O barulho é algo que incita o caos, baderna, desordem… Barulho… Palavrinha feia, não? Prefiro chamar de melodia, riff, solo, e no apogeu disso tudo, no pico de reverberações, de show. Um show é uma instituição onde um grande número de pessoas se unem para presenciar alguma apresentação. Nesta já citada performance o grupo surge e mostra aos seus seguidores todo o arsenal de bombas de efeito moral que incitam a multidão ao corredor polonês na trincheira da pista comum.

O volume se funde com o ritmo de atividade corporal e parece ditar um novo padrão aos batimentos de todos os presentes no recinto. Enquanto o barulho não chega ao fim, todas as almas presentes são alvejadas por uma sintonia cabalística que rege uma orquestra de maneira convergente, tal qual um flashmob em um exame antidoping.

A mesma energia é sintetizada e cada um tenta absorver e exalar aquilo da forma mais livre e natural possível. Alguns seres pulam, outros cantam-gritando, certos dementes se jogam no globo da morte do bate-cabeça e uma última categoria assiste ao show de forma hipnótica. São dezenas de padrões sonoros, de avatares em experimentação dentro de um ambiente mitológico. Deveria ser uma experiência de laboratório, e quem estava presente no Espaço das Américas serviu de mera cobaia para o que a trupe de cientísticas atômicos do Queens Of The Stone Age gostaria de tentar criar… Como diria o Cérebro de o Pinky e o Cérebro: “Pinky hoje nós vamos fazer a mesma coisa que fazemos todas as noites, dominar o mundo”. Hoje, o Josh Homme tentou novamente… Ele provavelmente não dominou o mundo todo, mas teve a plateia de São Paulo na mão.

Tirando uma abertura de show que pareceu em nada combinar com o estilo do prato-banda-principal, o menino Alain Johannes (que inclusive é associado do QOTSA) foi colocado em fogo cruzado. Em seu repertório, temas de viola, mas na sua frente uma platéia sedenta por sangue e Stoner. Aquele estouro de som arenoso, que deixa o ar rarefeito e o tempo mais lento, uma enxaqueca densa e tão digerível quanto um bochecho de superbonder com caco de vidro.

E após uma hora de um som mais Blues com camadas experimentais, eis que entram, às 22:00 em ponto, (de ebulição) uma das grandes bandas que eu tive o prazer de ver crescer, disco após disco, de fuzz em fuzz, de sol a sol, e com um repertório só pra fã dos caras. O show foi pra quem usa a discografia da banda como travesseiro de pedra.

Em cerca de duas horas de mastodôntica densidade sonora, quem esteve presente no Espaço das Américas viu um show que poderia muito bem virar DVD. Todos os seis discos do Queens foram fragmentados para essa épica apresentação. O show de luzes estava impressionante, era de deixar qualquer um vesgo, o único problema foi o calor de 177 graus Fahrenheit e dois telões que não foram usados em momento algum.

De resto não tem nem o que reclamar. Josh Homme foi elementar com a plateia, se mostrou de fato feliz por estar ali e fez jus a isso com um show absurdo, a banda fez cada jam que muitos fizeram cosplay de Van Gogh, chegando em casa com a orelha direita (ou as duas) deformadas. Meu ouvindo está zumbindo um verdadeiro coletivo de marimbondos neste exato momento e a pegada absurda desse show amoleceu todo meu esqueleto, não teve UM ser vivo neste espetáculo que saiu da casa sem levar pelo menos um empurrão bem dado…

No fim das contas é tudo com “Nicotin, Valium, Vicodin, Marijuana, Ecstasy and Alcohol” e lembre-se, não se esqueça da: “co-co-co-co-co-cocaine”. Quando tocou “Mexicola” eu quase chorei, ou foi o excesso de moléculas de ar na panela de pressão Stoner dos Americanos… Instrumentação climatizando flashbacks numa tempestade de areia… Essa é a frase que resume esse evento, excelente show (quebra-quebra). Na próxima adicionem a fritadeira de “3’s & 7’s”, e um agradecimento especial ao reverendo Allan Victor pela foto (capa) que ilustra tais palavras.

Set List:

You Think I Ain’t Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire
No One Knows
My God Is The Sun
Smooth Sailling
Monsters In The Parasol
I’m Designer
I Sat By The Ocean
… Like Clockwork
Feel Good Hit Of The Summer/Never Let Me Down Again (Depeche mode)
The Lost Art Of Keeping A Secret
If I Had A Tail
Little Sister
Fairweather Friends
Make It Wit Chu
I Appear Missing
Sick, Sick, Sick
Mexicola
Go With The Flow
The Vampyre Of Time And Memory – Bis
Do It Again – Bis
A Song For The Dead – Bis

Bônus: #QueensOfTheStoneAge / #QOTSA / Espaço das Américas