A música possui grupos étnicos bastante diversos. Os conceitos mudam em virtude da localização geográfica, posição dos ventos, influências e conceitos ideológicos. No final das contas é tudo música, mas a amplitude dos sons é diferente, cada banda consome uma energia e reverbera eletrizantes ideias para a plateia, mas quando o show recebe dois conceitos diferentes é que conseguimos entender a força da cena e sua riqueza de possibilidades.
Quem esteve presente no Citibank Hall no dia 11/07 conseguiu captar esse combo de sentimentos quando o Nação Zumbi fez a dobradinha com o Raimundos. Foi interessantíssimo ver duas bandas da mesma cena, com sonoridades tão diferentes, amigos de music business, trabalhando e levando tribos tão diversas para o mesmo pico.
Abrindo os trabalhos com o Nação Zumbi, o palco do Citibank recebeu uma das bandas de maior integridade fonográfica com bastante calor. O show foi nos padrões fifa dos Zumbis do mangue, o instrumental estava tinindo, a percussão em especial estava batendo no peito e a guitarra do Lúcio tocou fácil fácil.
Com um som de primeiríssima, fortes indagações por parte de Jorde Du Peixe e faixas que intercalaram clássicos da era Manguetown, diversos versos da era Du Peixe, temas do disco mais recente da banda (”Nação Zumbi” lançado em 2014), os astutos sobreviventes dos ataques aéreos de rios, pontes & overdrives, e fizeram um show nos trinques.
A questão de passar um ideal sobre o Brasil, ainda mais numa época onde o país está mais perdido que soldado sem bandeira, é uma expressão de paixão que demonstra como a banda toca em busca de um significado. O coletivo prega-e-busca a funcionalidade ideológica como revolução de maracatu e mudanças atômicas na sociedade, simbolizadas no Citibank Hall com uma apresentação de 90 minutos em prol da revolução do futuro.
Depois de uma palestra sobre os poderes do homem coletivo, a transição levou o Raimundos para o palco e a muqueta foi violenta. Foi interessante ver a banda com tudo e apostando no equilíbrio entre os clássicos da era do vocalista Gospel e do competente ”Cantigas de Roda”.
A banda estava bastante azeitada, mas o termômetro do show era o front man do manifesto, Digão e seu imparável fraseado bipolar na guitarra. A vitalidade dos caras no palco foi impressionante, chegou num momento do show que parecia que nem tinha mais música pra tocar, rolou de tudo, de Ramones à Nirvana.
Um show casca grossa pra dizer o mínimo, os riffs entravam um atrás do outro, o bate cabeça parecia um culto satânico e o entusiamo das linhas de baixo do Canisso eram de uma força magnética. Foi veloz, pesado, impactante e foi um relato de um grupo que renasceu após um bom disco, provando a força de novas composições e efetuando um pagamento com juros e correção para um grupo que não para de cruzar e descruzar o mapa nacional.
Os caras estão na cena faz uma era e o brilho do underground não se perde, aliás as duas bandas que povoaram a noite são exemplares neste quesito, ambas instituições sonoras valorizam o encontro e depois que o caranguejo entrou com o Nação Zumbi, o Raimundos bem que tentou amolecer o crustáceo, mas o público ficou firme até a última ponta, no oco dos infernos. Boa iniciativa da casa, fazer dobradinhas nesse nível é o que oxigena a movimentação do som, foi lindo, minha joia.