Em 1965 Jim Morrison já tinha fugido de casa, já tinha uma tentativa frustrada na escola de cinema e achava que não sabia cantar. Acontece que pra fazer história no rock não precisa necessariamente cantar bem, basta ser bastante original. E assim Jim Morrison foi salvo de ter sido só mais um indigente americano.
Com uma excelente visão sobre sentimentos e uma gigantesca capacidade de transpor estes sentimentos em palavras, Jim Morrison formou The Doors junto com o tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Rob Krieger e o baterista John Densmore.
O nome é profundamente inspirado na obra de Aldous Huxley, As Portas da Percepção, e da mesma forma a mensagem que a banda procurou passar, a de transgredir, de viver sem limites, sem medo do pensamento.
The Doors é The Doors por causa de Jim Morrison, não há duvida nisso. Isso pode ser notado logo na capa do primeiro disco. Um Jim Morrison protagonizado na foto com os três músicos ao fundo.
Apesar de ser o personagem principal, os coadjuvantes músicos não poderiam ter sido outros. Bateria, teclado e guitarra encontraram uma sintonia perfeita para os poemas cantados e a voz grave de Morrison.
Ray Manzarek utiliza bastante o teclado para fazer o som do baixo, instrumento inexistente nas apresentações ao vivo. Porém, algumas músicas foram gravadas com o auxílio do baixo elétrico no estúdio. E é uma linha melhor que a outra. Todas as linhas de baixo do The Doors se encaixam perfeitamente com os teclados, as guitarras, a percussão e a voz de Morrison.
The Doors foi uma banda sem baixista com ótimos baixistas de estúdio e um ótimo Ray Manzarek na chefia. Neste primeiro disco os créditos da gravação dos baixos são para Larry Knechtel.
O disco foi gravado em Hollywood, na Sunset Sound Recorders em agosto de 1966 e lançado em janeiro de 1967 pelo selo Elektra. Foi produzido por Paul A. Rothchild. O projeto gráfico é de William S. Harvey.
The Doors (1967) – Faixa a Faixa
Disponível para ouvir no Eu Escuto
1. Break On Through (To The Other Side)
As primeiras batidas do disco, meio jazz ou bossa nova, já envolvem. Logo segue um repetitivo riff que permeia por toda a música, um refrão em forma de “faça o que eu digo” (break on trough to the other side) e um característico solo de teclado de Ray Manzarek. É uma música que corresponde ao ideal da banda, de abrir as portas da percepção (Aldous Huxley seria um grande fã). Foi censurada por conter na letra a frase “she gets high”. Break on Through é uma das músicas que desperta o robô Curiosity, enviado neste ano de 2012 para Marte pela Nasa. You know the day destroys the night. Night divides the day.Tried to run, tried to hide. Break on through to the other side.
2. Soul Kitchen
O teclado inicial de Soul Kitchen é o cartão de visita dessa segunda música. A bateria é a responsável por uma mudança sutil de ritmo que segue durante a música, uma característica clara do The Doors. A guitarra de Rob Krieger complementa com sintonia os teclados de Manzarek. Let me sleep all night in your soul kitchen. Warm my mind near your gentle stove.Turn me out and I’ll wander, baby. Stumblin’ in the neon groves.
3. Crystal Ship
A hipnotizante terceira faixa Crystal Ship tem um interlúdio de teclado do cão, poesia na voz e um acompanhamento digno de uma sessão qualquer de relaxamento. Como várias músicas do The Doors, parece uma poesia adaptada, com um acompanhamento musical e com todas as metáforas dignas de Jim Morrison. Before you slip into unconsciousness I’d like to have another kiss. Another flashing chance at bliss. Another kiss. Another kiss.
4. Twentieth Century Fox
Nessa faixa aparece muito bem o jeito característico de tocar guitarra de Rob Krieger. É atordoante se ouvido sem os outros instrumentos musicais acompanhando-o. Morrison canta para uma mulher fashion e insensível. Uma alusão também à companhia de cinema e televisão, a Fox. She’s the queen of cool. And she’s the lady who waits. Since her mind left school. It never hesitates. She won’t waste time on elementary talk.
5. Alabama Song (Whisky Bar) (Bertlot Brecht, Kurt Weill)
Uma canção de 1927 com elementos de blues e foxtrot regravada pelo The Doors. A combinação com a sonoridade da banda foi de absoluto sucesso e Alabama Song até parece uma canção original do The Doors. Afinal, Jim Morrison gostava muito de um whisky. Além dos teclados, Ray Manzarek toca marxophone na música, aquele som estranho que se destaca no fim de cada frase cantada por Morrison. Well, show me the way to the next whiskey bar. Oh, don’t ask why. Oh, don’t ask why.
6. Light My Fire
Não vou falar nada. É a música mais famosa do The Doors e todo mundo reconhece o solo de teclado inicial, seja quando toca no rádio ou no songpop. Mentira, falo sim. Quem compôs a música foi Rob Krieger, apenas na guitarra. O teclado só veio a ser composto depois. Tem duas boas histórias sobre essa música. A primeira, no famoso programa de TV de Ed Sullivan. Sendo atração principal do show, Ed Sullivan pediu que o The Doors não proferisse a frase “girl, we couldn’t get much higher”, por achar inapropriado para a audiência. Todos concordaram, mas na hora Jim Morrison cantou a música sem alterar a original. A segunda história é que a música foi vendida para um comercial de TV sem o consentimento de Jim Morrison, que era integralmente contrário a esse tipo de comercialização. A atitude causou a ira de Jim Morrison que se sentiu traído pela banda e desencadeou diversas discussões internas. You know that it would be untrue. You know that I would be a liar. If I was to say to you. Girl, we couldn’t get much higher. Come on baby, light my fire.
7. Back Door Man (Willie Dixon)
Outra regravação muito bem sucedida. O clássico blues de Willie Dixon é ditado pelo ritmo do teclado de Manzarek durante toda a música. É uma versão de tirar o chapéu de uma música sem vergonha. Backdoor man significa na cultura sulista americana um homem que tem um caso com uma mulher casada enquanto o marido está no trabalho. You men eat your dinner, eat your pork and beans. I eat more chicken than any man ever seen. I’m a back door man. The men don’t know, but the little girl understand.
8. I Looked At You
Uma das mais simples músicas do The Doors. Uma letra que fala sobre sintonias, cumplicidades e semelhanças. I looked at you. You looked me. I smiled at you. You smiled at me.
9. End of the Night
Outra música de começo, meio e fim hipnotizantes. Tipico The Doors, com um teclado atordoante e uma obsessão ao falar sobre a noite. Take the highway to the end of the night. End of the night. End of the night. Take a journey to the bright midnight. End of the night. End of the night. Foi B-Side de Break On Through.
10. Take it as it comes
Apesar de simples, é uma letra que revela a personalidade de Jim Morrison, de experimentar todos os sentimentos, bons ou ruins. Time to live. Time to lie. Time to laugh. Time to die .Take it easy, baby. Take it as it comes. Don’t move too fast if you want your love to last. You’ve been movin’ much too fast. Viver o dia de hoje, sem pressa, sem preocupações com o dia seguinte, característico Morrison. Foi escrita após Morrison assistir uma palestra de Maharishi Mahesh Yogi, mundialmente conhecido como o guru dos Beatles.
11. The End
A última música é o começo do rock teatro. É um ode, uma opera, um épico. É em The End que Jim Morrison se revela. A música é cheia de significados, mas, sobretudo, fala sobre a vida e sobre a morte, e sobre tudo também. A subjeção é enorme a quantidade de interpretações possíveis é vasta, basta imaginar. Em uma apresentação em 1966 Jim Morrison foi vaiado. Com a cabeça cheia de ácido ele cantou “Father, I want to kill you. Mother, I want to fuck you”. Depois disso o The Doors foi demitido do Whisky a Go Go, tradicional club de Los Angeles onde eram os músicos residentes. This is the end, beautiful friend. This is the end, my only friend, the end. Of our elaborate plans, the end. Of everything that stands, the end. No safety or surprise, the end. I’ll never look into your eyes again. Can you picture what will be? So limitless and free? Desperately in need of some stranger’s hand in a desperate land. A música é um transe. É pra encerrar o disco e por tocar de novo, nem que seja só a The End.