Vai viver!

“Não sei se cada um tem um destino ou se a gente fica flutuando, por acaso, na brisa. Mas eu acho que talvez são os dois. Os dois acontecem ao mesmo tempo” (frase do filme Forrest Gump: O Contador de Histórias).

Fechei o facebook, olhei pro teto, vi o céu repleto de estrelas. Contei com o dedo as maiores e então fingi que eram flores, colorindo o jardim dos deuses.

Noite escura, a minha alma desperta, os meus olhos fixos nas nuvens. Levantei voo e fui mais longe, perseguindo o horizonte. Agora era pássaro e tinha asas, estava livre como nunca antes.

Do alto vi a cidade, vazia e solitária. E eu também estava sozinho, era pássaro, mas não tinha ninho, só o desejo de seguir voando. Então surgiram outros, em bando.

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Depois de horas a rasgar o céu, despedi-me dos pássaros viajantes. Entrei por uma janela aberta, no quarto de uma donzela, e logo me vesti de homem. Ela dormia serena, imaginei que sonhava comigo, ou com pássaros – qual seria a diferença?

Ah, a vida é um sonho. Eu fui duende nos montes do norte, guerreiro nas terras do ocidente; venci batalhas sangrentas e morri um milhão de vezes. Fiz do mundo uma janela e por era eu vejo tudo o que quero.

Vai viver, meu caro. Observe o mundo com seus próprios olhos, esqueça tudo que já nasce pronto. Desligue os aparelhos eletrônicos.

Comisão de Educasão do Senado imajina qe seja a ora de mudar o portugês em nova reforma ortográfica

A xuva enxarcou o meu xapéu qando xeguei na xácara. Qe xato isso! Tem xá na xaleira?

Faz pouqísimo tempo qe o novo acordo ortográfico entrou em vigor. Mas é posível qe a língua portugesa, em sua forma escrita, sofra mais alterasões. A proposta é da Comisão de Educasão do Senado, sob o aval do Senador Cyro Miranda (PSDB-GO) e  a coordenasão dos profesores Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto, o famoso Profesor Pasquale.

Anote aí então na sua ajenda. Ainda não á data definida ou ora marcada, mas o dia em qe tudo o qe estudamos será jogado no ralo poderá estar com os dias contados (apezar de eu duvidar muito qe esa ideia louca vire realidade de fato). Ademais, todos os livros estarão com a ortografia ultrapasada também. Ok, nenhuma novidade. A última reforma ortográfica, por mais sutil qe tenha sido – alterou 5% do dicionário – já foi responsável por dores de cabesa em profesores, vestibulandos, escritores e jornalistas em jeral. Até oje, por ezemplo, me dói ter qe escrever ab-ruptamente, talvez a mudansa mais sem sentido de todas. Dá nada, tive qe me acostumar, asim como todos os demais profisionais de comunicasão. Á décadas que a língua portugesa vive em um transtorno bipolar sem fim, sendo modificada incesantemente.

Além da prerrogativa de unificar ainda mais os países de língua portugesa, simplificando o idioma, a proposta da nova reforma prevê uma economia de R$ 2 bilhões. Confeso qe não entendi esa conta, já qe todos os livros didáticos de todas as escolas de todo o Brazil terão qe ser reescritos e reimpresos em menos de uma década depois de iso já ter sido ezecutado. É realmente algo bem intelijente. A alterasão será drástica na forma como escrevemos. Será o fim do h antes de vogais e de indecizões entre x ou ch, s ou ss, s ou z, g ou j, entre outras palavras dificílisimas de serem escritas, já qe é precizo um pouco de estudo e leitura para a compreensão do idioma. Ainda á ideias severamente mais ouzadas, como trocar o c pelo k em alguns “k”asos.

Quase ninguém sabe a ortografia em nosso País. Encontrar quem saiba usar hífen, j, g, x, ch, s, z, é algo raro. Até professores precisam recorrer a dicionários para confirmar como se escreve uma palavra ou outra, de tão complexo que é o nosso sistema. (Ernani Pimentel)

Observem bem. A justificativa dos senhores proponentes é de qe, já qe não consegimos educar uma populasão, vamos deixar as coizas mais fáceis. Afinal, o portugês é realmente muito difícil, para aprendê-lo é precizo ir à escola e ler alguns livros. E pode ser qe nem ir à escola seja o suficiente, já qe profesores não sabem ensinar o idioma de maneira preciza (Brazil: 0 38º país no ranking mundial de educasão). Muito mais fácil se adaptar ao novo dialeto dos comentários de internet do qe realmente aprender o idioma correto, não axam?

A qestão aqi está lonje de discutir se é certo ou errado, mas vizionário qe sou, já estou escrevendo o meu primeiro artigo com a nova – e ipotética – ortografia. Alterasões já ocorreram ao longo do tempo. Machado de Assis, o maior escritor qe o Brazil já criou, escreveu seus livros com uma ortografia ultrapasada. Com o pasar dos anos suas obras foram adaptadas, mas iso não foi o suficiente para as tornarem menos geniais.

“Você” já foi “vossa mercê”, “contato” já foi “contacto”, “autorretrato” já foi “auto-retrato” et caterva. Portanto, estejamos acostumados ao qe posa acontecer, mas sem esqecer qe nenhuma reforma foi tão estravagante quanto esa pretende ser. Mas qe nada, vamos dar uma xance aos qe não consegiram aprender (por falta de incentivo ou vontade própria) o portugês correto e vamos nós aprender a escrever de novo, já qe a justificativa é esa. Vamos nivelar por baixo.

A propósito, gostaria de aproveitar e sujerir esa fabuloza ideia ao governo da Xina. Qe idioma xato é ese tal de mandarim, em qe os mesmos fonemas podem significar palavras distintas de acordo com a entonasão uzada. Iso é deveras confuzo e preciza ser facilitado, #MudaXina.

Também sujerir ao Obama e à Rainha qe o inglês seja mudado. Se o brazileiro axa duvidozo o x e o ch, imajine só os coitados dos americanos e inglezes que precizam “decorar” diferensas de pronúnsias em uma mesma palavra como: bUt, cUte e rUle ou mIles e mIlk, #MudaInglezes.

Não sei, mas às vezes é com crase.
Não sei, mas nesse caso “às vezes” tem crase.

O projeto Simplificando a Ortografia ainda está em faze inicial e, como muitos outros projetos de lei brazileiros, parece algo bastante umorístico, ao menos no início. A Comisão de Educasão pretende entrar em contato com Portugal, Mosambique, Angola, Cabo Verde e outros paízes de língua portugueza até maio de 2015 para alinhar as mudansas.

Não pretendo ser conservador em absolutamente nada e foi bem esquizito escrever dessa forma. Axo até qe pareceu qe eu estava escrevendo diretamente no feicibuq. Enfim, não imajino que iso irá acontecer, mas cazo aconteça, algumas mudansas, de acordo com o site do Senado, serão esas:

Homem – Omem
Hotel – Otel
Hoje – Oje
Humor – Umor
Harpia – Arpia
Harpa – Arpa
Guerra – Gerra
Guitarra – Gitarra
Chá – Xá
Flecha – Flexa
Macho – Maxo
Analisar – Analizar
Blusa – Bluza
Exemplo – Ezemplo
Exuberante – Ezuberante
Êxito – Êzito
Exigente – Ezigente
Exame – Ezame
Executar – Ezecutar
Existir – Ezistir
Amassar – Amasar
Açúcar – Asúcar
Moço – Moso
Pescoço – Pescoso
Auxílio – Ausílio
Asa – Aza
Brasília – Brazília
Base – Baze
Avisar – Avizar
Música – Múzica
Meses – Mezes
Deuses – Deuzes
Pegajoso – Pegajozo

Ao escrever esse texto tentei me adaptar às supostas novas regras. Até consegui, mas, sinceramente, vá pro diabo com essa reforma. O Brasil tem milhares de assuntos mais importantes que podem entrar na pauta do Senado. Nada vai mudar se alguém continuar escrevendo de maneira errônea desde que essa pessoa não seja um profissional da comunicação. Sem falar que ir à escola e ler meia hora por dia de um livro, jornal ou revista já é o suficiente para que todos saibam escrever palavras básicas.

Não tem como fazer com que a linguagem escrita seja exatamente igual à fonética. No Sul do país, por exemplo, é comum ouvirmos as pessoas falando “caroça”, “corendo”, “fero” e “pareira”. No Rio, falando “ishqueiro”, “forrte”, “deshtilado” e “amorr”. Mesmo assim, as pessoas se mostram capazes de aprender a escrever da maneira que a ortografia manda. A língua falada definitivamente não é a mesma da língua escrita. Existe uma característica – geralmente regional – chamada sotaque que impede essa uniformização fonética.

O problema não é a ortografia complicada da língua portuguesa, mas a falta de interesse da população  pela leitura e pelo próprio idioma. Hoje as pessoas leem pouco e compartilham muito. Tem também quem lê os comentários e não lê a matéria. Foda. Dessa forma não vejo imagem melhor para resumir a atualidade do que essa tira do Raphael Salimena.

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Um fenômeno chamado Foster The People

E estou dispensando apresentações prolixas.

Três meninos esbanjando beleza (e talento, claro!). Um gênero musical extremamente abrangente, eis que fazem raízes no indie rock. Um título de ”Novo artista do ano”, inegável. Dois álbuns genialmente construídos. E um muro em LA pintado com a capa do novo disco.

Os moleques são ousados.

Foster é sobrenome, mas em português tem tradução: fomentar. E eu realmente acho que é isso que fazem, estimulam o progresso, das pessoas, naturalmente. Sob um aspecto cultural.

O som se baseia em letras profundas, que não se resumem em corações partidos, o que de certa forma já é um avanço. Mas com contextos bem pessoais, ao menos é o que me parece; algo mesclado com experiências de vida e devaneios. Um excelente exemplo é Pseudologia Fantastica, do novo álbum, não foi lançado como single, mas é carro chefe, inegavelmente.

Algumas críticas sociais rasas e uma batida tecno bem aplicada; Pumped Up Kicks virou febre, de festas indies a pumperons com carros de som e remixes horrendos. Quando começa a tocar, todo mundo sabe o refrão. É aquele típica ”Nossa! Amo essa música, mas nem sei quem canta”. E os fãs se contorcem, os mais fervorosos principalmente, a música é boa, e não se conteve com um público (descoladinho) específico.

Banda muito promissora, existe algo de inovador, original, mas com claras vertentes clássicas. Me lembra algo do tipo; Strokes com The Doors, só que como se fosse o filho meio politizado dos dois.

Eu sou fã dos caras, aquela vozinha meio ”metade da puberdade” do Mark, me encanta.

Aguardo ansiosa o 3° álbum, ou ao menos a oportunidade de um show no Lollapallooza. Preciso ver se de perto eles são tão bonitos (e talentosos, claro!), como me parece.

No mais, desejo vida longa à banda, mais romances e barracos, que até agora não vi nenhum. E que continuem ”fosterando” o progresso do novo cenário musical, que surge com esses menininhos de blusa desbotada e barba por fazer.

Olhar o mar

Eu conheci o mar quanto tinha uns 7 anos. Nunca esqueci. Talvez por morar em um sertão de asfalto armado, concreto bruto, secura, violência e poluição; nada de tão horrível. Mas foram férias, primeira vez de avião, pós-divórcio (definitivo) dos meus pais. Não dava para esquecer.

Existe uma sensação muito poderosa em olhar aquela imensidão azul, vários romances falam disso. O meu corpo ali é absolutamente um nada. Existe um mundo inexplorado por baixo daquela água salgada.

Eu sempre gostei, no fundo, no fundo mesmo, de me sentir desprotegida. Eu arquiteto as coisas e faço os planos, de forma a sempre ficar vulnerável. Antes era inocente, inconsciente, hoje já vejo claramente quando o faço.

Deve ser por isso que amo o mar, amo olhar o mar.

Gosto de ir à praia bem cedo ou bem tarde, as pessoas, seus barulhos e modos me irritam. Eu não quero um bronze sexy, não quero cerveja gelada, não quero um dia de sol. Só quero poder ter o mar só pra mim, só por um tempo.

Toda vez que imagino um monstro gigante e marinho, me arrepio toda, ainda hoje, no auge dos meus 18 anos. Tem uma criança curiosa e assustada saindo pela pele.

Foto: Joe Lomas / Flickr
Foto: Joe Lomas / Flickr

Acredito piamente em sereias, sereias que vivem em águas salgadas, e revoltas, confusas, onde não se pode confiar. Acredito tanto nela quanto em humanos, e elaboro todas as personalidades possíveis; as boas e más. Eu simplesmente acredito.

Me dissolvo em todas as possibilidades que tenho em águas profundas.

Em épocas de muito estresse, para voltar à minha forma alfa, assisto vídeos de quedas livres em abismos negros do fundo do mar; faço junto à apneia.

A onda bate e volta, toda vez que ela se vai, leva um pouco da areia dos meus pés. Eu fico sem chão, vulnerável.

Se fosse eu a elaborar meu fim, gostaria de ser compressada violentamente pela força do mar, de preferência em um encontro com o céu.

Eu seria infinita.

Da inevitabilidade da morte

Retorno mais uma vez ao assunto da vida, na qual só temos uma única certeza: morrer. O texto se chama “da inevitabilidade da morte” mas poderia muito bem ser marcado pelo dia em que todos os brasileiros sentiram muito.

Eduardo Campos dava entrevista ao Jornal Nacional na noite anterior, 12 de agosto. Preparava-se para as eleições, era um candidato que carregava consigo algum legado e juntamente com suas ideologias, uma ruma de eleitores. Mostrou-se contente com o resultado da entrevista e com o desenrolar da mesma. Mas hoje a notícia não foi de grande contentamento.

O candidato à presidência faleceu. Juntamente com outras seis pessoas, Eduardo Campos saiu das notícias aclamadas pelas eleições, para ganhar repercussão por uma morte súbita. Não é sobre a sua carreira ou vida pessoal que venho falar, é sobre o choque de ter uma pessoa, numa noite, ao vivo em rede nacional, completamente saudável e estruturada, e na outra ouvir notícias sobre o seu velório. Da inevitabilidade da morte o que fica é o choque.

Centenas de pessoas morrem em nosso país todos os dias e não nos afeta com essa dimensão. A iconografia do candidato sugere uma maior representatividade, não há dúvidas. Assim como o fotógrafo Alexandre Severo também causou comoções. Mas é a morte o assunto desse texto. É do quanto a gente não se prepara para essa situação e do quanto somos surpreendidos com notícias escandalosas como essa. Esse texto é sobre acordar com a tragédia de um avião e dormir com a morte de um ícone do Nordeste e do Brasil. Da inevitabilidade da morte o que fica é o lamento.

O texto não é sobre hoje. Ele começa de quando nascemos e a partir do momento que pautamos nossa vida no ontem. Esquecemos-nos do quanto é necessário aproveitar o exato segundo daquele momento decisivo entre o que passou e o que ainda virá. A gente não lembra que amanhã poderemos não estar aqui ou que uma tragédia como a de hoje poderá muito bem acontecer e mudar as nossas vidas, mudar os nossos planos, os nossos rumos, as nossas obrigações – não que precisamente essa tenha causado todas essas questões. Da inevitabilidade da morte o que fica é a reflexão.

O assunto não é sobre a vida de Campos, do seu legado, da sua história, das suas realizações. É do quanto isso se fez forte com o susto e posterior desalento que sua morte causou para os brasileiros. É sobre o que devemos fazer enquanto ainda respiramos, o que a gente deve deixar, o que devemos construir, marcar. É sobre o que fica na vida das pessoas depois que o nosso coração deixa de bater. Da inevitabilidade da morte o que fica são as lembranças.

Não trato das viralidades nas redes sociais ou do quanto as pessoas ainda se mostram desumanas diante a morte de qualquer pessoa. É sobre a percepção lógica de “dor” quando um acidente tão trágico acontece. É sobre compaixão e solidariedade com as famílias. Não é apenas sobre amar ao próximo. É, sobretudo, respeitá-lo. É sobre cair na real de que aquele laço poderia ser seu, de que aquela dor poderia ser sua, aquele aperto no coração poderia ser o teu incômodo. É se colocar no lugar do outro e ter a consciência sã de que você não queria aquela situação para si. É participar do impacto mesmo com silêncio. Se em você não há lembranças marcadas pelo luto, não significa que essas memórias não existam. Da inevitabilidade da morte o que fica é o respeito.

Esse texto nasceu a partir da concretização da ideia inevitável que é a morte. Essas notícias trágicas que 2014 tem nos trazido comprovam que nunca estaremos preparados para esse tipo de ilustração cômica da vida real. É que viver, de fato, já é um pouco do morrer. Mas andamos tão preocupados com o nosso mundo que acabamos esquecendo que eles mesmos também morrem. E subitamente, se for o caso. Pediríamos respeito, silêncio e compaixão se pudéssemos ver de perto a dor da nossa morte. Afinal, tudo que ela pede, não importa quem for, é respeito. Da inevitabilidade da morte o que ainda fica é o amor.

5 Ótimos Trechos de ‘O Menino do Pijama Listrado’, de John Boyne

o menino do pijama listrado

O Holocausto é um dos temas mais instigantes da história da humanidade. Quanto mais se estuda mais se quer saber sobre o assunto. Talvez o motivo seja por que é algo tão desumano que quem não participou diretamente custa a crer que isso aconteceu de verdade. Mas aconteceu. Já fui em um campo de concentração (Sachsenhausen) e saí de lá fazendo mil reflexões a respeito do comportamento humano.

Anos depois me deparo com esse livro, chamado “O Menino do Pijama Listrado”. Escrito por John Boyne , o título é uma narrativa de ficção sobre a amizade entre o filho de um oficial nazista e o filho de um judeu. Separados por uma cerca de um campo de concentração, eles se encontram escondidos e ficam meses conversando entre si. O genial nisso tudo é a ingenuidade infantil em meio a um genocídio histórico. O próprio título do livro já traduz essa inocência. “Pijama Listrado”, só uma criança mesmo para levar o raciocínio a esse ponto.

“O Menino do Pijama Listrado” é uma leitura rápida. Uma madrugada é o suficiente para ler a história na íntegra, tanto por não ser um livro longo (192 páginas), como pela sua facilidade. Essa fluidez não é obra do acaso. Para escrever o primeiro rascunho do livro o autor levou apenas dois dias e meio. Como conta em uma entrevista à Sarah Webb:

I wrote the entire first draft of ‘The Boy in the Striped Pyjamas’ in two and a half days. I barely slept, I just kept writing until I got to the end. The story just came to me, I have no idea where it came from. As I was writing it I thought just keep going and don’t think about it too much. With the other books I plan them all out. I think about them for months before writing anything down. But with this one on Tuesday night I had the idea. On Wednesday morning I started writing, and by Friday lunchtime I had the first draft. The following Wednesday I gave it to Simon. I said ‘I’ve written this book, it’s very different to anything I’ve done before. I think it may be a children’s book but I think adults might like it too.

A obra foi adaptada ao cinema sob a direção de Mark Herman. Entretanto, o filme conta a história de maneira bem superficial e exclui detalhes importantíssimos da narrativa. Nem assistam.

Em contrapartida, o livro é recomendado. É para ler naquele momento em que você não quer fazer muito esforço mental. É um passatempo, mas um passatempo muito mais valioso do que ficar atualizando o feed do Secret. Enfim, separei cinco pequenas passagens bem marcantes que encontrei ao ler “O Menino do Pijama Listrado”. Lá vai!

1.

“Jovem rapaz”, disse Pavel (e Bruno gostou da cortesia de ele o chamar de ‘jovem rapaz’, e não de ‘homenzinho’, como fazia o tenente Kotler), “eu sou, de fato, médico. Só porque um homem olha para o céu à noite, isso não faz dele um astrônomo, sabia?”

2.

“Não dói tanto assim”, disse Pavel numa voz gentil e delicada. “Não torne as coisas piores, pensando que dói mais do que você realmente está sentindo.”

3.

Todos no campo usavam as mesmas roupas, aqueles pijamas com os bonés de pano também listrados; e todos que passavam pela sua casa (exceção feita à mãe, Gretel e a ele próprio) vestiam uniformes de variadas qualidades e graus de condecoração e quepes e capacetes com grandes braçadeiras vermelhas e negras e traziam armas e estavam sempre com o semblante terrivelmente severo, como se tudo aquilo fosse muito importante e ninguém pudesse pensar diferente. Qual era a diferença, exatamente?, ele se perguntou. E quem decidia quem usava os pijamas e quem usava os uniformes?

4.

“Polônia”, disse Bruno, pensativo, medindo a palavra na língua. “Não é tão boa quanto a Alemanha, é?” Shmuel franziu o cenho. “Por que não?”, perguntou ele. “Bem, porque a Alemanha é o maior de todos os países”, respondeu Bruno, lembrando-se de algo que ouvira o pai comentar com o avô em certo número de ocasiões. “Somos superiores.”

5.

Bruno abriu os olhos, assombrado com as coisas que via. Na sua imaginação ele pensara que todas as cabanas estavam cheias de famílias felizes, algumas das quais se sentavam do lado de fora em suas cadeiras de balanço durante o anoitecer e contavam histórias sobre como as coisas eram melhores quando eram crianças e tinham respeito pelos mais velhos, ao contrário das crianças de hoje. Pensou que todos os meninos e meninas que moravam ali estariam em grupos diferentes, jogando tênis ou futebol, pulando corda e desenhando no chão quadrados para jogar amarelinha. Imaginou que haveria uma loja no centro, e quem sabe um pequeno café como aqueles que ele vira em Berlim; perguntava-se se haveria uma banca de frutas e legumes. Como ele pôde ver, todas as coisas que ele imaginou estarem lá – não estavam.

House of Cards – a política nua e crua

Com roteiro de Beau Willimon, House of Cards foi uma das primeiras produções do Netflix, empresa norte-americana atuante no seguimento de TV por internet e que vem fazendo sucesso no Brasil e no mundo. House of Cards é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Michael Dobbs.

O papel principal é desempenhado por Frank Underwood (Kevin Spacey), com atuação impecável, recebendo, inclusive, indicação ao Emmy de melhor ator no ano passado. Mas não pretendo tecer uma crítica à série. Vamos falar de política.

“Há dois tipos de dor: a dor que te torna mais forte e a dor inútil, a que te reduz ao sofrimento. Eu não tenho paciência para inutilidades”. Essa é uma das frases marcantes que compõe o discurso político incisivo do protagonista. O jogo político faz parte da premissa básica da série e é retratado de forma crua.

Frank Underwood tem talento para a coisa, passando de Deputado a Presidente dos Estados Unidos – fazendo-nos supor que a próxima temporada abordará o declínio da sua carreira. House of Cards faz um raio-x da política e nos apresenta o mundo na perspectiva do político, com as suas ambições e, principalmente, vontade de poder.

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“Ele escolheu dinheiro em vez de poder – um erro que quase todos desta cidade cometem. Dinheiro é mansão no bairro errado, que começa a desmoronar após dez anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos”. É com essa filosofia que Frank vai derrubando a concorrência e conquistando espaço.

Se podemos concluir alguma coisa a partir da série é que, em se tratando de política, os fins justificam os meios. “Isso são negócios, guarde suas histórias tristes para você mesmo”, é o que Frank diz em outro episódio.

Locke: uma experiência cinematográfica diferente

Dirigido por Steven Knight e estrelado por Tom Hardy, Locke é uma experiência cinematográfica diferente.

O filme inteiro se passa dentro de um carro em movimento, onde acompanhamos Ivan Locke (Hardy) tentando resolver três crises pelo telefone.

Locke é um homem de família respeitável que cometeu um erro, agora está prestes a ter um filho fora do casamento. Além de ter que lidar com a esposa indignada e a amante de uma noite que agora está em trabalho de parto, ele precisa comandar uma importante operação envolvendo a construtora onde trabalha.

Os diálogos apresentam carga dramática suficiente para nos manter interessados na história, ainda mais quando eles são proferidos com a credibilidade de Tom Hardy, um dos grandes atores dessa geração. Locke passa voando, um indício de que as coisas funcionam muito bem, principalmente levando em conta o estilo do filme.

Locke pode não ser um dos melhores filmes dos últimos tempos, mas ele foge do lugar comum com qualidade e nos entrega situações bem realistas, tornando tudo mais interessante.

Vale pelo ar de criatividade e pela atuação competente de Hardy.

8/10

http://youtu.be/68qASXwr0XY

Ninguém está livre da deprê

Pouco tempo após a dissolução da maior banda do mundo, John Lennon deu declarações bem fortes (como de costume) em uma entrevista concedida à Rolling Stone. Essa aqui é a melhor:

It’s no fun being an artist. You know what it’s like, writing, it’s torture. I read about Van Gogh, Beethoven, any of the fuckers. If they had psychiatrists, we wouldn’t have had Gauguin’s great pictures.

Lennon tem autoridade para falar sobre isso, mas cabe uma correção. Talvez seja legal sim ser artista, foda é ser gênio. Os pioneiros do rock’n’roll e influentes de John já não batiam bem da cabeça. Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard – só para citar os mais renomados – nunca foram mentalmente equilibrados, mas foram sim geniais

Genialidade e sofrimento. Um grandioso elogio seguido de um sentimento doloroso. Por que estas duas palavras se cruzam tanto ao longo da história? Escrevo após saber da última: Robin Williams, um dos gênios do cinema, suicidou-se.

Logo ele, que inspirou uma geração em “Sociedade dos Poetas Mortos”. Que fez moribundos sorrirem em “Patch Adams”. Que animou inúmeras sessões da tarde com “Jumanji”, “O Homem Bicentenário” e “Uma Babá Quase Perfeita”. E – último exemplo para não encher muito – que deu uma mijada no Matt Damon em “Gênio Indomável”.

Esse ator, referência para milhões de pessoas em todos os cantos do planeta, sofreu com a depressão. Costumamos achar que pessoas como Robin Williams possuem tudo. Fama. Dinheiro. Reconhecimento. Talento. E mesmo tendo tudo o que 90% da população deseja ele resolveu tirar a própria vida. As coisas não são tão preto no branco como parecem.

" I stand upon my desk to remind myself that we must constantly look at things in a different way”
“I stand upon my desk to remind myself that we must constantly look at things in a different way”

Uma semana antes, Fausto Fanti, gênio criativo de “Hermes e Renato” fez o mesmo. Uma morte irônica. Um humorista que se suicida poderia ser comparado a um suicida morto de tanto rir. Improvável? Sim, mas a vida provou que não é impossível.

O “Hermes e Renato” que, abrindo um parêntese aqui, foi um produto cultural que ajudou a formar o meu caráter (e da maioria de meus amigos). Falo muito mais palavrão hoje por causa desse programa do caralho. Ao mesmo tempo tenho muito mais senso de humor, principalmente por ter tido a sorte de acompanhar o programa durante a adolescência, uma fase negra para a vida de muitos. Porque nessa época, um gurizão com seus dois fios de bigode e sua voz desafinada poderia até sentir vontade de se matar depois de levar um fora da namoradinha do colégio ou de ter brigado com os pais que ~não o entendem~, mas não havia depressão que não curasse com um episódio de “Hermes e Renato”.

E um dos criadores desse programa, que fez a vida de uma galera muito mais suportável, se matou. Assim como Robin Williams. Assim como muitos outros artistas, que embora não sejam todos do ramo humorístico, foram formadores de opinião de uma legião de fãs.

“Ouvi uma piada uma vez:
Um homem vai ao médico.
Diz que está deprimido.
Diz que a vida parece dura e cruel.
Conta que se sente só num mundo ameaçador.
O médico diz: ‘O tratamento é simples.
O grande palhaço Pagliacci está na cidade.
Assista ao espetáculo.
Isso deve animá-lo.’
O homem se desfaz em lágrimas.
E diz: ‘Mas, doutor… Eu sou o Pagliacci.’
Boa piada.
Todo mundo ri.
Rufam os tambores.
Desce o pano.”

(Watchmen)

Cláudio Ricardo: o melhor apresentador da televisão brasileira
Cláudio Ricardo: o melhor apresentador da televisão brasileira

Vale lembrar que não é regra. Uma minoria dos gênios da humanidade se suicidaram. No entanto, a maioria sofreu ou ainda sofre, chorou muito ou ainda chora e, ao contrário do que as frases do facebook dizem, não concordam que ser feliz seja apenas uma questão de ser. Ninguém está livre da deprê e não é necessário ser gênio para entender isso.

Rest In Peace: Fausto Fanti. Robin Williams. Kurt Cobain. Van Gogh. Virginia Woolf. Santos Dumont. Ian Curtis. Ernest Hemingway. Marilyn Monroe. Torquato Neto. Hunter Thompson.

Aplicativo Secret está destinado ao fracasso

Um dos aplicativos mais badalados do momento, pelo menos no Brasil, é o Secret. Sua interface permite compartilhar frases – segredos, fofocas e babados – acompanhadas ou não de uma imagem. E o melhor, tudo anonimamente.

Algumas pessoas já estão tentando derrubar o aplicativo sob a alegação de que ele facilita e até mesmo incentiva a publicação de conteúdo preconceituoso e difamatório. Mas o fracasso do Secret será consequência do seu elemento fundamental: o anonimato.

Se a princípio parece o máximo contar um segredo sem que ninguém saiba quem contou, paradoxalmente, a falta de reconhecimento é um peso. Ninguém sabe que foi você. Ninguém te conhece. Você não sabe nem mesmo quais dos seus amigos estão tendo acesso ao conteúdo publicado. Sem plateia.

É um aplicativo realmente bom, isso é evidente. Um espaço para ser aquilo que você quiser, mas um espaço que é só seu e de mais ninguém.  Tudo que está escrito pode ser mentira e você será levado a mentir ou omitir alguma coisa. Queremos sair do anonimato, nunca fazer dele um lugar definitivo.

O Secret é, definitivamente, um lugar estranho. Não apresenta vantagens compatíveis com o pensamento moderno, com o egoísmo exacerbado e a autopromoção contínua. Tende a se tornar obsoleto tão logo os usuários percebam o quão inútil é continuar fofocando.

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