ponto de ônibus

Era uma terça-feira, um pouco mais de 10 horas da manhã e eu esperava meu ônibus passar. Surgiu, virando a esquina do outro lado da calçada, um bêbado. Trôpego, atravessou a rua.

– Lá vem o bêbado! Logo de manhã já deve ter tomado todas. – disse uma senhora com seus setenta anos, cabelos brancos presos em um coque malfeito e um vestido azul florido. Estava sentada à minha direita.

– Às vezes ele nem se recuperou da bebedeira de ontem. – comentou um senhor que estava em pé ao seu lado – mesmo havendo lugar para sentar-se no banco. A camisa tinha um botão indevidamente aberto e seus pés calçavam chinelos surrados.

– Você sabe que ele mora na rua, né? Tinha casa, tinha família e, por causa da bebida, tá morando na rua.

– Ah é. Eu conheço a história dele.

– Fica bebendo. Vagabundo! – proclamou com todo poder que sua voz poderia ter. – Em vez de procurar um emprego, fica zanzando pela rua.

– Tudo assim, né? Esses moradores de rua. Nunca querem saber de trabalhar.

– Sabe que eu tenho um filho que tá morando na rua?

Minhas orelhas se esticaram um pouco para a direita, onde a senhora estava sentada.

– Mas o que eu vou fazer? Ele prefere assim. Na rua, não tem que dar satisfação pra ninguém.

– Mas lógico que ele prefere! A senhora não sabe que ali no albergue da Prefeitura eles dão as três refeições e ainda tem lugar pra dormir? É um absurdo!

Eu não acreditei no que estava ouvindo. Talvez se tivesse argumentos prontos e na ponta da língua, teria me intrometido na conversa para explicar que vários motivos podem levar uma pessoa a morar na rua. Migração, drogas, desemprego, falta de escolaridade e por aí vai.

Mas o ônibus chegou.

– Um bom dia pra senhora!

– Pro senhor também!

A senhora saiu andando com suas sacolas do supermercado rumo ao segundo ônibus, enquanto seu companheiro de conversa subia no primeiro circular.

Foram embora e eu fiquei ali, sentada com meus botões pensando por que o bêbado morava nas ruas de minha cidade.