O oitavo álbum do duo norte-americano The Black Keys é igual a sua capa: uma viagem! Há cerca de um mês atrás, tomei um susto ao escutar Fever, o primeiro single. Pensei que todas as músicas seriam iguais e que seria a chacota do ano, mas na primeira audição me surpreendi com Weight of Love. A primeira música seria uma amostra do que realmente viria por aí: baixo comendo solto e guitarras psicodélicas.
De antemão, já é importante ressaltar: Esqueça as guitarras de blues e a pegada visceral que marcaram o início da carreira da banda, assim como em El Camino, Turn Blue é muito mais graves e baterias dançantes, falsetes e efeitos de guitarras e teclas. A banda não voltou às raízes, mas quem voltaria após ter lançado um álbum que conquistou o mundo, quatro categorias no Grammy e etc e tal? Por isso, os Black Keys mantiveram a fórmula e, mesmo com um apelo pop, adicionaram um pouco mais de psicodelia nas composições.
Turn Blue é bem diverso, segue com as tranquilas In Time e Turn Blue até cair no single Fever, uma música tão boa quanto um culto evangélico. Por isso o clipe não poderia ter sido mais apropriado. A seguinte Year in Review, com a nítida melodia pop, também está pronta para tocar em qualquer rádio. E espero que toque mesmo. Muito.
Em Bullet in the Brain, faixa que já havia sido divulgada em uma performance ao vivo, a impressão é que uma nova balada está iniciando. Mas, após pouco mais de um minuto, o ritmo muda completamente e faz nascer uma psicodelia energizante na música. Praticamente duas músicas em uma só. Nada mal! Já uma das músicas com sonoridade mais diversa é a seguinte It’s Up To You Now. Mais uma vez, os ritmos mudam, confirmando a onda de experimentalismo que a banda está imersa.
O álbum já está na metade e em Waiting on Words quem canta não é Dan Auerbach. Na verdade é, mas não parece. Se até então os falsetes pareciam diferentes do que todos estavam acostumados, então escutem essa. É a música mais melosa do álbum, trilha de romances hollywoodianos. Chegando ao final, 10 Lovers parece que seria mais uma Fever, mas o refrão muito bem construído pegou de surpresa e transformou a música em algo audível.
Chegamos à penúltima música e algo inédito acontece. É só em In Our Prime que uma balada clássica, iniciando no piano, dá as caras no disco. Só que um minuto depois tudo muda e o que parecia estar sendo convencional te dá um tapa na cara e diz “se liga que a gente vai continuar experimentando até o fim”. E redescobrimos que Dan Auerbach curte o Hendrix no fim da música.
A música que encerra Turn Blue é, por incrível que pareça, a primeira que inicia com um riff de guitarra e remete aos anos antigos dos Black Keys, apesar de soar bem mais pop do que blues. Essa demora para uma música desse calibre prova o já dito no início do texto, a banda realmente mudou e não parece estar disposta a voltar atrás. Um pouco disso é em virtude do produtor Danger Mouse, que está com a banda desde Attack & Release (2008). O produtor assina a co-produção e a co-autoria das canções junto a Dan Auerbach e Patrick Carney, além de tocar teclas em todas elas.

Turn Blue é um bom disco, riquíssimo em detalhes, solos psicodélicos, mudanças de andamento, timbres experimentais, falsetes e uma produção caprichada. Imagino que pra quem acompanha a banda desde a década passada e esteja mais enraizado no blues esse possa ser considerado o pior álbum da banda. Mas isso só acontece porque a discografia da banda é foda. Olhando pelo lado otimista, qual banda possui o luxo de seu pior álbum ser um bom álbum? São poucas…
Pra finalizar, é bem verdade que fica difícil comparar duas sonoridades tão distintas. A galera que é muito menos blues e muito mais indie-pop-experimental-pista-de-dança estará ouvindo Turn Blue sem cansar. Mas se esse álbum superou El Camino? Não, definitivamente não.
O álbum está disponível para audição no iTunes e no Eu Escuto. Não perca tempo que vale a pena!

Lista das Faixas:
1. Weight Of Love
2. In Time
3. Turn Blue
4. Fever
5. Year In Review
6. Bullet In The Brain
7. It’s Up To You Now
8. Waiting On Words
9. 10 Lovers
10. In Our Prime
11. Gotta Get Away