O quadrinista Jason tem este estilo de por cabeças de animais nos personagens.
Jon, o protagonista, é um cachorro, seu melhor amigo, Bjorn, é um coelho. Eles passam a infância numa pacata cidade do interior. Empinam pipa, jogam bola, colhem amoras, jogam pedras no rio, desenham. Se entediam, dão gargalhadas.
Concordam que Neal Adams é o melhor artista que já desenhou o Batman. Aliás, decidem fundar um fã-clube sobre Batman.
Para ser membro do clube era preciso passar por um teste: se balançar num galho que ficava na beira de uma serra. A queda podia ser fatal. Por isso só os melhores fariam parte do clube.
Não se engane, essa não é uma revista de super-herói, e sim uma graphic novel, uma história em quadrinhos com temática adulta e reflexiva.
Voltando, Jon conseguiu.
Bjorn não.
Jon vai ao enterro de Bjorn… O que encerra a primeira parte.
A segunda consiste na vida de Jon adulto, operando uma broca num emprego chato na fábrica da cidade – justamente o que Bjorn não planejava para o seu futuro: ele queria ser jornalista e, ao invés de gastar seu dinheiro com mobília e quadros, viajar pelo mundo.
Hey, wait… (Ei, espere…), ainda inédito no Brasil, na verdade é de 2001, mas são pouquíssimos sites em português que sequer citam a obra, uma das mais dramáticas de Jason, nome artístico do norueguês John Arne Sæterøy. Eu mesmo o conheci há poucos anos, e só recentemente li seus outros livros.
Esse em especial foi considerado pela Time.com como a melhor HQ daquele ano, mas só foi lançado 10 anos depois em língua inglesa, primeiro trabalho do autor, aliás, a sair nesse idioma, o que colaborou para divulgar sua obra. Ainda mais depois das indicações ao Oscar dos quadrinhos, o Eisner Award.
Ele também tem várias recomendações incríveis das mais variadas editoras e críticos, que inclusive chegam a comparar sua… carga poética com Kafka, Keats, Withman e Emily Dickinson. Mas não é nada disso, acho que a melhor recomendação possível desse livro é a do aintitcool.com:
“o trabalho de Jason irá atormentá-lo muito após tê-lo deixa-lo de lado”
Primeira obra do autor, Hey, wait… é uma grande oportunidade para conhecer esse artista que faz um uso excepcional da repetição de quadros, montando painéis com praticamente os mesmos quadros – sem nenhum balão de fala – só para demonstrar desconforto ou marasmo.
Mais que isso, é um retrato com pouquíssimos traços e muita economia de palavras pra tratar de temas humanos e urgentes como trabalho, solidão e sentido da vida.
PS: no fim das contas ele tem uma ligação com os quadrinhos de super-heróis mesmo.
Em 2009 a Marvel convidou artistas indie para ilustrar seus personagens no que ficou conhecido como Strange Tales. Nessa inusitada antologia está Jason assinando Espetacular Homem-Aranha: