O Acid Jazz é uma das melhores vertentes que temos no ramo sonoro. Não é só pelo alto Q.I. jazzístico ou pelo alto índice de R&B e os densos insights de funk, o segredo das bandas que mergulham nessa linha é o equilíbrio de todas essas sonoridades e uma grande perícia na hora de mesclar tudo isso! E quando o som consegue atingir aquela acidez de PH balanceado é que a coisa pega, são poucas as bandas que consegue chegar no nível Incógnito, Jamiroquai ou The Brand New Heavies de fritação.
E se você duvida, experimente pegar um show de algum dos membros dessa trinca e se surpreenda. Em 2015 o The Brand New Heavies foi o Funk da vez. Os ingleses desembarcaram no Brasil para dois shows no Bourbon Street (e um show no Rio de Janeiro), tudo em prol de workshops para demonstrar que groove igual o do Acid Jazz não existe! E de quebra ainda fez a casa sacolejar com tudo que os presentes tinham direito: de tecladeira à sax, de trompete até percussão e tudo isso sempre com um altíssimo nível de swing e um grande êxito no quesito rebolativo.
O Brand New Heavies não é uma banda muito famosa aqui no nosso país, assim como o Acid Jazz de maneira geral, só que se aqui poucos conhecem, este que é um dos maiores e melhores sinônimos de som dançante recheado de Soul, fora daqui, a banda só é credenciada para a nata dos maiores festivais de Jazz. E como 2015 marca os 30 anos de vida dessa enterprise da música negra, nada melhor do que retornar ao Brasil, país que não carimbava o passaporta da banda desde 1995.
E como dizem os economistas: “A dívida foi paga com juros e correção”. Que performance fantástica! O Bourbon Street é uma casa que além da absurda qualidade acústica ainda apresenta um ambiente tão requintado como o som que essa e outras bandas que a casa apresenta destilam, é o nosso BMW Jazz Festival em menor escala, uma ida à Montreux dentro de São Paulo. Só que para esse evento em especial certas mudanças foram necessárias para poder deixar a casa nos trinques para este evento em especial.
Todas as mesas que ficam no centro do prédio foram retiradas e com isso a parte vazia virou uma pista, algo realmente necessário, até porque esse tipo de show não pode ser visto se você não puder demonstrar-desfilar seu rebolado no Funk. E o dia 21 de janeiro foi praticamente um feriado nesse quesito, era digno de fazer check in no facebook. Status: Sentindo o Groove.
E o tato sonoro veio das mais diversas formas. Teve muito quatro cordas na mente com Andrew Levy, riffs esfumaçados com o absurdamente Simon Bartholomew, Jazz na base com as baquetas de Jan Kincald e uma tecladeira fervorosa bem no estilo Fusion, fora a dose “Brecker Brothers” com trompeteiras e sax sobrevoando a jam… Foi um show envenenado!
Só que me desculpem os envolvidos, o destaque da noite foi a voz que tratou de dar uma nova cara ao Brand New Heavies. Falo da excelentíssima Dawn Joseph, a dona da lírica que aveludou os ouvidos de todos os presentes na quentíssima noite paulista. Temperatura ideal para fazer análises dos processos de metamorfose física que o Soul fazia conforme ia derretendo via sentimento sonoro… Puro e bruto feeling com a sensibilidade de 20 Drummonds.
Mais do que quase duas horas de fantástica música, o Brand New Heavies fez os pagantes liberarem a casa com um sorriso no rosto que não vai sair até o carnaval. A boa música, além de um alto caráter informativo e cultural, também consegue agregar algo que não se compra, tampouco se aprende: felicidade. E aí já não credito tanto ao Acid Jazz, reverenciem o próprio Brand New Heavies.
E o Bourbon Street também, afinal de contas a casa sempre surpreende seus frequentadores com shows que parecem ter surgido do fundo de uma cartola, e o público da casa é realmente diferenciado. Foi um barato ouvir as dicussões na fila sobre o set list, as críticas dos CD’s recentes… O pessoal anda exigente, mas os caras cumpriram os requisitos do James Brown, o Inmetro do Funk, com traje de gala. Um brinde aos grupos que ainda se divertem quando aparecem no palco, mais do que isso: Um brinde aos sons que fazem o mundo girar!