Eu conheci o mar quanto tinha uns 7 anos. Nunca esqueci. Talvez por morar em um sertão de asfalto armado, concreto bruto, secura, violência e poluição; nada de tão horrível. Mas foram férias, primeira vez de avião, pós-divórcio (definitivo) dos meus pais. Não dava para esquecer.
Existe uma sensação muito poderosa em olhar aquela imensidão azul, vários romances falam disso. O meu corpo ali é absolutamente um nada. Existe um mundo inexplorado por baixo daquela água salgada.
Eu sempre gostei, no fundo, no fundo mesmo, de me sentir desprotegida. Eu arquiteto as coisas e faço os planos, de forma a sempre ficar vulnerável. Antes era inocente, inconsciente, hoje já vejo claramente quando o faço.
Deve ser por isso que amo o mar, amo olhar o mar.
Gosto de ir à praia bem cedo ou bem tarde, as pessoas, seus barulhos e modos me irritam. Eu não quero um bronze sexy, não quero cerveja gelada, não quero um dia de sol. Só quero poder ter o mar só pra mim, só por um tempo.
Toda vez que imagino um monstro gigante e marinho, me arrepio toda, ainda hoje, no auge dos meus 18 anos. Tem uma criança curiosa e assustada saindo pela pele.

Acredito piamente em sereias, sereias que vivem em águas salgadas, e revoltas, confusas, onde não se pode confiar. Acredito tanto nela quanto em humanos, e elaboro todas as personalidades possíveis; as boas e más. Eu simplesmente acredito.
Me dissolvo em todas as possibilidades que tenho em águas profundas.
Em épocas de muito estresse, para voltar à minha forma alfa, assisto vídeos de quedas livres em abismos negros do fundo do mar; faço junto à apneia.
A onda bate e volta, toda vez que ela se vai, leva um pouco da areia dos meus pés. Eu fico sem chão, vulnerável.
Se fosse eu a elaborar meu fim, gostaria de ser compressada violentamente pela força do mar, de preferência em um encontro com o céu.
Eu seria infinita.