‘Black Mass’ conta a história de quando a máfia irlandesa e o FBI se uniram: assista aos trailers do filme

Pode a máfia e a polícia se unirem para eliminar um inimigo em comum? Não só pode, como acontece. A história está cheia de exemplos e um deles é ‘Black Mass’, filme baseado em fatos reais que aconteceram em Boston, na década de 1970.

Inspirado no livro homônimo (disponível na Amazon, mas sem edição em português), publicado em 2001 pelos jornalistas Dick Lehr e Gerland O’Neil, do The Boston Globe, a história conta como o mafioso irlandês James Whitey Bulger (Johnny Depp) e o agente do FBI John Conolly (Joel Edgerton) se uniram para acabar com a máfia italiana.

Os Fatos Reais

Whitey e John cresceram juntos nas ruas de Boston, mas seguiram caminhos distintos. Enquanto o primeiro se tornou um fora da lei, o segundo se tornou um homem da lei. Obcecado em acabar com a máfia italiana, John oferece proteção a Whitey, o ‘poderoso chefão’ da máfia irlandesa, em troca de informações para acabar com o inimigo em comum. A parceria negra entre o crime e a lei resulta em uma sucessão de atos criminosos que acabaram se tornando um dos maiores escândalos de toda a história do FBI.

O real Whitey Bulger
O real Whitey Bulger

Antes de se tornar o temido chefe da máfia irlandesa, Whitey permaneceu preso durante nove anos entre as décadas de 1950 e 1960, inclusive cumprindo pena na famosa prisão de Alcatraz. Em liberdade, voltou ao mundo do crime e, apesar de participar de dezenas de crimes envolvendo assassinatos, tráfico de drogas, extorsão e lavagem de dinheiro, Whitey só foi capturado novamente em 2011, aos 81 anos de idade.

Por mais de uma década, Whitey esteve na lista dos criminosos mais procurados pelas autoridades norte-americanas, estando atrás apenas de Osama Bin Laden. A recompensa por sua captura chegou a ser de 2 milhões de dólares.

O Filme

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Johnny Depp como Whitey Bulger

A versão cinematográfica da aliança entre a máfia irlandesa e o FBI tem estreia mundial prevista para outubro de 2015. Como já dito antes, Whitey é interpretado por Johnny Depp e Connoly por Joel Edgerton, mas participam também do elenco Benedict Cumberbatch, Dakota Johnson, Juno Temple, Corey Stoll, Peter Sarsgaard e Kevin Bacon. A direção é de Scott Cooper.

Johnny Depp teve um trabalho de maquiagem bem forte durante as gravações. O ator, para se parecer mais com o mafioso, aparece envelhecido, calvo, com olhos claros e dente podre. Assista abaixo nos dois trailers já divulgados de ‘Black Mass’:

https://youtu.be/WPOcBiymuu0

https://youtu.be/-KSoTq0u06s

Portal ‘Brasiliana Fotográfica’ disponibiliza um gigantesco acervo de fotografias históricas do Brasil

Anônimo. Senhora na liteira com dois escravos, c. 1860. Salvador

O que seria da memória de um país se não fosse a fotografia? Certamente seria bem menos visual e muito mais subjetiva. É graças a ausência de fotografias que ainda temos dúvida (e sempre teremos) sobre a aparência de Shakespeare, por exemplo.

O portal Brasiliana Fotográfica não quer saber disso. O projeto, que entrou no ar em abril de 2015, é uma extensa reunião de acervos fotográficos do país. A intenção é fazer com que a memória do Brasil esteja cada vez mais ao alcance da população. O site possui 2.393 imagens históricas em alta resolução, selecionadas nos acervos da Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles. São fotografias do século XIX e das três primeiras décadas do século XX.

Mas isso é só um início. O projeto tem a ideia de ampliar o número de fotos no banco de dados, incluindo no futuro fotografias de décadas mais recentes. A curadoria é de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, e Joaquim Marçal, pesquisador da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional.

Missa Campal de 17 de maio de 1888

Um dos destaques do site é a icônica fotografia da Missa Campal, realizada quatro dias após a Abolição da Escravatura. A missa aconteceu no Campo de São Cristóvão, no Rio de Janeiro e reuniu milhares de trabalhadores e personalidades, entre as mais famosas: Princesa Isabel, Lima Barreto e Machado de Assis.

A fotografia feita por Antonio Luiz Ferreira está disponível para ser explorada em alta definição aqui nesta página especial da Brasiliana Fotográfica. Mesmo sendo uma foto de mais de cem anos de idade, a riqueza dos detalhes impressiona.

Antonio Luiz Ferreira. Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil, 1888. São Cristóvão, Rio de Janeiro.
Antonio Luiz Ferreira. Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da Escravatura no Brasil, 1888. São Cristóvão, Rio de Janeiro.

Outros destaques

O acervo é enorme. Como já foi dito, são 2.393 fotografias. E isto é só o início. Algumas outras imagens além do registro da Missa Campal também ganharam destaque no site do projeto. A galeria abaixo tem 65 fotografias de diversos autores – incluindo anônimos. São fotos de cidades, ruas antigas, trabalhadores, escravos, índios e de muita história.

Clique na imagem pra abrir a galeria em tela cheia e boa viagem!

A Volta do RZO

Se estivéssemos falando de Eminem, teríamos como titulo “Guess who’s back”, se estivéssemos falando do rapper que tem o sotaque do outro lado da guerra, Aka Addy, começaríamos falando “Back in town”. Mas como as notícias são ótimas aqui mesmo na terra onde nada anda tão bem, anunciaremos a boa nova que deve ser a mais espalhada possível, vamos a ela: O retorno do RZO ao RAP Nacional.

E pra quem não conhece a família mais pesada das vielas da quebrada do Paquetá – Pirituba precisa desta aula de história.

Vindos do Chic Show, Helião e Sandrão mostraram seus talentos já em 1987 e montaram um nome para a família: RZO. O coletivo se construiu com Negra Li, Sabotage, Negro Útil, Helião e Sandrão na sua formação inicial, mas depois colaram outros rappers com a família, como DBS, Função RHK, Marrom, Consciência Humana, Conexão do Morro, Quelynah, Rosana Bronx, Lino Krizz, NDee Naldinho, Rapin Hood, Dina Di, Racionais e muitos outros.

RZO (2)

Na reformulação o grupo adotou o DJ Cia, que atualmente é o DJ do Seu Jorge. O antigo DJ do grupo era o Nego Loo que agora faz os Scratches do Dexter. Seu Jorge, que demonstra apoio ao grupo, inclusive emprestou o estúdio para o RZO gravar suas músicas. O apoio parece surgir de todos os lugares, como o grupo é referência para qualquer rapper, nacionalmente, a #voltarzo foi repetida muitas vezes nas redes sociais, principalmente nas páginas dos rappers que fazem sucesso atualmente.

A volta aconteceu em um show na virada cultural de 2014. Mas devido a projetos pessoais de cada um dos envolvidos, não foi engrenado logo no começo e agora a família da zona Oeste começa a realmente investir mais dedicação ao grupo. Gravou um clipe com clássico grupo de RAP Bone Thugs-N-Harmony, participou dos programa Altas Horas, Encontro com Fátima Bernardes e Esquenta.

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Além do Dj Cia, quem será novo integrante do grupo é o Rapper Calado. O grupo ainda está cantando os clássicos como “O Trem” – um dos sons mais famosos nacionalmente –e segue apenas relembrando as músicas que fizeram do grupo um dos mais reconhecidos. Mas Helião e Sandrão já deixaram claro que faz parte dos primeiros passos do projeto criar novas músicas, seguindo o estilo que a nova formação do grupo apresenta.

RZO O TremObservando os estilos unidos o previsto é que o grupo abandone um pouco o flow mais lento que possuía e aposte em um ritmo mais forte na maioria das músicas, como o apresentado pelo Racionais no novo álbum “Cores e Valores” – onde até o Helião faz participação em algumas músicas – e seguir uma batida mais ritmada e pesada, buscando outras referências e mudando um pouco seu estilo.

Os shows estão acontecendo por quase todo o país, praticamente todo os meses. E cada show reflete um espírito que a família RZO sempre apresentou, de revelar novos artistas e ter a capacidade de trabalhar com outros já conhecidos. Reviver a ideia do “Vários maluco só, Família RZO”, que resume como o grupo engloba todos os rappers que possam agregar ao som na hora do show, é alentador para quem espera que o RAP seja a voz da quebrada.

TV RAP Nacional na gravação do clipe com o Bone na favela do Paquetá

Família RZO no Estúdio ShowLivre:

https://youtu.be/t6hhylpjLZ4

RZO ao vivo nos tempos áureos cantando O trem:

https://youtu.be/7DB7jNcoy_8

Tame Impala divulga clipe de Cause I’m a Man: assista

Os australianos do Tame Impala estão prontos para lançarem seu terceiro disco, Currents. A exemplo dos dois primeiros, meus palpite é que esse novo álbum será, no mínimo, ótimo.

O disco deve chegar só dia 17 de julho, pelo pela Interscope Records, mas algumas músicas já foram lançadas e, agora, o clipe do single Cause I’m a Man também. As outras músicas previamente lançadas são Let It Happen, Disciples Eventually.

O vídeo é uma animação em 3D que vai viajando pela arquitetura de uma cidade inventada. Dirigido por WEIRDCORE (isso mesmo, nome artístico e tal), que declarou:

Esse é o primeiro vídeo em 3D que eu não fiz nenhum molde específico para ele. Tudo o que tem no vídeo foi comprado/achado/adquirido/customizado de várias fontes, é como se fosse uma colagem em 3D.

O clipe já está no youtube. Saca só:

101 músicos que já tocaram nos programas de David Letterman

O talkshow de David Letterman marcou uma era na televisão norte-americana. O apresentador, que entrevistou praticamente todo mundo, se aposentou e deixou o cargo após 33 anos em atividade.

Uma característica muito forte de seu programa sempre foi os números musicais. Seja no estúdio, nos especiais On Letterman e até mesmo no terraço do Ed Sullivan Theatre, centenas de artistas se apresentaram para Letterman e seu público.

Essa lista poderia ter até mais artistas. Mas, nem mesmo o gigantesco acervo da internet e do youtube possuem todos os registros. Separei então alguns dos artistas notáveis que participaram do programa. São 101 no total e foram escolhidos de acordo com (primeiro) meu gosto pessoal e (segundo) meu gosto pessoal. Tentei resumir, mas não deu. Tem tanta banda que eu gosto que já tocou no Letterman, algumas da adolescência, outras da nostalgia e outras da atualidade, que o mínimo que consegui fazer foi isso. E olha, ainda tenho a impressão de que faltou alguém…

Todos os vídeos são de apresentações e não de entrevistas. Salvo o primeiro, de Paul McCartney, já que Paul é Paul. Lá vai:

1Paul McCartney

2Oasis

https://youtu.be/uSDx9uP23EA

3Arctic Monkeys

4Bob Dylan

https://youtu.be/b7WTW-8RhR4

5The Black Keys

https://youtu.be/5Ure7hBl2RQ

6Kings Of Leon

7Beady Eye

8Foo Fighters

9The Redwalls

10Ringo Starr

11The Strokes

12Supergrass

13Jet

14Red Hot Chilli Peppers

15David Bowie

16Queens Of The Stone Age

17Ray Davies

https://youtu.be/Wj-kuqhS6Gk

18The Black Crowes

19The Who

20Robert Plant and Band of Joy

21ZZ Top

22The Hives

23Franz Ferdinand

24The Band

25Alabama Shakes

https://youtu.be/cCkO3U1S87g

26BB King

27Jack Bruce & Ginger Baker

Buddy Guy

28Stevie Ray Vaughan

https://youtu.be/I61mBabejF4

29John Mayer

https://youtu.be/_W_UJWrcGPc

30Cake

31Black Sabbath

32The Verve

33Gogol Bordello

34The Fratellis

35The Kooks

36Beck

37Blur

38Noel Gallagher

39Joe Strummer

40Ramones

41The White Stripes

42Kasabian

43Rage Against The Machine

44Radiohead

45Lou Reed

https://youtu.be/J1RwddgLqBw

46Iggy Pop

47The Killers

48The Libertines

49Dropkick Murphys

 

50Jerry Garcia & Bob Weir

51Pearl Jam

https://youtu.be/q9oiXiMXrqw

52Weezer

https://youtu.be/8RFTB5vgV_4

53Arcade Fire

54Sex Pistols

https://youtu.be/dO-j8xuYmqc

55Wolfmother

56The Allman Brothers Band

57Ryan Adams

https://youtu.be/vmglUwgtHxs

58The Strypes

https://www.youtube.com/watch?v=6me1bp3_4Ww

59Rod Stewart & Ron Wood

60Johnny Cash

61Stevie Wonder

https://youtu.be/atfXUqCC1C4

62James Brown

63Crosby, Stills & Nash

64John Lee Hooker

65MGMT

66Wilco

67Chuck Berry

https://youtu.be/mI6LSoEZPKk

68Audioslave

69Beastie Boys

70The Beach Boys & James House

https://www.youtube.com/watch?v=nD1d9HRONqA

71Gorillaz

72Jethro Tull

73Gary Clark Jr.

74Patti Smith

75Tenacious D

76Pixies

77The Smashing Pumpkins

78The Flaming Lips

79Johnny Winter

80Björk

https://www.youtube.com/watch?v=tNawak3Nl_I

81Bruce Springsteen

82Ben Harper

83The Mars Volta

84Elton John & Leon Russell

85Ziggy Marley and the Melody Makers

https://youtu.be/77LBOiJz49o

86Joan Jett

87Kiss

88Bad Religion

89Amy Winehouse

90Green Day

91Rival Sons

https://youtu.be/NhjMWekZbmE

92Sum 41

93John Fogerty

https://youtu.be/E9–U5opunk

94Jeff Beck

95Talking Heads

96Ray Charles & INXS

97Aretha Franklin

98Ozzy Osbourne

https://youtu.be/NOSZ8OcMZrs

99Carlos Santana

100Aerosmith

101Willie Nelson

https://youtu.be/RyaEKtEGMLU

Foo Fighters faz a última apresentação musical do talkshow de David Letterman

33 anos, 6,028 programas e 16 Emmy Awards. Esses são alguns dos números que o apresentador David Letterman deixa para a posteridade. Agora oficialmente aposentado, Letterman cede seu posto a Stephen Colbert.

Para encerrar o último de seus programas, David Letterman convidou o Foo Fighters para se apresentar. Ao som de Everlong (a música preferida do apresentador, como ele mesmo disse aqui), o vídeo faz uma retrospectiva do talkshow desde os seus primórdios, como se fosse uma cápsula do tempo.

Assista abaixo à última apresentação musical do Late Show with David Letterman:

https://youtu.be/yrVjOUIoo6Q

PS: A banda é uma das favoritas do apresentador e já esteve no programa várias vezes. É bom lembrar que, em 2011, logo após o lançamento de Wasting Light, o Foo Fighters fez um megashow de 2 horas no programa. Relembre abaixo:

Nosso Jardim | Contos #2

Não sei que loucura é essa. Parece impossível explicar esse sentimento de derrota que me acomete em todo fim de noite e em todo começo de manhã. Me sinto sugado para um redemoinho de negatividade e parece que não há fim para o tormento.

Danielle está lá fora, podando as rosas em nosso jardim. Ela faz isso toda tarde; pega a tesoura e vai até a edícula e abaixa para analisar quais rosas já estão grandes o bastante. Então ela corta algumas, apara outras, traz as mais cheirosas para perto do rosto e se impressiona com o aroma. Isso me acalma toda vez.

“Você não vem?”, ela pergunta.

“Daqui a pouco”, respondo, sem saber exatamente se eu deveria me mover e destruir aquele momento.

Durante algum tempo eu estive infeliz ao lado de Danielle. Tudo o que eu queria era uma buceta nova, uma novidade, algo que me trouxesse a esperança de algo inovador. Meu hino auto proclamado era me perguntar quais drogas e quais mulheres iriam atravessar meu final de semana, quando Danielle ia para a casa de sua mãe. Eu estava fazendo exatamente o oposto do que havia lhe prometido depois de nosso primeiro mês juntos: nunca desistir de nós. Me disseram que as estradas da vida eram frágeis e que logo eu estaria velho e deveria aproveitar esses instantes. Eu queria poder jurar que estaria ao lado dela quando todos os outros viessem para dizer adeus. Queria dizer que todos os dias seriam os mesmos e que estaria tudo bem para mim se fossem todos com ela.

Mesmo depois de tanta besteira, eu ainda olhava para meus amigos e meus vizinhos e me parecia inacreditável como embora tudo parecesse inalterado, havia uma mancha cinza na história.

“Venha cá para fora”, ela diz, “aproveite a natureza”.

Ingênua, ela não sabia que eu estava apreciando cada segundo, como no dia em que nos conhecemos e meus olhos a seguiam por todos os cantos.

Agora, depois do ritual das rosas, ela vai para o canteiro atrás da garagem e observa os girassóis. Ela não entende quando algum deles não estão exatamente virados em direção ao sol. Se eu pudesse, atiraria no sol só para vê-lo sangrar, pois nesse momento ela pensa mais nele do que em mim.

Desde que nos mudamos, ando observando mais as pessoas. Cada uma tem um TOC diferente. Meu vizinho árabe não consegue sair de casa se não alisar a madeira da porta duas vezes em ambos os lados. Mas agora eu posso colocar uma mesa na varanda e escrever enquanto olho os vizinhos de frente e o horizonte e as pessoas que os visitam. Às vezes me pergunto quais seriam minhas preocupações se eu estivesse na pele delas. Não como se eu estivesse passando pelas mesmas situações, mas se eu as fosse, se eu fosse cada uma dessas pessoas. Se eu fosse meu vizinho árabe ou sua noiva. Eles saberiam como Danielle é simplesmente mágica ao sair da cozinha somente com o vestido de pijama? Eles saberiam quem sou eu agora? Talvez nem soubessem que nós estamos aqui.

Quando não estou escrevendo, gosto de vir para a varanda dos fundos com alguns cigarros. É como se eu estivesse tirando férias de mim mesmo, e isso é inacreditavelmente bom por um tempo. Não há obrigações nem tarefas. Bom, eu venho com os cigarros e o isqueiro e sento de frente para o gramado. Estou descompromissado. É meu lugar seguro. A fumaça me fascina. Gosto de ver aquela massa branca e densa subindo, sendo deixada levar pelo vento. As pessoas andam atribuindo esse significado pejorativo ao isolamento. Em qualquer etapa da vida, é necessário tirar um tempo para ficar só. Separar alguns dias para deitar e fechar os olhos. E só acordar dez horas. Então, preparar um café e ler os jornais e assistir Danielle descendo as escadas. É o que tenho feito.

Ela agora está voltando para dentro de casa.

“Me desculpe por não ter te acompanhado”, eu digo.

Então ela vem e se senta no meu colo. Sinto seu peso sobre minhas pernas, como se eu fosse a única plataforma necessária para protegê-la. Meu corpo é o único ninho do qual ela precisa para se abrigar. Então eu me lembro daqueles dias ruins e percebo o tamanho dessa estupidez, e o destino me recebe com um gancho de direita.

“Você quer uma omelete?”, ela me pergunta.

Respondo que sim, mas ela não se levanta. Sinto suas mãos suaves – mesmo após o trabalho de jardinagem – deslizando pelo meu braço. E sinto o cheiro de seu corpo e suas roupas. O cheiro que está em meus lençóis e que eu já disse que não deverão ser lavados.

“Quer que coloque queijo?”

“Sim, sim, sim!”

Ela sorri e se levanta e vai para a geladeira procurar os ingredientes. Dez minutos depois, estou comendo provavelmente a melhor omelete já feita em toda a história da humanidade e ela volta para o jardim. Está conectando as mangueiras e trabalhando para que todas as flores recebam uma boa quantidade de água.

Cinco anos atrás nós estávamos na formatura do filho de sua irmã. Todos vieram aqui em casa para se arrumar. Danielle estava indecisa entre o vestido prateado e o preto. Eu não sabia se eu deveria ir de tênis ou sapatos, então ela veio e decidiu por mim. Como acontecia sempre, ela decidia as coisas por mim e eu era deixado boiando em minha própria existência. Ela escolheu o vestido preto. Estava linda. Esteve sempre linda, mesmo quando meu cérebro hedonista lutava em provar o contrário. Todos estávamos alegres e sorridentes e fazendo ajustes de última hora nas roupas e tirando fotos e mais fotos e mais fotos.

Assim que chegamos ao salão de cerimônias, pegamos uma boa mesa, bem localizada, perto do palco principal. Sentamos todos juntos, eu e Danielle e sua irmã com a família. Logo depois o garoto foi chamado ao palco juntamente com sua turma. Mas, como no começo de tudo, eu seguia observando Danielle e me sentindo admirado em como ela era linda e como ela parecia ter sido feita para mim, e isso me fazia refutar qualquer ideia de abandono.

Cerimônia terminada, fomos para o lado de fora e eu acendi um cigarro. Foi quando confessei para Danielle que eu havia dormido com sua irmã. Coloquei para fora todas as cicatrizes em meu caráter, mas ela não brigou comigo. Apenas me perdoou. Isso acabou comigo, pois me lembrei do sorriso que ela abria toda vez que tomávamos banho juntos. Queria que ela tivesse me xingado, me agredido, cuspido em mim, pois assim eu me sentiria punido. Retornamos para o grande salão de mãos dadas e com um sorriso pouco honesto no rosto, mas como dois estranhos que subitamente tentavam não se desgrudar.

“Não quero voltar para casa com você hoje”, ela me disse na hora de irmos embora.

“Tudo bem”, eu respondi.

Ela queria dormir na casa de sua irmã. Os segundos que precederam nossa ida de volta foram talvez os mais dolorosos da minha vida adulta. Ela parecia estar melhor do que eu. No caminho, ela mantinha a mão sob minha perna enquanto eu dirigia, e cada rua atravessada, cada esquina cruzada parecia segurar um pedaço de nossa história que nós nunca mais teríamos.

Assim que chegamos e eu estacionei o carro, olhei para Danielle e vi a maquiagem borrada e as lágrimas que desciam com força. Saímos do carro e eu a deixei em frente à porta do prédio.

“Volte para casa comigo”, eu disse.

E eu vi como ela se desesperava à medida que  balançava a cabeça negativamente e me mandava ir embora. Obedeci e voltei para o carro. Acendi um cigarro e olhei pelo retrovisor e dei partida enquanto ela ainda permanecia sozinha nas escadas do prédio.

Mesmo agora, quando tudo aparenta estar adequado, ainda tenho que enfrentar minha face sombria quando deito para dormir e quando acordo.

Todos me diziam que eu carecia de um Deus, mas a única força superior que me bastava estava bem ali no meu jardim.

As cores e as dores de Frida Kahlo

“Somos todos um pouco Frida, se já amamos, se já sofremos, se já fomos deixados, traídos, se já traímos. Somos Frida porque somos latinos, passionais, raivosos, ciumentos, possessivos.”

(Texto de abertura da exposição “Call me Frida”, de 2013, escrito por Fernanda Young)

Em setembro desse ano, os paulistanos poderão apreciar as obras de Frida Kahlo no Instituto Tomie Ohtake. A exposição trará os trabalhos de diversas artistas mexicanas, colocando os contrastes e as semelhanças entre elas. A exibição promete ser mais um sucesso de longas filas – um fenômeno comum para o Instituto, que já recebeu instalações de Yayoi Kusama e Salvador Dalí.

Mas Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, ou apenas Frida Kahlo, é mais do que uma pintora, ela se tornou um verdadeiro ícone pop. Venerada por homens e mulheres ao redor do mundo, ela encarna o espírito latino para pintar, se expressar, viver e principalmente amar.

Frida Kahlo (4)

Amor é dor e dor é arte

Uma mulher à frente de seu tempo, a principal característica de Frida era a intensidade com que ela sentia o mundo ao seu redor e como absorvia isso para si mesma. Única, ela foi capaz de superar problemas pessoais, transformando cada uma dessas dificuldades em arte intensa nas telas que pintava.

Em sua infância, a pintora contraiu poliomielite, deixando uma lesão em seu pé esquerdo que lhe rendeu o triste apelido de “Frida perna de pau”. Alguns anos mais tarde, ela sofreu um acidente e teve múltiplas fraturas, precisando fazer 35 cirurgias – período em que ficou presa à cama, sofrendo também com problemas na coluna. Foi nesse momento que ela começou a pintar e expressar suas angústias através das tintas que colocava na tela.

Frida Kahlo (3)

No entanto, todas essas dificuldades foram usadas como tijolos na construção da personalidade excêntrica e marcante de Frida. O visual colorido cheio de estampas e flores era, na verdade, uma maneira de chamar a atenção para outros aspectos que não a sua aparência. Já o corpete, uma de suas marcas registradas, servia para dar sustentação à sua frágil coluna.

Sua paixão por Diego Rivera era vista como o mais forte e conturbado amor do século 20, já que na mesma intensidade que ela o amava, eles acabavam se magoando. No entanto, Diego foi essencial para que ela se revelasse como artista, já que Frida muitas vezes retratava na tela essa grande paixão.

Conforme o tempo passava, sua saúde apenas piorava. Em 1950, ela teve de amputar uma perna, o que fez com que caísse em profunda depressão – passando todos os seus pensamentos e sentimentos para as telas e seu diário. No dia 13 de julho de 1954 – apenas alguns dias depois de completar 47 anos, Frida foi encontrada morta em sua casa. Suas últimas palavras foram registradas em seu diário: “Espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais”.

Frida Kahlo (2)

Amamos e somos Frida

Em 2013, a escritora Fernanda Young, ao lado de Alexandre Herchcovitch, estrelou no espaço de eventos Duda Molinos, também na capital paulista, “Call me Frida”, uma ocupação inspirada no estilo de Frida Kahlo. Houve um bazar com peças inspiradas no estilo de Frida, além de fotos da escritora caracterizada como a homenageada da exposição.

Na ocasião, a personalidade de Frida era exaltada em sua totalidade, de mulher à artista. E mais do que artista, uma precursora do pós-modernismo, cujo ego é colocado como objeto de estudo. Assim como Frida disse:

“Pinto a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor”.

O que sobrava na vida de uma mulher limitada pelo próprio corpo, pelos próprios sentimentos e pela impossibilidade de realizar o sonho de ser mãe – depois de três gravidezes frustradas?

Frida Kahlo foi a maior prova de como a Arte pode salvar. E é difícil até mesmo escrever algo diferente sobre a pintora, uma vez que ela não teve pudores de se mostrar em suas obras, suas cartas, seus diários:

Pintar completou minha vida. Perdi três filhos e uma série de outras coisas, que teriam preenchido minha vida pavorosa. Minha pintura tomou o lugar de tudo isso. Creio que trabalhar é o melhor”.

Não há nada que possa ser dito sobre Frida que a própria não tenha nos dito, fazendo fofoca sobre si mesma e ajudando a humanidade a entender um pouco mais das misérias e da força humana.

E que venha a exposição no Instituto Tomie Ohtake, provando que Frida jamais estará sozinha e mostrando para o público que o ser humano pode ir muito mais longe do que a vida impõe a ele.

O Adeus de Bill Murray a David Letterman

David Letterman é um mito da televisão norte-americana. Seu talkshow passou por duas emissoras durante mais de três décadas e teve o modelo copiado e reproduzido em diversos outros países. Sem citar nomes, mas isso inclui o Brasil.

No dia 20 de maio de 2015 Letterman se despede das telas. A televisão (não norte-americana, mas mundial) perde um grande cara. Mesmo que você não tenha assistido às entrevistas de fato, é muito normal que já tenha visto algum vídeo de um músico tocando por lá. Tocar no Letterman significa que você está no caminho certo. É prestígio. É uma honra. Não bastasse isso, o programa é filmado no Ed Sullivan Theatre, outro monumento cultural norte-americano.

David Letterman estreou o Late Nigh with David Letterman, na NBC, em 1982. Em 1993, passou a apresentar o Late Show, na CBS, de onde está se despedindo. O programa irá continuar e manter o mesmo nome e formato, e Letterman será substituído por Stephen Colbert.

O primeiro entrevistado do programa de Letterman, ainda nos tempos da NBC, foi o ator Bill Murray. E, um dia antes do programa final, quem está de volta? Bob Dylan. E Bill Murray também, claro.

A dupla em 1982
A dupla em 1982

Sensacional como sempre, Bill Murray saiu de dentro de um bolo gigante em que estavam escritas as palavras: Goodbye, Letterman. Já Bob Dylan, apresentou a canção The Night We Called It a Day, faixa do belíssimo álbum Shadows In The Night, que já falamos a respeito aqui no La Parola.

O último programa vai ao ar depois de eu escrever essas palavras. E a última banda a se apresentar no palco do Late Show durante a era David Letterman será o Foo Fighters. Provavelmente falaremos disso amanhã. Mas, enquanto isso, assista abaixo um trecho do penúltimo programa, e/ou venha aqui para assistir ao Bob Dylan tocando:

https://youtu.be/YW8MY9CD-tQ

https://youtu.be/KOi5oowzoGc

Goodbye, Letterman!

Bob Dylan se apresenta no penúltimo programa de David Letterman

Pela terceira vez – e agora, última – o maior contador de histórias da música mundial, mister Bob Dylan, se apresentou no programa de David Letterman.

Última porque o apresentador está se despedindo da televisão após mais de três décadas.

Late Show continuará indo ao ar no canal norte-americano CBS, mas será apresentado daqui para frente por Stephen Colbert.

Bob Dylan subiu ao palco do programa e tocou a música The Night We Called It a Day, do disco Shadows In The Night.

A última banda que irá se apresentar sob o comando de David Letterman será o Foo Fighters, mas isso é conversa para outra hora. Assista abaixo ao mestre Bob Dylan e toda a sua classe:

https://www.youtube.com/watch?v=u_djZiswcrQ

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