Há uns dias atrás aqui na internet um amigo postou no Facebook uma imagem do Google Street View. Não era uma imagem qualquer, dessas que olhamos aleatoriamente. Era uma imagem com o Nunes no fundo. O Nunes, para quem não conhece, é uma lenda. Conheci o figura quando fui estagiário do jornal O Nacional, de Passo Fundo. O Nunes era diagramador do jornal e tinha mais anos de trabalho no jornal do que eu de vida. Curioso é que o Google Street View capturou uma imagem que caracterizava muito o Nunes, com uma sacolinha de mercado em uma mão e um cigarro em outra, como se tivesse esperando o momento certo: “Vamos fotografar as pessoas nas ruas quando elas estiverem demonstrando características próprias”, deve imaginar o motorista do Google-Car.
Uma máxima é imortal: “Uma vez na internet, sempre na internet”. A Cicarelli e a Xuxa tentaram, mas seus vídeos continuam sendo vistos por internautas, tarados e curiosos do mundo inteiro. O mesmo caso acontece em fotos, principalmente se estão indexadas no Google. Dizem que se não está no Google é porque não existe. (Após esse pensamento fui conferir se eu estava lá e acabei de perceber que, de fato, eu existo).
Bom, e se você estivesse no Google Street View e tivesse sua imagem reproduzida em outro meio, se sentiria com a privacidade violada? Não falo aqui de jornal ou qualquer outro órgão de imprensa, mas de um projeto intitulado Street Ghosts.
O autor da ideia, o italiano Paolo Cirio, utiliza sua capacidade artística para fundir o mundo virtual no mundo real. Pessoas das cidades de Londres, Nova York e Berlim que foram capturadas pelo Google Street View estão sendo permanentemente fixadas no mesmo local aonde foram vistas. Como? O artista está sequestrando as pessoas e prendendo elas na rua? Não, ele está imprimindo em alta escala a imagem dessas pessoas e fixando-as em muros, paredes e demais estruturas disponíveis para uma intervenção artística.
As imagens coladas nas paredes não são de alta resolução, nem mostram traçados finos e detalhistas, mas um aspecto borrado, espectral como sugere o nome do projeto. De acordo com Cirio, “revelando suas presenças como uma sombra digital assombrando o mundo real”.
Sem autorização das pessoas, Paolo não se importa nem um pouco se o que faz é ilegal ou não, basta olhar seu currículo. Já roubou ebooks da Amazon e redistribuiu na internet de graça. Fez um site onde divulgou erroneamente famosas citações de personalidades históricas, mudando as frases ou os seus autores (Possivelmente um grande responsável pelos equívocos de internautas menos instruídos, que usam as redes sociais para postar frases que não são de autoria de quem pensam que são. Exemplo: Caio Fernando Abreu e Bob Marley). Utilizou um milhão de fotos de perfis no facebook para a criação de uma nova rede social, a lovely-faces.com. Estes e outros “feitos” de Paolo, descritos orgulhosamente em seu site oficial, mostram que o artista utiliza sem autorização, pudor, escrúpulo e moderação tudo o que está na rede.
No caso do Street Ghosts, Paolo defende-se. Em seu site diz que simplesmente reúne informações disseminadas pelo Google e as transporta para as ruas como manifestação artística. O autor critica o Google dizendo que a empresa não pediu permissão para mapear e fotografar as cidades e nem pagou nada por isso. A crítica maior é o fato de o Google faturar com o Street View, arrecadando, por meio de anúncios, bilhões de dólares que sequer são tributados. “É um tipo de exploração feita por um enorme parasita social que nos revende o que foi criado coletivamente pela atividade e pelo dinheiro das pessoas”.
Na visão de Paolo, seu projeto confronta o público, mostrando dados estéticos que o participante nem imaginava existir, ou seja, a utilização de sua imagem em um projeto não só sem sua autorização, mas sem seu conhecimento. Dessa forma, justifica o intuito de mostrar “sua própria imagem aparecendo como escravo fantasmagórico preso para sempre em um mundo digital”.
Até então, Paolo colou 30 cartazes nas cidades de Berlim, Londres e Nova York. Mas deixou um recado: “Mantenha seus olhos abertos! O Street Ghosts não terminou e pode aparecer em breve em sua cidade – talvez com o seu fantasma”. Te cuida, Nunes!
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