Vamos mudar!

O que te faz especial? O que te faz uma boa pessoa?

E você é uma pessoa boa e especial por quais parâmetros?
Pelos parâmetros religiosos? Pelos parâmetros hollywoodianos? Pela sociedade machista? Pela feminista? Pela sociedade branca que minimiza a negra? Pela negra que minimiza a branca? Pela homofóbica que condena homossexualismo? Ou quem sabe pela homossexual que condena a homofobia?

A que comunidade que condena a outra você pertence?
Nós não temos preconceitos, exceto aqueles que se escondem no fundo do seu coração.

Aonde está escondido o sentimento de propósito, que te faz sentir que a vida faz sentido?
Deus é o sentido. Enriquecer é o sentido. Ser feliz é o sentido. Procriar como espécie é o sentido. Atrair o sexo oposto é o sentido. Atrair o mesmo sexo é o sentido. Atrair ambos o sexo é o sentido.

Seria esse o sentimento que te faz especial?
Seguir um deus? Da riqueza, da beleza, da felicidade.
Ser reconhecido como atraente? Fisicamente, intelectualmente e demais entes?

Mudar o mundo, mudar a sociedade, mudar o pensamento, mudar o preconceito.
Mudar, mudar, mudar, mudar, mudar.
Vamos mudar tudo!
De um preconceito para outro que nos parece menos preconceituoso, porque o que está errado é esse preconceito e não aquele.
Vamos mudar o mundo!
Porque os preconceitos do mundo são ruins! Eles atrasam o mundo!
Vamos mudar!

Só não vamos mudar nós mesmos antes de querer mudar tudo, porque isso é difícil.

Celebration Day. Capítulo: Kashmir

Foto: Ross Halfin

Quando o Led Zeppelin anunciou que faria uma única apresentação, dia 10 de dezembro de 2007, 27 anos após a separação, milhares de fãs brilharam os olhos para a oportunidade de ver os remanescentes Plant, Page e Jones, junto com o filho do monstruoso Bonham, Jason Bonham, na bateria. Não só fãs ingleses, mas pessoas de outros países embarcaram rumo a Londres para ver o Zeppelin no palco do O2 Arena. Quem não foi manteve as esperanças de uma nova apresentação e uma possível turnê dos Zeppelins. Em vão, pois a possibilidade logo foi desmentida por Robert Plant, que inclusive excursionou à frente de sua nova banda, The Sensational Space Shifters, pelo Brasil no mês de outubro.

Assim como Jimi Hendrix no Woodstock e Bob Dylan no Royal Albert Hall, o Led Zeppelin fez um show antológico. E um bom show antológico merece uma gravação. Foi assim que Led Zeppelin gravou, apresentou no cinema e lançará em DVD e Blu-ray no dia 19 de novembro o concerto na íntegra da noite de 10 de dezembro de 2007. Intitulado Celebration Day, o registro foi dirigido por Dick Carruthers, conhecido diretor de shows e documentários, com The Who, White Stripes, Oasis, The Killers e Paul McCartney no currículo. Enquanto o DVD/Blu-ray ainda não é lançado, o Led Zeppelin cordialmente disponibilizou no youtube uma amostra da grande apresentação: Kashmir na íntegra.

Atualização: O Led Zeppelin também disponibilizou Black Dog. Assista aqui.

Músicas de Celebration Day

1- Good Times, Bad Times
2- Ramble On
3- Black Dog
4- In My Time Of Dying
5- For Your Life
6- Trampled Underfoot
7- Nobody’s Fault But Mine
8- No Quarter
9- Since I’ve Been Lovin’ You
10- Dazed And Confused
11- Stairway To Heaven
12- The Song Remains the Same
13- Misty Mountain Hop
14- Kashmir
15- Whole Lotta Love
16- Rock And Roll

Pré-venda em http://www.ledzeppelin.com/buy/

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Fantasmas de Rua

12 Cheshire Str., Londres
26 Lychener Straße, Berlim

Há uns dias atrás aqui na internet um amigo postou no Facebook uma imagem do Google Street View. Não era uma imagem qualquer, dessas que olhamos aleatoriamente. Era uma imagem com o Nunes no fundo. O Nunes, para quem não conhece, é uma lenda. Conheci o figura quando fui estagiário do jornal O Nacional, de Passo Fundo. O Nunes era diagramador do jornal e tinha mais anos de trabalho no jornal do que eu de vida. Curioso é que o Google Street View capturou uma imagem que caracterizava muito o Nunes, com uma sacolinha de mercado em uma mão e um cigarro em outra, como se tivesse esperando o momento certo: “Vamos fotografar as pessoas nas ruas quando elas estiverem demonstrando características próprias”, deve imaginar o motorista do Google-Car.

Esse é o Nunes. Agradecimento a Pablo Tavares por ter disseminado este achado.

Uma máxima é imortal: “Uma vez na internet, sempre na internet”. A Cicarelli e a Xuxa tentaram, mas seus vídeos continuam sendo vistos por internautas, tarados e curiosos do mundo inteiro. O mesmo caso acontece em fotos, principalmente se estão indexadas no Google. Dizem que se não está no Google é porque não existe. (Após esse pensamento fui conferir se eu estava lá e acabei de perceber que, de fato, eu existo).

Bom, e se você estivesse no Google Street View e tivesse sua imagem reproduzida em outro meio, se sentiria com a privacidade violada? Não falo aqui de jornal ou qualquer outro órgão de imprensa, mas de um projeto intitulado Street Ghosts.

O autor da ideia, o italiano Paolo Cirio, utiliza sua capacidade artística para fundir o mundo virtual no mundo real. Pessoas das cidades de Londres, Nova York e Berlim que foram capturadas pelo Google Street View estão sendo permanentemente fixadas no mesmo local aonde foram vistas. Como? O artista está sequestrando as pessoas e prendendo elas na rua? Não, ele está imprimindo em alta escala a imagem dessas pessoas e fixando-as em muros, paredes e demais estruturas disponíveis para uma intervenção artística.

As imagens coladas nas paredes não são de alta resolução, nem mostram traçados finos e detalhistas, mas um aspecto borrado, espectral como sugere o nome do projeto. De acordo com Cirio, “revelando suas presenças como uma sombra digital assombrando o mundo real”.

Sem autorização das pessoas, Paolo não se importa nem um pouco se o que faz é ilegal ou não, basta olhar seu currículo. Já roubou ebooks da Amazon e redistribuiu na internet de graça. Fez um site onde divulgou erroneamente famosas citações de personalidades históricas, mudando as frases ou os seus autores (Possivelmente um grande responsável pelos equívocos de internautas menos instruídos, que usam as redes sociais para postar frases que não são de autoria de quem pensam que são. Exemplo: Caio Fernando Abreu e Bob Marley). Utilizou um milhão de fotos de perfis no facebook para a criação de uma nova rede social, a lovely-faces.com. Estes e outros “feitos” de Paolo, descritos orgulhosamente em seu site oficial, mostram que o artista utiliza sem autorização, pudor, escrúpulo e moderação tudo o que está na rede.

No caso do Street Ghosts, Paolo defende-se. Em seu site diz que simplesmente reúne informações disseminadas pelo Google e as transporta para as ruas como manifestação artística. O autor critica o Google dizendo que a empresa não pediu permissão para mapear e fotografar as cidades e nem pagou nada por isso. A crítica maior é o fato de o Google faturar com o Street View, arrecadando, por meio de anúncios, bilhões de dólares que sequer são tributados. “É um tipo de exploração feita por um enorme parasita social que nos revende o que foi criado coletivamente pela atividade e pelo dinheiro das pessoas”.

Na visão de Paolo, seu projeto confronta o público, mostrando dados estéticos que o participante nem imaginava existir, ou seja, a utilização de sua imagem em um projeto não só sem sua autorização, mas sem seu conhecimento. Dessa forma, justifica o intuito de mostrar “sua própria imagem aparecendo como escravo fantasmagórico preso para sempre em um mundo digital”.

Até então, Paolo colou 30 cartazes nas cidades de Berlim, Londres e Nova York. Mas deixou um recado: “Mantenha seus olhos abertos! O Street Ghosts não terminou e pode aparecer em breve em sua cidade – talvez com o seu fantasma”. Te cuida, Nunes!

Ebor Street, Londres
Dircksenstraßee – Rochstraße, Berlim
214 Lafayette Street, Nova York
80 East Houston Street, Nova York
12 Cheshire Str., Londres

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Melancolia (2011)

Um dos melhores filmes do diretor Lars Von Trier, Melancolia trata do afastamento e reaproximação das irmãs Justine (Kirsten Dunst) e Claire (Charlotte Gainsbourg), tendo de pano de fundo a aproximação de um planeta em rota de colisão com a Terra. Ambas reagem à notícia de forma diferente. Enquanto Claire entra em pânico com a colisão dos planetas, e tenta insistentemente encontrar uma forma de evitar a morte da família, Justine se conforma com o acontecimento e aguarda tranquilamente o impacto.

Lars Von Trier, na minha humilde opinião, é o diretor (homem) que criou as melhores personagens mulheres do cinema. A profundidade e complexidade da relação entre as duas irmãs prende o espectador, e surpreende com passagens inesperadas de Justine buscando uma forma de relação com o planeta que está se aproximando. Destaque para a fotografia lindamente melancólica.

Título Original: Melancholia

Diretor: Lars Von Trier

Trailer:

Três Ponteiros

O hoje, o amanhã, o ontem, o depois de ontem, o antes do hoje.
O passado traz rostos novos, o futuro aguarda com rostos velhos e gastos.

A criança no espelho te julga:
“O que você fez comigo?!”.
O velho no espelho lhe implora:
“Que fazes tu com a minha pessoa?! Pare! Por favor…”.

O passado lhe persegue com contas a serem pagas, o futuro lhe foge com um sorriso no rosto e provocações infantis…
O presente te olha desamparado, no canto da sala, suplicante por soluções…
O passado exige soluções e prestação de contas. O presente exige ser reconhecido.
O futuro exige respostas para suas perguntas.
Três amantes exigentes.

A linda que passou e deixou bonitas lembranças, cuja maioria existiu apenas na memória.
A divertidíssima com quem você planeja maravilhas que nunca irá fazer.
A negligenciada que sempre ali está.
Esquecida, desamparada, sem atenção

Três amores amados por diferentes razões.
Três amores que requerem a mesma atenção.
Mas como nos filmes clichês, aquela negligenciada, que recebe a menor atenção, é o amor da sua vida. E como na vida real, o único amor que importa, sempre é o que menos recebe atenção.

O relógio corre em três direções diferentes.
Te perseguindo, fugindo de você, e te acompanhando…
São três belezas, três amores, três ponteiros.

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Perdi a comanda, e agora?

consumidorfeat

Você entra em um bar com seus amigos, recebe a comanda do local e percebe que nela está descrito: “a perda desta comanda implicará em multa no valor de R$ 200,00”. Então você guarda-a. Consome o equivalente a 40 reais e quando chega no caixa percebe que sua comanda sumiu. Caso isso acontece, fique calmo e não deixe o desespero bater. Você só tem a obrigação de pagar o que consumiu e não excedentes. Essa fixação de multa é entendida como uma forma de intimidar o consumidor.

Esta prática, utilizada por alguns comerciantes, é considerada abusiva de acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC). O valor cobrado é, em alguns casos, muito superior ao que um consumidor normalmente gastaria. Por isso, a ilegalidade da multa.

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

(…)

V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;”

Rogerio Silva, coordenador do Balcão do Consumidor da Universidade de Passo Fundo, entende que cabe ao fornecedor ter formas de marcar e apresentar uma maneira clara ao cliente o quanto ele consumiu. Ou seja, o responsável pelo consumo tem que ser, de qualquer maneira, o estabelecimento, e não quem consome. As comandas são apenas guias para o consumidor ter o seu próprio controle e saber o quanto está consumindo.

 “Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

(…)

IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;”

Há dois lados da moeda sobre essa política da boa-fé, discriminada no artigo 51 do CDC. Ela deve ser equilibrada e não pender apenas para o lado do consumidor. Rogério Silva fala: “O consumidor também não pode se usufruir disso, tem que chegar a um consenso. Tem pessoas que perdem a comanda de forma proposital, tem pessoas que extraviam a comanda justamente para não pagar. Aqui tem uma relação de boa-fé entre consumidor e fornecedor”.

Provavelmente seja o mais difícil. O CDC tem como intuito proteger o consumidor das práticas abusivas que os comerciantes implementam e não o de oferecer estratagemas para o bem pessoal. Acima da lei, está a idoneidade e a honestidade. E isso, querendo ou não, é o mais difícil de ser mensurado.

Caso o fornecedor alegue que o consumidor esteja querendo pagar menos do que ele realmente consumiu, cabe ao estabelecimento provar isso. “A responsabilidade é do fornecedor, por isso ele tem que ter um outro espaço para marcar o consumo”, responde Rogerio Silva. Por outro lado, caso haja intransigência da parte do fornecedor: “O consumidor deve fazer uma denúncia ao órgão de proteção do consumidor ou mesmo fazer um boletim de ocorrência policial. Fazer a reclamação no Procon ou no Balcão do Consumidor para que seja aberta o processo administrativo”, explica. O processo administrativo definirá, se comprovada a ilegalidade, o valor da multa ao estabelecimento e do ressarcimento ao consumidor.

 “Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:

Pena: Detenção de três meses a um ano e multa.”

 

 Um pequeno parêntese: Sobre a consumação mínima no Rio Grande do Sul

“Isso também é ilegal, porque estão te forçando a consumir mais. E algumas pessoas, para não perderem o que gastaram, acabam consumindo mais”, explica Rogerio Silva.

Há dois casos. Primeiro é o ingresso com o valor da consumação embutido. Acontece quando o valor da entrada é revertido em consumação para o cliente. Os bares e casas noturnas têm o direito de cobrarem pela entrada. Reverter este valor para o consumo do cliente não se enquadra em ilegalidade.

Já o segundo caso acontece quando há duas cobranças, a de um ingresso (conhecido como ingresso morto) e de uma consumação mínima. (Exemplo: 20 reais de entrada e 20 reais de consumação). Este caso é ilegal. O consumidor não pode ser obrigado a consumir mais do que deseja e, da mesma forma, não pode ser cobrado por algo que não consumiu. Está discriminado na Lei 12.493 de 2006:

 “Art. 1° – Fica proibida a cobrança da consumação mínima nos bares, boates e congêneres em todo o Estado do Rio Grande do Sul.”

 

 O Ideal

A prerrogativa do estabelecimento de alegar que é impossível ter o controle sobre o consumo de um número elevado de clientes cai por terra. Há tecnologia para isso por meio de sistemas eletrônicos, que possuem a facilidade de gravar os pedidos dos consumidores. Caso não haja poder financeiro para o estabelecimento implantar a tecnologia, há outra solução: a venda por meio de fichas.

Portanto, nunca, de maneira alguma, o cliente deve deixar que o estabelecimento o cobre por algo que não foi consumido. A responsabilidade, como descrita acima, é inteiramente do local e não do cliente.

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“Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.”

“Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.”

A (hipotética) entrevista a seguir foi concedida  por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerado o principal líder da organização Primeiro Comando da Capital (PCC). O texto é do jornalista Arnaldo Jabor para o jornal O Globo.

Editoria: Segundo Caderno

Coluna: Arnaldo Jabor

Edição: 1, Página: 8

terça-feira, 23 de maio de 2006

O GLOBO: Você é do PCC?

– Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas… Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão…

O GLOBO: – Mas… a solução seria…

– Solução? Não há mais solução, cara… A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.

O GLOBO: – Você não têm medo de morrer?

– Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba… Estamos no centro do Insolúvel, mesmo… Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração… A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala… Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em “seja marginal, seja herói”? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha… Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante… mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem.Vocês não ouvem as gravações feitas “com autorização da Justiça”? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.

O GLOBO: – O que mudou nas periferias?

– Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório… Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no “microondas”… ha, ha… Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

O GLOBO: – Mas o que devemos fazer?

– Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas… O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, “Sobre a guerra”. Não há perspectiva de êxito… Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas… A gente já tem até foguete anti-tanques… Se bobear, vão rolar uns Stingers aí… Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas… Aliás, a gente acaba arranjando também “umazinha”, daquelas bombas sujas mesmo. Já pensou? Ipanema radioativa?

O GLOBO: – Mas… não haveria solução?

– Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a “normalidade”. Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco…na boa… na moral… Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês… não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate!” Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.

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Rubem Braga – Homenagem ao Sr. Bezerra

Quantas vezes tentei olhar pela janela de meu apartamento e nada encontrei além de mais janelas. Já tentei, assim como James Stewart em Janela Indiscreta, olhar os vizinhos e encontrar algo de interessante. Nunca encontrei. Acharia muito mais válido poder enxergar o sol plenamente. Onde vivo o enxergo, com alguns obstáculos, quando nasce. Porém não o enxergo quando se põe. Tem noites que vejo as pessoas da minha timeline do facebook ou do twitter dizendo que a lua está linda, ou que está enorme, ou que está amarela, ou o que for. Algumas horas da noite eu não enxergo aonde está a lua, pois há concreto em minha frente.

Essa crônica de Rubem Braga, encontrada no livro Ai de ti, Copabacana, fala exatamente sobre isso. A visão que as novas construções nos roubam. Se você mora em um corredor de edifícios, pode ser que se identifique com o texto abaixo.

Homenagem ao Sr. Bezerra

O Incorporoador é um Sr. Bezerra. Não chega a ser um bonito nome, é verdade, mas para mim é simpático, pois conheci vários cidadãos agradáveis com esse nome, quase todos do Nordeste, especialmente do Rio Grande do Norte – os Bezerra Dantas, por exemplo. A idéia fundamental do Sr. Bezerra parece ter sido esta: tirar a minha vista do mar. Imagino que o Sr. Bezerra seja meu leitor e notou que muitas vezes começo minhas crônicas falando do mar que vejo de minha varanda; é verde aqui, azul ali, nordeste semeando espumas, o raivoso e frio sudoeste, e barcos passando, e o farol da ilha e não sei mais o que – e o Sr. Bezerra se encheu. Imaginou então construir um edifício bastante largo e alto para me tapar a paisagem e o assunto. Deve ter gasto um bom dinheiro para prestar esse grande serviço às letras nacionais, pois na esquina da praia havia uma sólida casa revestida de pedras e rodeada de um parque. Uma grande equipe de trabalhadores desmantelou a casa e cortou as árvores, inclusive um belo pé de magnólia e um casal de pinheiros que há muitos anos faziam parte de minha paisagem. Sim, era alguma coisa minha que eles estavam derrubando – mas o advogado me disse que a lei não reconhece esse direito de propriedade visual e sentimental.

Erguido um grande tapume – onde seu nome brilha em uma tabuleta na qualidade de incorporardor – o Sr. Bezerra mandou fazer um imenso buraco, cavando a terra e a areia, para as fundações. Depois não sei o que aconteceu, com certeza alguma dificuldade de financiamento; sei que os operários se foram, ficando apenas um melancólico vigia, cuja função é olhar com tristeza aquele buraco.

Toda manhã, quando vou à praia, vejo o nome do Sr. Bezerra na tabuleta – e fico a imaginar com certa delícia que deve ser um senhor de meia-idade, muito bem-falante e de sotaque potiguar, que prometeu entregar o edifício prontinho em tantos meses e agora coça a cabeça e dá desculpas, falando em Banco, na Caixa, no Instituto, que faltam certas formalidades, houve dificuldades imprevisíveis, de qualquer modo ele desejava evitar um reajustamento, aliás acredita que, no mês próximo, as obras poderão ser reiniciadas, o senhor compreende a culpa é dessa política estúpida do governo, etc., etc..

Dois outros edifícios iniciados muito antes já estão quase prontos, mas o prédio do Sr. Bezerra é apenas um sonho pairando sobre um buraco. À medida que as outras obras progridem, o Sr. Bezerra deve coçar a cabeça com mais raiva, o que estimo sinceramente. Há casos de obras que ficam paradas anos e anos, e esse pensamento me parece encantador. É verdade que no caso do Sr. Bezerra ainda não se pode falar propriamente em obras, mas em desobras, pois ele não fez nada, só desfez. Talvez o Sr. Bezerra passe à história como um emérito construtor de buracos, título a que vários estadistas nossos fazem jus.

Enfim, enquanto o Sr. Bezerra estiver mal, tudo irá bem. Ele me roubou as árvores, mas me deixou um pedaço de mar com brisa e ondas. Os cavalheiros que entraram com o dinheiro adiantado para ter um apartamento devem estar com raiva do Sr. Bezerra; eu, entretanto, desejo de todo coração ao Sr. Bezerra uma excelente saúde, muitas alegrias, bons vinhos e boas mulheres – e um encalacramento financeiro prolongado e sutil, que entretenha com fúteis esperanças, anos a fio, o coração dos ex-futuros condôminos.

Um encalacramento que se prolongue através dos tempos e se torne tão crônico e dramático que acabará comovendo a todos, e só terminará no dia em que o Sr. Bezerra for enterrado (homenagem especial) no buraco enorme que ele abriu ali na esquina.

 Rio, maio, 1958.

 

Rubem Braga. Ai de Ti, Copacabana. Editora Record, 1996. 14ª edição.

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Antes do Photoshop

Dream No. 1: Electrical Appliances for the Home, 1948
Autor: Grete Stern

Nunca foi fácil editar fotos como hoje. Não falo aqui em modificação de cor, brilho ou contraste, mas de manipular mesmo a imagem. Essa introdução é totalmente redundante, até quem nunca usou um photoshop sabe para o que serve, nem que seja após ter ouvido alguém falar que a capa da playboy foi feita com o auxílio do programa. “É tudo photoshop, não é lisinho que nem na revista”. Mesmo com essa facilidade toda, pasmem, encontrei na vida acadêmica do curso de comunicação muitas pessoas que achavam o programa “complicado demais”. Pois apresento agora o verdadeiro “complicado demais”.

A manipulação de imagens não é algo pós-photoshop. De fato, o programa da Adobe foi responsável direto no que se refere à imagem durante a revolução tecnológica. Entretanto, a Adobe não inventou a edição de imagens, apenas criou um facilitador para isso. A edição de fotos existe desde o século XIX. Manualmente, as fotos eram modificadas usando combinações de técnicas criativas, como exposição múltipla, pintura e combinações de negativos, entre outras técnicas manuais demoradas.

Muito comum em campanhas políticas contemporâneas é a multiplicação de pessoas durante as carreatas. A possibilidade de manipular imagens e, consequentemente, a opinião pública sempre seduziu a política mundial e o responsável por esse artifício não é, de maneira alguma, o photoshop, mas a mente humana.

A qualidade das fotos antigas, muito inferiores às digitais de hoje, é o principal empecilho aos peritos que analisam a veracidade de uma foto histórica. Não tem como saber ao certo se uma possível discrepância é proposital ou resultado de uma câmera danificada ou outros fatores, climáticos ou temporais.

Politicamente, vou citar dois exemplos. Caso queira saber só sobre fotos artísticas, pule para o fim deste texto. O primeiro exemplo é do líder soviético Josef Stalin (1879-1953), soberano no governo da União Soviética entre 1922 e 1953. Sucessor de Vladimir Lenin (1870-1934), Stalin tratou de apagar da história o seu maior rival, Leon Trótski (1879-1940). Além de ser mandante do assassinato de Trótski, o governo stalinista manipulou diversas fotos históricas em que o fundador do exército vermelho aparecia. Durante o governo de Stalin, Tróstki foi sumindo das fotos oficiais. E sem photoshop.

Fotografia original: Lenin, em 1920, discursando aos soldados que vão combater a Polônia. Ao seu lado, Trótski.
Foto modificada, sem Trótski.
Foto original: Celebração do segundo aniversário da Revolução de Outubro, 1919.
Foto modificada: Trótski, Lev Kamenev e Khalatov foram retirados da imagem.

Segundo exemplo (este mais clássico): O homem foi à lua. Se não de verdade, em estúdio. A teoria da conspiração defende com unhas e dentes que as fotos registradas foram na verdade manipuladas em um estúdio de cinema, sob a supervisão do cineasta Stanley Kubrick, que um ano antes da (suposta) ida do homem à lua dirigiu o filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço. A alegação é de que essa foi uma maneira rápida e inteligente de ultrapassar a União Soviética na corrida espacial durante a Guerra Fria.

Fonte da foto e da descrição: http://www.afraudedoseculo.com.br/
1 – A sombra da antena parabólica está para um lado, a do astronauta para outro e a da bandeira para outro!
2 – A bandeira deveria estar totalmente caída no mastro, devido à ausência de vento na Lua.
3 – Há diversas penumbras na foto, que não deveriam existir num ambiente sem atmosfera.
4 – Há pegadas por toda a parte, que não deveriam existir num ambiente sem umidade.
5 – Não há estrelas no céu, que deveriam estar mais nítidas na Lua.
6 – No chão, embaixo do Módulo Lunar, não há indícios dele ter pousado ali.
7 – Um astronauta nunca pousaria uma espaçonave bem ao lado de uma cratera!

Mudando de Assunto

Não é o meu caso, mas quem estiver em Nova York até dia 27 de janeiro pode conferir a exposição Faking It: Manipulated Photography Before Photoshop (Falsificando: a manipulação da fotografia antes do Photoshop), promovida pela própria Adobe. São 200 fotografias expostas no Metropolitan Museum of Art que foram editadas manualmente. Diferentes das fotos acima, estas são fotos artísticas, feitas para propositalmente parecerem surreais, absurdas, engraçadas e modificadas, sem a intenção de iludir a mente das pessoas. Abaixo, algumas fotos presentes na exposição:

Autor: Jerry N. Uelsmann
Autor: Jerry N. Uelsmann
Aberdden Porttrait No. 1
Autor: George Washington Wilson
Sonâmbulo
Autor: George Platt Lynes
Lenin e Stalin em Gorky, 1922
Autor: Desconhecido
Homem fazendo malabares com sua própria cabeça
Autor: Saint Thomas D’Aquin
Dirigível no Empire State Building
Autor: Desconhecido
Johnson para Presidente
Autor: Weegee
Poderosa Colisão
Autor: Desconhecido

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O Homem da Terra (2007)

o homem da terra

O que aconteceria se um homem tivesse vivido 14 mil anos? Essa é a pergunta que leva o enredo do filme O Homem da Terra. John Oldman é um professor universitário que está prestes a ir embora sem avisar ninguém, quando seus colegas professores, ao saber que eles está indo sem se despedir, vão até a sua casa. John está agindo de forma estranha, como se quisesse contar-lhes um segredo. E enfim lhes propõe a pergunta acima. Um antropólogo, um biólogo, uma literata cristã, um arqueólogo e um psicólogo discutem essa hipótese, sempre com John lhes propondo cenários em que ele sobreviveu por todo esse tempo. Interações com Buddha, uma revelação sobre Jesus, a vida antes da civilização e o surgimento da civilização.

O Homem da Terra é um filme de ficção científica de baixíssimo orçamento (isso fica evidente em algumas passagens filmadas com equipamentos de baixo custo), onde o interesse e o ponto alto da película, ficam todos no genial roteiro de Jerome Bixby. A ação se passa toda na casa de John, e a maioria das cenas foram feitas na sala, com os personagens sentados conversando, lembrando um pouco uma forma mais teatral de contar uma história. Não espere uma grande fotografia e belas cenas desse filme, mas sim uma excelente história que vai lhe fazer pensar na vida, no universo e tudo mais, por um bom tempo.

Título Original: Man From Earth

Diretor: Richard Schenkman

Trailer:

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