Hotéis são locações bem comuns em várias histórias apresentadas nos filmes. Uns são mais famosos, outros menos. O que o filmmaker Steve Ramsden fez foi unir dois dos hotéis mais conhecidos do cinema mundial e criar um trailer fictício de um filme híbrido.
Steve notou que vários frames de “O Grande Hotel Budapeste” e “O Iluminado” são semelhantes. O resultado da brincadeira foi a criação de “The Grand Overlook Hotel”, em alusão ao filme de Wes Anderson e ao Overlook Hotel, criado por Stephen King e adaptado ao cinema por Stanley Kubrick.
O filmmaker fez uma magistral edição. É como se M. Gustave (Ralph Fiennes), Jack Torrance (Jack Nicholson) e outros personagens estivessem convivendo no mesmo hotel, na mesma época, no mesmo filme.
Dia 7 de junho de 1985, esta fora a data escolhida para o lançamento mundial de um dos maiores fenômenos cinematográficos da década de 80. Os Goonies representaram toda uma juventude. Era a oportunidade de presenciar vozes e risos para uma geração carente de identidade, e com isso, aquela sensação de sentir-se em casa, acolhido, amado. Apesar de ter sido lançado no Brasil no dia 15 de agosto do mesmo ano, o filme completará 30 anos em grande estilo. Tanto na cidade de Astoria, no Oregon, terra natal e local onde foram realizadas as filmagens, como aqui no Brasil, o dia será motivo de muita celebração.
Os Goonies foi escrito por James Khan, mas os ares conhecidos da versão dos cinemas partiu da mente mais cadenciada e emotiva da época, trata-se de Steven Spielberg. Spielberg auxiliou no roteiro concebido por Chris Columbus e a direção ficou a cargo do icônico Richard Donner (Superman).
Após encontrar um mapa do tesouro do famoso e temido pirata Willy Caolho, cinco amigos decidem ir atrás dessa fortuna para ajudarem os próprios pais a salvar a vizinhança, que está sendo comprada para a construção de aglomerado empresarial. O viés infantil, a princípio, na verdade é uma mistura de emoção e crítica ao modelo capitalista, assim como diversos diálogos e cenas cuidadosamente preparadas para abordar diversos outros temas, dentre eles, o bullying, o preconceito quanto aos deficientes físicos e inúmeras camadas a mais. O primeiro amor também é tema, mas o principal da história desses amigos é a esperança, inocente, genuína. Existia vontade e desejo por fazer o certo, fazer o bem. Emoções lapidadas quando nos tornamos adultos, mas tão conversadas aos olhos infantis, que fica até difícil não emocionar-se mesmo três décadas depois.
Os Goonies é um filme movido por saudosismo, autenticidade, liberdade e afeto. Talvez seja por esses sentimentos tão atemporais e necessários, que o respeito o carinho pela produção ainda seja revivida por todos. O maior presente para fãs seria a tão sonhada continuação que não ocorreu, algo que torna o filme ainda mais precioso. Mas a sequência não é descartada. Desde 2014 alguns rumores e entrevistas dos envolvidos do original falam sobre essa vontade de retornar, mas segundo o produtor Frank Marshall – que falou em janeiro deste ano sobre, “tudo depende de encontrarmos uma história certa”.
Para homenagear este, que descaradamente, como autor do texto, considero ser um dos filmes mais especiais e intangíveis já feitos para os cinemas, encerro com o discurso feito pelo ator Sean Astin (Mikey Walsh), na cena mais célebre do filme, o ponto crucial no roteiro onde os pequenos heróis confrontam a si mesmos sobre viver ou não a aventura. Ainda bem que nos lembramos da resposta, mas o questionamento é eternamente válido:
“Mas vocês entendem o que eu estou dizendo, não é? Da próxima vez que vocês virem o céu, ele vai estar sobre outra cidade. Da próxima vez que vocês fizerem uma prova, vai ser em outra escola. Nossos pais e mães querem o melhor para nós, mas eles têm que fazer o que é bom para eles, porque é o jogo deles, é a vez deles, mas aqui em baixo é a nossa vez. Nosso tempo e nossa aventura e as nossas regras e planos. Mas no minuto em que subirmos no balde do Troy, estará tudo acabado.”
No Rio de Janeiro ocorrerá um evento especial para celebração. O Espaço Net em Botafogo exibirá o filme em quatro sessões e as informações você confere logo abaixo:
Serviço: Goonie’s Day – Estação NET Botafogo
Dia 7, domingo, com sessões às 11:00, 14:30, 16:45 e 19:00
Venda de ingressos no site ingresso.com/rio-de-janeiro/home/espetaculo/cinema/os-goonies.
“Caetano havia chegado a Teresina para um show. Estava muito triste. Retornava pela primeira vez à cidade onde havia nascido um de seus principais parceiros na Tropicália e seu grande amigo, o poeta Torquato Neto, meu primo, que havia se suicidado em 1972”, escreveu o jornalista, poeta e escritor piauense Paulo José Cunha.
Foi a partir desse momento que começou a ser escrita a história das entrelinhas de Cajuína, música de Caetano Veloso gravada em 1979 para o disco Cinema Transcendental. Oito versos de um xote um tanto melancólico que se questiona sobre a efemeridade da vida, de belezas e mistérios.
A canção começou a ser composta por Caetano quando chegou a Teresina (PI) com a turnê Muito e recebeu no hotel a visita de Dr. Heli Nunes, o pai de Torquato. Aquela era a primeira vez que o encontrava após o trágico fim do amigo.
“Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental”, relembrou Caetano, que não havia chorado no momento em que recebeu a notícia da morte súbita de Torquato. Foi apenas ao se encontrar com Dr. Heli, anos depois do ocorrido, que sua “dureza amarga se desfez”, como traduziu o próprio Caetano.
Maria Salomé, Torquato Neto e Heli Nunes
Naquele momento de reencontro, Caetano derramou as lágrimas guardadas e foi consolado com grande ternura pelo pai de seu amigo. Dr. Heli o levou até sua casa e lá ficaram a sós (já que Dona Maria Salomé, mãe de Torquato, estava hospitalizada). Ele conta que não trocaram muitas palavras, mas contemplaram juntos as inúmeras fotografias de Torquato expostas pelas paredes da casa.
Dr. Heli, como se desejasse relembrar a beleza da vida, deu ao amigo de seu filho uma rosa-menina colhida diretamente do quintal; e também serviu cajuína, como se quisesse adocicar aquele instante. Caetano continuava a derramar lágrimas, mas não mais de tristeza ou amargura. “Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Heli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei”, simplificou Caetano.
E foi no dia seguinte, quando pegou a estrada, que Caetano escreveu Cajuína, expressando em palavras cantadas a complexidade e simplicidade de momentos que despertam sentimentos quase intraduzíveis.
O Anjo Torto
Chico Buarque e Torquato Neto
Em 1967, o Tropicalismo se firmava como movimento cultural e tinha como grande letrista Torquato Neto. Ele assinou importantes canções, como Geleia Real, Louvação, Marginalia 2, Mamãe Coragem e Deus vos Salve esta Casa Santa, fazendo parcerias com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo e Jards Macalé. No período pré-Tropicalista, também conheceu Chico Buarque de Holanda, de quem se tornou grande amigo.
Mas aqueles eram tempos difíceis para sonhadores. Fazer arte significava um ato de bravura e a censura tentava calar Torquato, que, além de letrista e poeta, também era jornalista, tendo assinado por muitos anos a coluna Música Popular, do jornal O Sol, e também a polêmica Geleia Real, publicada no Última Hora. Com a repressão, Torquato se afastou de tudo e todos e chegou a se internar voluntariamente por conta de sua instabilidade mental agravada.
Torquato Neto, conhecido como o Anjo Torto da Tropicália, cometeu suicídio no dia 10 de novembro de 1972, um dia após seu aniversário de 28 anos. Foi ainda na madrugada, após seus convidados terem deixado sua casa no Rio de Janeiro (RJ), que decidiu abrir as torneiras de gás de seu banheiro. Lá foi encontrado morto ao amanhecer, asfixiado.
Torquato Neto no filme Nosferatu do Brasil, de 1971
Os jornais da época relataram que as últimas anotações encontradas em seu caderno de espiral traziam frases como Pra mim chega e O amor é imperdoável, esta última atribuída a Caetano Veloso. No livro Torquato Neto: uma poética de estilhaços, o escrito Paulo Andrade transcreveu a nota de suicídio assinada pelo poeta:
“FICO. Não consigo acompanhar a marcha do progresso de minha mulher ou sou uma grande múmia que só pensa em múmias mesmo vivas e lindas feito a minha mulher na sua louca disparada para o progresso. Tenho saudades como os cariocas do tempo em que eu me sentia e achava que era um guia de cegos. Depois começaram a ver, e, enquanto me contorcia de dores, o cacho de banana caía. De modo Q FICO sossegado por aqui mesmo enquanto dure. Ana é uma SANTA de véu e grinalda com um palhaço empacotado ao lado. Não acredito em amor de múmias, e é por isso que eu FICO e vou ficando por causa deste amor. Pra mim chega! Vocês aí, peço o favor de não sacudirem demais o Thiago. Ele pode acordar”.
Quanto a seu pai, Dr. Heli, faleceu em 2010, aos 92 anos de idade. Seu sepultamento foi realizado por Thiago Silva de Araújo Nunes, único filho do poeta piauiense com Ana Maria, esposa de Torquato citada na carta de despedida.
Confira aqui a íntegra do relato de Caetano sobre a composição e abaixo o trecho de sua participação no Programa Livre, onde também fala sobre a história por trás da música. E, por fim, a interpretação de Cajuína, em 1982 e 2012:
O ano é 2015 e a sociedade brasileira foi infestada por uma praga que se espalha a cada minuto que passa. Empresários, doutores, funcionários públicos, artistas, professores e toda a classe adulta – trabalhadora ou não – já sofre as consequências da epidemia.
Esse início de texto é um clássico resumo de uma história de zumbis, mas na verdade poderia ser adaptado ao fenômeno dos ~livros de colorir para adultos~. Ou, melhor, para ambas as coisas.
A editora Veneta lança no mercado o livro “Zumbis para colorir”, o melhor dos mortos-vivos em preto e branco para você deixar a história gore à sua maneira. As ilustrações, cheias de detalhes, trazem, olha só, lutadores, astronautas, mafiosos e astros do rock em versões zumbis. A ideia é competir com as tradicionais borboletinhas e demais desenhos fofinhos que invadiram as livrarias.
Os livros de colorir, segundo especialistas, possuem propriedades antiestresse, e esse é o segredo do hype. Já foram vendidos mais de 1,5 milhão de livros de colorir para adultos só este ano. O mercado espera um faturamento de 30 milhões de reais no setor. Nada mal.
“Zumbis para colorir” é uma criação de Juscelino Neco, autor da HQ “Parafusos, zumbis e monstros do espaço”. O livro pode ser adquirido diretamente do site da editora Veneta. Confira abaixo a capa e quatro páginas de demonstração.
O excelente álbum Sticky Fingers, lançado em 1971 pelos Rolling Stones, chega ao ano de 2015 com uma reedição de luxo especialíssima. Mais do que pôsteres, fotografias e demais memorabílias para fãs, a reedição traz cinco versões alternativas de músicas do disco. Uma delas é essa: Brown Sugar com a participação de Eric Clapton na guitarra.
O registro foi feito em 1970 em uma festa de aniversário de Keith Richards. Clapton faz todo o slide guitar que podemos ouvir na gravação. Um toque refinado de um deus a uma composição de mestres.
A edição de luxo de Sticky Fingers chega às lojas em 8 de junho. Além de Brown Sugar, tem versões alternativas de Dead Flowers, Wild Horses, Can’t you hear me knockin’ e Bitch. Outra novidade é a edição super luxo, que vem com o extra Get Yer Leeds Lungs Out!, um álbum que contém a gravação de 13 faixas de um show dos Rolling Stones em Leeds, na Inglaterra, em março de 1972.
O músico Murilo Sá, acompanhado de seu Grande Elenco, criou no ano de 2014 um dos melhores discos de estreia da música brasileira. Sentido Centro, que falamos já a respeito em uma resenha e em uma entrevista com o artista, é uma sucessão de composições maduras até demais pra alguém tão jovem. O que é incrível.
Quase um ano após o lançamento do álbum, o músico finalizou e divulgou o clipe de “Eis que eu tento me entreter”, um dos grandes momentos do disco. O vídeo mantém um ar retrô futurista, com excessiva influência oitentista e inúmeras possibilidades chromakeynianas.
Ficou massa! Assista abaixo:
MURILO S∆ “Eis Que Eu Tento Me Entreter” Fotografia em Croma: Rafael AvanciniAssistência: Aquiles CastroDireção e Pós: Lufe BolliniAgradecimentos: HARDHOUSE, Natalia Volonakis e Alexandre ParaibaOUTONO – SP – 2015
Posted by Lufe Bollini on Segunda, 1 de junho de 2015
Direção e Pós: Lufe Bollini
Fotografia: Rafael Avancini
Assistente: Aquiles Castro
Estúdio: HARD House
Participação: Natalia Volonakis e Alexandre Paraiba
BÔNUS:
O álbum de estreia, Sentido Centro, foi apresentado por Murilo Sá & Grande Elenco em uma recente edição do sempre muito bom Estúdio Show Livre. Saca só o programa na íntegra:
A psicodelia sempre teve um lado terapêutico bastante atuante. No contexto geral vale ressaltar que o movimento surgiu de uma real necessidade de mudança de pensamento. Ideias que, dentro do contexto da bay area de São Francisco, estavam estagnadas, logo, cabia a um certo comprimido, gota ou adesivo, a tarefa de mostrar que ainda existiam muitas trilhas para prosseguir, o esquema era ter cuidado com o dragão que poderia sequestrar o presidente para formar um power trio em Galápagos, de resto era suave.
A chapação trouxe benefícios, gerou uma mudança e justificou o slogan: ”Open Your Mind”. Depois disso, foi só colher os louros, algo que fazemos desde a década de 60, renovando apenas as bandas atuantes nas cenas, porque o espírito prevalece o de sempre, algo que ficou claro com os acontecimentos do dia 31/05. Data de mais um evento psicodélico da Abraxas.
Dessa vez não tivemos o tradicional line up em formato de trinca lisérgica, na noite do dia 31 a brisa foi mais forte e seu impacto mais profundo, formando as camadas de fumaça da noite com quatro atos. Primeiramente tivemos os paulistas da Hierofante, quarteto com um dos sons mais chapantes que ouvi dentro da cena recentemente, algo que para tornar explicável seria parecido com uma epifania analógica, sempre ao som de temas que estimulam um autoconhecimento com remetente espiritual.
São quatro músicos bastante singulares, trata-se de uma união de grande beleza, pois todos conhecem seu papel dentro da jam e sentem a música com um quê de imersão bastante singular. A percussão tira o improviso do lugar comum, a guitarra é o instrumento de carona sideral e a batera entra sempre sincopada, com um groove que apenas embarca na viagem de sintetizadores e toca como se um tema fosse o disco todo, linkando toda a trip.
Foto: Karina Menezes
O réu supremo de toda essa pirotecnia foi o público do Inferno, que entendendo este transcendental conceito, fez o que estava na descrição do evento: entrou em modo de meditação e apreciou o eloquente instrumental da banda, que pulsa sem direção física e manda até remetentes indianos quando mergulha na percussão.
Foi um set curto, mas bastante coeso e com uma eloquência formidável. Acredito que a linha de raciocínio para esse fest tenha sido dividida em quatro etapas, sendo que a primeira foi conectar o público com o Hierofante e a segunda foi testar o 3G com o Hammerhead Blues.
Foto: Karina Menezes
E foi nesse momento que a casa dividiu os bongadores de quem ainda tosse no baseado, que trio! Esses caras são a prova viva de que, além do The Muddy Brothers, existem muitos atos que cultuam a música setentona no âmbito Hardeiro-Blueseiro, que buscam não só voltar com o culto para esta época, mas sim agregar, algo que estes avacalhantes senhores fazem com louvor, mostrando que o sangue de Mark Farner corre na veia, homenageando o trio de Mel Schacher e Don Brewer com uma versão faiscante da clássica ”Inside Looking Out”.
E só coloquei esse vídeo na matéria porque o néctar do mais puro e vinílico fator ao vivo, o mais fino rubi do elemento da improvisação do Grand Funk, é captado com grande sentimento por esses indivíduos. E é válido sublinhar que não faço nenhuma comparação sensacionalista com essa frase, quero pontuar apenas que meu foco reside a partir dos três minutos e quarenta segundos do vídeo já citado, o toque diferenciado desses caras é a JAM.
Quando o lance é de momento, puro, pelo som, suas raízes e pela entrega de algo que você sente na reverberação de cada nota. Fatores que no vídeo acima são ilustrados sem ao menos vocês precisarem ler isso aqui. E quando eles mandaram o EP na íntegra foi exatamente isso que transpareceu, todo som carrega algo inusitado que será feito na hora, que mantém a fidelidade de estúdio mas que culmina com um trio de músicos realmente diferenciados. O baixo é na sua cara, a guitarra eletrifica seu batimento cardíaco e a bateria preenche até embalagem à vácuo. Foi uma sessão debulhante.
E acredito que tenha sido o ato perfeito para animar os presentes para a volta do trio de Bordeaux, o Mars Red Sky. Quando os franceses vieram para o Brasil pela primeira vez, a história ainda estava sendo escrita, era só um disco, hoje são três, dois anos de intervalo e uma abordagem que atingiu um padrão de excelência que não perde para nenhuma banda do estilo. Algo que fica claro quando pegamos o itinerário do passaportes e vemos por onde estes senhores andam tocando.
Se no debutante o feeling da guitarra e a afinação da voz eram destaques, hoje fica claro que o leque é muito mais amplo. Julien aborda seu instrumento com muito esmero, toca cada nota com um grande feeling e está cantando com uma exatidão que chega a ser irritamente, tamanha a fidelidade com a gravação de estúdio.
Foto: Karina Menezes
Aliás a banda toda está nesse patamar. A bateria do trio comprova que o DNA que faz o Stoner pulsar é o preenchimento de espaços do Kit, o peso para ganhar vigor e a criatividade de sustentar a jam para não ficar naquele down, digno de volume morto. E o baixo entra com um elemento psicodélico que difere bastante toda a experiência de ver o Mars ao vivo, as linhas de Jimmy Kinast são bastante melódicas, seus efeitos bastante interessantes e seu estilo econômico ajuda a banda a seguir com a aquarela de sons, ótimos climas e grandes jams.
Pra variar foi excelente, mas ainda faltava o Saturndust, banda que estava particularmente curioso para ver ao vivo, pois com o trabalho mais recente, pensei que o show poderia ser cansativo, devido ao grau de arrastação e desaceleração que a jam dos caras ganhou com esse aspecto mais espacial. Algo que para a alegria da nação não foi o caso, muito pelo contrário.
Foto: Karina Menezes
O trio destilou o disco novo com grande entrosamento, linkou as faixas e entrou numa viagem instrumental de mais de 20 minutos, mostrando domínio de repertório, peso e muito tato para criar climas que não ficassem chovendo no molhado. O instrumental merece um destaque pelo lado do Rickenbacker de Frank Dantes, gafanhoto que comprova a tese de que existem baixos e Rickenbacker’s, e seu comparsa Marlon Marinho, nome que demonstrou muito preparo físico para fazer barulho e não deixar a onda Space morrer.
Foi uma performance bastante cirúrgica e que seguiu o mantra do disco de estúdio. O quarto show brincou com os corpos presentes, expandiu, pressurizou, comprimiu e esmagou cérebros com alto nível de pressão. É como se sua cabeça tivesse sido atingida por um asteroide em busca do cosmos. O Doom falou alto e a noite tratou de equalizar o ambiente… Que noite, foi uma brisa.
Uma das maiores bandas da década passada voltou a se apresentar ao vivo. Os Strokes foram escolhidos para encerrar o Primavera Sound 2015, em Barcelona. E fizeram bem.
O show foi, obviamente, no último dia de festival, em 30 de maio. Com repertório misto, a banda tirou a poeira e as teias de aranha e tocou até que muito bem, sim senhor. A banda começou com a modernete “Machu Picchu”, mas logo engatou a clássica “Someday” e passeou por todos os seis álbuns da carreira, encerrando o show em grande estilo com “New York City Cops”.
Na página oficial do facebook do Primavera Sound, o público reclamou bastante da falta de presença de palco e de comunicação da banda com a plateia. Não lembro de ter visto algum show dos Strokes em que isso não aconteceu, portanto não é exatamente uma reclamação, mas uma constatação do óbvio.
Os Strokes não tocavam na Europa desde 2011, quando participaram do Reading & Leeds Festival, na Inglaterra. No resto do mundo, o hiato acabou no ano passado, quando a banda fez uma série de meia dúzia – ou menos – de apresentações nos Estados Unidos. Com a volta aos palcos aos poucos, reforça-se a possibilidade de que um material novo deva ser lançado em breve. Julian Casablancas já disse que essa é a ideia.
Assista abaixo ao show:
https://youtu.be/zsDG2yTADRU
Set List
“Machu Picchu”
“Someday”
“Heart in a Cage”
“Barely Legal”
“Automatic Stop”
“One Way Trigger”
“You Talk Way Too Much”
“All the Time”
“Juicebox”
“Taken for a Fool”
“You Only Live Once”
“Is This It”
“Reptilia”
“Last Nite”
“Take It or Leave It”
“The Modern Age”
“Under Cover of Darkness”
“Hard to Explain”
“New York City Cops”
É sério, está acontecendo. Um vídeo publicitário do O Boticário para o dia dos namorados tem recebido uma vasta campanha homofóbica apenas por mostrar o amor nutrido por casais homossexuais. Estamos em 2015, galera. E a atualização é gratuita.
Em um curto vídeo publicitário de 30 segundos, aparecem casais heterossexuais e homossexuais presenteando-se como forma de demonstração de amor. Não tem beijo molhado de língua, sexo explícito ou qualquer cena que pudesse ser considerada ofensiva. O vídeo mostra apenas abraços e gestos de amor por personagens de diferentes orientações sexuais, com a trilha sonora instrumental da música “Toda Forma de Amor”, de Lulu Santos.
É a realidade. É a vida. É a sociedade em que vivemos. Mesmo assim, tem rolado uma campanha para as pessoas clicarem no “não gostei” do vídeo apenas pelo teor de diversidade que a marca está promovendo. Como se fosse anormal uma pessoa ser gay. Como se ela, por ter um conceito de amor diferente ao “tradicional”, estivesse praticando uma ofensa. Que prisão essa de não gostar de uma marca ou de um vídeo ou qualquer outro assunto que seja apenas por ele ter um conteúdo homossexual.
Curti mesmo, e se pudesse curtiria duas vezes
Ao contrário do facebook, o youtube mantém junto ao “like” o “dislike”. A função serve como termômetro para classificar se um vídeo é bom ou ruim. Nesse caso específico tem sido utilizada pelos não simpatizantes como forma de demonstrar desgosto pela atitude. Nos comentários do vídeo, há até um pessoal preparando um boicote à marca, como se essa parcela da população não tivesse aprovado o vídeo. Ora, ninguém precisa aprovar nada. Afinal, ninguém está pedindo para ser julgado. Que mania!
“Precisamos nos (sic) posicionarmos”
Se a recepção foi negativa por parte de uma classe religiosa e conservadora, o público-alvo da campanha foi atingido em cheio. O saldo, diferente do que o youtube mostra, deverá ser extremamente vantajoso para a empresa. Esse é um dos raros casos em que a publicidade é motivada por um engajamento social e não apenas pela vontade insaciável e apelativa de vender. Parabéns pela iniciativa.
Educação é um termo que vem sempre sendo discutido nos últimos tempos. Ainda mais agora, em que o lema/slogan do novo governo foi definido como “Brasil, pátria educadora”.
É clássico assumir que o segredo para um país desenvolvido é o investimento em educação. Fala-se nisso há anos e mesmo assim os índices mostram que o Brasil ainda é o aluno bagunceiro do fundão da sala que está repetindo de ano.
Mas o que é educação, na verdade? Como fazer educação? Há uma reflexão sendo feito a respeito desse conceito pelo psiquiatra chileno Claudio Naranjo, autor de 19 títulos e um dos indicados ao Nobel da Paz de 2015.
A frase do título é dele. O chileno concedeu uma entrevista à Época onde falou algumas verdades doloridas sobre o conceito de educação que está sendo disseminado.
“A educação funciona como um grande sistema de seleção empresarial. É usada para que o estudante passe em exames, consiga boas notas, títulos e bons empregos. É uma distorção do papel essencial que a educação deveria ter”.
Confunde-se educação com inteligência nas escolas, com melhor desempenho, melhores notas e melhores recomendações para os currículos. A pessoa com o QI mais alto do mundo é também a mais educada? Provavelmente não, e é esse o ponto martelado por Naranjo.
“Temos um sistema que instrui e usa de forma fraudulenta a palavra educação para designar o que é apenas a transmissão de informações […] É um sistema que quer um rebanho para robotizar. A criança é preparada, por anos, para funcionar num sistema alienante, e não para desenvolver suas potencialidades intelectuais, amorosas, naturais e espontâneas”.
Sabendo disso, como quebrar essa escrita? O psiquiatra indaga qual a necessidade dessa aberração, nas palavras dele, de as escolas fazerem com que os alunos passem horas inertes, ouvindo como é a flora num local distante ou os nomes dos afluentes de um grande rio em detrimento a conhecimentos muito mais próximos e úteis, de acordo com as capacidades e necessidades de cada um.
A principal crítica que Claudio Naranjo faz é a da escola, em geral, optar por uma educação massificada e não pessoal, eliminando as individualidades e características que cada pessoa, como ser único, possui. Já a principal motivação sua é combater esse sistema e transformar os educadores em profissionais mais amorosos, acolhedores e afetivos.
“O objetivo é preparar os professores para que eles se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa, para que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do autoconhecimento, respeitando suas características pessoais. Comprovamos por meio de pesquisas que esse é o caminho para formar pessoas mais benévolas, solidárias e compassivas”.
Venha aqui caso queira ler entrevista completa, publicada no site da revista Época.