O talkshow de David Letterman marcou uma era na televisão norte-americana. O apresentador, que entrevistou praticamente todo mundo, se aposentou e deixou o cargo após 33 anos em atividade.
Uma característica muito forte de seu programa sempre foi os números musicais. Seja no estúdio, nos especiais On Letterman e até mesmo no terraço do Ed Sullivan Theatre, centenas de artistas se apresentaram para Letterman e seu público.
Essa lista poderia ter até mais artistas. Mas, nem mesmo o gigantesco acervo da internet e do youtube possuem todos os registros. Separei então alguns dos artistas notáveis que participaram do programa. São 101 no total e foram escolhidos de acordo com (primeiro) meu gosto pessoal e (segundo) meu gosto pessoal. Tentei resumir, mas não deu. Tem tanta banda que eu gosto que já tocou no Letterman, algumas da adolescência, outras da nostalgia e outras da atualidade, que o mínimo que consegui fazer foi isso. E olha, ainda tenho a impressão de que faltou alguém…
Todos os vídeos são de apresentações e não de entrevistas. Salvo o primeiro, de Paul McCartney, já que Paul é Paul. Lá vai:
33 anos, 6,028 programas e 16 Emmy Awards. Esses são alguns dos números que o apresentador David Letterman deixa para a posteridade. Agora oficialmente aposentado, Letterman cede seu posto a Stephen Colbert.
Para encerrar o último de seus programas, David Letterman convidou o Foo Fighters para se apresentar. Ao som de Everlong (a música preferida do apresentador, como ele mesmo disse aqui), o vídeo faz uma retrospectiva do talkshow desde os seus primórdios, como se fosse uma cápsula do tempo.
Assista abaixo à última apresentação musical do Late Show with David Letterman:
https://youtu.be/yrVjOUIoo6Q
PS: A banda é uma das favoritas do apresentador e já esteve no programa várias vezes. É bom lembrar que, em 2011, logo após o lançamento de Wasting Light, o Foo Fighters fez um megashow de 2 horas no programa. Relembre abaixo:
Não sei que loucura é essa. Parece impossível explicar esse sentimento de derrota que me acomete em todo fim de noite e em todo começo de manhã. Me sinto sugado para um redemoinho de negatividade e parece que não há fim para o tormento.
Danielle está lá fora, podando as rosas em nosso jardim. Ela faz isso toda tarde; pega a tesoura e vai até a edícula e abaixa para analisar quais rosas já estão grandes o bastante. Então ela corta algumas, apara outras, traz as mais cheirosas para perto do rosto e se impressiona com o aroma. Isso me acalma toda vez.
“Você não vem?”, ela pergunta.
“Daqui a pouco”, respondo, sem saber exatamente se eu deveria me mover e destruir aquele momento.
Durante algum tempo eu estive infeliz ao lado de Danielle. Tudo o que eu queria era uma buceta nova, uma novidade, algo que me trouxesse a esperança de algo inovador. Meu hino auto proclamado era me perguntar quais drogas e quais mulheres iriam atravessar meu final de semana, quando Danielle ia para a casa de sua mãe. Eu estava fazendo exatamente o oposto do que havia lhe prometido depois de nosso primeiro mês juntos: nunca desistir de nós. Me disseram que as estradas da vida eram frágeis e que logo eu estaria velho e deveria aproveitar esses instantes. Eu queria poder jurar que estaria ao lado dela quando todos os outros viessem para dizer adeus. Queria dizer que todos os dias seriam os mesmos e que estaria tudo bem para mim se fossem todos com ela.
Mesmo depois de tanta besteira, eu ainda olhava para meus amigos e meus vizinhos e me parecia inacreditável como embora tudo parecesse inalterado, havia uma mancha cinza na história.
“Venha cá para fora”, ela diz, “aproveite a natureza”.
Ingênua, ela não sabia que eu estava apreciando cada segundo, como no dia em que nos conhecemos e meus olhos a seguiam por todos os cantos.
Agora, depois do ritual das rosas, ela vai para o canteiro atrás da garagem e observa os girassóis. Ela não entende quando algum deles não estão exatamente virados em direção ao sol. Se eu pudesse, atiraria no sol só para vê-lo sangrar, pois nesse momento ela pensa mais nele do que em mim.
Desde que nos mudamos, ando observando mais as pessoas. Cada uma tem um TOC diferente. Meu vizinho árabe não consegue sair de casa se não alisar a madeira da porta duas vezes em ambos os lados. Mas agora eu posso colocar uma mesa na varanda e escrever enquanto olho os vizinhos de frente e o horizonte e as pessoas que os visitam. Às vezes me pergunto quais seriam minhas preocupações se eu estivesse na pele delas. Não como se eu estivesse passando pelas mesmas situações, mas se eu as fosse, se eu fosse cada uma dessas pessoas. Se eu fosse meu vizinho árabe ou sua noiva. Eles saberiam como Danielle é simplesmente mágica ao sair da cozinha somente com o vestido de pijama? Eles saberiam quem sou eu agora? Talvez nem soubessem que nós estamos aqui.
Quando não estou escrevendo, gosto de vir para a varanda dos fundos com alguns cigarros. É como se eu estivesse tirando férias de mim mesmo, e isso é inacreditavelmente bom por um tempo. Não há obrigações nem tarefas. Bom, eu venho com os cigarros e o isqueiro e sento de frente para o gramado. Estou descompromissado. É meu lugar seguro. A fumaça me fascina. Gosto de ver aquela massa branca e densa subindo, sendo deixada levar pelo vento. As pessoas andam atribuindo esse significado pejorativo ao isolamento. Em qualquer etapa da vida, é necessário tirar um tempo para ficar só. Separar alguns dias para deitar e fechar os olhos. E só acordar dez horas. Então, preparar um café e ler os jornais e assistir Danielle descendo as escadas. É o que tenho feito.
Ela agora está voltando para dentro de casa.
“Me desculpe por não ter te acompanhado”, eu digo.
Então ela vem e se senta no meu colo. Sinto seu peso sobre minhas pernas, como se eu fosse a única plataforma necessária para protegê-la. Meu corpo é o único ninho do qual ela precisa para se abrigar. Então eu me lembro daqueles dias ruins e percebo o tamanho dessa estupidez, e o destino me recebe com um gancho de direita.
“Você quer uma omelete?”, ela me pergunta.
Respondo que sim, mas ela não se levanta. Sinto suas mãos suaves – mesmo após o trabalho de jardinagem – deslizando pelo meu braço. E sinto o cheiro de seu corpo e suas roupas. O cheiro que está em meus lençóis e que eu já disse que não deverão ser lavados.
“Quer que coloque queijo?”
“Sim, sim, sim!”
Ela sorri e se levanta e vai para a geladeira procurar os ingredientes. Dez minutos depois, estou comendo provavelmente a melhor omelete já feita em toda a história da humanidade e ela volta para o jardim. Está conectando as mangueiras e trabalhando para que todas as flores recebam uma boa quantidade de água.
Cinco anos atrás nós estávamos na formatura do filho de sua irmã. Todos vieram aqui em casa para se arrumar. Danielle estava indecisa entre o vestido prateado e o preto. Eu não sabia se eu deveria ir de tênis ou sapatos, então ela veio e decidiu por mim. Como acontecia sempre, ela decidia as coisas por mim e eu era deixado boiando em minha própria existência. Ela escolheu o vestido preto. Estava linda. Esteve sempre linda, mesmo quando meu cérebro hedonista lutava em provar o contrário. Todos estávamos alegres e sorridentes e fazendo ajustes de última hora nas roupas e tirando fotos e mais fotos e mais fotos.
Assim que chegamos ao salão de cerimônias, pegamos uma boa mesa, bem localizada, perto do palco principal. Sentamos todos juntos, eu e Danielle e sua irmã com a família. Logo depois o garoto foi chamado ao palco juntamente com sua turma. Mas, como no começo de tudo, eu seguia observando Danielle e me sentindo admirado em como ela era linda e como ela parecia ter sido feita para mim, e isso me fazia refutar qualquer ideia de abandono.
Cerimônia terminada, fomos para o lado de fora e eu acendi um cigarro. Foi quando confessei para Danielle que eu havia dormido com sua irmã. Coloquei para fora todas as cicatrizes em meu caráter, mas ela não brigou comigo. Apenas me perdoou. Isso acabou comigo, pois me lembrei do sorriso que ela abria toda vez que tomávamos banho juntos. Queria que ela tivesse me xingado, me agredido, cuspido em mim, pois assim eu me sentiria punido. Retornamos para o grande salão de mãos dadas e com um sorriso pouco honesto no rosto, mas como dois estranhos que subitamente tentavam não se desgrudar.
“Não quero voltar para casa com você hoje”, ela me disse na hora de irmos embora.
“Tudo bem”, eu respondi.
Ela queria dormir na casa de sua irmã. Os segundos que precederam nossa ida de volta foram talvez os mais dolorosos da minha vida adulta. Ela parecia estar melhor do que eu. No caminho, ela mantinha a mão sob minha perna enquanto eu dirigia, e cada rua atravessada, cada esquina cruzada parecia segurar um pedaço de nossa história que nós nunca mais teríamos.
Assim que chegamos e eu estacionei o carro, olhei para Danielle e vi a maquiagem borrada e as lágrimas que desciam com força. Saímos do carro e eu a deixei em frente à porta do prédio.
“Volte para casa comigo”, eu disse.
E eu vi como ela se desesperava à medida que balançava a cabeça negativamente e me mandava ir embora. Obedeci e voltei para o carro. Acendi um cigarro e olhei pelo retrovisor e dei partida enquanto ela ainda permanecia sozinha nas escadas do prédio.
Mesmo agora, quando tudo aparenta estar adequado, ainda tenho que enfrentar minha face sombria quando deito para dormir e quando acordo.
Todos me diziam que eu carecia de um Deus, mas a única força superior que me bastava estava bem ali no meu jardim.
“Somos todos um pouco Frida, se já amamos, se já sofremos, se já fomos deixados, traídos, se já traímos. Somos Frida porque somos latinos, passionais, raivosos, ciumentos, possessivos.”
(Texto de abertura da exposição “Call me Frida”, de 2013, escrito por Fernanda Young)
Em setembro desse ano, os paulistanos poderão apreciar as obras de Frida Kahlo no Instituto Tomie Ohtake. A exposição trará os trabalhos de diversas artistas mexicanas, colocando os contrastes e as semelhanças entre elas. A exibição promete ser mais um sucesso de longas filas – um fenômeno comum para o Instituto, que já recebeu instalações de Yayoi Kusama e Salvador Dalí.
Mas Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, ou apenas Frida Kahlo, é mais do que uma pintora, ela se tornou um verdadeiro ícone pop. Venerada por homens e mulheres ao redor do mundo, ela encarna o espírito latino para pintar, se expressar, viver e principalmente amar.
Amor é dor e dor é arte
Uma mulher à frente de seu tempo, a principal característica de Frida era a intensidade com que ela sentia o mundo ao seu redor e como absorvia isso para si mesma. Única, ela foi capaz de superar problemas pessoais, transformando cada uma dessas dificuldades em arte intensa nas telas que pintava.
Em sua infância, a pintora contraiu poliomielite, deixando uma lesão em seu pé esquerdo que lhe rendeu o triste apelido de “Frida perna de pau”. Alguns anos mais tarde, ela sofreu um acidente e teve múltiplas fraturas, precisando fazer 35 cirurgias – período em que ficou presa à cama, sofrendo também com problemas na coluna. Foi nesse momento que ela começou a pintar e expressar suas angústias através das tintas que colocava na tela.
No entanto, todas essas dificuldades foram usadas como tijolos na construção da personalidade excêntrica e marcante de Frida. O visual colorido cheio de estampas e flores era, na verdade, uma maneira de chamar a atenção para outros aspectos que não a sua aparência. Já o corpete, uma de suas marcas registradas, servia para dar sustentação à sua frágil coluna.
Sua paixão por Diego Rivera era vista como o mais forte e conturbado amor do século 20, já que na mesma intensidade que ela o amava, eles acabavam se magoando. No entanto, Diego foi essencial para que ela se revelasse como artista, já que Frida muitas vezes retratava na tela essa grande paixão.
Conforme o tempo passava, sua saúde apenas piorava. Em 1950, ela teve de amputar uma perna, o que fez com que caísse em profunda depressão – passando todos os seus pensamentos e sentimentos para as telas e seu diário. No dia 13 de julho de 1954 – apenas alguns dias depois de completar 47 anos, Frida foi encontrada morta em sua casa. Suas últimas palavras foram registradas em seu diário: “Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais”.
Amamos e somos Frida
Em 2013, a escritora Fernanda Young, ao lado de Alexandre Herchcovitch, estrelou no espaço de eventos Duda Molinos, também na capital paulista, “Call me Frida”, uma ocupação inspirada no estilo de Frida Kahlo. Houve um bazar com peças inspiradas no estilo de Frida, além de fotos da escritora caracterizada como a homenageada da exposição.
Na ocasião, a personalidade de Frida era exaltada em sua totalidade, de mulher à artista. E mais do que artista, uma precursora do pós-modernismo, cujo ego é colocado como objeto de estudo. Assim como Frida disse:
“Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.
O que sobrava na vida de uma mulher limitada pelo próprio corpo, pelos próprios sentimentos e pela impossibilidade de realizar o sonho de ser mãe – depois de três gravidezes frustradas?
Frida Kahlo foi a maior prova de como a Arte pode salvar. E é difícil até mesmo escrever algo diferente sobre a pintora, uma vez que ela não teve pudores de se mostrar em suas obras, suas cartas, seus diários:
“Pintar completou minha vida. Perdi três filhos e uma série de outras coisas, que teriam preenchido minha vida pavorosa. Minha pintura tomou o lugar de tudo isso. Creio que trabalhar é o melhor”.
Não há nada que possa ser dito sobre Frida que a própria não tenha nos dito, fazendo fofoca sobre si mesma e ajudando a humanidade a entender um pouco mais das misérias e da força humana.
E que venha a exposição no Instituto Tomie Ohtake, provando que Frida jamais estará sozinha e mostrando para o público que o ser humano pode ir muito mais longe do que a vida impõe a ele.
David Letterman é um mito da televisão norte-americana. Seu talkshow passou por duas emissoras durante mais de três décadas e teve o modelo copiado e reproduzido em diversos outros países. Sem citar nomes, mas isso inclui o Brasil.
No dia 20 de maio de 2015 Letterman se despede das telas. A televisão (não norte-americana, mas mundial) perde um grande cara. Mesmo que você não tenha assistido às entrevistas de fato, é muito normal que já tenha visto algum vídeo de um músico tocando por lá. Tocar no Letterman significa que você está no caminho certo. É prestígio. É uma honra. Não bastasse isso, o programa é filmado no Ed Sullivan Theatre, outro monumento cultural norte-americano.
David Letterman estreou o Late Nigh with David Letterman, na NBC, em 1982. Em 1993, passou a apresentar o Late Show, na CBS, de onde está se despedindo. O programa irá continuar e manter o mesmo nome e formato, e Letterman será substituído por Stephen Colbert.
O primeiro entrevistado do programa de Letterman, ainda nos tempos da NBC, foi o ator Bill Murray. E, um dia antes do programa final, quem está de volta? Bob Dylan. E Bill Murray também, claro.
A dupla em 1982
Sensacional como sempre, Bill Murray saiu de dentro de um bolo gigante em que estavam escritas as palavras: Goodbye, Letterman. Já Bob Dylan, apresentou a canção The Night We Called It a Day, faixa do belíssimo álbum Shadows In The Night, que já falamos a respeito aqui no La Parola.
O último programa vai ao ar depois de eu escrever essas palavras. E a última banda a se apresentar no palco do Late Show durante a era David Letterman será o Foo Fighters. Provavelmente falaremos disso amanhã. Mas, enquanto isso, assista abaixo um trecho do penúltimo programa, e/ou venha aqui para assistir ao Bob Dylan tocando:
Pela terceira vez – e agora, última – o maior contador de histórias da música mundial, mister Bob Dylan, se apresentou no programa de David Letterman.
Última porque o apresentador está se despedindo da televisão após mais de três décadas.
O Late Show continuará indo ao ar no canal norte-americano CBS, mas será apresentado daqui para frente por Stephen Colbert.
Bob Dylan subiu ao palco do programa e tocou a música The Night We Called It a Day, do disco Shadows In The Night.
A última banda que irá se apresentar sob o comando de David Letterman será o Foo Fighters, mas isso é conversa para outra hora. Assista abaixo ao mestre Bob Dylan e toda a sua classe:
O que dizer sobre a tão esperada season finale de The Flash, exibida ontem (dia 19/05) na TV americana? Melhor ainda, o que dizer sobre o desfecho da primeira temporada de uma série que, episódio por episódio, conquista fãs assíduos e outros desconhecidos do personagem de forma tão coesa e empolgante? Barry Allen vem correndo a toda velocidade e o público agradece por uma das temporadas mais emocionantes do ano.
24 anos após o cancelamento da finada série estrelada por John Wesley Shipp, o velocista escarlate retorna para a TV de forma grandiosa, e com o avanço tecnológico, acabou tornando a nova série mais compensável e com um custo menor para os envolvidos. Mas para conhecer a finada primeira versão de The Flash (indico), basta procurar nos canais de streaming e ver como funcionavam as coisas nos anos 90. Aqui, atentaremos a versão 2014/2015, de Barry Allen.
Criada por Greg Berlanti, Andrew Kreisberg e Geoff Johns e sendo transmitida pelo canal CW, a nova adaptação do personagem da DC fecha o ciclo dos seus primeiros 23 episódios sem o maçante contorno de “vilão da semana”, tão característico de diversos outros programas e que inclusive, prejudicou e muito outro grande personagem da DC, ou você já se esqueceu de Smallville?
Em The Flash, existe uma preocupação para manter o arco principal em foco, mesmo que eventualmente, novos personagens terminem por ser introduzidos. Sem contar os eventos crossover ocorridos com Arrow, outra série que vai caminhando bem e teve encerrada na última semana sua terceira temporada.
O novo Flash é vivido por Grant Gustin, ator que havia ganhado destaque por fazer parte do elenco de Glee. O novo Barry Allen é franzino e nada se compara com os músculos de outrora de Wesley Shipp, que saudosamente também faz parte da nova versão como o pai de Barry. Mas prognósticos e fichas sobre o elenco também podem ser facilmente encontradas na rede.
A grande sacada da nova versão é impregnar aos olhos do público não apenas referências dos quadrinhos e diversas origens retratadas do personagem ao longo de décadas, mas também de brincar com o principal do herói: a velocidade e o tempo. The Flash passeia de formas surpreendentes e com questionamentos dignos de um jovem super-herói. Medo, erros, paixão, raiva e diversos outros elementos cuidadosamente trabalhados pelos roteiristas através de personagens secundários importantes e vilões saudosistas e repletos de simbologias pertinentes.
O grande duelo construído entre Flash e Flash Reverso (que atuação de Tom Cavanagh!) é um deleite visual e mostra como se desenvolve o emocional entre o herói e o seu nêmesis. Exibida no Brasil pelo canal pago Warner Channel, The Flash rompe barreiras e coloca a DC realizando algo concreto e digno na TV. É aguardar pela segunda temporada e esperar por mais desdobramentos (que já irão resultar na série derivada Legend of Tomorrow). Corra, Barry! Corra!
O documentário ‘Amy’, produzido para contar a história de uma das vozes mais belas da música vem ganhando força em sua divulgação a cada dia que passa. O filme, que estreia nos cinemas britânicos em 3 de julho, ganhou mais uma trailer, dessa vez em versão extendida.
Amy é um filme dirigido por Asif Kapaida, diretor do documentário ‘Senna’, lançado em 2010.
Assim como o primeiro trailer do documentário, nesse vídeo é destacado que Amy Winehouse foi uma mulher que apenas precisava ser amada e que jamais pensou que a fama atingiria tais níveis. Ainda que tenha sido uma estrela, o filme mostra o lado humano de uma garota que só queria cantar, sem as badalações que a fama promove.
Nunca fui num templo. Sempre tive vontade, mas nunca fui. Deve ser uma fábrica de energia. Sempre imaginei algo assim… Com uma mecânica que existe, mas que não necessita de nada para engrenar, vai sempre quase que de forma infinita. Esse lado espiritual volta e meia me fez ter curiosidade a procurar livros teóricos sobre o assunto, mas certos detalhes não são captados em livros, logo, não existe outra alternativa para meu Feng Shui a não ser ir para alguma base de pilar sagrado, vulgo templo.
A música sempre foi meu templo. Sempre vi cada nota como um sermão religioso, algo para me elevar e que acima de tudo me isola 100% de todas as questões problemáticas de meu dia-a-dia. Acho que as notas conseguem certos insights que nenhuma outra forma de arte almeja ou alcança. Acredito no seu caráter de cura e o mais importante: em toda sua potência reguladora de energia, sentimentos e influências.
Cada nota que sai precisa ser valorizada e é isso que poucas bandas conseguem vislumbrar. E hoje em dia esse fato pode decidir quem consegue sair do lugar comum e quem, com muita fibra e paixão, consegue criar uma arte que pode ganhar status de seita e fanatismo de estado islâmico, tornando-se assim o seu templo. E recentemente encontrei mais uma casa sagrada dentre a grande produção de arte brasileira. Com os paulistas da Bombay Groovy o nirvana chega e ainda se mistura com nosso próprio DNA em prol da miscigenação musical.
Line Up: Lucas Roxo (bateria) Jimmy Pappon (órgão) Danniel Costa (baixo) Rodrigo Bourganos (sitar)
O Ying Yang pede passagem na psicodelia dessas notas em frenesi de aurora boreal. É lindo ver um coletivo de músicos realmente cultos em relação a arte que representam e, que mais do que apenas tocar, buscam agregar novos elementos ao som, seja adicionando sinestesias ou temperando a trip, algo que a Bombay faz como poucos em nossa cena atual.
Depois que o play é dado nota-se o contato com uma representação artística fora da curva. O todo é formado por uma batera (Lucas Roxo) que banha o som em possibilidades multilaterais, sempre em pura sinergia com o sitar (Rodrigo Bourganos), instrumento que trabalha como algo à parte no som.
Forma a jam também nas cordas, mas vai além, tal qual a voz de Plant fazia no Led como um nato e brilhante fator à parte, provendo a liberdade de ir e vir como se o tempo fosse apenas um detalhe! Fazendo frente ao groove eloquentemente melódico e acima de tudo requintado pela baianidade cósmica de Danniel Costa, encerrando o karma no ponto cego da cama de Hammonds do inventivo e Zappiano Jimmy Pappon, a mente que oxigena toda essa viagem.
É como se Confounded Bridge abrisse um portal dentro da jam e fizesse com que a música voltasse a ser o idioma universal. Fazendo com que Jakarta Samba ou Gypsy Dancer encontrem um equilíbrio que até ano passado só era visto no meridiano de Greenwich, marco zero do ponto central da terra, o equilíbrio dos dois hemisférios, que em disco mostra a visão de 10 camadas libertárias da Bombay Groovy. É transcendental.
O som simplesmente flui enquanto sua alma é embalsamada pelas decodificações sonoras. Parece que a naturalidade e liberdade das notas doces de Fonte de Castalia ou da europeia Le Bateau D’Orpheu, se moldam ao seu corpo e apenas seguem regendo esses momentos para que a apreciação de todos os movimentos desta trama seja total.
Sempre com aquele ideal Zeppeliano de elevar a música como um tributo aos grandes baluartes homenageando tudo que importa, desde o Funk de “Tala Motown” e seu groove celestial que deixa o ouvinte em questionamentos de upbeats em meio a downbeats, até a ambientação suprema deste primeiro disco.
É com Aurora que sintetizo a força desse som e suas características universais. Desde o Prog/Jazz do marfim malhada até a base rítmica que se confunde entre viradas, ragas e laços de notas graves cristalinas. O termo improvisação é a tese filosófica base desta união, mas até nisso a amplitude dessa ideia se limita. A Bombay Groovy faz música no sentido mais amplo da palavra e o fato de ser instrumental só exalta o quanto esses caras conseguem dizer sem ao menos proferir uma palavra concreta. Exuberante é pouco, veja os caras ao vivo e saia na posição de lótus.
Troca de Talas & Ragas
1) Dia após dia percebo que apesar da música Pop ter nos bridado com nome brilhantes (como o Steely Dan), parece que uma das suas principais contribuições para o todo foi simplificar as coisas. A cada dia que passa as músicas perdem em instrumentação e ganham em beats, copiam riffs e criam mais do mesmo… Como vocês, uma banda que vai exatamente contra tudo isso, enxergam o cenário no qual estão inseridos e esse processo de perda de qualidade?
Rodrigo: Primeiramente, buscamos escapar do saudosismo, por mais que seja inevitável quando se trata do sucateamento da música pop. Costumo brincar que o solo de guitarra foi substituído nas músicas atuais pelo ‘’momento rap’’ com algum MC convidado, que de fato é como a coisa rola por aí. Porém, isso não se trata necessariamente de simplificar, pois essa era a busca do próprio Steely Dan, por exemplo. Simplificar não é algo ruim, a Bombay Groovy também busca a síntese (dentro dos excessos da nossa estética) para conseguir misturar inúmeras referências dentro de um contexto de música pop. O Steely Dan fazia isso por meio de arranjos impecáveis e harmonias complexas. Nós buscamos aproximação com a música pop com o desafio de partir de uma formação inusitada e referências certas vezes obscuras, dentro de inúmeros estilos.
2) A mistura sonora promove rupturas, a alimentação base que estimula novas ideias. Agora com um segundo disco que dialoga com vários estilos diferentes, vocês pensam em alguma abordagem mais específica ou a ideia é justamente não se limitar?
Rodrigo: A ideia é flertar com a maior gama possível de inspirações sedutoras sem que o estilo da banda se perca. Buscaremos deixar nossa marca em cada caminho musical percorrido neste próximo trabalho, como também foi a intenção no primeiro. Mas acredito que nesta próxima etapa seremos diluidores com mais embasamento, sem perder a essência roqueira.
3) Hoje a cena instrumental caminha de uma forma muito interessante. Quem aprecia o som da Bombay, por exemplo, está acompanhando tudo que a banda conquista e creio que vocês notam isso, parece uma divisão de nichos sonoros. Qual a opinião de vocês em relação aos benefícios desses acontecimentos?
Rodrigo: Percebemos que a cada vez contagiamos mais entusiastas do nosso trabalho, e o facebook possibilita esse contato direto e uma expansão quase desenfreada. Porém, por mais que estejamos incluídos na suposta cena instrumental, particularmente prefiro não criar essas divisões. Buscamos fazer canções de forma que a ausência de letras não faça falta, tampouco a figura de um vocalista nas apresentações. Para nós, que ouvimos muito bandas de rock clássico, progressivo e jazz rock dos anos 70, às vezes realmente não sentimos falta. Eram inúmeros momentos instrumentais, principalmente ao vivo, e não é raro que fossem os apogeus.
4) No som da Bombay cada instrumento possui seu lugar e na hora de ouvir o grande efeito é essa riqueza de detalhes, algo bem difícil de ser encontrado. Na hora de criar alguma coisa como que a banda mensura essa característica, para que na hora da audição o ouvinte escute absolutamente tudo que foi tocado?
Rodrigo: Isso provavelmente descende da síntese que mencionei no início! Utilizamos poucos canais, gravação ao vivo, poucos overdubs, e é tudo bem espontâneo. Desta maneira, todas as nuances sonoras podem ser degustadas pelo ouvinte atento. E em alguns momentos elas casam muito bem de forma extremamente espontânea, como em diversos diálogos entre a bateria e o sitar ao longo do disco.
5) Acredito que o grande lance da música contemporânea seja criar algo que, se equilibrando entre influências clássicas e atuais, consiga agregar novos elementos para a música do futuro. Como a banda trabalha para criar algo que não soe datado?
Rodrigo: Concordo completamente. Gosto da expressão “música do futuro” também. Quanto a não soar datado, todos nós temos tantas influências inconscientes provenientes do nosso processo de “socialização musical” (como poderia ter dito Durkheim) que é até um desafio soar como de fato as nossas referências setentistas soavam. É inevitável que um novo “approach” irá sobressair, pois os tempos são outros, os equipamentos são outros, as experiências são outras. Acredito que a Bombay Groovy conseguiu equilibrar bem essas inúmeras referências, e soar moderna, contemporânea e ao mesmo tempo flertar com o “retrô” e com as características que mais nos inspiram daquele período.
6) Como é o papel do sitar para os outros músicos da banda? A abordagem com ele no som precisa ser mudada em virtude do seu papel ou o raciocínio é o mesmo se vocês tivessem uma guitarra fixa no lugar?
Rodrigo: O sitar é, como concluiu a Revista Rolling Stone, o “vocalista indiano” da banda. Ele é encarregado das melodias que seriam feitas por um vocalista, hipoteticamente! A peculiaridade é que a afinação do sitar é aberta em ré e o instrumento possui apenas uma corda solo além dos bordões e as cordas simpáticas. Portanto, a banda passa a tocar todas as suas músicas na tonalidade ré, o que influencia muito no baixo e teclas. A bateria precisa, no máximo, ser tocada com menos brutalidade para que o som delicado do sitar sobressaia com as supostas “melodias vocais”. É possível sim tocar em outras tonalidades, mas perde muito das ressonâncias clássicas do sitar, que fica limitado a modulações de notas em uma corda solo.
7) A música indiana também é conhecida pelo uso da percussão, vocês tem alguma inclinação para esse lado (até buscando uma experiência mais raiz junto com o sitar), ou acham que isso acabaria sendo um empecilho na hora de novas experimentações?
Rodrigo: Somos grandes entusiastas da música indiana, mas talvez precisemos de mais algumas encarnações para utilizar apropriadamente essas referências, devido à sua enorme complexidade. Por enquanto nos limitamos ao uso das sonoridades e de uma diluição respeitosa de alguns elementos, como ragas e talas. Já transgredimos demais para esta encarnação, e não queremos passar por diluidores.
8) Eu particularmente estou bastante curioso para ouvir o segundo registro de vocês, logo, gostaria de saber se existe algo que possa ser adiantado sobre o processo, sua sonoridade e os objetivos em relação às novas composições.
Rodrigo: Ouvi dizer que o segundo registro caminhará do jazz manouche ao afrobeat, passando pelo flamenco e pelo jazz rock. Mas pode ser apenas especulação.. No entanto, posso garantir que ainda não teremos MC’s convidados.
9) Já tive a oportunidade de vê-los ao vivo e até pela energia do trabalho em estúdio é quase que imediato imaginar um live, vocês tem planos para isso? Como é o trabalho para deixar as coisas tão orgânicas e naturais, tanto em estúdio quanto ao vivo?
Rodrigo: O futuro é incerto, como diria uma certa figura conhecida, poderemos fazer isto algum dia. Entretanto, costumamos fazer bootlegs das nossas apresentações. Podemos lançar uma compilação dos melhores momentos de diversos shows em breve. E eu diria que o trabalho para deixar as coisas tão orgânicas e naturais em estúdio é simplesmente fazer como se fosse ao vivo. É justamente isso que gostamos de fazer. O vídeo que temos de Aurora mostra exatamente como trabalhamos em estúdio. Tínhamos a estrutura da música e ela simplesmente fluiu daquela maneira no segundo take. Depois foram acrescentados os overdubs de sitar e piano.
10) Para finalizar gostaria de saber o que cada um anda ouvindo recentemente e se isso acabou influenciando o processo de gravação de alguma maneira. Obrigado pela atenção e boa sorte para o futuro!
Rodrigo: Ando ouvindo muito Brian Auger’s Oblivion Express, Django, Paco de Lucia, Funk turco dos anos 70, “Transa” do Caetano, Humble Pie e como sempre Led Zeppelin (principalmente ao vivo em 1972 e 1973).
No hall dos grandes baluartes da MPB acredito que exista um top 3 tão importante como a trinca de pirâmides do Egito, falo sobre as inexplicáveis Quéops, Quéfren e Miquerinos. Acredito que a ordem da trinca não possa ser especificada devido às costumeiras dúvidas do resenhista, mas inicialmente acho que formar um trio de atacantes com o Zé Ramalho, Tom Zé e o Jorge Ben não seria má ideia.
Esses são nomes que além de uma obra grandiosa, produtiva e extensa, são seres puramente complexos. Perceba que poucas pessoas fazem um cover desse ataque fulminante. E o motivo é bastante claro, as letras são complicadas, os timbres, climas e instrumentações regionais requerem muito mais do que vozes parecidas e coragem.
A postura de palco desses grandes mitos era capaz de fazer o Egito todo se curvar perante a grandeza desse som em puro frenesi de tributo às margens do Nilo! Não é qualquer um que tem a moral de subir no palco e implementar temas como “Errare Humanum Est” de maneira confortável. Sabemos que na voz do esotérico-criador fica lindo, mas no corpo de outra alma a coisa perde em naturalidade, algo primordial para o som continuar saindo de maneira orgânica.
Mas sempre existe uma exceção para com essas benditas “regras” e mitos, algo que tive a honra de presenciar no último sábado, data em que o sempre versátil Zeca Baleiro resolveu reviver seus tempos de “cosplay de Zé Ramalho” e voltou para a capital paulista para promover o lançamento do DVD “Chão de Giz”, um gloriosos tributo ao mito paraibano.
Foto: Henrique Pimentel / Musicão
Line Up:
Zeca Baleiro (vocal/violão/guitarra)
Tuco Marcondes (guitarra/vocal)
Fernando Nunes (baixo)
Pedro Cunha (samples/teclado/sintetizadores/acordeon)
Kuki Stolarski (bateria/percussão)
Me direcionei para esse show, pois vejo Zeca imerso num patamar completamente diferenciado dentro dessa cena MPBista. É engraçado que ninguém pode falar mal da MPB, algo que estimula essa cena leite com pêra que cultua o xarope do Cícero e a disconexa Mallu Magalhães, mas que não escuta Lenine e deixa o Baleiro encostado.
E isso é um dos maiores crimes que se pode cometer, afinal de contas só quem conhece sabe: Zé Ramalho é difícil, poético, único e fragmentado. Se decorar a letra pra desafinar no ônibus já é complicado, imagine decorar pra fazer o show só com esse repertório! É mais embaçado que passar no ITA.
Foto: Henrique Pimentel / Musicão
São nuances regionais sublimes, logo, é necessário uma banda excelente, algo que Zeca descolou tranquilamente. O maranhense domina a viola com um talento mundano e creio que seu intelecto seja um dos poucos que comportem a grandiosidade do mestre que foi homenageado… Além de sentir e cantar e tocar, é necessário entender, e esse malandro manja do riscado
Foram duas horas de um glorioso show. Foi diferente ver o cidadão mais “na dele” do que o habitual, mas isso é algo que a música do paraibano invoca. O som é bastante complexo e as letras não possuem o humor ácido que estamos habituados quando vemos Zeca mandando temas do baleiro, logo, se você for sacar essa tour, saiba que o show será excelente, mas que ele só vai mandar “Telegrama” no bis e que o set será dominado pelo faraó de nossa MPB.
Vale ressaltar também que a voz do ato principal em primeiro plano é de uma versatilidade absoluta. Não existe ritmo que limite seu trabalho, algo que adicionou novo requinte ao som deste tributo, respeitando limites, mas adicionando o próprio DNA criativo do intérprete, sempre num misto de ousadia e humildade grandiosa.
Foto: Henrique Pimentel / Musicão
É bacana saber que existem músicos com essa noção… Precisamos de caras que criem e que recriem, que sejam responsáveis por uma renovação e por outra “re-renovação”, revelando temas antigos para uma nova safra que pode não ter toda essa gama de contato com compositores donos de obras tão extensas.
Zeca não choveu no molhado em nenhum momento, muito pelo contrário, o cara ainda pegou sons de lado B do mestre e tirou onda, sempre contando com uma bela lotação e com uma platéia que conhecia muito do repertório do mestre que dançava com borboletas. Foi um dia pra quem tem approach, a jam foi high tech, com um baixão sem economizar no groove, momentos de vocalista indiano relembrando Shankar na promoção de um insight. Foi cool, os presentes saíram orgulhosos e o Zé foi eternizado nos vales do rio sagrado em virtude de seu savoir a fair que virou DVD.