Cachorro Grande’s Garage – Act I, II & III

São Paulo segue um ritmo frenético em tudo, absolutamente tudo. Vai desde o momento que trabalhadores atrasados começam a correr no meio da rua para não chegar no escritório depois do chefe até o ambulante, que fica ligeiro prestando atenção se o rappa não apareceu.

São muitas coisas, e muitas coisas inclusive ao mesmo tempo, no mesmo dia, e às vezes até na mesma hora, assim tem sido o calendário de shows da terra da garoa. Aliás, está na hora de mudar esse apelido, ultimamente não bate nem vento nessas bandas, mas enfim.

Enquanto a loucura cotidiana toma ares cada vez mais épicos, muitas bandas seguem em Tour pelo país, sejam elas nacionais ou internacionais. A semana toma curso para todos e enquanto somos bombardeados por informações vale a pena ligar o Bluetooth mental e ver o que rola de distração.

Cachorro Grande - Sesc Pompeia

E a minha distração do mês foi a Cachorro Grande. Este ano, meu mês no outubro foi arquitetado em função da tão aguardada Tour pela Costa do Marfim de São Paulo. E o que era para ser apenas um show isolado acabou virando matéria. Três eventos grandiosos, que assim como o “Joe’s Garage” do grande mito Frank Zappa, ídolo mor de Beto Bruno, foi dividido em três atos… Coincidência? Acho que não.

Joe's-Garage---Frank-Zappa

O primeiro ato se deu no Ozzie Pub, dia 14 de outubro, em plena terça-feira, pocket show nervoso com direito até a ES-335, lembrando os mestres Alvin Lee e Chuck Berry, mas foi só o aperitivo, a imprensa paulista teve o privilégio de ver isso antes de todos, mas comparar o pocket com o estrago das duas noites de Sesc Pompéia é sacanagem…

Ozzie Pub (14/10/14) Foto: Leonardo Marmitt / Selo 180
Ozzie Pub (14/10/14)
Foto: Leonardo Marmitt / Selo 180

Sexta-feira chegou e com ela a Choperia do bairro mais Rock ‘N’ Roll de São Paulo começou a trabalhar. Foi em mais uma noite de calor causticante que o quinteto apertou start para começar a tour oficialmente e banhar o fino do Rock Psicodélico com uma camada caprichada de cerveja.

Foram dois atos na grandiosa Pompéia, onde o ato dois e três foram epicamente similares. A platéia lotou na sexta, e muitos não satisfeitos com o primeiro estrago resolveram fazer a dobradinha. Juntando os dois shows tivemos cerca de quatro horas de ótima música e um set list que dialogou com os dois tipos de fã que a banda possui:

1) O fanático pela fase British Blues de sempre.
2) O novo fã de Psych.

Cachorro Grande Sesc Pompeia (3)
Sesc Pompéia (17/10/14)
Foto: Tessalia Serighelli / Facebook.com/CGOficial

A atenção estava claramente voltada para a execução do Costa do Marfim, mas é claro que os velhos sucessos não poderiam faltar, e com essa nova faceta acho que reencarnar os sons old schools foi ainda mais prazeroso para a banda, a atmosfera enérgica e revitalizada do show do Ozzie Pub se manteve nessas duas grandes apresentações, perante a plateia que vive onde não existe amor, já diria Criolo.

Mas se por um lado o amor está em falta, o Rock ‘N’ Roll vai muito bem, obrigado. O som estava bem limpo e cristalino, o peso possuía muita definição, e mais uma vez a parte de iluminação foi um dos grandes fatores que temperaram a viagem mais lúdica e sensorial que é este novo disco da banda.

Cachorro Grande Sesc Pompeia (5)
Sesc Pompéia (17/10/14)
Foto: Tessalia Serighelli / Facebook.com/CGOficial

A energia central de ver um show dos gaúchos é a mesma de sempre, Beto levou um cálice para o Ozzie, mas nas duas noites de Raul (Pompéia) teve que carregar um litrão para o palco, Azambuja teve que tocar de forma cirúrgica novamente, em prol do swing o quatro cordas do Rodolfo Krieger trouxe toda a densidade necessária, fora a apelativa Les Paul do Marcelo Gross e os teclados meio Jazz de Pedro Pelotas.

Foram três shows excelentes e mais um trecho do quão bom este ano está sendo para a banda. No fim do espetáculo Beto foi elementar ao dizer para a platéia: “É por causa de vocês que nós podemos tocar Rock ‘N’ Roll”. Teve até Mutantes, e Cachorro Grande… Sinceramente, volte sempre!