Ultimamente comecei a sentir que a música vem perdendo seu caráter espontâneo. Esse ano ouvi alguns discos que não foram tão bons assim, mas que quando saíram pareciam verdadeiras obras conceituais, tamanho o alvoroço dos fãs.
Sonic Highways, oitavo trabalho do Foo Fighters, é um disco bem melhor. A qualidade é bastante elevada, o projeto em si é grandioso e a banda produziu seu melhor trabalho, e apostou em temas elaborados e que pela primeira vez justificam oito guitarras na line up (claro que somando as participações).
Não gostei do Foo Fighters quando descobri o som dos caras, nunca achei nada genial, ainda não acho, mas aprendi a gostar com o tempo. Nunca achei Dave Grohl um baterista brilhante, mas a fórmula do Foo Fighters está justamente nisso. Trata-se de um coletivo de bons músicos que juntos somam suas qualidades humanas a toneladas de hard work e que, de uma forma rara e humilde (dentro de um meio tão arrogante tal qual o musical), arrebatam fãs só por demonstrar que são de fato, “gente como a gente”.
Sonic Highways não vai mudar o mundo, mas vai fazer sucesso, vai vender bem e vai render uma tour monstruosa, e o motivo é simples, trata-se de um bom heavy metal, humilde, trabalhador e sincero, feito por uma banda comum… A genialidade do Foo Fighters está na humildade e na simplicidade do todo, fora que aqui os americanos ainda gravaram seu disco mais pesado para os reclamões do mimimi pop e traçaram a rota do DNA musical de sua terra natal com requintes de documentário.
O que mais me impressionou nesse disco foi o trabalho de guitarras. Sinceramente, nunca entendi como o FF (para os íntimos) conseguiam ter uma banda com uma equipe de guitarras e no fim das contas tirar sons que uma boa dupla entrosada destilaria sem problemas, mas finalmente, depois de anos sofrendo bullying, a banda do “ex-baterista do Nirvana” conseguiu justificar isso.
Something From Nothing passa por Chicago, e o que começa à la baladinha radiofônica, cita Buddy Guy com “looking for a dime and found a quarter” e vira um Heavy cheio de grafiatos guitarrísticos em camadas estradeiras, com Rick Nielsen entrando no pack de guitarras, mais Blues prestando tributo ao mestre Muddy Waters e belos teclados por parte de Rami Jaffee. Depois que o disco começa oficialmente aí não tem mais volta, The Feast And The Famine passa pra segunda marcha rumo à Washington e a embreagem do carro faz o pneu dar uma assoviada, é hora de mostrar o Q.I do rock’n’roll.
A bela letra de Congregation passa por Nashville, com Zac Brown de convidado. What Did I Do?/God As My Witness, uma das mais bem construídas faixas deste disco faz escala por Austin, e como o Texas é a terra do blues, não é de se espantar que o belo solo, (talvez a maior surpresa desse música) seja de Gary Clark Jr. Enquanto que Outside frita por Los Angeles (acompanhado de Joe Walsh) e a pegada New Orleans de In The Clear mostra-se mais elementar que o meu caro Watson para os shows ao vivo desta nova tour.
O maior destaque surge com as duas últimas faixas do disco. Com Subterranean e as lembranças do underground grunge de Seattle, o Foo Fighters estende a jam e chega aos seis minutos com um tema onduloso, cheio de teias harmônicas e até um violão acústico no coração da faixa.
E se você achou estranho essa faceta mais longitudinal do Foo, espere só até ouvir a última faixa do disco, a bela I Am A River e seus sete ondulosos e sentimentais minutos. Rola até um embate de guitarras muito interessante, só senti falta do baixo, faltou mais pegada, talvez um Rickenbacker, de resto é isso, um bom trabalho de caras que mostram muito esforço e preparo para cada passo que prometem. Rola até Joan Jett pra fechar o pacote. Eles são a prova viva de que não existe milagre, “rock” em inglês significa “pedra, rocha”, e Taylor Hawkins e cia ralam muito para extrair o “roll” desse pedregulho chamada música. Muito bom, não vai mudar o mundo mas levanta até sua vó do sofá no meio do programa da Palmirinha.
Track List:
1. Something From Nothing
2. The Feast And The Famine
3. Congregation
4. What Did I Do?/God As My Witness
5. Outside
6. In The Clear
7. Subterranean
8. I Am A River
Line Up:
Dave Grohl (guitarra/vocal)
Taylor Hawkins (bateria/vocal)
Chris Shiflett (guitarra)
Pat Smear (guitarra)
Nate Mendel (baixo)
Rami Jaffee (teclados)
Convidados:
Rick Nielsen (guitarra barítono em Something From Nothing)
Zac Brown (guitarra e backing vocals em Congregation)
Gary Clark, Jr. (guitarra em What Did I Do? / God As My Witness)
Joe Walsh (guitarra em Outside)
New Orleans Preservation Hall Jazz Band (saxofone alto, bateria, piano, trombone, trompete e tuba em In The Clear)
Ben Gibbard (guitarra e vocais em Subterranean)
Joan Jett (guitarra em I Am A River)