do estilo bukowskiano.
Esteja consciente do soco no estômago que a obra lhe causará
E isso não será consequência do excesso de sua cerveja.
Quando sentir um bafo de cigarro,
É porque está começando a ouvir a voz do escritor.
Esqueça do tempo lá fora,
Concentre-se apenas nas palavras.
Pois ao final você saberá que o mais importante é:
Ler, beber e foder.
A música é capaz de instaurar um grau de fanatismo por certos atos que pode beirar à cegueira de uma seita religiosa. Os riffs podem instaurar uma paixão sem precedentes frente aos ouvidos sedentos por volumes exorbitantes… É como juntar o útil ao agradável, a fome com a vontade de comer alguns diriam.
Mas confesso que mesmo com alguns bons anos acompanhando as caravanas de turnês São Paulo afora e adentro, que nunca encontrei nenhuma banda com uma base de fãs tão fiéis quanto a que o Iron Maiden possui.
É impressionante que até o comportamento da malha de apaixonados pelo bando de Steve Harris & cia é diferente. No lugar de ficar gravando cada segundo do show, o público canta todas as letras em uníssono. Prezando pelo zelo e a ordem, muitos preferem não se matar no bate cabeça e apenas almejam localizar um ponto estratégico do estádio, só para não perder nenhum detalhe de uma parede instrumental quase intransponível e magnifíca.
De fato, são muitos os detalhes que fazem do show do Iron uma experiência única. É interessante notar também que 90% da platéia conversa sobre os shows passados. Muitos deles já viram a banda em mais de duas ou três oportunidades. Eles conhecem a história, dominam o assunto e não o fazem por puro e simples modismo, o dogma deste epicentro de New Wave Of British Heavy Metal vai muito além disso.
Só uma banda tão grande e com uma discografia deste porte pode nutrir tanta febre. E em tempos onde a indústria fonográfica registra quedas e mais quedas no volume de vendas, ver que o sexteto ganhou mais um disco de platina no Brasil com o exuberante ”The Book Of Souls” (décimo sexto disco de estúdio lançado ano passado), só mostra como os caras mantém o bom trabalho e como os gritos de ”Olê-Olê-Olê-Olê: Maiden-Maiden”, não são meramente ilustrativos, o sangue da donzela ainda carrega muito poder.
Só que antes de mais um cálice do mais puro Heavy Metal, os 42 mil pagantes presentes no Allianz Park começaram a passar por mais um batismo de fogo ao som da primeira banda de abertura, o The Raven Age, grupo do filho do baixista Steve Harris, o herdeiro George Harris.
E foi com muito vigor que o quinteto emulou seu competente Metal melódico, enquanto o pessoal se apinhava, ali, ligeiro, pra ficar na bota do show do Anthrax, entidade americana que surgiu logo na sequência e tratou de traçar uma excelente apresentação e eliminar qualquer tipo de dúvidas sobre o seu posto no chamado Big Four dos headbangers profissionais.
Foi com muito entrosamento e inspiração, que a banda liderada pelo guitarrista Scott Ian, colocou o público no bolso, e ainda o fez com a crueldade dos antigos standards do grupo (como ”Medusa”) e outros temais mais recentes, advindos de ”For All Kings”, o elogiado décimo primeiro trampo de inéditas do complô de Trash Metal made in Nova York.
Foram dois shows bastante compactos, mas muito vibrantes e certeiros. As duas bandas ficaram no palco por cerca de 45 minutos (com direito até a participação de luxo de Andreas Kisser no fim do show do Anthrax), e depois que Joey Belladonna se despediu (após mais uma excelente performance vocal) era o momento do ultimato: o Iron entraria em cena, era só questão de tempo até o Eddie lançar o avião da banda rumo ao palco de mais uma gloriosa noite.
Foram mais de duas horas de show, e não importa o quão preparado você saia da sua casa. Não interessa se esse é o seu primeiro ou décimo show do Iron…. Você vai sair embasbacado de qualquer maneira e, para cumprir tabela, eu fiz questão de sair perplexo.
É engraçado que nessas listas de melhores guitarristas de Metal pouca gente dá a devida moral para o Dave Murray, Adrian Smith ou o Janick Gers (talvez o menos celebrado do trio). Mas o que esses caras tocam ao vivo, a perfeição, a naturalidade, os malabarismos e os fantásticos solos. Não seria exagero dizer que no dia 26 de março eu vi 3 dos maiores solistas do som pesado.
Foi muito bom também sacar os temas do disco mais recente e ver a exatidão com a qual todos estavam tocando. As guitarras especificamente travaram verdadeiros duelos épicos, mas em nenhum deles tivemos um vencedor, a não ser o público é claro, que entre temas sinuosos como o single do disco mais recente (”Speed Of Light”) e os devaneios progressivos de ”The Red And The Black” ficou absolutamente arrebatado pela beleza das passagens instrumentais.
Mas não é só por um grande trio de guitarras que o Maiden é formado. No baixo, a vitalidade que Steve Harris demonstrou foi impressionante. O baixista corria o palco todo, sempre cavalgando no groove com uma precisão cirúrgica, enquanto a bateria de Nicko não dava descanso para o caminhar do grave e mostrava uma pegada que deixa muito moleque de 20 anos no chiinelo.
Mesmo que você nem goste tanto de Iron, rapaz, recomendo fortemente que chegue junto no próximo show e veja com seus próprios olhos, tudo que esse texto visa relatar. Infelizmente algo sempre se perderá, não importa o quanto eu escreva, mas santa traquéia Batman, o que o Bruce Dickinson está cantando é um absurdo, e ouvir todos esses clássicos do lado de meus iguais, mesmo que pela terceira vez, foi uma sensação única, mais uma.
Parecia que por pouco mais de duas horas eu tinha 10 anos novamente e estava sentado no chão do meu quarto de frente para o rádio Toshiba que eu tinha, e que sempre que possível, tocava o ”Fear Of The Dark” no volume mínimo: o máximo.
Aqueles coros que arrepiam. Uma dúzia de riffs que entram pela veia e batem mais que glicose. Uma paixão que nunca para de pulsar e que, contrariando todas as estatísticas, só aumenta. Isso é Iron Maiden, esse é o legado, e para variar foi a tônica de mais uma belíssima passagem por nosso país. Excelente é pouco, eu diria que foi padrão Iron Maiden, foi do do cacete!
Set List:
”If Eternity Should Fail”
”Speed Of light”
”Children Of The Damned”
”Tears Of A Clown”
”The Red And The Black”
”The Trooper”
”Powerslave”
”Death Or Glory”
”The Book Of Souls”
”Hallowed Be Thy Name”
”Fear Of The Dark”
”Iron Maiden”
Bis:
”The Number Of The Beast”
”Blood Brothers”
”Wasted Years”
Desde que a Warner sentiu que precisava coexistir pela atenção dos fãs, também apreciadores da Marvel, o estúdio ainda parece desconhecer o equilíbrio entre qualidade e entretenimento. Após um “O Homem de Aço” desconcertante, mas honesto em muitos pontos, chega aos cinemas o tão esperado confronto Batman vs Superman, dando início à estruturação de algo mais ambicioso: a Liga da Justiça.
Mas, novamente, ao invés de ter a qualidade criativa como prioridade, o estúdio fez o caminho inverso, tentando praticar o maior número de “fan service” possível. É claro que, para os fãs, todo esse movimento torna-se legítimo e prazeroso de se assistir, mas a mão pesada e de excessos de Zack Snyder deixa a produção com uma cara “fácil demais”, pois tudo o que importava era anestesiar o público com referências e momentos épicos, antes apenas imaginados. O erro foi insistir nesses fatores como sendo suficientes para manter o interesse.
Batman vs Superman não é sombrio ou sério. O filme é um vislumbre de intenções. David S. Goyer permanece sendo o ponto fraco dessa nova era do estúdio. Goyer não parece ter aprendido muito com Chris Nolan. Tampouco a revisão do script, feita pelo excelente Chris Terrio, que trouxe ao longa ótimos diálogos e climas mais reflexivos, manteve a qualidade coesa durante os 152 minutos.
São diversos excessos entre as narrativas dos personagens. Em cenas isoladas, você vibra como criança. Em outras, o sorriso fica amarelo diante das motivações constrangedoras e saídas fáceis demais para dois dos personagens mais icônicos do panteão da DC Comics.
E nada disso foi culpa de Ben Affleck e Henry Cavill. Ambos estão particularmente entregues aos seus papéis, principalmente Affleck, para o qual muitos torceram o nariz por sua escalação. A Mulher-Maravilha de Gal Gadot impressiona, mas a participação da Amazona não passou de mais um chamariz para alavancar vendas e desviar a atenção do esqueleto frágil que era o roteiro.
Ainda assim, nem tudo está perdido no universo cinematográfico da rival da Casa das Ideias. O fôlego é promissor para os próximos projetos, mas para isso, cabe à Warner perceber que não precisa competir com outros, porque será uma eterna discussão sobre DC vs Marvel. Mas, assim como o título do filme, o embate mais apropriado acontece no próprio quintal: DC vs Warner: A Origem do bom senso.
O potencial criativo da Marvel atingiu patamares bastante interessantes para a segunda temporada de Demolidor, na Netflix. A seriedade dos novos personagens e um clima ainda mais sombrio estava sendo aguardado, mas talvez nem mesmo os fãs e críticos pudessem imaginar episódios tão brutais e amedrontadores quanto os mostrados no novo ano da série.
De um salto na narrativa, bem diferente da obrigatoriedade de ser apresentado, como na primeira temporada, Matt Murdock, Karen Page e Foggy Nelson retornam muito mais maduros e exacerbados de uma carga dramática bastante palpável. E tudo isso ganhou ares ainda mais tensos com Frank Castle e Elektra Natchios.
Perspectivas novas foram apresentadas e não há como negar o crescimento qualitativo da série. Talvez num futuro próximo, o retorno de Jessica Jones possa ser beneficiado por isso, já que a sua estreia fora muito abaixo daquilo que poderia, mesmo reconhecendo a sua importância. Mas voltando ao herói mascarado, desde o primeiro até o décimo terceiro episódio, Demolidor é uma jornada intensa sobre moralidade e justiça.
A espinha dorsal da temporada é, sem dúvida, Frank Castle, vivido por Jon Bernthal, o Shane de The Walking Dead. Mas esqueça por um momento o seu personagem na série de zumbis. Bernthal teve participações bastante expressivas em alguns filmes e a sua caracterização de Punisher é essencialmente uma das coisas mais memoráveis já vistas para uma adaptação em quadrinhos, principalmente no que diz respeito ao universo da Casa das Ideias.
As perdas de Castle e o modus operandi de justiça com as próprias mãos são velhos conhecidos, mas como seus sentimentos, culpas e morais são debatidas ao longo da temporada, certamente levam os espectadores a uma reflexão urgente sobre se realmente é efetivo e certo fazer justiça acima da lei.
Dentro dessa mesma teia, o próprio Demônio de Hell´s Kitchen termina por se perguntar as mesmas coisas, e toda religiosidade de Murdock e sua crença no sistema judiciário sofrem duros golpes que corroboram os princípios de Castle, ainda que não nas mesmas proporções.
Por outro lado, Elektra (Elodie Yung) é a gota no oceano, onde dificilmente encaixa-se o argumento sobre os fins justificarem os meios. Ela é o caos e o equilíbrio na vida de Murdock. Junto do seu passado, revelações e construções muitíssimo bem trabalhadas pelos roteiristas da série.
E o sentimento remanescente entre os vigilantes de Nova York ressaltam, mais uma vez, o grande diferencial nas últimas produções da Marvel; o apelo à realidade. Quanto mais próximas da nossa realidade forem as situações, as escolhas e as consequências, mais será de interesse criativo dos envolvidos.
Porque a Casa das Ideias sempre fez questão de usar poderes e habilidades de heróis e vilões exclusivamente como adereços para chamariz, pois não somos tão distintos assim de personagens em quadrinhos.
No fim, sobram espaços para novos easter eggs e uma expansão ainda maior de outros personagens secundários, como retornos de velhos conhecidos. Mas o crucial no segundo ano da série, não é apenas criar novos laços e uma interdependência dos personagens que depois culmine na minissérie Os Defensores.
A proposta aqui, além do altíssimo nível criativo e técnico dos episódios, é, na verdade, fazer cada indivíduo ser transportado para uma realidade não muito distante daquela que convivemos diariamente, onde pessoas são acometidas pelas escolhas mais impossíveis e precisam, cada qual na sua própria maneira, lidar com a sutil diferença entre o certo e o errado.
Uma tempestade ameaçou Porto Alegre no dia 2 de março. E, por incrível que possa parecer, o melhor abrigo foi a céu aberto.
Os Rolling Stones em Porto Alegre foram o ápice. O evento mais grandioso, gigantesco, fenomenal que a cidade já viu.
Para um fã não é exagero dizer que foi o momento da vida. Estar frente a frente com esses jovens septuagenários foi meio que uma prova de que eles existem e são seres humanos como a gente. Na verdade, tenho minhas dúvidas ainda.
Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts pisaram em Porto Alegre e fizeram o melhor show dos Rolling Stones no Brasil. Quem esteve entre os 49 mil fãs presentes já sabe os motivos. Quem não foi, tudo bem, eu conto.
Setlist e outros acontecimentos
As 18 músicas escaladas para fazerem parte da apresentação foram dominadas por clássicos dos anos 60 e 70, as duas décadas mais produtivas da banda.
As únicas exceções foram uma emocionante Out Of Control, do Bridges To Babylon (1997) e uma enlouquecida Start Me Up, do ótimo Tattoo You (1981).
O tiro inicial, com Jumpin’ Jack Flash pegou direto no olho e chacoalhou todos os tímpanos que estavam pelas redondezas. Certeiro! Histeria coletiva. Parecia como nos vídeos dos Rolling Stones tocando nos anos 60, onde em algumas passagens, os gritos da audiência presente ficava mais alto que a própria música, o que se repetiu em It’s Only Rock and Roll, Tumbling Dice e Out Of Control. Essa última, com Mick Jagger na harmônica, com todo mundo já com a roupa encharcada e finalmente com a certeza de que estava rolando.
Foto: La Parola
Aliás, Mick Jagger, ao longo de seus 72 anos e demonstrando uma energia de uma criança de 6 anos, tomou o maior banho de chuva da vida e dançou a noite inteira na frente da plateia, com coreografias características, indo pra frente e pra trás, pra esquerda e pra direita, do palco prolongado. Keith e Ronnie perceberam que a chuva não iria cessar e não se importaram também. Foram várias vezes para a frente do palco e se conectaram à plateia ao entrarem na mesma chuva.
A música escolhida pelo público, entre as quatro opções que a banda disponibilizou para votação antes do show, foi a atemporal Let’s Spend The Night Together. Essa é uma eleição que ninguém poderia reclamar. Nem falar que houve fraude ou golpe. Street Fightin Man, Get Off My Cloud e You Got Me Rockingficaram de fora, mas se tivessem entrado, quem ousaria ficar insatisfeito?
E justamente depois da escolha da audiência aconteceu a maior surpresa da noite. Após Mick Jagger com seu português britânico falar ao microfone “Canção rrrromântico”, começa a sussurrar calmamente acompanhado do piano os primeiros versos de Ruby Tuesday. Foi uma dose dupla do classudíssimo Between The Buttons (1967) batendo muito forte em todo mundo antes de continuar batendo mais forte ainda com Paint It Black e Honky Tonk Women.
Foto: La Parola
Um dos momentos mais esperados no show foi quando Keith Richards assumiria os vocais. Acompanhado de Ronnie Wood, foi com o violão um pouco mais para a frente do palco dar um alô mais íntimos para o pessoal. E com uma cara muito sorridente, nos presenteou com You Got The Silver e Before They Make Me Run.
Na volta, Mick Jagger puxou de novo a harmônica para tocar o blues furioso de Midnight Rambler, em uma versão bem mais longa que os registros de estúdio. Aliás, boa parte do show foi assim, com a banda prolongando refrões e solos, correndo de um lado para o outro.
Jagger foi o jogador que mais se movimentou no estádio, e algumas vezes recebia a companhia dos dois guitarristas lá na frente. Keith não tem (e quando teve?) a energia infinita de Mick, mas ainda caminhou bastante pelo palco, fazendo seu estilo, tocando um acorde e olhando para o outro lado, como se passasse a bola pro Ronnie e virasse o rosto. Enquanto isso, Charlie segurava o ritmo lá atrás como o defensor mais elegante que já vimos.
Foto: La Parola
Conhecemos de perto também um baixista chamado Daryl Jones, que mostrou o maior groove da noite em Miss You. E Sasha Allen, que arrepiou até os mais desalmados no refrão de Gimme Shelter, outro momento indescritível do show.
Outro riff que acertou mais uma vez no olho de todo mundo, Start Me Up, começou quando a chuva já havia virado temporal. Ninguém mais se importava do tempo que substituiu o calor característicos que é ficar em meio à multidão. Outro detalhe percebido em virtude do clima foi que menos celulares estavam assistindo aos shows.
Em Sympathy For The Devil, Mick Jagger vestiu peles vermelhas, combinando com o telão rubro, cheio de referências à própria música, e acompanhado de tinhosos uh uh’s da massa. O solo de Keith nessa também foi outro momento aguardadíssimo. Depois de ouvir centenas de vezes pelas caixas de som e pelos fones de ouvido, presenciar ao vivo foi especial demais.
Foto: La Parola
O mesmo valeu quando a próxima música começou, com Keith indo mais para a frente do palco e iniciando Brown Sugar em minha frente! A prolongada versão de mais um hino da banda acabou e, junto, iniciava o fim. A banda foi embora, e nesse momento todo mundo já percebeu: “Agora é o bis só faltam You can’t always get what you want e Satisfaction“.
E no retorno, quem abriu os trabalho foi o coral da PUC, cantando I saw her today at the reception… e sendo acompanhada depois da banda toda. Imagina a honra! No final da música, o momento de desespero de “putz, só tem mais uma e parece que eles começaram a tocar há 5 minutos”. É, shows épicos costumam avacalhar com a nossa noção de tempo. Quando menos percebi lá estava Keith Richards iniciando o riff mais famoso do rock. É bem justo que os Rolling Stones fechem o show com Satisfaction. Ainda mais em uma versão diferente da que estamos habituados a escutar, com refrões muito mais longos e grudentos.
Posfácio
De repente a banda apareceu no palco e foi tudo muito mágico. Finalmente estávamos vendo nossos ídolos por meio de nossos próprios olhos. E de repente acabou Satisfaction e a banda já estava toda reunida na frente, sendo aplaudida e reverenciada por todo o estádio. Ainda continuava chovendo e a esfriar cada vez mais.
Charlie Watts colocou até um casaquinho quando se levantou da bateria e se juntou à banda para um abraço coletivo. Aliás, todos pareciam muito bem e felizes por estarem juntos. Mick e Keith por várias vezes ficaram junto, e trocaram alguns abraços. Ronnie e Keith se olhavam como melhores amigos, e sorriam um para o outro como dois guris tocando pela primeira vez em uma banda.
Mick Jagger, o stone mais brasileiro, arranhou um português em vários momentos e, muito bem assessorado, usou alguns regionalismos pra ganhar o público. E ganhou. Afinal, como não ia ganhar ao começar o show falando “tudo bem, gurizada?” e continuando na onda com outras expressões como: “capaz”, “tri foda”, “as gurias de porto alegre são as mais bonitas” e outras expressões.
Certo de que foi um show que superou qualquer expectativa, tanto para os fãs como para a banda, que agradeceu publicamente no Facebook.
Obrigado Porto Alegre por uma noite inesquecível na chuva! E obrigado a todo o Brasil por quatro shows maravilhosos, foi…
Portugal sempre teve uma grande importância para o Brasil. Como país colonizador, Portugal trouxe para as terras tupiniquins um novo jeito de olhar o mundo, por meio da arquitetura, literatura, música e tantas outras formas de expressão.
Basta olhar o centro histórico da maior parte das cidades brasileiras para perceber que a herança lusa não foi completamente embora depois da Independência do Brasil, em 1822.
A maior influência foi vista nos anos seguintes a 1808, quando a Família Real portuguesa mudou o seu endereço para o Rio de Janeiro. A partir disso, a cidade recebeu diversas mudanças para acomodar melhor a Corte. Quadros, espelhos, relógios de parede se tornaram populares. Grande parte dos costumes portugueses foi assimilada pelos brasileiros, que admiravam os europeus pelas novidades trazidas.
A literatura também sentiu as mudanças que ocorreram após a Corte desembarcar. Até 1808, não havia universidades, periódicos e até mesmo tipografias no Brasil, o que dificultava a circulação de conhecimento e livros.
Daquele ano em diante que a literatura brasileira pode enfim de desenvolver. A princípio, as obras tinham forte ligação com o que era produzido em Portugal, como se vê na época do Romantismo.
Porém, aos poucos o Brasil foi definindo a sua identidade e evidenciando mais as suas origens, no período que foi conhecido como Nacionalismo.
Ainda hoje, a literatura portuguesa é estudada nas escolas e universidades. Não é para menos: aí está a origem da nossa língua e muito dos nossos costumes. Luís de Camões, Gil Vicente, Almeida Garret, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa são autores lidos e relidos nos meios acadêmicos, principalmente pelos mais jovens. No entanto, salvo José Saramago, que teve obras reproduzidas no cinema, a literatura atual portuguesa nos é estranha. Coisa que não acontece na contramão – os portugueses tendem a conhecer muito mais os cânones literários brasileiros.
O que acontece do outro lado do Oceano
Popularidade à parte, a literatura portuguesa continua dando ao mundo bons frutos e obras impecáveis. Mais fáceis de serem lidos do que os clássicos de séculos passados, os trabalhos dos escritores portugueses são interessantes porque ajudam a entender o que é Portugal. Boa parte dos literatos preza pela história do seu país e faz referência disso em suas obras, mesmo que de uma maneira sutil e sem se desviar do objetivo principal: o bordado feito com o próprio idioma.
Ler uma obra portuguesa atual é navegar em uma piscina desconhecida, mas que se parece com a que temos em casa. A maior parte das palavras são iguais ao português do Brasil, mas a construção das frases pode confundir, desconcertar e até inibir (ou estimular) a imersão de um leitor iniciante.
A persistência leva ao êxito: dar uma chance para a literatura portuguesa atual é aprender mais sobre a sintaxe, semântica, além de fatos históricos que nos passam despercebidos. De maneira menos acadêmica e mais próxima de nós.
A sinceridade de António Lobo Antunes
Nascido em 1972, António Lobo Antunes é lembrado principalmente pelas opiniões polêmicas, que emite sem dó ou medo de desagradar os fãs. Em entrevista ao El País, o escritor disse não gostar de Fernando Pessoa, um dos poetas mais admirados aqui no Brasil. Tampouco se importa com o fato de não ter ganhado o Prêmio Nobel, como seu contemporâneo português, José Saramago.
Apesar isso, António Lobo Antunes é um dos escritores portugueses mais lidos e premiados no mundo. No Brasil, porém, António Lobo Antunes tem pouca presença. Como ele mesmo disse em entrevista para a Folha de S. Paulo: “Estou menos editado no Brasil do que em países como a Eslovênia ou a Coreia”.
Para o escritor, a língua portuguesa com todos os seus detalhes e meandres é a ferramenta perfeita para contar o que está oculto – que, muitas vezes, tem teor autobiográfico. A impressão que dá ao ler os seus livros é que o autor nos convida a entrar na sua casa, nos sentarmos na sala e tomar um café, enquanto ouvimos a sua família contar histórias carregadas de sentimento.
“Os Cus de Judas” é o livro mais famoso de Antunes e o segundo lançado pelo autor. Nessa obra, Lobo Antunes divide com os leitores suas experiências como médico durante a Guerra na Angola. Já “Memória de Elefante” é praticamente um diário, onde o personagem central, que é alter ego do autor, se debruça sobre memórias da ex-mulher, das filhas e faz várias reflexões a partir da saudade, dos próprios erros e acertos.
O lado bom de Valter Hugo Mãe
Ao contrário de António Lobo Antunes, que não faz questão de agradar quem quer que seja, Valter Hugo Mãe é chamado por muitos de “o bom mocinho da literatura portuguesa contemporânea”. Sempre elogioso em relação aos colegas e simpático com a plateia, Mãe fez a sua estreia no Brasil na Festa Literária de Paraty – tornou-se um fenômeno. Antes mesmo de começar a falar de suas obras, o escritor português fez questão de ler uma declaração de amor ao Brasil.
O autor, que nasceu em Angola, mas foi naturalizado português, também não consegue acreditar que o ser humano seja repleto de defeitos, como tantos escritores fizeram questão de afirmar. No livro infantil “O Paraíso são os Outros”, Valter Hugo Mãe usa o seu pensamento positivo e criativo para derrubar o aforismo existencialista do filósofo francês Jean-Paul Sartre: “O inferno são os outros”.
Além dessas ideias menos dogmáticas, Valter Hugo Mãe é ainda um autor diferente pela maneira que escreve. Assim como José Saramago brincava com a pontuação, sem usar as regras gramaticais de maneira convencional, Mãe durante muito tempo publicou livros apenas em letras minúsculas. A possibilidade de ser reduzido apenas a essa característica e o desejo de inovar, fizeram o autor, a partir do livro “O Filho de Mil Homens” adotar as maiúsculas. O seu sobrenome artístico, Mãe, dá outra pista sobre a personalidade do autor: Valter Hugo tem por sua obra um amor condicional, um carinho quase maternal.
A pluralidade de Mário de Carvalho
Interessado em literatura desde cedo, Mário de Carvalho se formou em Direito e participou ativamente da vida acadêmica e as organizações estudantis. Para o público, o escritor começou a desenhar as primeiras linhas tarde. O primeiro livro foi lançado quando Carvalho tinha 37 anos. Antes disso, como o próprio afirmou em entrevista, dedicava-se mais a explorar a literatura já existente e a aprender com os clássicos.
O contato com os livros ajudaram Mário de Carvalho a criar um estilo único que, ao mesmo tempo em que a narrativa é moderna, o enredo apresenta registros históricos. Mais do que isso, a obra de Mário de Carvalho é para se emocionar por inteiro, rir e chorar. Extremamente versátil, o autor não adota uma fórmula de sucesso e, por isso, cada livro é uma agradável surpresa.
Mário de Carvalho consegue transitar perfeitamente entre épocas, narrativas e gêneros. Entre suas obras mais conhecidas está “Era uma Vez um Alferes”, que reúne três importantes contos do autor, repletos de reflexões sobre a história recente de Portugal e publicado no Brasil pela Companhia das Letras.
Se o cara que grafitou ”Clapton is god” manjasse só um pouquinho do riscado, não é difícil imaginar que deus mesmo seria Frank Zappa. Mas também é aquele negócio, sabemos que o reverendo Cristo era um cara humilde, talvez ele nem quisesse ostentar tamanha banca, e Frank, com aquele bigode que deveria ser considerado um patrimônio da humanidade, com certeza teria recusado esse título, afinal de contas ele sabia que com grandes poderes, teria que arcar com grandes responsabilidades, e rapaz, aquele bigode devia dar um puta trampo.
Mas o fato é que o legado Zappiano não parou de reverberar. Sua perícia na guitarra segue como um dos maiores modelos de destreza e exatidão técnica em detrimento de uma estética que desafiava o mundo, justamente por não possuir modelo definido.
E a força desse repertório é tão grande… O universo de Zappa é tão profundo que tocar suas composições vai além do conceito de ”fazer uma versão”, é como se fosse um universo paralelo, e se é pra viajar, gostaria que minha companhia aerea fosse a Let’s Zappalin’. Esses caras sim honram a história do cientístia de Muffin’s e, como se não bastasse, a banda ainda tem a moral de mostrar que no quesito loucura, eles também fazem frente ao pai do Dweezil.
E se você duvida, bom, o senhor claramente não conhece o projeto Gentle Zappa e sua segunda edição que contará, mais uma vez, com a Giant Steps, arrepiando o repertório do Gentle Giant no Café Piu Piu. Meu amigo, se a airlines é o quinteto da Let’s Zappalin, o serviço de bordo e o aeroporto são, do também quinteto, da Giant Steps, e para que a loucura seja emanada sem escalas, as duas bandas prometem fundir o Rock Progressivo para lhe provar o quanto o mestre Frank e a trupe de eruditos do Gentle Giant fazem falta por aqui.
Com dois combos de músicos realmente diferenciados, a programação do Café Piu Piu vai abrir alas para um dos espetáculos mais interessantes e ousados do calendário de São Paulo para o mês de março. Primeiro teremos a Let´s Zappalin’ com aquele time padrão Fifa, com Rainer Pappon nas guitarras, Fred Barley na bateria, Érico Jônis no bass e Jimmy Pappon nas teclas.
Na ala de sinfonias do gigante gentil o time será formado por Caio Fabbri na guitarra e voz, Carlos Silva na bateria, Francisco Muniz nos teclados e voz, Renato Muniz nos graves e Roger Troyjo, nobre cidadão que fechará o quinteto do Zappallin´na voz e também colocará o dedo para fazer o laço e fechar o pacote para os caras da Giant Steps. Por isso, fique ligado no evento no Facebook e prepare-se para ouvir ”Inca Roads” e ”Time To Kill” na mesma noite!
Serviço:
O que: Gentle Zappa
Quando: 10 de março às 22:00
Onde: Café Piu Piu
Quanto: R$ 25,00 cascalhos Gentle-Zappeanos
Hoje foi mais uma daquelas noites em que ela se perdeu em algum lugar do tempo entre o que ela é, e o que poderia ter se tornado.
E foi assim que começou mais uma madrugada insone, quando ela começou a divagar pelas decisões que a trouxeram ao ponto exato em que ela se encontrava.
Relembrou do cara do colégio que lhe pediu em namoro com a mesma insistência com que ela respondia não, imaginou que poderia ter tido uma relação duradoura com ele, e assim, teria poupado algumas frustrações amorosas pelas quais passou nos anos seguintes.
Lembrou dos convites que recebeu para sair, e que recusou por não ter coragem de pedir permissão aos pais, convites que provavelmente teriam lhe rendido novos amigos e experiências, ou não.
Recordou também do dia em que decidiu sair do conforto de casa, para tentar uma vida nova fora dali. Vida essa, que de tão assustadora, lhe causava uma empolgação sem tamanho.
Imaginou que se tivesse aceitado o pedido de namoro do cara do colégio, a tal decisão de sair de casa teria sido bem mais difícil, e talvez, ela nem a tivesse tomado, talvez ela tivesse continuado lá, ou ido depois de um término doloroso, por algum motivo que ela sabia que um dia iria aparecer, porque tinha certeza que ele não era o amor da vida dela.
Sabia que precisava ir, que precisava viver tudo o que viveu, conhecer as pessoas que conheceu, ter os momentos e histórias que só teve porque decidiu ir.
Ela sabia que precisava crescer e se tornar o que ela é hoje, e só conseguiu isso por que disse não aos pedidos de namoro, aos convites pra sair, e soube dizer SIM para a porta que estava à sua frente, e que se abriu com uma luz imensa e ofuscante que a impedia de ver o caminho por onde ela andaria. Mas medo do novo e do desconhecido ela nunca teve, eles sempre a empolgaram, e foi aí que ela deu o primeiro passo em direção àquela luz que ainda ofusca seus olhos e a faz seguir pelo desconhecido.
E por mais que as vezes ela tenha essas noites insones, onde divaga pelo que poderia ter sido, ela nunca pensou em dar um passo pra trás, ela sabe que precisa continuar indo em direção a luz.
É o que sempre dizem, não é? “Siga em direção à luz”.