vaulted-deep-google4

No interior do Kansas, Estados Unidos, uma startup chamada Vaulted Deep está testando um método pouco convencional de remoção de carbono: injetar esterco animal e lodo de esgoto em formações rochosas a mais de 300 metros de profundidade.

O objetivo é armazenar carbono de forma permanente e reduzir emissões de gases de efeito estufa.

Inscreva-se na Newsletter

O projeto acaba de ganhar um investidor de peso. O Google anunciou que vai adquirir 50 mil toneladas de remoção de carbono da Vaulted Deep nos próximos cinco anos.

A iniciativa se soma a outras ações da big tech para compensar sua pegada de carbono em meio ao aumento do consumo energético causado pela expansão da inteligência artificial. A Microsoft já havia firmado acordo semelhante em julho.

Foto: Vaulted Deep / Google

Dois problemas, uma solução

A proposta da Vaulted Deep busca enfrentar simultaneamente duas questões: o excesso de resíduos orgânicos e a necessidade de reduzir emissões de gases de efeito estufa.

Ao serem depositados em aterros ou deixados a céu aberto em fazendas, esses resíduos liberam CO₂ e metano, contribuindo para a poluição do ar e para o aquecimento global.

No Kansas, a operação da startup recebe diariamente dezenas de caminhões carregados de esterco, principalmente de confinamentos de gado. Essa concentração de resíduos causa impactos ambientais locais, como poluição da água por escoamento, odores intensos e emissão de metano.

A técnica de injeção subterrânea evita esses efeitos, armazenando o material em locais seguros, distantes do lençol freático.

Além do setor pecuário, a Vaulted Deep também pretende ampliar sua atuação para resíduos de estações de tratamento de esgoto, papel e outros processos industriais, oferecendo uma alternativa ao descarte em aterros ou à incineração.

No entanto, resíduos de esgoto podem carregar substâncias nocivas, como os chamados “químicos eternos” (PFAS), além de outros poluentes que tornam o tratamento mais complexo e podem gerar riscos adicionais.

Imagem: Vaulted Deep

O problema do metano

Um dos pontos centrais do acordo com o Google é a capacidade de reduzir emissões de metano, um gás considerado “superpoluente”, com cerca de 80 vezes mais poder de aquecimento que o CO₂.

Sgundo o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), em um período de 20 anos o metano já foi responsável por quase metade do aquecimento global observado até hoje.

Para o Google, apoiar soluções desse tipo significa diversificar os esforços de mitigação climática. A empresa já investe em diferentes frentes, desde startups que combatem a acidificação dos oceanos até tecnologias para eliminar gases HFC usados em sistemas de ar-condicionado. A lógica é simples: testar múltiplas abordagens para avaliar quais podem ganhar escala de forma eficiente.

Foto: Vaulted Deep / Google

Desafios e próximos passos

Pode ter potencial, mas especialistas lembram que a técnica não resolve a raiz do problema: a produção e o consumo elevados de carne. Nos Estados Unidos, o consumo per capita de carne bovina é hoje o dobro do que era há um século, o que gera um volume de esterco muito maior do que a agricultura consegue absorver.

A solução também depende de investimentos em infraestrutura: a Vaulted Deep planeja construir novos sites nos EUA para absorver mais resíduos orgânicos.

Podemos entender que a tecnologia se apresenta como uma alternativa pragmática para lidar com emissões no curto prazo. O método utiliza processos já testados no setor de gestão de resíduos, o que reduz custos e acelera a implantação.

Contudo, abordagem não elimina a necessidade de grandes investimentos em infraestrutura e não resolve, sozinha, os impactos ambientais da pecuária e do manejo de resíduos urbanos. Em muitos casos, esterco e lodo de esgoto ainda acabam em aterros ou incinerados, práticas que continuam a gerar emissões.

Foto: Vaulted Deep / Google

O que está em jogo

O movimento do Google e da Microsoft sinaliza que as grandes empresas de tecnologia não querem apenas compensar suas emissões, mas também estimular novos modelos de negócios climáticos.

Ao assumir riscos em tecnologias emergentes, ajudam a criar demanda inicial e abrir caminho para que outras indústrias adotem soluções semelhantes.

No fim, iniciativas como a da Vaulted Deep mostram que enfrentar a crise climática exigirá um portfólio diverso de soluções — algumas de alta tecnologia, outras de caráter mais simples e operacional.

Enterrar resíduos pode não soar como a estratégia mais sofisticada, mas representa um pequeno passo em uma corrida que ainda está no início.

Texto adaptado de matéria publicada pela Fast Company.

Inscreva-se na Newsletter