Vai trabalhar, vagabundo!

ponto de ônibus

Era uma terça-feira, um pouco mais de 10 horas da manhã e eu esperava meu ônibus passar. Surgiu, virando a esquina do outro lado da calçada, um bêbado. Trôpego, atravessou a rua.

– Lá vem o bêbado! Logo de manhã já deve ter tomado todas. – disse uma senhora com seus setenta anos, cabelos brancos presos em um coque malfeito e um vestido azul florido. Estava sentada à minha direita.

– Às vezes ele nem se recuperou da bebedeira de ontem. – comentou um senhor que estava em pé ao seu lado – mesmo havendo lugar para sentar-se no banco. A camisa tinha um botão indevidamente aberto e seus pés calçavam chinelos surrados.

– Você sabe que ele mora na rua, né? Tinha casa, tinha família e, por causa da bebida, tá morando na rua.

– Ah é. Eu conheço a história dele.

– Fica bebendo. Vagabundo! – proclamou com todo poder que sua voz poderia ter. – Em vez de procurar um emprego, fica zanzando pela rua.

– Tudo assim, né? Esses moradores de rua. Nunca querem saber de trabalhar.

– Sabe que eu tenho um filho que tá morando na rua?

Minhas orelhas se esticaram um pouco para a direita, onde a senhora estava sentada.

– Mas o que eu vou fazer? Ele prefere assim. Na rua, não tem que dar satisfação pra ninguém.

– Mas lógico que ele prefere! A senhora não sabe que ali no albergue da Prefeitura eles dão as três refeições e ainda tem lugar pra dormir? É um absurdo!

Eu não acreditei no que estava ouvindo. Talvez se tivesse argumentos prontos e na ponta da língua, teria me intrometido na conversa para explicar que vários motivos podem levar uma pessoa a morar na rua. Migração, drogas, desemprego, falta de escolaridade e por aí vai.

Mas o ônibus chegou.

– Um bom dia pra senhora!

– Pro senhor também!

A senhora saiu andando com suas sacolas do supermercado rumo ao segundo ônibus, enquanto seu companheiro de conversa subia no primeiro circular.

Foram embora e eu fiquei ali, sentada com meus botões pensando por que o bêbado morava nas ruas de minha cidade.

Como identificar um psicopata

Como identificar um psicopata

A palavra psicopata para alguns assusta. Na maioria das vezes é empregada para identificar maníacos, homicidas e serial killers.

Talvez você não saiba, mas as chances de você conhecer um psicopata são altas. E as hipóteses de apenas cruzar com um na rua então é quase certeira.

A ciência estima que a proporção de psicopatas no mundo é três a quatro a cada cem pessoas. Mas não se assuste, a maior parte deles não são assassinos.

mentes perigosasO livro Mentes Perigosas: O psicopata mora ao lado, escrito pela médica psiquiatra Ana Beatriz Silva, estimula duas ações imediatas durante a leitura.

A primeira é pensar em todas as pessoas que estão próximas da gente e analisar se elas se encaixariam no perfil de um psicopata. A segunda é analisar a si mesmo.

Remorso, culpa, empatia, solidariedade, honestidade, compaixão. Se você já sentiu algum desses sentimentos, você está livre. Se não, é bom reconhecer sua condição.

A autora explica com uma linguagem simples como é o comportamento de um psicopata e ainda exemplifica contando casos de psicopatia, alguns mais leves e outros gravíssimos. O assassinato de Daniella Perez e o caso Suzane von Richthofen estão lá.

O escorpião aproximou-se do sapo que estava à beira do rio. Como não sabia nadar, pediu uma carona para chegar à outra margem. Desconfiado, o sapo respondeu: “Ora, escorpião, só se eu fosse tolo demais! Você é traiçoeiro, vai me picar, soltar o seu veneno e eu vou morrer.” Mesmo assim o escorpião insistiu, com o argumento lógico de que se picasse o sapo ambos morreriam. Com promessas de que poderia ficar tranquilo, o sapo cedeu, acomodou o escorpião em suas costas e começou a nadar. Ao fim da travessia, o escorpião cravou o seu ferrão mortal no sapo e saltou ileso em terra firme. Atingido pelo veneno e já começando a afundar, o sapo desesperado quis saber o porquê de tamanha crueldade. E o escorpião respondeu friamente: – Porque essa é a minha natureza! (É com essa fábula que a autora inicia os trabalhos)

Mentes Perigosas é um livro fácil de sublinhar. Tem frases impactantes e de fácil absorção. O meu foi todo riscado e os 24 trechos que serão reproduzidos abaixo deve ser, sei lá, um oitavo do que sublinhei. Olha só:

1.

O que a sociedade desconhece é que os psicopatas, em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns. Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloquentes, “inteligentes”, envolventes e sedutores, não costumam levantar a menor suspeita de quem realmente são. Podemos encontrá-los disfarçados de religiosos, bons políticos, bons amantes, bons amigos. Visam apenas o benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade.

2.

Seus atos criminosos não provêm de mentes adoecidas, mas sim de um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos. Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com formas diferentes de manifestarem os seus atos transgressores, os psicopatas são verdadeiros “predadores sociais”, em cujas veias e artérias corre um sangue gélido.

3.

Temos que ter em mente que as pessoas que não são merecedoras de nossa confiança não usam roupas especiais, não possuem um sinal na testa que as identifiquem, tampouco apresentam algum perfil físico específico. Elas são muito parecidas conosco e podem nos enganar por uma longa existência.

4.

Imagine uma grande cidade como Rio de Janeiro ou São Paulo, por exemplo, onde milhares de pessoas se esbarram o tempo todo. A cada cem pessoas que transitam para lá e para cá, três ou quatro delas estão praticando atos condenáveis, em graus variáveis de gravidade, ou estão indo em direção à próxima vítima. Imagine também o estádio do Maracanã lotado numa decisão de um campeonato de futebol, onde 80 mil pessoas podem ser acomodadas: ali podem estar concentrados cerca de 3 mil psicopatas.

5.

Muito mais que apelar para o nosso sentimento de medo, os psicopatas, de forma extremamente perversa, apelam para a nossa capacidade de sermos solidários. Eles se utilizam de nossos sentimentos mais nobres para nos dominar e controlar. Os psicopatas se alimentam e se tornam poderosos quando conseguem nos despertar piedade. Esse tipo de alimento para essas criaturas tem efeito extraordinário de poder tal qual o espinafre para o personagem de Popeye dos desenhos infantis.

Como identificar um psicopata

6.

Quando sentimos pena, estamos vulneráveis emocionalmente, e é essa a maior arma que os psicopatas podem usar contra nós!

7.

Os psicopatas possuem uma visão narcisista e supervalorizada de seus valores e importância. Eles se vêem como o centro do universo e tudo deve girar em torno deles. Pensam e se descrevem como pessoas superiores aos outros, e essa superioridade é tão grande que lhes dá o direito de viverem de acordo com suas próprias regras. Para os psicopatas, matar, roubar, estuprar, fraudar etc. não é nada grave. Embora eles saibam que estão violando os direitos básicos dos outros, por escolha, reconhecem somente as suas próprias regras e leis. Além disso, são extremamente hábeis em culpar as outras pessoas por seus atos, eximindo-se de qualquer responsabilidade. Para eles, a culpa sempre é dos outros.

8.

Empatia é a capacidade de considerar e respeitar os sentimentos alheios. É a habilidade de se colocar no lugar do outro, ou seja, vivenciar o que a outra pessoa sentiria caso estivéssemos na situação e circunstância experimentadas por ela. Somente pela definição do que é empatia, já fica claro que esse não é um sentimento capaz de ser experimentado por um psicopata.

9.

Mentir, trapacear e manipular são talentos inatos dos psicopatas. Com uma imaginação fértil e focada sempre em si próprios, os psicopatas também apresentam uma surpreendente indiferença à possibilidade de serem descobertos em suas farsas. Se forem flagrados mentindo, raramente ficam envergonhados, constrangidos ou perplexos; apenas mudam de assunto ou tentam refazer a história inventada para que ela pareça mais verossímil.

10.

É importante frisar que eles sempre sabem qual a consequência das suas atitudes transgressoras, no entanto, não dão a mínima importância para isso.

Como identificar um psicopata

11.

Os psicopatas são intolerantes ao tédio ou a situações rotineiras. Eles buscam situações que possam mantê-los em um estado permanente de alta excitação.

12.

Segundo Robert Hare, o número de psicopatas burocratas ou de “colarinho branco” é significativo em cargos de lideranças e chefias.

13.

Os psicopatas não vão ao trabalho, vão à caça. Como observamos na primeira parte do capítulo, no mundo corporativo a ação dos psicopatas pode ser comparada a de animais ferozes na busca implacável do poder e do domínio sobre o maior número de pessoas possível, assim como os grandes predadores fazem na demarcação dos seus territórios.

14.

A política propicia o exercício do poder de forma quase ilimitada. Poucos cargos permitem um exercício tão propício para atuação dos psicopatas.

15.

Nesse contexto, podemos encontrar policiais que dirigem redes de prostituição, juízes que cometem os mesmos delitos que os réus – mas no julgamento os condenam com argumentações jurídicas impecáveis, banqueiros que disseminam falsos boatos econômicos na economia. Também estão alguns líderes de seitas religiosas, que abusam sexualmente de seus discípulos, ou ainda políticos e homens de Estado que só utilizam o poder em proveito próprio.

American Psycho Christian Bale (3)

16.

Se existe uma “personalidade criminosa”, esta se realiza por completo no psicopata. Ninguém está tão habilitado a desobedecer às leis, enganar ou ser violento como ele.

17.

A principal região envolvida nos processos racionais é o lobo pré-frontal (região da testa): uma parte dele (córtex dorsolateral pré-frontal) está associada a ações cotidianas do tipo utilitárias, como decorar um número de um telefone ou objetos. A outra parte (córtex medial pré-frontal) recebe maior influência do sistema límbico, definindo de forma significativa as ações tomadas nos campos pessoais e sociais. A interconexão entre a emoção (sistema límbico) e a razão (lobos pré-frontais) é que determina as decisões e os comportamentos socialmente adequados.

18.

Se considerarmos que a amígdala é o nosso “coração cerebral”, entenderemos que os psicopatas são seres sem “coração mental”. Seus cérebros são gelados e, assim, incapazes de sentir emoções positivas como o amor, a amizade, a alegria, a generosidade, a solidariedade… Essas criaturas possuem grave “miopia emocional” e, ao não sentirem emoções positivas, suas amígdalas deixam de transmitir, de forma correta, as informações para que o lobo frontal possa desencadear ações ou comportamentos adequados. Chegam menos informações do sistema afetivo/límbico para o centro executivo do cérebro (lobo frontal), o qual, sem dados emocionais, prepara um comportamento lógico, racional, mas desprovido de afeto.

19.

Se partirmos da premissa de que a alteração primária dos psicopatas é uma amígdala hipofuncionante, poderemos considerar as seguintes situações:

• Psicopatas pensam muito e sentem pouco. Suas ações são racionais e a razão tende sempre a escolher, de forma objetiva, o que leva à sobrevivência e ao prazer. De forma primitiva a razão usa a “lei da vantagem” sempre. Essa forma de pensar privilegia o indivíduo e nunca o outro ou o social.
• Como espécie, os homens evoluíram muito mais por sua capacidade de cooperação social do que por seus atributos individuais. Assim, podemos perceber que os psicopatas são seres cujas tomadas de decisão privilegiam sempre os interesses individuais e/ou oligárquicos mesquinhos e nunca o social e/ou o coletivo de conteúdo solidário.
• Sem conteúdo emocional em seus pensamentos e em suas ações, os psicopatas são incapazes de considerar os sentimentos do outro em suas relações e de se arrependerem por seus atos imorais ou antiéticos. Dessa forma, eles são incapazes de aprender através da experiência e por isso são intratáveis sob o ponto de vista da ressocialização.

20.

Crianças ou adolescentes que são francos candidatos à psicopatia possuem um padrão repetitivo e persistente que pode ser sintetizado pelas características comportamentais descritas a seguir:

• Mentiras frequentes (às vezes o tempo todo);
• Crueldade com animais, coleguinhas, irmãos etc;
• Condutas desafiadoras às figuras de autoridade (pais, professores etc);
• Impulsividade e irresponsabilidade;
• Baixíssima tolerância à frustração, com acessos de irritabilidade ou fúria quando são contrariados;
• Tendência a culpar os outros por erros cometidos por si mesmos;
• Preocupação excessiva com seus próprios interesses;
• Insensibilidade ou frieza emocional;
• Ausência de culpa ou remorso;
• Falta de empatia ou preocupação pelos sentimentos alheios;
• Falta de constrangimento ou vergonha quando pegos mentindo ou em flagrante;
• Dificuldades em manter amizades;
• Permanência fora de casa até tarde da noite, mesmo com a proibição dos pais. Muitas vezes podem fugir e levar dias sem aparecer em casa;
• Faltas constantes sem justificativas na escola ou no trabalho (quando mais velhos);
• Violação às regras sociais que se constituem em atos de vandalismo como destruição de propriedades alheias ou danos ao património público;
• Participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos ou assaltos;
• Sexualidade exacerbada, muitas vezes levando outras crianças ao sexo forçado;
• Introdução precoce no mundo das drogas ou do álcool;
• Nos casos mais graves, podem cometer homicídio.

Vale ressaltar que essas características são apenas genéricas e que o diagnóstico exato só pode ser firmado por especialistas no assunto. Além do mais, o leitor deve atentar para a frequência e a intensidade com as quais essas características se manifestam.

21.

A psicopatia não tem cura, é um transtorno da personalidade e não uma fase de alterações comportamentais momentâneas. Porém, temos que ter sempre em mente que tal transtorno apresenta formas e graus diversos de se manifestar e que somente os casos mais graves apresentam barreiras de convivência intransponíveis.

American Psycho Christian Bale (1)

22.

Da mesma forma que um indivíduo se empolga com a adulação de um manipulador, uma nação inteira pode se “hipnotizar” por lideranças políticas que se utilizam desses mesmos recursos. A história da humanidade está recheada de estadistas tiranos que, ao engrandecerem seu povo, fazem dele uma “presa coletiva” com um único objetivo: o desejo de poder.

23.

Os psicopatas não amam seus cônjuges, isso não existe! Eles os possuem como uma mercadoria ou um troféu com os quais reforçam seus desejos de manipulação, controle e poder.

24.

Paul Babiak, psicólogo americano, especializado em recursos humanos, realizou um importante estudo, através do qual demonstrou as táticas utilizadas por psicopatas no meio corporativo. Ele os denominou “cobras de temo” por suas ações cínicas, inescrupulosas e antiéticas na disputa por altos cargos, salários e poder. Segundo Babiak, os psicopatas em ambientes empresariais costumam adotar um plano tático que pode ser resumido em cinco fases:

Fase 1 – Ingresso na empresa: Esta fase corresponde basicamente à entrevista de emprego. Nessa ocasião o candidato psicopata mostra-se cativante, seguro e charmoso. Utiliza-se de todo seu arsenal sedutor com o objetivo claro de impressionar o entrevistador da forma mais positiva possível.
Fase 2 – Estudo do território (avaliação): Nessa etapa o psicopata já se encontra empregado. Procura então descobrir, da forma mais rápida possível, quem são as pessoas que possuem voz ativa na empresa. Logo em seguida trata de construir relações pessoais, de preferência íntimas, com esses funcionários influentes.
Fase 3 – Manipulação de pessoas e fatos: De forma maquiavélica (intencional), espalha falsas informações para que seja visto de forma positiva e os outros de maneira negativa perante as chefias. Semeia desconfiança entre os funcionários, jogando-os uns contra os outros. Disfarça-se de “amigo”, contando aos colegas sobre outros que o difamaram. Estabelece contato individual com as pessoas, mas evita reuniões ou situações nas quais precise se posicionar perante todo o grupo. Mantém-se “camuflado” para levar adiante a estratégia de ascensão ao poder.
Fase 4 – Confrontação: Nessa fase os psicopatas “de terno e gravata” abandonam as pessoas que havia cortejado anteriormente e que não são mais úteis à sua ascensão profissional. Num requinte de maldade, eles utilizam a humilhação como arma para manterem suas vítimas em silêncio. Dessa forma, as pessoas que mais foram exploradas são aquelas que menos se dispõem a falar sobre suas experiências.
Fase 5 – Ascensão: Tal qual um jogo de xadrez, essa é a hora do xeque-mate, é a hora do golpe fatal. Após colocar líderes e chefias uns contra os outros, o psicopata “de terno e gravata” toma o lugar do seu superior, que geralmente é demitido ou rebaixado de cargo e função. É importante lembrarmos que a ausência de consciência e de medo torna essas pessoas potencialmente ardilosas e perigosas. Para elas, infringir as normas e externar seus desejos agressivos e predatórios sem qualquer escrúpulo ou culpa são atitudes “naturais” e, por isso mesmo, isentas de qualquer autocrítica.

Bônus: Um dos casos de psicopatia relatados no livro:

Moreno alto, bonito e sensual

Andréa estava separada havia um ano quando conheceu Rafael numa festa. Tratava-se de um advogado comum, com roupas despojadas, jeito sedutor e com um sorriso que contagiava todo o ambiente. Seus cabelos escuros, lisos e bem tratados emolduravam o belo rosto com olhos castanhos e encantadores. Ele se aproximou de Andréa e iniciaram um papo animado como se já se conhecessem há muito tempo. Ela narrava sua última viagem aos Estados Unidos, onde se “refugiou” para esquecer os últimos acontecimentos. Rafael, por sua vez, contava com riqueza de detalhes sobre a Europa e por que o Velho Mundo o fascinava tanto. Rafael delicadamente lhe servia drinques, canapés e, vez por outra, contava piadas absolutamente engraçadas que a faziam rir como nunca. Ele era habilidoso e performático em narrar histórias divertidas e ela se via cada vez mais encantada com aquele homem tão especial, que estava a um palmo de distância. Outros encontros vieram, e sempre tão agradáveis quanto o primeiro. Andréa pensou: “Meu Deus, isso é tudo de bom! Encontrei o homem que toda mulher sonha em ter ao seu lado!” Ela estava se apaixonando novamente e deixando para trás a amargura do casamento fracassado. Com alguns meses de namoro, Andréa ainda não conhecia a casa e a família de Rafael. Sabia que ele morava com a mãe viúva, que ele alegava ser uma pessoa muito difícil, possessiva e indelicada com suas namoradas. Por isso, não queria novamente que sua felicidade fosse “ladeira abaixo” com o ciúme doentio de sua mãe. Andréa compreendeu. O tempo passou e algumas atitudes de Rafael começaram a intrigá-la: ao mesmo tempo em que era amável e sociável, ele se mostrava intolerante, impulsivo e, às vezes, preconceituoso. Um dia, ao fazerem compras juntos, agarrou um garoto pelo colarinho, simplesmente porque o menino esbarrou no seu carrinho de compras. “Por que você foi tão agressivo com ele?”, ela perguntou. “Porque não fui com a cara dele”, foi a resposta. Ao saírem do supermercado, um funcionário se ofereceu para colocar as compras no carro. Rafael o empurrou com tanta força que por pouco o rapaz não tombou indefeso no meio da calçada. Partindo com o carro, constrangida, Andréa ainda ouviu o rapaz gritar: “Você está louco? Eu só quis ajudar!” Não tocaram mais no assunto. Apesar do que aconteceu, Rafael estava calmo e dirigia com cuidado como se nada tivesse acontecido. Ligou o rádio, comprou flores pelo caminho e contou mais algumas piadas. Dessa vez ela não achou a menor graça. Andréa comentou com seus amigos sobre esses e outros episódios contraditórios, mas ninguém deu muita importância: “Ele parece ser um cara legal, deve ser apenas uma fase de estresse”, “Não fique tão preocupada, todos nós temos defeitos e vocês formam um belo casal”. Dois meses depois, Rafael quis trocar de carro e convenceu Andréa a emprestar suas economias. Estava prestes a receber seus honorários e em poucos dias devolveria o dinheiro. Ela não questionou, apenas confiou e raspou sua poupança. Ele nunca mais deu sinal de vida. Em pouco tempo, toda a verdade foi descoberta: Rafael é um impostor, um tremendo picareta! Não é advogado, nunca trabalhou e jamais colocou os pés na Europa. Apesar de sua inteligência, na fase escolar só estudava para passar aos trancos e barrancos. Seus pais adoravam cachorros, mas abriram mão desse prazer porque Rafael os maltratava e ria enquanto sua irmã mais nova chorava em defesa dos cães. Havia poucos anos seu pai morrera de um enfarte fulminante e lhes deixou uma gorda pensão. Rafael já era um homem feito e ainda apelava para o bom coração de sua mãe, que lhe assegurava uma boa mesada. Andréa não foi a primeira e certamente não será a última pessoa do mundo a ser enganada por ele. Provavelmente Rafael jamais matará alguém (isso só o tempo dirá), mas continuará vivendo de golpes “baratos”, aproveitando-se de mulheres fragilizadas e se divertindo com seus feitos. Com sua habilidade de ludibriar, seduzir e até assustar, sente-se superior a todos e os vê como tolos. Alvos fáceis. Rafael não se importa com ninguém. Rafael é um psicopata.

The Art Of McCartney

Estava ouvindo Appreciate do Paul McCartney hoje cedo. Nas últimas semanas tenho consumido muito sons feitos pelo ex-Beatle, e o motivo é que em 2014 ele passará pelo Brasil mais uma vez, e este que vos escreve não poderia perder mais uma oportunidade de ver um dos maiores baixistas da história em ação.

Com essa overdose de Paul ainda em andamento, resolvi dar uma repassada na carreira solo do britânico, porém resolvi fazê-lo de trás para frente, começando em 2013 com “New“, a versão modernete do Steve Jobs da música futurista. E foi ai que “Appreciate” ficou no repeat. Foram horas ouvindo Paul, imaginando como será seu show e lembrando de diversos momentos onde sua música fez a trilha de várias etapas de minha vida.

E agora que “The Art Of McCartney – The Songs Of Paul McCartney Sung By The World’s Greatest Artists” se tornou público (antes mesmo de seu lançamento no dia 18 deste mês) é que não vejo nenhuma previsão de fim para esta recaída para com uma das drogas mais perigosas que existem, a música de qualidade. Música esta que aqui consegue cumprir a tarefa de enobrecer a obra de um (já) gigante maestro, e ainda o faz com requintes de participações especiais, resultando em uma bela homenagem feita por quem entende do assunto.

No total temos 34 faixas, e se você estiver um pouco mais ousado economicamente ainda pode arrematar quarenta e dois takes, caso queira a versão deluxe. Porém, o que até mesmo os mais humildes terão acesso é, para dizer o mínimo, um dos grandes tributos que a música prestou em tempos recentes. E o melhor de tudo, os músicos envolvidos fizeram o projeto sair do papel enquanto Paul vive, e trabalhos como este apenas ressaltam a importância de preservar um legado, e de se fazer isso enquanto o homenageado ainda está entre nós.

São mais de duas horas de som, e uma coisa que vale a pena destacar é que esse disco não se trata apenas de Paul McCartney, trata-se também de um grande sítio arqueológico para você fã de música de uma maneira geral. Impressiona pelos covers que, além de mostrarem artistas bem ecléticos, destacam vozes que pareciam estar esquecidas e deixam fãs estupefatos com performances que nunca foram imaginadas antes, e “Bluebird“, com Corinne Bailey Rae, talvez tenha sido uma delas.

Dr John com “Let ’Em In“, Allen Toussaint com “Lady Madonna”, Alice Cooper ao som de “Eleanor Rigby” e B.B. King com “On the Way” e o soul de Smokey Robinson com “Soul Bad” são meus principais destaques, isso fora “Come and Get It” que convoca os mestres do dub, Sly and Robbie.

the art of mccartney - alice cooper

No fim das contas creio que essa resenha é mais uma daquelas que pode correr o risco “de chover no molhado”, até porque no final a conclusão deverá ser a mesma para todos os resenhistas: Paul “MacCa” é um gênio e é visto desta forma tanto por seus fãs como por seus semelhantes, seus amigos músicos. Ver esta constelação reunida foi melhor do que olhar para um céu estrelado.

Foi ótimo ter mais uma “desculpa” para se perder nos Beatles, Wings e no Paul solamente, grande trabalho, óh faraônico Paul, fazendo jus à pontualidade de sua terra natal para as celebrações dos 50 anos da Beatlemania!

Wander Wildner em: Um show intimista

No último sábado (15), tive a incrível experiência de conhecer um dos maiores ídolos do rock gaúcho, Wander Wildner. Quando vi o evento do show em sua página no Facebook quase tive um infarto com tamanha alegria, eu praticamente já não tinha esperanças de assistir um show dele ainda este ano, visto que quarta (19) Wander Wildner y Sus Comancheros encerram a TOUR MOCOCHINCHI FOLKSOM no Ocidente Bar (Porto Alegre).

O show rolou na Associação Cultural Cecilia (São Paulo), quem conhece a casa sabe que o lugar é o máximo, bem aconchegante e como estava frio ficou ainda mais. Cheguei cedo, isso quer dizer que pude assistir a passagem de som e observar um pouco mais o local.

A princípio não sabia muito bem o que esperar, imaginei ser um show com bateria, teclado, baixo, enfim uma banda completa! Mas para minha surpresa o show seria apenas com violão e participação especial de Gustavo Kaly na guitarra.

wander wildner Associação Cultural Cecilia (2)
Foto: Cainan Willy

Depois de passar o som, Wander se juntou à galera, foi beber sua cerveja, conversar com seus muitos amigos que não paravam de chegar. O local foi marcado pela interação das pessoas, um pequenino de, no máximo, 8 anos viu o Wander lá sentadinho e falou em alto e bom tom “Oi Wander, eu tô ansioso pelo show viu?” o riso foi geral.

No set list do show alguns clássicos como “Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro”, “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita eu te Amo” e, claro, sua versão para “Um Lugar do Caralho” do também gaúcho Júpiter Maçã.  A resposta do público presente foi ótima, cantaram refrões de músicas ainda inéditas e acompanharam Wander nos seus principais hits.

Sobre os planos futuros Wander mencionou estar no processo de criação de um disco novo, tirando pelas músicas ainda desconhecidas apresentadas podemos esperar um disco com baladas românticas com algumas críticas políticas.

De segunda à sexta

Parecia um fim de tarde normal. Cinco horas. O sol descia e fazia do Parque Solón de Lucena (JP) um cartão postal frequentado por trabalhadores e estudantes em fim de expediente. Outros começavam ali as suas rotinas diárias. Ônibus lotados. “O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas, pretas, amarelas”, diria Drummond, magnificamente. Pernas que não param. Carros que não cessam os motores. O trânsito grita. A lentidão vai tomando conta das avenidas e neste momento a impressão é que todos os sinais resolveram avermelhar de vez.

Os semblantes estão cansados. Os olhos cerrados quase se fecham nas cadeiras do coletivo. Até os que estão de pé encostam seu rosto no apoio das mãos. Só querem se apoiar em algo. Deixar que o corpo amoleça um pouco. E relaxe. Marias e Josés com suas passagens em mãos lotam os pontos de ônibus. Exaustão. Coragem. A contradição marca o que podemos chamar de obrigação. Seja ela boa ou ruim, a maioria está ali para viver. Mesmo morrendo um pouco. De cansaço. De sono. Até a fome já começa a chamar.

Todos saturados, cabeças cheias e corpos se esvaziando em desejo de dormir. Atentar para as pessoas nesse momento é a única atividade que ainda é possível exercer. Senhoras procuram o pequeno banco do ponto de ônibus. Grande espaço já está ocupado por jovens conectados nos seus smartphones, pouco dispostos a prestarem atenção em quem circula ao seu lado. O pipoqueiro aumenta o seu lucro ao mesmo tempo em que também começa a se preparar para partir. Vai puxando o seu carrinho e Deus sabe onde ele vai parar. Os motoristas estão ainda mais velozes. Estão apressados pelo fim do expediente. Justo! Mas ainda tem mais uma viagem na lista. Correm dos pontos. Sorte de quem consegue fazer sinal de fumaça para pararem no lugar correto. Cobradores cochilam. Passageiros os acordam. E assim todos se acomodam da forma que conseguem.

A desconfiança é a base de um cidadão cotidianamente marcado pelos donos da insegurança. É difícil permanecer estático. O cansaço grita, mas o medo esperneia. É inquietante não confiar na própria sombra. Meninos nos rodeiam pedindo dinheiro para um lanche, para viver. Nos abordam no susto e no ímpeto de receberem um sim.

“Só tenho o dinheiro da passagem, me desculpa”, digo e observo-o ao mesmo tempo. Tento entrar no seu mundo interior. Permaneço calada. Mas meus pensamentos borbulham. O que os olhos veem, o corpo, a alma e o coração desconfiam. E sangram simultaneamente. É duro o mundo da inevitabilidade. Do costume que não foi você que pediu pra ter, mas o mundo te impôs da pior maneira: pela experiência ruim.

Chega, enfim, o momento em que todo o meu interior se rotula de desumano, descrente, preconceituoso. Então começo a aprofundar nos meus próprios pensamentos. Enquanto isso, enquanto meu eu lírico se decepciona com seu íntimo, o garoto que antes passou com uma receita de remédio pedindo dinheiro para comprá-lo, agora é afrontado por um rapaz ainda mais desconfiado da vida humana do que eu. A discussão começa, todos viram suas cabeças num esforço que antes foi feito apenas para checar o número do ônibus.  O cara desconfiado fala em voz alta:

“Vá trabalhar! Eu já estou te observando há alguns dias… Saia daqui!”

O garoto tira um canivete do bolso, se aproxima de quem o afronta, balbucia algumas palavras e sai. Enquanto atravessa a rua, ele grita:

“Da próxima vez, gaste todo o seu salário em balas (de fogo).”

Ninguém diz mais nada. Os ônibus vão chegando e aquela cena parece ser corriqueira pra quem por ali passa todos os dias. Mais um pedindo dinheiro, mais um afrontando. Assim a gente vive nosso fim de expediente: passando por altos e baixos cada vez mais fáceis de encontrar. As luzes da cidade se acedem. É hora de dormir. Um novo dia irá começar. Um mesmo sol no céu, um mesmo pé no chão. Levantas-te! É hora de viver novamente.

Lollapalooza 2015: Jack White e Robert Plant confirmados no festival. Confira o line-up completo.

Será nos dias 28 e 29 de março de 2015, no autódromo de Interlagos, em São Paulo, a quarta edição brasileira do Festival Lollapalooza. O evento, fundado por Perry Farrell (Janis Addiction) em 1991, é sediado também no Brasil desde 2012.

O line-up do Lollapalooza Brasil 2015 está carregado de nomes de peso, tanto da música internacional quanto atrações nacionais. Os nomes foram confirmados nesse domingo (16).

Entre os headliners do festival estão Jack White, Robert Plant, Skrillex, Kasabian, Alt-J, Pharrell Williams, The Smashing Pumpkins, St. Vincent e Foster The People.

A escalação brasileira do Lolla também não deixa a desejar. O Terno, Mombojó, Far From Alaska, Banda do Mar, Bula e Pitty estão confirmadíssimos.

Os ingressos do primeiro lote podem ser adquiridos no site da Tickets For Fun e custam R$ 340 cada dia (disponível meia-entrada por R$ 170). Há outras opções como o LollaPass para os dois dias pelo valor de R$ 660 (disponível meia-entrada por R$ 330), além do LollaLounge, um ingresso vip com acesso a camarote com open bar, guarda-volumes, área de descanso e outras regalias. O valor do Lounge mais LollaPass é de R$ 1380 (inteira) ou R$ 1090 (meia). Também é possível comprar para dias separados, basta acessar o site da Tickets For Fun e escolher.

Confira a lista das atrações confirmadas:

Jack White
Pharrell Williams
Calvin Harris
Skrillex
Robert Plant and the Sensational Space Shifters
The Smashing Pumpkins
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Aprenda a fotografar melhor com seu smartphone

Tirar boas fotos não é algo tão fácil assim, embora possa não parecer. Muitos dos grandes trabalhos vistos por aí exigem técnicas e conceitos importantes que tornam a composição atraente. Estão enganados os que pensam que comprando o equipamento top de linha do momento fará das suas fotos as mais belas do mundo. Mas não se preocupe, algumas dicas básicas serão mostradas aqui e te darão uma boa base para tirar fotos melhores, principalmente com seu smartphone.

Linha do Horizonte

A regra dos terços divide a fotografia em três seções igualmente espaçadas, horizontal e verticalmente. Todas as câmeras e a maioria dos smartphones têm uma grade que você pode ver na tela e que ajuda a aplicar a regra dos terços, melhorando o alinhamento e composição da imagem. No geral, tente alinhar o horizonte com a linha horizontal da grade. O quadrado central da grade te ajudará a compor os objetos importantes da cena. Use os quatros pontos que formam esse quadrado, não o centro dele. A foto ficará mais equilibrada e mostrará outras partes importantes da cena.

Aprenda a fotografar melhor com seu smartphone (1)

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Mantenha sua composição limpa

Muita coisa acontecendo em uma foto pode ser uma distração ou poluir a imagem. Tente manter sua atenção em um foco principal, objeto ou coisa.

Use bem a Luz

Talvez uma das mais importantes dicas. Use bem a luz! Luz baixa é sinônimo de foto ruim. Tente tirar fotos sob luz intensa; sem luz adequada, as fotos ficam muito escuras e granuladas. Sob a luz do sol, encontre uma posição em que o sol ilumine o tema, já em ambientes fechados, acenda luzes para iluminar o tema.

Como regra geral, mantenha o sol atrás de você, fotógrafo. O objeto a ser fotografado deve estar bem iluminado. Mas atenção! Saiba quebrar essa regra. Em horários especiais, como o pôr ou nascer do sol, a baixa potência da luz e o tom alaranjado ajudam muito na estética da imagem. Tire fotos em direção ao sol nesses casos.

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Mostre algo legal de se ver

Conte uma história através da sua foto. Selfie tá na moda e é legal, mas varie um pouco. Tire fotos de lugares que você viaja, das saídas com amigos, de pessoas interessantes, detalhes arquitetônicos, comidas diferentes (por favor, diferentes, não o arroz e feijão de todo dia), suas inspirações ou objetos que te identificam. Enfim, tire fotos diferentes. Seja criativo.

Por favor, zoom não

Não use o zoom digital do celular. O zoom da maioria dos smartphones granula a imagem, deixando a foto amadora.  Então, não tenha receio de se aproximar o máximo que puder do objeto.

Fotografe no nível dos olhos

O contato direto com os olhos pode ser tão encantador em uma foto como na vida real. Quando você for tirar uma foto de uma pessoa, segure a câmera no nível dos olhos dela. Para fotografar crianças e animais de estimação, deixe a câmera no nível dos olhos deles. O tema não precisa olhar para a câmera, o ângulo no nível dos olhos criará um toque especial.

Fotografia de retratos

Posicione o rosto da pessoa em uma das linhas/guias verticais ou em uma das colunas laterais. Para compor, posicione outro elemento, menos importante e desfocado, do outro lado da imagem. Essas características geram uma sensação de conjunto, mantendo  o foco na pessoa (objeto do retrato) e agregando significados ao indivíduo.

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Tire várias fotos

Tire várias fotos e varie ângulos e posição do mesmo tema. Às vezes, fotografar em um ângulo ligeiramente diferente irá produzir resultados variados de exposição.

Use aplicativos de edição

Não precisa baixar todos os apps de fotografia da loja. Eu costumo usar o Snapseed e o VSCO Cam, que são excelentes. Eles te dão uma liberdade enorme de contraste, iluminação, HDR e filtros. Além disso, são gratuitos e estão disponíveis para Android e IOS.

Uma boa dica é não exagerar nos filtros. Não use os filtros do Instagram depois de editar a foto no Snapseed e VSCO. As novas versões do Instagram trazem um editor de fotos bem mais produtivo, mas usar vários filtros vai tirar a naturalidade da composição. Geralmente, costumo melhorar iluminação, contraste e nitidez no Snapseed. Depois, edito a foto no VSCO aplicando filtros e melhorando a cor da imagem. E só no final, dependendo da foto, uso o recurso Lux – que é aquele solzinho do Instagram, costumo usar até 30% do recurso.

Tenha referências

Ter boas referências ajuda bastante na hora de fotografar. Além de te inspirar, as referências te darão uma noção melhor do que são boas fotos. Aconselho a acompanhar as hashtags do Instagram – #vsco #vscobrasil #vscobrazil #visualbrasil. Além disso, seguir perfis como do @cesinha, @marquesanders, @paulodelvalle, @sardinha17, @benlowy, @marcellohenrique.

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Então, é isso. Quem acompanha meu site sabe que gosto de indicar cursos e treinamentos. Portanto, pra não perder o costume, indico dois bons cursos de fotografia. O primeiro é o Curso de Fotografia do professor Gilberto Sendtko, que dá um basicão sobre enquadramento, harmonia fotográfica, iluminação. É um curso bem didático e muito completo. O segundo é um curso um pouco inferior ao do Sendtko, mas que adota vídeo aulas na forma de ensino. Ele foi produzido por uma escola espanhola e é traduzido para o português. A tradução não é das melhores, mas o curso ensina o essencial para se fotografar bem. Os dois são gratuitos.

Espero que tenha gostado e que essas dicas ajudem a melhorar suas fotos. Não sou nenhum profissional ainda, mas tento aplicar todas esses conceitos básicos na hora de fotografar. Você pode ver um pouco das minhas fotos no meu perfil do Instagram.

Andrew Solomon e as Revoluções Por Identidade

Andrew Solomon é um escritor americano que aborda temas em torno da psicologia. Ele já atuou como redator para a New York Times Magazine e também colaborou no jornal The New Yorker, entre diversas outras publicações renomadas.

O americano é um dos maiores ativistas mundiais dos direitos LGBT, saúde mental e educação infantil, tendo criado vários grupos de pesquisa e comunidades filantrópicas para discutir reformas sociais e políticas.

Solomon é autor de vários livros, nos quais aborda assuntos variados como educação, diversidade, depressão, direitos homossexuais, construção de identidade e a busca de significados.

Seu primeiro livro, “O Demônio do Meio Dia”, ganhou o prêmio National Book Award de 2001, foi indicado para o Pulitzer em 2002, e também está na lista do Times Of London dos 100 melhores livros da década.

Seu livro mais recente, “Longe da Árvore: Pais, Filhos e a Busca de Identidade”, venceu incríveis 24 prêmios de melhor livro de 2012.

Além de escritor revolucionário, Solomon se destaca também por seus discursos poderosos que ele promove para o TED. Um destes discursos merece destaque especial, tamanha a paixão e sinceridade que ele transmitiu com suas palavras.

As piores experiências de nossas vidas nos fazem quem somos

Em apresentação para o TED (abril de 2014), Solomon falou sobre como os piores momentos de nossas vidas vão construindo aquilo que somos.

Nesse discurso (acessível no final do artigo), o americano apresentou quatro histórias de sua vida que mostram como as pessoas podem moldar sua identidade a partir das experiências negativas que viveram.

O mantra da vida de Solomon é:

“Forje significados, construa identidade.”

A seguir, as quatro histórias que ele usou para exemplificar esse mantra:

1. A sorte do estupro

Para embasar o conteúdo de seu último livro, sobre famílias que lidam com filhos de distintas personalidades, Solomon entrevistou centenas de pais e mães em inúmeros países.

Uma das mães entrevistadas por Solomon lhe causou maior comoção, pois ela foi brutalmente estuprada na infância, e esse evento acabou por interferir em todos os seus relacionamentos emocionais no futuro.

Durante a entrevista, ele perguntou àquela mãe:

– Você pensa muito no homem que te estuprou?

– Eu costumava pensar nele com raiva, mas agora somente com pena.

– Pena?

– Sim, porque ele tem uma linda filha e dois lindos netos e sequer sabe disso, e eu sei. Então, como se vê, eu que tenho sorte.

Ou seja: essa mulher transformou o fato de ter sido estuprada num significado de vida que faz parte de sua identidade (ser uma mãe).

Por ter sido molestada, essa mulher poderia passar o resto de sua vida imersa em cólera ou remorso mas, ao invés disso, ela sente gratidão pelo filho que gerou, e orgulho por ser uma verdadeira mãe, apesar das circunstâncias adversas.

2. As dádivas do bullying

Quando Solomon estava na 2ª série do colégio, um “colega” de classe chamado Bobby Finkel deu uma festa de aniversário e convidou todos da turma, menos ele (pois Bobby o odiava e não queria que fosse à sua festa).

É claro que Solomon ficou chateado por isso. No entanto, sua mãe interveio para amenizar essa melancolia. No mesmo dia da festa em que foi recusado, a mãe o levou ao zoológico, onde eles tomaram um delicioso sundae com muita calda de chocolate.

Solomon não pôde participar daquela festa, mas nunca mais irá esquecer o passeio prazeroso que teve com sua mãe. Ou seja, ele transformou um evento negativo numa experiência inesquecível. Ele forjou um significado.

Durante todo seu período escolar, Solomon tinha trauma de ir à cantina: quando ele se sentava com as meninas, tiravam sarro dele por não tomar atitudes. Quando ele se sentava com os meninos, tiravam sarro dele por não sentar com as meninas.

“Eu sobrevivi à esta infância por uma mistura de evasão e perseverança. O que eu não sabia na época (e agora sei) é que evasão e perseverança podem ser o início de se forjar significado. Depois de forjar significado, você o incorpora em uma nova identidade.”

De acordo com ele, quando sentimos vergonha das coisas ruins que aconteceram, nós não conseguimos contar nossas histórias, sendo que elas representam tudo aquilo que somos.

“Você precisa pegar os traumas e fazê-los parte do que você se tornou, e precisa transformar os piores eventos da sua vida em uma narrativa de triunfo, evidenciando um eu melhor em resposta às coisas que machucam.”

3. Os benefícios do cárcere

Num país chamado Birmânia existem várias prisões, todas elas com superlotação de encarcerados. Na maioria dos casos, essas pessoas são prisioneiros políticos que inconscientemente cometeram os crimes que as levaram à prisão. Solomon decidiu visitar essas pessoas.

O americano tinha em mente que esses indivíduos, naquela época reclusos, estavam profundamente amargurados por estarem presos. Mas, surpreendentemente, ele descobriu comportamentos completamente diferentes do que ele imaginava captar.

Em cada uma das entrevistas que fez com os presos, Solomon notou que eles chegavam com suas cabeças erguidas, e saíam com suas cabeças ainda erguidas, mesmo após terem cometido tamanhas atrocidades.

Uma das pessoas que Solomon entrevistou na Birmânia foi a Dra. Ma Thida, uma líder ativista dos direitos humanos que já havia passado décadas em confinamento solitário, tendo quase morrido por conta disso.

Durante a conversa entre os dois, Ma Thida apenas afirmou que ela é grata aos seus carcereiros pela oportunidade que teve para pensar e refletir, pela sabedoria que havia adquirido, e pela chance de aprimorar suas habilidades de meditação. Solomon lembra:

“Forjar significado e construir identidade são atitudes de pessoas que sofreram privação; são condutas de pessoas que têm a força de mudar a si mesmas. Forjar significado e construir identidade não faz o certo do errado: só torna precioso o que era errado.”

4. Os valores da liberdade

Em 1988, Solomon viajou à Rússia. Dessa vez, ele queria conversar com artistas do underground soviético para verificar como eles reagiam aos golpes políticos que aconteciam (e ainda acontecem) por lá.

Na ocasião, aqueles artistas revolucionários eram os principais organizadores da resistência ao golpe, e Solomon estava junto com eles.

No terceiro dia de conflito, um dos artistas sugeriu que o grupo fosse até a Praça Smolenskaya, o epicentro do conflito. Solomon foi com os russos até o local.

Chegando lá, eles se postaram bem em frente a uma das barricadas de ataque. Pouco tempo depois, surgiu um tanque vindo na direção deles, de onde emergiu um soldado que anunciou:

“Temos ordens incondicionais de destruir essa barricada. Se saírem do caminho não temos que machucá-los mas, se não saírem, não teremos escolha, a não ser atropelá-los”.

Os artistas responderam:

“Dê-nos só um minuto para lhe dizer o por que estamos aqui.”

Então, o soldado cruzou os braços, e os artistas começaram a cantar um recital poético sobre democracia. Nesse instante chovia muito. Quando os artistas terminaram de cantar, o soldado ficou um minuto inteiro calado, refletindo, depois falou:

“O que vocês disseram é verdade, e temos que nos curvar ao desejo do povo. Se nos derem espaço para nos virarmos, vamos voltar por onde viemos.”

E foi isso que os soldados fizeram. Munidos com um arsenal de armas letais, eles simplesmente recuaram frente ao cântico de paz e justiça entoado por meros artistas revoltados.

O grupo de revolucionários transformou um conflito de guerra num significado real que teve o poder de cessá-lo.

“A opressão cultiva o poder para opô-la, e eu gradualmente entendi isso como a pedra fundamental da identidade. Às vezes, forjar significado pode fornecer o vocabulário necessário para lutar pela sua liberdade suprema […] Nós não buscamos experiências dolorosas para privar nossas necessidades, mas buscamos nossas identidades ao final de experiências dolorosas. Não podemos suportar um tormento sem sentido, mas conseguimos suportar uma enorme dor, se acreditarmos que ela tem um propósito.”


Sempre há alguém querendo confiscar nossa humanidade, e sempre há histórias que as restauram. Se nós vivermos em voz alta, nós podemos vencer o ódio, e expandir a vida de todos. Forje significado, construa identidade. E depois convide o mundo para compartilhar sua alegria (A.S).

Assista a palestra na íntegra:

Por que vale a pena ter um kindle

Comprei um kindle há pouco mais de um ano. Foi até em uma black friday, lembro. E desde o primeiro dia em que bati os os olhos no leitor digital meus hábitos de leitura mudaram.

Comecei a ler mais com o kindle. Sempre fui avesso a leituras em computadores. Todos os livros que consegui ler por intermédio de um monitor eu só o fiz pois eram obras sensacionais – O Estrangeiro, A Revolução dos Bichos e A Sangue Frio foram assim. Foi mais pelo envolvimento e curiosidade do que conforto e satisfação. Meus olhos doíam, minhas costas também, mas consegui. Gostei tanto que acabei comprando os livros depois de ter lido. Concluí que só lendo é que percebemos o quanto podemos ser idiotas.

Voltando ao kindle, me impressionei como a leitura se tornou confortável e rápida. O kindle tradicional não emite luz, portanto não há aquele brilho que machuca nossos olhos. Também é possível sublinhar trechos, marcar pontos de leitura, acessar dicionário, tradutores e, o mais importante, pesquisar trechos ou palavras-chave dentro da publicação. A tela de e-ink foi desenvolvida para simular a leitura em papel e a autonomia da bateria do dispositivo deixa celulares e tablets passando vergonha. Dependendo do tempo de leitura diária, o parelho pode ficar até um mês sem a necessidade de ser carregado.

O faturamento com vendas em e-books no Brasil cresceu 225% no último ano. Tudo isso em virtude da facilidade em comprar um livro pelo site (ou no caso do kindle até diretamente do próprio dispositivo) e ter a oportunidade de ler de imediato. Você pode até fazer questão de querer comprar o livro da forma como ele é, mas talvez você não tenha essa possibilidade sempre que deseja. Talvez você more no município de Serra da Saudade, o menor do Brasil, e não tenha acesso aos últimos lançamentos em uma livraria – ou sequer a um grande acervo. Talvez você não segure a ansiedade de esperar o livro chegar pelo correio. Ou talvez a única forma de ler uma determinada publicação seja digitalmente, uma vez que esse mercado está em constante crescimento.

O kindle é um dispositivo democrático. Se em formatos físicos é mais fácil segurar uma versão de bolso de O Velho e o Mar do que qualquer volume de As Crônicas de Gelo e Fogo, digitalmente essa diferença não existe. É tudo no mesmo aparelho. Quem já adormeceu lendo e derrubou um livro de capa dura na cara sabe qual é a vantagem que estou falando aqui.

Curioso que mesmo com o hábito de ler no kindle, não deixei de comprar edições físicas. Isso é algo que não consigo desapegar. Além de ajudarem a decorar minha estante, o folhear de uma página e o cheiro do livro despertam prazeres em mim. Porém, em algumas semanas vou viajar de férias e não levarei meia dúzia de livros na mochila, levarei uma centena em um dispositivo que pesa menos de duzentas gramas. Essa facilidade é sensacional.

novo kindle

Em novembro foi lançado um novo kindle sensível ao toque. Dentre algumas novas funções, a tela sensível ao toque é de longe a maior novidade. O leitor está disponível para venda no site da Amazon.

A tela sensível ao toque deixa ainda mais fácil o uso de diversas funcionalidades como dicionário, marcadores, mudança de página, compartilhamento, dentre outros. A tela antirreflexo garante experiência de leitura como no papel. Mesmo sob a luz forte do sol, o e-reader proporciona conforto para seus olhos como se você estivesse na sala da sua casa.

Existem também outros modelos, como o Kindle Paperwhite e o Kindle Paperwhite 3G, ambos com iluminação. Além de uma resolução um pouco melhor do que o tradicional (212 ppi contra 167 ppi), essa é a única vantagem dos modelos luminosos. É útil para ler em viagens noturnas, em cavernas e quando falta luz em casa – o que pode quebrar o tédio brilhantemente. Sem trocadilhos, por favor, não foi proposital.

Livro: Contos da Palestina, de Ghassan Kanafani

De difícil resolução o encontro entre a militância política acirrada e a boa literatura. Ghassan Kanafani, escritor, jornalista, pensador político e militante da Frente Nacional de Libertação da Palestina morto em um atentado (seu carro explodiu) em 1972, é uma dessa raras vozes que combinam a denúncia social com a humanidade do relato literário. Por isso, desvendar os textos de “Contos da Palestina”, reunião de pequenas narrativas lançada no Brasil em 1986, é uma dessas experiências difíceis surpreendentes. Isso tanto pelo relato do cotidiano de palestinos nos campos de refugiados, como pela circunstância de ser Kanafani um artista com olhar sensível e delicado sobre o povo palestina e a luta por seu território ocupado.

Em “Contos da Palestina”, encontramos um escritor bastante engajado em retratar o drama social vivido pelo povo palestino, ao mesmo tempo que está ciente do seu papel de transmitir pela experiência literária toda a humanidade que presenciou e viveu nos longos anos de guerra contra a ocupação israelense da Palestina. Se em contos como “O gato” e “Os carneiros crucificados”, que abrem o livro, nos defrontamos com um alto grau de simbolismo e elevada reflexão sobre a condição humana, não é menos verdade que em outros três contos adiante (“A guerra acabou”, “A chuva, o homem, a lama” e “Muros de ferro”) essa simbologia dá lugar ao relato quase jornalístico, cotidiano, trágico. Há no tempo em que se passam esses contos, fique claro, uma guerra real entre povos em conflito, mas a luta pelo território palestino na literatura de Kanafani deixa suas marcas nas famílias, nas paredes das casas, na organização social dos assentamentos, nas próprias pessoas, suas memórias, lembranças… E estão ali os contos “O amuleto” e “A proteção” para nos mostrarem até onde pode chegar a intolerância humana quando o assunto é os traumas de guerra. A violência do meio social e miséria econômica, contudo, não interferem no relato suave, no olhar distância mas jamais desatento, na caracterização de um povo pela sua própria convicção.

CONTOS_DA_PALESTINAQuanto à obra de Ghassan Kanafani, deve-se inicialmente afirmar que ela é vasta; porém, como sobra acontecer entre nós, muito pouco traduzida e quase nada conhecida no Brasil. A oportunidade rara de nos aproximarmos de um de seus textos literários mais importantes – as histórias curtas – e confrontá-los com a prática política e militante de Kanafani é também algo bastante promissor. Aliás, são raríssimo em literatura esses momentos de reflexão social e descrições literárias tão marcantes. São poucos, aliás, os escritores que conseguem isso: estar tão próximos e envolvidos na luta de um povo como pensador político, jornalista ou ativista, e ao mesmo tempo ainda conseguir construir uma carreira literária com altíssima sensibilidade artística. É isto que encontramos em Contos da Palestina: o retrato de um povo sem território, mas que mantém sua unidade e seu discernimento cultural próprio, com seus mitos, dogmas e assombrações. E se alguns contos tocam pela comoção que causa esta situação de exclusão vivida pelos povos subjugados – o menino órfão que precisa trabalhar e por isso acaba tendo baixo rendimento na escola, em “O vendedor de biscoitos”, conto que fecha o livro – tudo isso acontece porque o autor consegue separar aquilo que viveu nos nos campos de refugiados da boa literatura, a bem escrita, aquela que nos comove e faz pensar.

Em Contos da Palestina estamos diante de um mundo que sangra, pede transformações, e por isso mesmo pode (e deve) ser descrito em textos que mostram o ser humano que vive nesse mundo. Tudo isso sem jamais perder a característica de um texto com elevada qualidade literária. Ghassan Kanafani é esse autor que consegue nos transmitir emoção sem jamais ser melodramático; que se debruça sobre um dos conflitos históricos mais acirrados do Oriente Médio sem em nenhum momento ser panfletário; que transmite amor e esperança como um sentimento real e alcançável. Ao fazer isso em altíssimo nível, ele nos mostra que a literatura pode ser a voz do que querem ser escutados.

Boa leitura.

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