Sherlock Holmes é um dos personagens mais incríveis da Literatura e também do Cinema. A brilhante criação do escocês Sir Arthur Conan Doyle está no Guinness Book como “o personagem mais explorado na história do cinema”. Cerca de 200 atores já o interpretaram.
Além de servir como fonte de inspiração para a indústria literária e cinematográfica, o personagem Sherlock Holmes fornece conteúdo de interesse para o enredo de séries televisivas, peças teatrais, shows musicais e vários romances de suspense que fascinam tanto quanto a obra original.
Ao todo, Conan Doyle desenvolveu 60 histórias de Sherlock Holmes (sendo 56 casos e 4 novelas). O primeiro caso oficial se chama A Study In Scarlet (1887), que ele escreveu baseando-se na obra Murders In The Rue Morgue, de Edgar Allan Poe.
O escocês faleceu em 1930, deixando para trás um cânone valioso que continua alimentando ideias de escritores, roteiristas, produtores e artistas de vários setores do entretenimento.
Poucas pessoas comparam Sherlock com outro personagem parecido. De fato, a grande maioria dos críticos literários concorda que o personagem de Conan Doyle é uma criação original e pioneira.
A persona de Sherlock Holmes é tão fascinante quanto os métodos empregados por ele na investigação de casos criminais. E, mais de 100 anos após a última história publicada (em 1914), sua figura continua sendo um símbolo do poder do intelecto que incentiva as pessoas a imitarem-no.
O detetive elementar
O personagem Sherlock Holmes tem residência em Londres, onde também trabalha, na maioria dos casos como consultor criminal para a agência de investigação Scotland Yard.
Holmes não é pago pelos serviços que presta e, portanto, não precisa responder a ninguém além de si mesmo. Ele mantém relações estritamente informais com quem trabalha, e se comunica com os envolvidos nos casos apenas quando é realmente necessário. Qualquer distração compromete o fluxo de seu raciocínio, razão pela qual ele valoriza o silêncio e se mantém em isolamento periódico.
Sherlock é racional, lógico e analítico. Ele exibe humor instável (geralmente ácido), possui temperamento explosivo, é egocêntrico e narcisista, e tem grande aversão a melodramas emocionais. É obcecado por curiosidades e detalhes, tem baixíssima tolerância ao tédio e uma necessidade urgente de estímulo. Hoje, se psicólogos o avaliassem, decerto muitos o diagnosticariam como bipolar, sociopata e obsessivo-compulsivo. No entanto, em total desacordo às limitações de seus distúrbios, Sherlock Holmes explora suas aparentes vulnerabilidades de forma a transformá-las em vantagem na execução de seu trabalho, o que ele faz com destreza, precisão e excelência exclusivas.
Sherlock não brinca de ser detetive. Apesar da egolatria e misantropia, ele acredita em justiça e quer que ela prevaleça, mesmo que precise arruinar destinos ou desrespeitar a lei para garantir essa causa. Ele desafia a autoridade, insulta agentes retardatários e passa dos limites éticos sem sofrer tanto pela consequência de crises morais.
Embora seja defensor da filosofia de que humanidade e civilização são incompatíveis, nunca lhe falta motivação para ajudar as pessoas nos casos em que trabalha. Pelo menos intencionalmente, Holmes não é diferente de um herói.
A essência do raciocínio dedutivo
Sherlock Holmes é um mestre na arte da dedução, uma técnica cognitiva infalível quando existem evidências de crime e as premissas são verdadeiras. Quando as teorias por ele feitas são utópicas e eventos surgem de forma inesperada, Sherlock adota então outro tipo de raciocínio, a indução, para reduzir bruscamente as possibilidades de errar em suas conclusões de caso.
Vários fãs acham que Sherlock Holmes adivinha as coisas, algo impossível de fato. Na verdade, o que ele faz é “simplesmente” observar e depois deduzir, num processo de decodificação ambiental.
Muitas pessoas também acreditam que ele se aproveita da sorte para resolver os problemas. Mas Sherlock também não confia na sorte, o que ele considera um conceito ofensivo e abominável. Para ele, a ideia de que existe uma força no universo conduzindo eventos em sua vantagem ou desvantagem é ridícula.
Usando sua formidável capacidade de concentração, Holmes analisa provas e evidências, reconstrói eventos e traduz o meio. Ele perpetra o ambiente com o olhar, elabora as teorias que puder explicar e depois considera todas as possibilidades do que espera encontrar, e o resultado desse raciocínio incandescente acaba por ser um infalível captor da realidade.
Sherlock une as pontas soltas, ligando um fato a outro automaticamente, mesmo quando as circunstâncias não permitem qualquer tipo de associação. Ele encontra propósitos onde nada faz sentido, e faz as perguntas certas para as respostas que precisa. E o mais importante: ele sabe reconhecer uma causa perdida quando a vê.
Sua memória fotográfica é outro fator que o diferencia dos demais. Ele consegue acessar imagens e informações que todos já esqueceram. Nada lhe passa despercebido.
Quando os casos se mostram particularmente complexos e Sherlock se depara com uma infinidade de dados confusos e informações distorcidas, ele age então através do processo de eliminação. Que nem ele diz:
“Quando você exclui todo o impossível, aquilo que permanece, mesmo sendo improvável, deve ser a verdade.”
Holmes também é muito bom com pesquisa. Além de atuar em campo e fazer desk-research, ele também costuma realizar experimentos químicos para embasar algumas de suas teses e, às vezes, se dispõe a ser a cobaia. Por ter uma forte tendência a alterar sua consciência, ele não liga de se entorpecer se isso for para o bem da ciência.
Sherlock não se sente confortável compartilhando eventos de sua vida passada. Mesmo sendo um sociopata funcional, Holmes até consegue ser sociável. Ele é capaz de construir e manter relacionamentos significativos, mas ele tem medo disso, e geralmente se afasta. Sherlock Holmes nutre a independência, o que lhe garante uma vida ideal aos seus prazeres.
Por sua forma intrincada de pensar, ele é visto como louco pela maioria das pessoas. Mas, apesar de receber acusações diretas e represálias constantemente, ele não dá a mínima para isso. Sua autoconfiança reflete em produtividade, e ele raramente decepciona nesse quesito.
Mas nem tudo é trabalho para Sherlock Holmes!
Ele também tem seus hobbies: adora tocar violino e fumar tabaco para relaxar; pratica boxe, artes marciais e joga golfe eventualmente.
Pensando como Sherlock Holmes
Em seu livro Mastermind: How To Think Like Sherlock Holmes, a psicóloga russa Maria Konnikova decifra os métodos de raciocínio “Sherlockianos” por meio de uma linguagem neurocognitiva e comportamental.
Para ela, Holmes é o exemplo ideal de pensamento consciente.
De acordo com a pesquisa que suportou seu livro, existem algumas técnicas que podemos treinar para observar e deduzir como Sherlock:
1. Observar os detalhes
Na primeira vez que se encontrou com o Dr. John Watson, Sherlock percebeu de onde seu futuro parceiro viera. Ele observou a cor escura da pele (que não estava no tom natural), o rosto desfigurado (que mostrava sinais de doença), o braço esquerdo totalmente cicatrizado (que se movimentava rigidamente), e não por acaso lembrou que na ocasião a Inglaterra fazia excursões militares pelo Afeganistão. Então ele deduziu que Watson, um médico do exército inglês, esteve naquele país.
Konnikova explica:
“Essa é a observação de profundo nível. Holmes enxergou sintomas através da aparência e histórico pessoal, e combinou-os com conhecimentos que tinha de regiões trópicas para chegar a conclusão do paradeiro de Watson.”
2. Prestar atenção ao básico
Quando Holmes brinca que um caso é “elementar”, ele está de fato se referindo aos fundamentos, aos elementos básicos e estruturais da situação. Konnikova afirma:
“Da mesma forma que um físico começa resolvendo problemas tendo como base as leis relevantes, um detetive começa elucidando os fatos antes de fazer interpretações. Você precisa definir o problema da forma mais específica possível, e depois preencher as lacunas com as experiências passadas que foram capturadas pela observação.”
Segundo ela, não há nada de novo sob o sol, tudo já foi feito antes.
3. Permanecer ativo durante uma comunicação
Quando Sherlock está conversando com alguém, ele não cede às tentadoras distrações e sustenta o foco.
“Holmes se concentra em todas as faculdades do tema que está sendo discutido. Ele ouve e observa, como de hábito. Ele não se distrai com outra tarefa assim como observadores passivos; ao invés disso, ele presta atenção nas expressões corporais para obter todas as informações não-verbais, aquelas que são facilmente ignoradas na comunicação.”
4. Manter-se entretido
Quando Sherlock está enfrentando um caso particularmente espinhoso, regularmente ele para para refletir, relaxar e praticar hobbies – fumar cachimbo ou tocar violino, por exemplo:
“Fumar cachimbo é uma atividade feita por Holmes para se distrair de forma construtiva a partir de seu pensamento. Da mesma forma que tocar violino estimula sua mente, fumar cachimbo lhe dá soluções imaginativas ao mexer com seu corpo.”
5. Administrar energia
Sempre que Watson pergunta se Sherlock quer comer, ele responde:
“As faculdades mentais se refinam quando você as priva. Certamente, meu caro Watson, você deve admitir que os ganhos digestivos na forma de fornecimento de sangue se perdem para o cérebro. Eu sou um cérebro, Watson, o resto é apêndice. Você já conhece minha prioridade.”
Segundo Konnikova, essa evidência de Holmes sugere que suas habilidades cognitivas se ativam a partir de uma fonte finita de energia, que deve ser gerenciada com precisão e disciplina.
6. Desligar-se do meio externo
Aqui, não se trata apenas de obter um pouco de privacidade ou descanso, mas também de permitir que a mente filtre as informações importantes das irrelevantes. Daí a necessidade de solidão. De acordo com Konnikova:
“O mundo não dá folgas, então você precisa buscar a própria tranquilidade de espírito. Pensar através de ações passadas para criar planos futuros impulsiona a criatividade e mantém a sanidade.”
*Com informações da BBC, Smithsonian e Business Insider.
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