Vida Lóki & Próspera: Uma noite e uma conversa com um afável Arnaldo Baptista

A música nos brinda com momentos inexplicáveis. Noites amenas, dias quentes ou tardes frias que por mais que sejam esquecidas por nosso cérebro, sempre nos brindarão com a lembrança de uma trilha sonora desses momentos. É bem louco saber que você não vai se lembrar do natal de 2004 nos mínimos detalhes, porém é grandioso relembrar que a trilha veio do West, Bruce & Laing.

Confesso que o resenhista que vos escreve demorou para compreender esse curioso fato, mas que hoje consegue administrar essa ideia de forma bastante concreta e por que não dizer, gloriosa. E o fato se deve aos shows que já presenciei, momentos que sei que não me lembrarei com perfeição para sempre, mas que um LP sempre me brindará com um chá de memória de algo que foi lindo, tal qual a abertura da exposição do Arnaldo Baptista no Epicentro Cultural

Dia 10/04/2015, uma noite que agora ainda me retorna de maneira perfeita mentalmente, mas que daqui uns anos já vai perder a riqueza de detalhes, só que a trilha sonora estará sempre comigo, Arnaldo no piano fazendo medley de “Lóki” com “Não Estou Nem Aí” e “Balada do Louco”, seguido por Juliano Gauche a sua poesia de raro talento.

Essa exposição surge para provar que as faces multitarefas do mestre são indivisíveis, é como ele profetiza na faixa na faixa título de seu trabalho mais famoso:

“Ficamos até mesmo todos juntos reunidos dentro de uma pessoa só”

 

O Arnaldo “músico” toca o que você só imaginava em sonho, já o Baptista “artísta plástico” molda o sonho que foi visualizado anteriormente em poesia musicada. Seria ele o mutante dos extremos? Ser Lóki ou não ser, eis aqui nenhuma questão, apenas uma afirmação: arte em constante processo de expansão.

Foi uma honra ter feito parte dessa noite em todos os aspectos, porém o mais especial foi ter a chance de ver o mundo com a mesma percepção e ganhar, mesmo que por poucas horas, a mesma visão de mundo de um dos músicos mais brilhantes da história de nossa música.

Todos os presentes puderam obter a sinestesia completa, ver, ouvir e sentir a viagem que há mais de 40 anos segue incandescente na vitrola-satélite de um dos mais emblemáticos e singulares músicos brasileiros, desde a parte técnica, passando pelo processo criativo e pela percepção geral do processo com a concepção sonora, algo que nesta noite em especial deu atenção para sua versão em tela.

Se a noite fosse apenas para a apreciação de seus desenhos e retratos tal fato já poderia ser absolutamente elogiado, mas não, a organização do Epicentro Cultural ainda preparou um show que lotou as dependências da casa e que além de nos brindar com a oportunidade de uma vida quando notamos a presença de um certo Baptista nos teclados do estúdio de vidro, também elevou a platéia com a lírica do afinadíssimo Juliano Gauche, que tocando temas de seu primeiro disco e fazendo covers do mestre Arnaldo, tratou de sair ovacionado, assim como o homenageado, finalizando uma noite desconcertante.

Com energia cintilante, sinuosa e libertadora, unindo diferentes gerações, todas com um mesmo ideial: chegar mais perto de um mito, ouvir a poesia de um ícone e admirar os passos e a clara felicidade que Arnaldo, assim como todos que habitavam o evento, emanavam de seus corpos… Características que para quem conhece a obra do mestre são preceitos básicos para entender todo o contexto de sua vida: ele vive exatamente para nos proporcionar momentos como esse.

O Arnaldo não tem medo de ser quem ele é, nunca temeu o fato de ser autêntico e jamais ligou para rótulos, suas regras sempre ficaram evidenciadas em suas letras e quem não conhecia os mandamentos pode ser apresentado graças ao grande show que o Juliano – junto a João Leão (teclados) Daniel Lima (baixo) Kaneo Ramos (guitarra) e Thiago Nistal (bateria) – matou no peito com uma tranquilidade assustadora.

Que sentimento, que afinação, que banda! Foi uma noite linda e em diversos momentos foi inexplicável ver a alegria estampada no rosto das pessoas. São sentimentos como esse que motivam a criação da arte, aquela fagulha que você não sabe o que significa, mas que não tem medo de assumir e que no final das contas busca apenas um céu estrelado para servir de plano de fundo enquanto seus olhos fechados apenas absorvem as notas.

E se ser louco é ser feliz creio que o nosso herói seja completamente maluco, mas fiquem tranquilos, ele está beleza! Segue vivendo sua arte e espalhando essa felicidade que para alguns é sinônimo de loucura, afinal de contas ser normal não está com nada, bicho! E para encerrar gostaria de fechar esse relato com uma frase do Juliano Gauche: “Arnaldo, eu te amo!”

Humildade é pouco para esse ser de luz própria, Vida Lóki & Psicodélica, santa criatividade Rafael Denardi!

Arnaldo Baptista - Vida Lóki e próspera

E essa foi a conversa com o Arnaldo, na íntegra:

A percepção de uma música é mais palpável na hora da criação ou você consegue mensurar as ideias de uma forma mais concreta quando vai pra tela?

Na hora da criação. Na hora da criação você sente mais o que ela contém e assim pode ver até que ponto ela pode chegar.

Hoje você dedica mais tempo a música aos desenhos ou equilibra os dois?

Ótima pergunta, porque às vezes eu penso de manhã: vou pintar um quadro ou vou tocar? Eu não sei qual lado eu pego em primeiro lugar, fico sem saber direito e é uma coisa que vai fluindo, às vezes eu pinto mais, às vezes eu gravo mais, depende das minhas ideias.

O seu repertório sonoro ajuda na hora de elaborar um desenho? É possível trabalhar de uma forma complementar com os dois conceitos?

Ajuda bastante, embora a música seja bem mais recente, desde a época de Bach, o período pré-clássico e a arte plástica vem desde a época da caverna com mãos e animais pré-históricos, acaba sendo um contraste, vai fluindo e eu tento completar um com o outro.

Qualquer demonstração de arte nos revela um pouco mais do próprio criador desse universo particular, é como se fosse um processo de autodescobrimento, logo, cada criação é uma tentativa de encontrar novos caminhos e eu queria saber o quanto essa nova etapa lhe ajudou a se aprofundar nesse processo.

Certo. Isso é uma coisa que expande bastante o quanto eu vou alcançar em função do quanto é comum a mim, a pessoa que está interpretando a minha obra e quando é pessoal só. Totalmente então nesse sentido eu vou estabelecendo uma média entre o meu interesse e o interesse do outro no sentido onde a gente tenta compartilhar ou compartrilhar, encontrando um ponto em comum.

Na outra entrevista ao La Parola você falou que seu guitarrista preferido era Jimmy Page, o que você acha que o Jimmy Page tem que os outros não têm?

Ótima pergunta. Eu fui agora em São Paulo num show que tinha o Robert Plant e tava sem o Jimmy Page, e foi um lado bonito, pois ele completava a sua parte mesmo sem o Jimmy Page, porque ele tem uma voz totalmente importante, mas era uma coisa que levava adiante memórias e coisas que é tido hoje em dia que o pessoal sempre comenta como o melhor show de Rock que existe, e o Jimmy Page improvisa bastante, é muito bom, e uma das coisas boas dele é que ele usa instrumentos de marca Gibson, que é muito importante.

O conceito de Exorealismo que você emprega no seu trabalho é uma forma de expansão da percepção de arte, mas em que sentido especificamente?

No sentido de motivação. “Exo” tem relação com êxodo, tudo que vem de fora, e talvez esoterismo, que a gente adora quem está la em cima, então ele é exótico e a gente faz uma coisa que abrange o total do universo, não só no Brasil, não só na Terra, é exorbitante, vai além.

Sempre acompanho seu Facebook e percebo que grande parte dos sons que você posta são dos anos 70 (como o West Bruce & Laing que você tanto aprecia), porém percebo que mesmo possuindo um lado mais purista, suas ideias não são tão extremas como vemos por aí. Até que ponto você acha saudável esse fanatismo por gravações analógicas e ideias que vão contra o dito “clássico”?

Entendi. Isso é uma coisa em função de sentir-se completo, um exemplo: esses pilotos de fórmula e que usam carros elétricos precisam trocar de carro porque acaba a bateria, mas pra ele se sentir completo ele teria que usar a fotovoltaica, tipo pegar a eletricidade solar que é grátis e deixar o carro direto na potência total, é questão de se sentir completo e fazer o que se gosta.

Qual foi seu primeiro contato com as artes visuais e quando você viu que também poderia pintar?

Ah interessante. Isso é muito antigo na minha vida porque desde a escola eu pintava o caderno com lápis, criando flores, ficava fazendo coisas que não tinham nada de relacionado com a escola, mas me levava adiante e entretinha, então quando eu tava em recuperação do coma no hospital, ela (Lucinha) me trouxe um papel e um lápis e então eu comecei a estudar o desenho, as formas, o cubismo, realismo, impressionismo e todas essas coisas. Eu me coloquei nas artes plásticas graças a ela.

Demolidor: O homem de muitos medos

Desde a primeira cena que antecede os créditos iniciais do programa, a série do Demolidor concebida pela Netflix em parceria com a Marvel demonstra o abismo gigantesco de qualidade, caso reflitamos sobre a esquecível adaptação aos cinemas do filme homônimo protagonizado por Ben Affleck. Isso acontece simplesmente por questão de coesão e profissionalismo dos envolvidos, algo que a Casa das Ideias está conduzindo de forma surpreendente ao lado da Disney nos cinemas e na TV. O principal diferencial da nova leitura do anti-herói (que quanto à carga dramática assemelha-se ao Batman na DC) está em colocar o mesmo sob a perspectiva do real, do tangível.

O seriado disponível em toda a sua primeira temporada é totalmente sombrio e gráfico. A abertura da série é um deleite visual dos mais líricos e sublimes já vistos na mídia. Existe todo um cuidado e referências de encher os olhos de fãs e desconhecidos sobre a cânone do personagem. Seguindo adiante, o programa persiste em quase uma hora de duração durante os 13 episódios, realizando a síntese emocional e constituída dos seus vários protagonistas, adentrando diversas camadas de imenso peso como um todo. Na verdade, assistir Demolidor ou qualquer outro seriado do canal stream é como contemplar um filme inteiro ou parte dele, sem aquela sensação de incompleta do formato tradicional das séries americanas.

Continuando no universo de Hell´s Kitchen, evidentemente existiram inúmeros easter eggs e ganchos para outras séries das quais a Marvel pretende adaptar no mesmo tempo (lembrando que Demolidor situa-se após os eventos de Os Vingadores), sem contar todo o legado proveniente das HQS, principalmente os arcos que deixaram o Demolidor sair do ostracismo dos quadrinhos pelas mãos de Frank Miller, contam e muito para uma qualidade superior e resultante no sucesso de crítica e público.

O show foi produzido e criado por Drew Goddard, nerd assumido e pupilo de ninguém menos que Joss Whedon, a mente por trás do sucesso dos Vingadores nos cinemas. Goddard teve entre os seus trabalhos, roteiros da série Buffy, Angel, Alias e Lost, além do filme baseado em imagens gravadas, Cloverfield. Goddard entendeu do universo do Demolidor e absorveu todos os nuances e complicações das personalidades e medos de Matt Murdock. É impressionante a carga dramática desenvolvida pelos personagens e em como os intensos diálogos, aliados a uma ambientação noir da série, contribuem igualmente através de um todo. Certas vezes, fica difícil imaginar que se trata da adaptação de um personagem das HQS.

Demolidor - Série - Netflix (10)

O elenco muito bem sincronizado e talentoso é outro ponto extremamente forte ao longo da jornada. Charlie Cox e cia simplesmente protagonizam um show à parte. Os mesmos exibem os medos reais de uma estrutura social e política condizentes da ambientação apresentada. Herói e vilão terminam por ser apenas conceitos ambíguos e a determinação dos atores e envolvidos no trabalho apenas demonstram o comprometimento de um estúdio que há pouco menos de 10 anos atrás começou a engolir o mercado de blockbusters nos cinemas e todas em outras mídias possíveis.

Obviamente, Demolidor não está isenta de erros. Ainda que a série seja realista, bruta, sanguinária, e visualmente angustiante, diversos clichês dos mais variados e a previsibilidade dos rumos dos principais arcos desenvolvidos durante a temporada são evidentes e nada que deixe o espectador sem fôlego, mas quanto a forma como são demonstradas, aí sim mergulham no cerne do nerd e do não nerd de tal forma que assistir cada episódio é uma experiência satisfatória e coerente.

Portanto, a solução é curtir conforme possível e esperar, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro e diversos outros personagens considerados “b” do estúdio para que culminem na minissérie Os Defensores, também a serem todos exibidos pelo Netflix. De fato, Demolidor é um homem de muitos medos, como todos os homens sem poderes, mas com sentimentos, erros, acertos e outras falhas e dons pertinentes ao ser humano, sombriamente, humanamente.

Mumford & Sons apresenta mais uma inédita, mas parece ser outra banda: ouça ‘The Wolf’

O terceiro álbum do grupo meio folk, meio indie Mumford & Sons chega às lojas no dia 4 de maio. E junto ao disco, chamado Wilder Mind, algo novo chega aos fãs da banda: uma nova sonoridade.

A identidade acústica, aquele banjo massa e outras nuances sonoras dos discos anteriores parecem ser elementos que foram abandonados, ao menos nas duas primeiras músicas já divulgadas: The Wolf (que você pode ouvir no fim do post) e Believe (que você pode ouvir aqui).

De cara lembrei dos Kings Of Leon, que também mudaram a sonoridade drasticamente com o passar dos anos para um rumo mais pop.

Acontece. Quem gostou, gostou. Quem não gostou, pule pra outra banda, há várias outras legais no planeta.

Ouça abaixo. O clipe oficial sai na segunda!

Update: Já é segunda, e o clipe saiu conforme prometido. O vídeo foi gravado ao vivo em um estúdio e a ausência dos instrumentos acústicos é confirmada. Assista:

No lixão nasce a flor

Foto: Camila Miranda

Mesmo com o preconceito com o estilo musical, ainda que seja coisa de marginal, é impossível não se marginalizar, não querer sair do centro das atenções e fugir para as margens, uma vez na vida querer ser o regressor, se rebelar contra o sistema vigente e carente, de oportunidades sim, mas muitas vezes carente até mesmo pela falta de dente, a pobreza assola a maioria, é fácil julgar como errado sentado no seu sofá sem perder metade da vida de Pirituba a Santo Amaro, sendo pobre, sofrendo, mas ainda vivendo, e sobre tudo isso vendo, que não tem pra onde fugir, que a fome aperta antes da chance de mudar, que batalhar é a única opção, falta de visão é o começo da repressão, não julgue a música antes de conhecê-la, ritmo e poesia sempre, Rap é o som!

A nível nacional é impossível questionar que Racionais MC’s é o grupo de Rap mais popular. Mesmo que não seja a melhor das realidades, é muito provável encontrar alguém nas ruas de qualquer quebrada que conheça o Mano Brown mas não conheça Raul Seixas, portanto, conhecer o Rap nacional é conhecer também os Racionais, e como todo grupo de Rap, sua história não é nenhum conto de fadas, não começa com nenhum ‘Era uma vez’, ela começa um pouco mais embaixo, descendo ao extremo sul, você conhecerá o começo da trajetória de um dos maiores grupos da música brasileira.

Quatro pretos sem prospecção e nem esperança de futuro, fazendo um som, uma dupla na Zona Norte e outra no extremo Sul das favelas da cidade de São Paulo, esse é o Racionais, um exemplo de Rap e um exemplo de vida.

O símbolo dos Racionais, Mano Brown, vindo do funk e do samba, recebeu seu nome quando nas rodas de samba na sua quebrada, no final do samba, sempre sobrava um tempo para puxar um som com a percussão, e Brown optava por um som gringo, um funk um soul, e pra zuar com a cara do Brown, os caras na roda já apelidaram o mesmo de ‘Janis Brown’.

Ice Blue era primo de Mano Brown, crescidos no mesmo terreiro, lutando pelo mesmo som, na mesma revolta, fazendo um som pela quebrada, na São Bento até o Centro Sul de Santo Amaro, começando como A.C Blue e D.C Brown – Antes do Capão Blue e Depois do Capão Brown – fazendo shows para dez, vinte pessoas, mas sempre com letras fortes contra a repressão racista, contra a polícia e contra o sistema opressor.

Numa casa de Rap na Brigadeiro Luis Antônio, se encontravam 30 ou 40 fãs de Rap, quando subiram no palco Edi Rock e KL Jay- uma dupla de rappers que subia com apenas a picape de madeira que carregavam embaixo do braço e muito talento – a dupla da zona sul ficou em choque com tanto entrosamento e afinamento de DJ e MC, houve uma identificação na hora, Brown reconheceu um talento de rima e de discotecar que poucos teriam, e assim nasceu os Racionais MC’s.

Quando o grande Milton Sales, que é um capítulo à parte na história do Rap, observou a arte daqueles jovens músicos nas ruas da São Bento, enxergou neles uma música de resistência absurda, enxergou algo grandioso ao ponto de conseguir mudar a sociedade brasileira de um modo que só não superaria a mudança lírica feita por Geraldo Vandré.

Milton Sales investiu como pode nestes quatros encontrados das quebradas e fez um milagre pro Rap nacional.

É incrível como de tão pouco apenas com o dom e a vontade de crescer quatro homens mudaram a história de um povo, de toda uma favela, e se tornaram grandes líderes e influências na massa pobre, fizeram história no mundo da música diversos momentos e serão sempre referência de boa música e de cultura popular nacional.

E este foi o surgimento – só um aperitivo – de como cresceu uma flor do lixo, a esperança de quatro negros que contrariaram as estatísticas e trouxeram uma gota a mais de vida a todos que já tinham morrido, orando de forma lírica para ‘que o mano não morra, mas que também não mate’, contra um sistema opressor Mano Brown, Ice Blue KL Jay e Ed Rock lutaram com tudo que puderam, buscaram referências mesmo nas ausências de oportunidade e fizeram a maior luta nacional da história do favelado contra a criminalidade.

Fazendo referência a Cidadão Kane, Madame Nagô, Dimas – o primeiro ‘Vida Loka’ da história – e inúmeros outros personagens e histórias, aproveitando seu ‘sabadão na Marginal com o seu melhor Marvin Gaye’, Mano Brown mostra que preto e favelado tem que fazer duas vezes mais, duas vezes melhor, buscar duas vezes mais, parar de viver de ilusão, saber onde e como procurar, saber que existe cultura mesmo nos extremos do capão, que se você fizer por onde você alcança, que suas chances são mínimas, inspirando e ainda respirando mais de 50 mil manos, tentando mudar para sempre suas realidades.

Milton Sales falando no Estação Periferia sobre o surgimento dos Racionais MC’s, e de brinde um pouco do grande Dexter falando de sua história:

Mano Brown e Milton Sales em cima do palco, o respeito um com o outro é algo sem igual, Brown chega a chamar Milton Sales de seu ‘mentor intelectual’, um vídeo espetacular:

Para conhecer melhor as histórias do rapper e de seu grupo, assista a entrevista que ele deu para o João Gordo:

Se você não conhece ainda, conheça, é Racionais MC’s, é cultura do seu país, escuta esse dvd, ‘mil trutas, mil tretas’, com a participação do mestre Jorge Bem Jor:

Zeka Sixx: quebrando tudo

O poeta inglês William Blake disse, certa vez, que “O caminho dos excessos leva ao palácio da sabedoria”. Ou seja: para saber, é preciso experimentar. Mas não apenas experimentar; é fundamental se empanturrar. Seria o exagero o pai do entendimento?

Para o escritor gaúcho Zeka Sixx, a resposta é óbvia: sim. E foi baseado nesta teoria singular e fascinante – apesar de perigosa – que o autor escreveu seu primeiro livro, O Caminho dos Excessos, obra que reúne trinta e dois contos que versam, é claro, sobre excessos: de bebidas, de sexo, de mulheres, de amor, de sentimentos, de dor. O descomedimento como forma de transcendência.

A obra compila textos escritos durante mais de uma década – entre 2002 e 2014 – e foi lançada dia 19 de março de 2015 em evento no La Estación Pub, em Porto Alegre/RS. O Caminho dos Excessos já nasceu nadando contra a maré, e chutando a cara dos mais desprevenidos. Seus contos são sinceros e corajosos, e percebe-se que não passaram por qualquer filtro, censura ou adequação, seja do autor, seja de seu editor. Até mesmo por que, a obra não possui editor, e muito menos editora. Foi não somente escrita, como 100% produzida pelo autor:

“Sem forma, sem cortes, sem pasteurização para melhor se adequar às necessidades do mercado” – Zekka Six

E mantendo o controle absoluto sobre todas as fases do processo de elaboração, produção e lançamento de seu livro, Zeka conseguiu criar uma unidade criativa perceptível, que perpassa tanto seu texto, quanto o projeto gráfico da obra. Em todas estas etapas percebemos o dedo polêmico e questionador de Zeka Sixx.

E é por isso que, após terminar sua leitura, O Caminho dos Excessos deixa uma sensação de fome; como quem jamais se sacia, independente de quanto beba, ou coma, ou sinta.

Zeka escreve com propriedade e segurança, mas não permite que a técnica sufoque seus instintos. A razão jamais substitui a intuição, e os sentimentos norteiam seus personagens, e o próprio leitor. Por trás de uma linguagem crua, e até combativa, as histórias possuem um fio condutor que as une, criando com o leitor uma identificação incômoda, mas visceral. As páginas de O Caminho dos Excessos são recheadas de paixões, desespero, busca por identidade, insanidade, compulsão, delírio, volúpia, desilusão, expectativa, amor. Sentimentos que conhecemos, mas que muitas vezes não experimentamos – por medo, por prudência, por conveniência – estão ali, escancarados por Zeka, sem maquiagem, enfeite ou qualquer cuidado. Parece-me óbvio que O Caminho dos Excessos não foi escrito só com o cérebro, mas com o coração, com o estômago; com álcool, sangue, lágrimas e muito suor.

Através de uma honestidade literária pulsante, e de uma sinceridade perturbadora e necessária, Zeka Sixx não pede licença ao adentrar o hall de escritores brasileiros dispostos a fazer diferente. Ele entra pelado, louco, rouco de tanto gritar, chutando a porta, colocando fogo no sofá, atirando o vaso de cristal no meio da rua. Zeka é daqueles raros autores que não se importam com ibope; que não querem saber de confetes sobre a cabeça, champanhe, bajulação, tapinha nas costas.

Porque ele sabe que a literatura não existe para domesticar; mas para provocar.

Seja bem-vindo então, Zeka Sixx. E bota pra fuder.

Saiba mais sobre Zeka Sixx e O Caminho dos Excessos acessando zekasixx.wix.com/ocaminhodosexcessos.

Eliane Brum pelas veias do Jornalismo Literário

Como uma estudante de jornalismo apaixonada por personagens reais, não seria difícil também me encantar pelo profissionalismo de Eliane Brum. De jornalistas históricos a jornalistas políticos, de opiniões fortes, esportivos, caricatos e renomados, eu fico com a escritora e jornalista que faz da profissão uma verdadeira literatura.

O livro O Olho da Rua (2008, Eliane Brum) é a caricatura fiel do jornalismo literário, classificação que, ao meu ver, deveria ser regra na nossa profissão – seja na política, seja no esporte, seja nos cadernos de cotidiano. Dividido em dez grandes reportagens publicadas na Revista Época, Eliane viaja (muitas vezes literalmente) por um Brasil que nós, das matérias factuais, não imaginamos existir. Da Amazônia às favelas do Rio de Janeiro, Eliane não mediu esforços, nem poesia, para descrever as vidas de minorias que estão às margens das pautas jornalísticas. E não que o buraco da rua onde mora Dona Maria não seja matéria importante. É sim! E é história.

Sobre isso, Eliane não deixa dúvidas no que escreve. Desenterra no livro a invisibilidade. Permite-se observar e, desta forma, nos coloca na posição de plateia e público que, atentamente, absorve a informação que se esconde por trás das vidas. Ela diz: “eu acredito que, nas ruas e no mundo, o grande desafio é olhar para ver. E olhar para ver é perceber a realidade invisível – ou deliberadamente colocada nas sombras. Olhar para ver é o ato cotidiano de resistência de cada repórter, de cada pessoa.”

Nas veias do jornalismo literário, Eliane Brum é sangue. De todas as cores, de todas as raças. Percorre por um país diverso e, ao mesmo tempo, por um país desabitado. Desbrava a Amazônia como se fosse um universo infantil a ser descoberto pelas pequeninas mãos frágeis de uma criança. Conta histórias da vida e para vida e não esquece dos seus erros. Ao final de cada reportagem, a escritora e jornalista retorna ao momento que escreveu a história e analisa, com cuidado, os erros que cometeu e não deixa de nos contar a sua experiência de viver outras vidas. Eliane Brum é a transparência da ética e do bom jornalismo.

Se existem o medo e a iminência do jornalismo perder as estribeiras e descer pelo ralo, Eliane mostra em palavras que a salvação está numa vertente ainda pouco utilizada. Literatura e Jornalismo são dois conceitos que, separados, não combinam. Sobrevivem com a solidão do século XXI, mas acredito que podem viver se juntos estiverem. Tom Wolfe, jornalista e escritor norte-americano, em seu livro Radical Chique e o novo jornalismo (2005), é categórico e explica o porquê do jornalismo literário ser um caminho que acarreta boas respostas. Parece que Eliane Brum o seguiu:

“A ideia era dar a descrição objetiva completa, mais alguma coisa que os leitores sempre tiveram de procurar em romances e contos: especificamente, a vida subjetiva ou emocional dos personagens. Por isso foi tão irônico quando os velhos guardiães tanto do jornalismo como da literatura começaram a atacar esse Novo Jornalismo como “impressionista”. As coisas mais importantes que se tentava em termos de técnica dependiam de uma profundidade de informação que nunca havia sido exigida do trabalho jornalístico”.

Nas histórias do menino sentenciado pelo crime na favela, dos Raimundos de uma terra sem meio, da enfermeira que cuidou de tantas vidas esperando a sua terminar, Eliane dá exemplo de humanidade. Não esconde a dificuldade que é viver várias vidas, enquanto a sua não é contada, mas vivida entre tantas outras. Não esconde a facilidade que é cometer equívocos. Mas deixa claro, e disso não abre mão, que é sobre o ser humano que o jornalismo trata. Ou que deveria tratar.

É fato que tantos outros autores permeiam a linha do literário. É fato também que alguns veículos já tentam caminhar ao lado da literatura. Daniela Arbex, autora do livro O Holocausto Brasileiro, também nos permite a beleza de uma história contada. Num cenário de guerra e mutilações, as histórias tornam-se vivas aos nossos olhos. O jornalismo literário nos traz o real e deixa a cargo do leitor a emoção permeada entre as linhas destacadas com as aspas.

Eliane também ensina. Para quem está sempre querendo aprender, os seus livros são verdadeiras fontes teóricas, por assim dizer. “O que as pessoas falam, como dizem o que têm a dizer, que palavras escolhem, que entonação dão ao que falam e em que momentos se calam revelam tanto ou mais delas quanto o conteúdo do que dizem. Escutar de verdade é mais do que ouvir. Escutar abarca a apreensão do ritmo, do tom, da espessura das palavras – e do silêncio”, ela escreve. E escreve como ninguém.

True Detective começa a revelar detalhes da segunda temporada: assista ao teaser

Uma das melhores surpresas do ano passado foi True Detective. A série, que estreou matando a pau com dois atores espetaculares como protagonistas, Woody Harrelson e Matthew McConaughey, recebeu prêmios, indicações, excelentes críticas e audiência, e mesmo assim, manteve o plano principal: mudar tudo na segunda temporada.

Essa história de “time que está ganhando não se mexe” não cola para os produtores de True Detective. A segunda temporada da série terá outra trama e outros atores. Ficam apenas o suspense e o caráter policial da história. Peças diferentes em um mesmo tabuleiro.

O criador, Nic Pizzolatto, realmente acredita em seu talento e em sua ideia. O elenco da vez é protagonizado por Vince Vaughn, Colin Farrell, Rachel McAdams e Taylor Kitsch.

A segunda temporada de True Detective estreia em 21 de junho e o primeiro teaser já saiu, assista lá acima. E abaixo, os protagonistas:

 

Existe um mundo paralelo no Instagram que é dominado pelos cães

Foto: facebook.com/harlowandsage

Bruna Valquíria foi a primeira mulher em forma de cachorra que conheci. Era de uma prima minha e, na época, achei deveras estranho darem um ‘nome de verdade’ para um animal de estimação. Eu tinha seis anos (eu acho) e até aquele momento eu já havia tido duas cachorrinhas com nomes mais tradicionais, a Lili e a Biba.

Mal sabia eu que duas décadas depois o nome seria o de menos na humanização dos cães. E que haveria um fenômeno na sociedade chamado rede social. E que os cães também participariam dessas redes sociais. E que haveria redes sociais só para eles. E que eles postariam selfies nessas redes. E que eles realizassem eventos exclusivos e se encontrassem pessoalmente – ou caninamente, sei lá. Ok, não sei se chega a tanto, mas é o que vai acontecer um dia. Não posso dizer quando, mas se isso não acontecer em até 90 anos, pode me cobrar.

Enfim, dias atrás eu matei umas 4 horas da minha vida viajando no Instagram. Foi quando a Cacá, a filha da minha namorada, começou a me seguir por lá. Visualizei seu perfil e seus seguidores e vi um monte de outros cães por ali. De todas as raças e tamanhos. Comecei a olhar eles. E a cada perfil novo de cachorro que eu visitava, abria a possibilidade de eu visitar mais uns vinte novos.

Foi nessa hora que eu percebi que existe uma sociedade de tamanho incalculável (na verdade, o Instagram, que não é bobo, deve ter alguns dados referentes, mas dizer que é incalculável soa muito mais maneiro) composta por cachorros na rede – e outros animais de estimação também, mas não vamos desvirtuar do tópico.

Eles não só posam para fotos, como escrevem o que fazem nas legendas e interagem entre si, curtindo e comentando as fotos de outros amigos virtuais. É a evolução do chat da metade dos anos 90, em que você podia usar o nick que quisesse e fingir ser quem quisesse. A diferença é que aqui você é seu cachorro, uma única personalidade. O que, de fato, é bem mais mentalmente são do que ser a GaTaMoLhAdA18_SP_WeBcAm e o ConquistadorDeNovinhas-MG ao mesmo tempo. De alguma forma, a humanidade está evoluindo.

Como é incalculável o número de perfis caninos, pedi para a Cacá me indicar seis perfis de amigos que estão lá, vivendo vidas perfeitas, perfumadas, selvagens e doces no Instagram:

1. Harlow, Sage, Indiana & Reese

2. Bella The Shiba Inu

3. Louie Louie

4. Samson The GoldenDoodle

5. Gaia Louise

 

Uma foto publicada por Gaia Louise (@lifeofgaia) em

6. Oscar Dog

O #InstaDog é incrivelmente popular, como a gente pode perceber. Não tem rede social mais apropriada para animais do que o Instagram, afinal tudo o que eles querem mostrar são suas caras fofas e seus vídeos aprontando ~altas travessuras~. Uma forma de comunicação que se encaixa perfeitamente ali.

E estes perfis aqui citados são apenas alguns exemplos da vasta população canina do Instagram. E, assim como os humanos, há celebridades, anônimos, atletas, fotogênicos, viajantes e mendigos de likes.

Eu poderia fazer uma lista com 12 cães jogadores de baseball, 8 cães que cozinham melhor do que a Palmirinha, 9 cães absurdamente fofos, 18 cães que já viajaram mais do que você, ou coisas do tipo, mas não, acredito que experiência de ficar viajando livremente na internet nesse quesito é única. O universo, repito, é imenso. Tenham esses perfis como pontos de partida e, lembre-se, tenha um carregador e uma tomada por perto, pois essa brincadeira pode viciar e levar horas.

Cientista da NASA afirma que a vida extraterrestre será comprovada em até 20 anos, porém não será exatamente como imaginamos

Um dos maiores mistérios que a humanidade tenta desvendar até hoje diz respeito aos seres extraterrestres. Muitos acreditam que eles existem, muitos não, e muitos têm certeza disso.

A veracidade da informação e da tese é bastante controversa. Há dois anos, um ex-secretário de defesa do governo canadense falou em uma audiência pública norte-americana que os alienígenas não só existiam como trabalhavam para o governo dos Estados Unidos. Até hoje ninguém conseguiu provar se a declaração foi uma insanidade ou uma revelação.

Independente disso, as discussões continuam. No início de abril de 2015, aconteceu um painel na sede da NASA sobre as descobertas de água e compostos orgânicos em outros planetas do sistema solar. A pauta alienígena não poderia ficar de fora quando o assunto englobava outros planetas.

Cientistas confirmaram no painel que é questão de tempo para que se comprove que há vida além da Terra, e que as discussões já não são mais sobre “se há”, e sim de “quando será descoberta”. Ellen Stofan, cientista-chefe da NASA, declarou:

Acho que teremos fortes indícios de vida extraterrestre dentro de uma década, e acho que teremos uma prova definitiva em um prazo de 20 a 30 anos.

Mas, calma. Ao mesmo tempo que confirma a presença alienígena, Ellen refuta a nossa visão que temos desses seres:

Não estamos falando de homenzinhos verdes, mas de pequenos micróbios.

Parece que dessa vez a vida não irá imitar a arte. Ou, talvez, seja um plano dos alienígenas que trabalham no governo norte-americano para que eles permaneçam anônimos e continuem estudando a nossa civilização e também continuem planejando uma dominação mundial onde todos seremos abduzidos um dia. Estou vendo filmes demais, será? haha.

O vídeo você pode ver abaixo, mas já aviso que é bem longo e não tem legendas em português. O assunto principal, na verdade é outro, como já dito no primeiro parágrafo, então se quiserem pular direto para a parte em que Ellen fala sobre vida extraterrestre eu sugeriria que pulassem para os minutos 27 e 55.

Tudo sobre a origem da indústria fonográfica em uma nova série fantástica: ‘American Epic’

Vamos rebobinar um pouco a história da indústria fonográfica e ir à sua origem. Hoje é fácil gravar uma música (qualquer um com um smartphone está apto a fazer isso), mas sempre foi assim? Já pensou em como a coisa toda surgiu?

É esse o caminho do documentário American Epic, produzido por Jack White, T Bone Burnett e Robert Redford, que será veiculado nos canais PBS e BBC Arena, em outubro desse ano.

A década de 20 foi uma época mística para a indústria fonográfica americana. O fonógrafo já havia sido inventado por Thomas Edison, nessa época, mas as gravações ainda não haviam se popularizado. Foi justamente nesse tempo (há quase 100 anos!) que a indústria fonográfica começou a tomar forma e a dar voz a artistas rurais e populares dos Estados Unidos. O doc traz todas essas questões a respeito da origem das gravações. Quem começou a gravar e distribuir as músicas? Quem eram as pessoas envolvidas nessa tecnologia? Quem começou a padronizar os materiais? Como as gravadoras e os selos enxergaram essa oportunidade de mercado, inovadora para a época?

O documentário é fruto de uma pesquisa de oito anos, realizada pelos cineastas britânicos Bernard MacMahon e Allison McGourty.

“Essas são as primerias gravações que a América ouviu. É como se fosse o DNA da América, em sua expressão mais crua”.
Bernard MacMahon

Serão quatro capítulos. Três traçando essa história de forma documental e um especial, que reúne apresentações de dezenas de músicos da atualidade gravando em uma máquina utilizada na época, duzentos por cento analógica.

A máquina, na verdade, é uma recriação das que foram utilizadas na época. Para se ter uma noção de como as coisas funcionavam, em 1920 não havia a possibilidade de gravar, editar e depois prensar o vinil, CD ou o material que for. O processo era inverso. Tudo o que era registrado já saía pronto no vinil. Cortes, edições e mixagens só eram possíveis de serem feitos após o vinil master estar pronto.

“Muitas pessoas não percebem que os instrumentos musicais são de fato mecânicos. Mas, agora, a eletricidade está começando a mostrar incríveis possibilidades musicais”.
Trecho do documentário

Complicado, né? Impossível pensar em músicos gravando assim hoje? Nem tanto, o próprio Jack White, um dos produtores do doc, o fez, no que ficou conhecido como o registro mais rápido da história da música. Falamos sobre isso aqui.

Participam dessa brincadeira: Jack White, Alabama Shakes, Elton John, Willie Nelson, Stephen Stills, Taj Mahal, Beck, The Avett Brothers e mais uma extensa lista de músicos.

Abaixo o primeiro teaser, recém saído do forno:

Em American Epic podemos analisar a importância de quando as gravações fonográficas foram inventadas, pela primeira vez na história, mulheres, minorias, trabalhadores pobres rurais e até mesmo crianças tiveram a oportunidade de dizer o que eles bem entendessem em uma canção, para o mundo inteiro ouvir, surpreendentemente sem muita censura.
Jack White

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